Os maridos, a mulher, o filho e a nora. Mais cinco relações na grande família socialista /premium
As relações familiares diretas e indiretas no Governo já envolvem mais de 40 pessoas. O Observador detetou mais cinco casos de familiares socialistas no executivo de Costa.
António Costa tem um Governo familiar no tamanho e na forma. Além dos vários casos que foram revelados nos últimos dias, o Observador detetou mais cinco casos de relações familiares socialistas no Governo. O marido de uma governante, o marido de uma deputada, um filho de um ex-deputado do PS, a mulher de um assessor e amigo do primeiro-ministro e até a nora de um ex-deputado socialista aumentam a teia familiar do Governo. No total são já mais de 40 pessoas envolvidas, direta e indiretamente, na grande família socialista do executivo de Costa.
1 – O chefe de gabinete da secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, é casado com a deputada e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Susana Amador. Carlos Alberto Fernandes Pinto foi nomeado chefe de gabinete a 7 de dezembro de 2015, na altura em que a secretária de Estado do ministério de José Vieira da Silva estava a formar equipa.
No despacho da nomeação, publicado em Diário da República a 12 de janeiro de 2016, e assinado a 5 de janeiro pela secretária de Estado, designa-se “o licenciado Carlos Alberto Fernandes Pinto para exercer as funções de chefe de gabinete no Gabinete da Secretária de Estado da Segurança Social”. Até aqui, Carlos Pinto era já técnico superior pertencente ao mapa de pessoal da secretaria-geral do Ministério da Economia, tendo sido, entre abril e novembro de 2015, adjunto do presidente da câmara de Lisboa e, antes, assessor jurídico do vice-presidente da câmara de Lisboa.
A categoria de chefe de gabinete é a mais bem remunerada categoria dentro de uma equipa governativa (à exceção dos próprios governantes), auferindo um rendimento mensal bruto de 4.601,25 euros, segundo a tabela que se encontra disponível para consulta no portal do Governo. Susana Amador foi eleita deputada pelo círculo de Lisboa na sequência das eleições de outubro de 2015, tendo já estado naquelas funções durante o primeiro mandato do Governo de José Sócrates, entre 2005 e 2009. Desta vez, além de deputada, a socialista assumiu também as funções de vice-presidente da bancada parlamentar. De acordo com o seu registo de interesses, publicado na página do Parlamento, pode ler-se que a jurista de profissão, ex-presidente da câmara de Odivelas, é casada em regime de comunhão de adquiridos com Carlos Alberto Fernandes Pinto — nomeado chefe de gabinete da secretária de Estado da Segurança Social.
2 – Outro dos casos de família é o de Tiago Gonçalves, que é chefe de gabinete do secretário de Estado da Defesa do Consumidor, João Torres, desde 17 de outubro de 2018. O antigo dirigente da JS é filho do antigo deputado e antigo presidente da câmara municipal de Peniche, Jorge Rosendo Gonçalves. Até ir para o Governo era assessor do grupo parlamentar do PS e antes disso trabalhou na junta de freguesia do Lumiar, liderada por Pedro Delgado Alves. Atualmente Tiago Gonçalves tem um rendimento bruto de 4601,25 euros mensais (que corresponde a um vencimento líquido de 2645, 66 euros). Entre 2012 e 2015 foi técnico superior na Direção Regional de Educação dos Açores, uma estrutura controlada pelo Governo socialista de Vasco Cordeiro.
3 – Na última remodelação governamental, Ângela Ferreira tornou-se secretária de Estado da Cultura. Quatro meses depois, o marido, João Ruivo, foi nomeado pelo secretário de Estado João Paulo Rebelo — que depende de outro ministério, o da Educação — como coordenador científico do Laboratório de Análises de Dopagem. Licenciado em química, João Ruivo até já tinha ocupado este cargo entre 2014 e 2015 — na altura nomeado pelo secretário de Estado social-democrata Emídio Guerreiro, Governo PSD-CDS –, mas há quase quatro anos que estava afastado desse posto de coordenação. Agora regressou.
4 – Há vários casos de nomeações de familiares de socialistas que ocorreram logo no início do Governo, mas nunca foram noticiados. Um desses exemplos é o de Catarina Hasse Ferreira, que foi nomeada para exercer as funções de técnica especialista no gabinete do secretário de Estado o Emprego, Miguel Cabrita, logo a 16 de fevereiro de 2016. Catarina Hasse Ferreira é nora do antigo deputado do PS Joel Hasse Ferreira. Antes já exercia funções no ministério, mas subiu a técnica especialista com a chegada do PS ao Governo. O mesmo tinha acontecido durante o Governo de José Sócrates, quando foi assessora de José Vieira da Silva, e assessora de Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues nos governos de António Guterres. Tem atualmente um vencimento bruto de 3575,46 euros (o que corresponde a 2170,70 euros líquidos mensais). É licenciada em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa (1996) e tem carreira feita no ministério, embora só seja chamada para assessorar os gabinetes dos governantes quando o Governo é PS.
5 – Por fim há ainda um outro caso deste Governo, mas em que a familiar já abandonou o executivo em virtude da exoneração do secretário de Estado que assessorava. Trata-se de Susana Escária, mulher de Vítor Escária, que foi assessor do primeiro-ministro e só foi exonerado na sequência do caso Galpgate. Susana Escária foi adjunta do secretário de Estado da Internacionalização até este ser exonerado na sequência do mesmo caso em outubro de 2017. Vítor Escária, embora exonerado, continuou próximo de António Costa.
A grande família socialista revelada a conta-gotas
A teia de relações familiares dentro do Governo tem vindo a público nos últimos dias e um dos casos que mais impacto teve foi o de Catarina Gamboa, a mulher de Pedro Nuno Santos, que foi para a Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares como chefe de gabinete de Duarte Cordeiro, depois da saída do marido. Pedro Nuno passou para o Ministério do Planeamento e até chegou a escrever uma mensagem no Facebook a explicar a entrada da mulher no Governo: era já amiga de longa data de Duarte Cordeiro, mesmo antes dos dois se conhecerem, e era a sua chefe de gabinete na Câmara de Lisboa.
Além desta escolha, Duarte Cordeiro ainda levou para o seu gabinete, como adjunto, Pedro Anastácio, membro do secretariado nacional da Juventude Socialista e filho do deputado do PSFernando Anastácio.
Pedro Anastácio que, por sua vez, já tinha passado pela sociedade de advogados de Eduardo Paz Ferreira, marido da ministra da Justiça Francisca Van Dunem. Também Paz Ferreira aparece nesta teia de relações familiares a partir do momento em que foi o escolhido pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, para renegociar a concessão do terminal de Sines à Singapura PSA, em outubro do ano passado.
E Ana Paula Vitorino? É mulher do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e não é o único caso de relação direta familiar no Conselho de Ministros. O outro caso e o de José António Vieira da Silva, o ministro do Trabalho e Solidariedade e Segurança Social, que é pai de Mariana Vieira da Silva — até à última remodelação era o braço direito de António Costa em São Bento, sendo nessa altura promovida a ministra da Presidência. Uma situação — entre outras — que suscitou curiosidade em Espanha, onde o jornal El Pais dedicou um artigo à “endogamia” no Governo português.
Na remodelação de outubro entrou no elenco governativo de Costa um familiar de um histórico socialista: o diplomata João Gomes Cravinho, filho do ex-ministro socialista João Cravinho, entrou para ministro da Defesa, para substituir Azeredo Lopes. Na remodelação seguinte saiu Guilherme W. d’Oliveira Martins, filho de outra figura de proa do PS, Guilherme d’Oliveira Martins, ex-ministro, ex-deputado e ex-presidente do Tribunal de Contas. Era secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão. Já João Pedro Matos Fernandes não entrou em nenhuma remodelação, é a aposta de António Costa para o Ambiente desde início, mas também já não é o primeiro da família num Governo socialista: é filho do ex-secretário de Estado da Justiça de Vera Jardim, José Matos Fernandes.
Até há poucos meses, o ministro Matos Fernandes tinha a sua mulher como chefe de gabinete de uma das secretarias de Estado que tutelava. Isabel Marrana estava na secretaria de Estado Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Célia Ramos. A mulher de Matos Fernandes já tinha sido adjunta do ministro do Ambiente quando José Sócrates estava no cargo.
É ao nível dos gabinetes que os casos mais se multiplicam e um dos que veio entretanto a público, pela revista Visão, foi a nomeação de Sara Gil Perestrello, mulher de Marcos Perestrello, deputado socialista e ex-secretário de Estado da Defesa, para chefe de gabinete da ministra da Cultura quando Graça Fonseca assumiu a pasta, em novembro passado. Mas há outra nomeação governamental na família Perestrello: o irmão de Marcos, Miguel, foi nomeado por Vieira da Silva em despacho conjunto com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, para vogal da direção da Movijovem, cooperativa de interesse público.
A mesma notícia somava outra nomeação com ligação ao universo socialista, a ex-mulher de Sérgio Sousa Pinto, Anna Elisabet Bergström, que foi assessora internacional de António Costa na Câmara de Lisboa e quando o socialista foi para o Governo acabou nomeada adjunta do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Em junho de 2017 o próprio primeiro-ministro indicou o seu nome para a Missão Portugal In.
Esta passagem pela Câmara de Lisboa, no tempo da gestão Costa, e posterior transferência para um cargo de nomeação política fora do município não é caso único. A revista Sábado apontou outro caso recente. Em janeiro, a mulher de Duarte Cordeiro, Susana Ramos, foi escolhida para coordenar o Fundo para a Inovação Social. Quando o marido estava na CML, Susana Ramos chegou a chefiar o Departamento de Direitos Sociais e entretanto foi nomeada para outro cargo público, em 2017: coordenadora da Unidade Nacional de Gestão da EEA Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu.
E há ligações a Costa ainda mais antigas, como é o caso de Patrícia Melo e Castro, que já tinha estado com o socialista, entre 1999 e 2002, no Ministério da Justiça. Depois foi sua assessora no gabinete da Câmara de Lisboa e agora é adjunta no seu gabinete. É mulher do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais António Mendonça Mendes e, por isso mesmo, cunhada da número dois do PS, Ana Catarina Mendes. A secretária-geral adjunta do partido, por sua vez, foi durante anos casada com Paulo Pedroso que, em 2018, o Ministério das Finanças indicou para o cargo de diretor executivo suplente do Banco Mundial.
A entrada direta de Mafalda Serrasqueiro para chefe de gabinete do secretário de Estado Adjunto da Modernização Administrativa, Luís Goes Pinheiro, foi revelada pela Visão pela ligação familiar que tem a dois socialistas: é mulher do deputado Pedro Delgado Alves e filha do antigo deputado e secretário de Estado Fernando Serrasqueiro, um dos homens fortes do PS de Sócrates. O gabinete de Goes Pinheiro justificou a escolha com o currículo e percurso académico de Mafalda Serrasqueiro, que é o argumento que se tem repetido a cada gabinete questionado sobre os outros casos.
Finalmente, há também o caso do “melhor amigo” de António Costa, Diogo Lacerda Machado — que foi também seu secretário de Estado da Justiça. A relação de grande cumplicidade e de longa data com o primeiro-ministro acabou por ter uma expressão também neste Governo com Lacerda Machado a ter papel de seu consultor, tendo mesmo negociado em seu nome os dossiers da TAP e dos lesados do BES. Em 2015, o seu filho Francisco tinha sido nomeado para as funções de técnico especialista no Ministério dos Negócios Estrangeiros e em 2017 foi a vez do filho mais novo, José Maria, ser contratado para uma empresa do setor empresarial do Estado na área da Defesa.
Na última remodelação, a mulher do eurodeputado Carlos Zorrinho, Rosa Zorrinho, foi nomeada secretária de Estado da Saúde pela ministra Marta Temido, mas entretanto já abandonou o cargo para liderar o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central.
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