domingo, 31 de março de 2019

EUA. Estiveram presos durante 43 anos, mas eram inocentes. Foram libertados esta semana


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Tio e sobrinho tinham 34 e 18 anos quando foram presos por um homicídio na Florida, nos EUA. Agora têm 76 e 61. Eram inocentes, foram condenados sem provas e só agora foram libertados.
Hubert Nathan Myers, à esquerda, acompanhado pelo tio, Clifford Williams Jr., numa conferência de imprensa
O ano era o de 1976. A cidade: Jacksonville, no Estado da Florida, nos EUA. Ouviram-se tiros num apartamento ao lado do local onde Hubert Nathan Myers, com 18 anos, e o tio, Clifford Williams Jr., com 34, estavam numa festa de anos. Uma mulher morreu, outra sobreviveu e garantiu às autoridades que aqueles dois homens dispararam junto à cama que partilhava com a vítima mortal. Mas não foi bem assim. 42 anos depois, estamos em 2019. Hubert e Clifford foram agora libertados porque a Justiça americana enganou-se.
Estou nervoso porque ainda me sinto preso. Quando estiver com a minha família posso olhar para trás… e quando a realidade me atingir, penso que vai ficar tudo bem”, disse Hubert quando viu declarada a sua inocência. Tinha 18 anos quando foi preso, agora tem 61.
A história é contada pela ABC. Apesar de o relato de Nina Marshall, que escapou ilesa do crime e morreu em 2011, colocar os dois homens no local do crime, várias testemunhas afirmaram que o tio e o sobrinho estavam na festa à hora do homicídio. Nenhuma destas dezenas de pessoas foi sequer ouvida no julgamento que durou apenas dois dias. Só à segunda tentativa o júri conseguiu chegar a um veredicto, por discrepâncias nas provas, decidindo, ainda assim, pela condenação.
[Clifford Williams Jr. beija o chão depois de ter sido libertado]
A análise ao local do crime mostrou, na altura, que todos os tiros foram disparados de fora do apartamento, ao contrário do que dizia a vítima — havia buracos de balas nas janelas e cortinas –, e através da mesma arma. Contudo, não valeu de nada: o tio e o sobrinho foram condenados a pena perpétua por homicídio e tentativa de homicídio.
Durante o julgamento, e ao longo dos 43 anos em que estiveram presos, os dois homens que perderam décadas de vida na cadeia, alegaram sempre a sua inocência. Chegou a haver um homem que, por remorsos, assumiu a responsabilidade do homicídio. Morreu em 1994 e este testemunho nunca chegou ao júri que decidiu o destino de Hubert e Clifford.
Os dois homens tentaram, por várias vezes, pedir recurso da decisão, mas foi-lhes sempre negado. Apenas em 2017 tiveram uma oportunidade de justiça. Nesse ano, o Ministério Público do estado da Florida, através do procurador estadual, criou uma equipa para rever casos julgados.
Perdi quase 43 anos da minha vida que nunca mais vou voltar a ter, mas olho para a frente e vou focar-me em aproveitar a minha liberdade com a minha família”, disse Hubert num comunicado.
O sobrinho e o tio requereram logo a esse novo departamento que revisse o caso que os pôs décadas na prisão. Hubert tinha lido no jornal sobre a criação desta nova equipa e escreveu uma carta a contar a história dos dois. No final, o relatório de 77 páginas mostrou que estavam inocentes e foram julgados injustamente.
Todas as acusações e penas foram retiradas. “Quando temos uma hipótese de corrigir erros, devemos fazê-lo”, disse a procuradora estadual Melissa Nelson. Agora, podem receber uma compensação até 2 milhões de dólares (cerca de 1,78 milhões de euros). Contudo, apenas Hubert pode ter direito a esta indemnização. As leis do estado da Florida não concedem nenhum montante a quem tenha sido condenado mais do que uma vez por algum delito. Foi o caso de Clifford, que antes de 1976, já tinha registo em dois casos.
Hubert tem agora 61 anos. O tio tem 76.

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