Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
Até os doces fazem apodrecer os dentes. Provérbio Lomué.
Nas suas noites de lucubrações, o meu amigo Nkulu, advertiu-me o seguinte: “não te amarres aos cargos políticos, para não ficares desqualificado, procure ser um excelente académico e ter um pensamento independente, algo impossível na política, onde se exige submissão ao chefe, mesmo que seja pigmeu analítico.”
Ouvi estas palavras muitos anos antes quando eu ainda corria feito fedelho nos pedregulhos do Bairro Francisco Manyanga, na cidade de Tete. Minha mãe, receando que os filhos caíssem na “tentação da política”, dizia que “nunca tenham apetência pelos cargos políticos, porque a política é a única actividade legal que suja e destrói o carácter do Homem. Ademais, mpando ya Frelimo nja mapesi, isto é, a cadeira da Frelimo, que muitos gostam de sentar-se para o enriquecimento ilícito e humilhar, ofender e magoar o próximo para sentir-se forte, é de caniço.”
Com a metamorfose da vida, a nossa sociedade criou um tipo de gente estranha que tem pressa desmedida em possuir riquezas e honrarias, além do necessário. Quando chegam ao poder, geralmente pelas escadas de serviço, rasgam todas as normas e ética do serviço público e transformam-se em roedores dos recursos do Estado.
Destroem uma carreira brilhante construída com muito sacrifício por causa dos labirínticos esquemas do poder político. Preferem atrelar-se à carruagem da corrupção, onde os compêndios da lei são letras mortas que defendem os mais fortes, que pedir demissão e sair de cabeça erguida.
De crucifixo no peito e verborreia para dar e vender aos órgãos de comunicação social, carregam por dentro uma alma ávida do “vil metal”. Foi assim que o país “perdeu” os seus mais queridos filhos que lutaram pela independência nacional por causa da maldita corrupção.
Como o país ainda não encontrou um antídoto para destruir o “vírus da corrupção”, o mal tem-se enraizado e à medida que a “cadeira de caniço” parte-se, aumentam os casos da grande corrupção envolvendo figuras públicas. Juro, é demais.
Hoje em dia, os jovens têm receio de indicar um único político nacional como seu ídolo, porque não se sabe quando é que a película que mostra o seu envolvimento nos actos da corrupção será exibida ao público, gratuitamente. A corrupção é como um rebuçado: adoça a boca, mas apodrece os dentes.
Eu já ouvi camaradas chamar a outro camarada de “deus”. Esses mesmos camaradas (os tais “endeusados”, por ironia do destino, são vistos na igreja a adorar um outro Deus. Tudo isso por causa da “refeição”. Como explicar ao seu filho quem é, de facto, o verdadeiro Deus? Esse tipo de “servidão louca” não serve na Frelimo, porque a cadeira do poder é de caniço. Infelizmente, esta lição tem sido ignorada.
A esse propósito e sobre a retractação, o meu amigo Nkulu escreveu o seguinte: “Para se retratar, a pessoa tem que ser humilde, o que não constitui tradição dos nossos chefes. Em segundo lugar, se ele mudar de pensamento, como serão as relações com o bajulado 'deus'? E, finalmente, como ficará a refeição dele no futuro?”
Zicomo e um abraço nhúngue ao Mangate, exemplo de jovem empreendedor.
WAMPHULA FAX – 22.04.2019
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