segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Se eu fosse a Buchili


Se eu fosse a Biatriz, a digníssima dona procurad(or)a, saía um pouquinho do ar condicionado, descia uns passitos ali ao mercado central e comprava uma sebenta (caderno) daquelas de capa dura, de cor preta, escrita "caderno escolar". Aproveitava esse tempo em que país e encarregados de educação estão a comprar material escolar para os seus filhos e afins para fazer também minhas compras lectivas. Dizia, comprava uma sebenta de capa dura, preta, com letras brancas a frente "caderno escolar" e três esferográficas "Bic": azul, preta e vermelha. Um kit de apontamentos. Escrevia o meu nome naquele quadradinho branco que vem na capa. Ali onde é para pôr "escola", ia escrever "Kempton Park Magistrate", na "disciplina" seria "Princípios Básicos de Direito" e na "turma" ia escrever "Pé-Gê-Ere de Moz". Então, ia começar a passar apontamentos da professora Elivera Dreyer, aquela senhora magnífica que está a dar aulas de Direito, de borla, ali na casa vizinha. Ficava bem quietinha e muito atenta às aulas dela. 


Convenhamos, pessoal, aquela forma de argumentar uma acusação para matrecar um gatuno diplomático, imune e com altos níveis de glicemia, cercado por advogados caros e reputados da máfia, são autênticas lições gratuitas de Direito para a dona Bia e seus apaniguados. Não é brincadeira! Nem o mancar, nem a palidez, nem a diabetes mellitos, consegue salvar o homenzinho das garras da senhora. Na Pé-Gê-Ere aquelas audições deviam ser assistidas em tela gigante, num anfiteatro, com direito a apontamentos e tudo. Que "granda" aula, meu Deus! Chiiiça! 


Continuando, eu ia aproveitar essas audições de Joannesburg para fazer meus apanhados para enfrentar os 17 arguidos que ainda me sobram na lista. Podia usar essas cabulas para, pelo menos, assustar aqueles gatunos da lista que não são diplomáticos nem imunes e marcava alguns pontos neste meu pobre e insignificante mandato. Pelo menos teria alguma coisa para contar aos meus netos. Um dia talvez estaria escrito na história do judiciário moçambicano como uma menina atrevida que tentou destruir um ninho de marimbondos de luxo. Podia não conseguir, mas ia tentar. 


Ao invés de estar aí atrapalhanda em resgatar um lesa-pátria confesso, ela devia já estar a fazer algo mais interessante, como por exemplo, deitar fora aquele relatório encriptado e começar a trabalhar seriamente com o original da Kroll que chama os gatunos pelos seus próprios nomes de registo, sem alcunhas nem pseudónimos. Não devia gastar tempo fazendo parcerias com o Tribunal Supremo e o Parlamento, que só vai somar mais vergonhas. Devia fazer algo mais palpável e visível. É preciso aproveitar algumas oportunidades que a vida nos oferece. As vezes é preciso nos olharmos no espelho e termos um pouco de vergonha na cara. É preciso sentirmos pena do nosso travesseiro a noite. Isso de ir trabalhar enquanto o cérebro ainda está em Bilene de férias não é uma coisa para habituar. 


Daqui a pouco, o Chang e seu pâncreas vão embarcar, a palestra da doutora Elivera vai terminar e vocês vão continuar aqui com a vossa dúzia e meia de surrupiadores de luxo e um monte de comunicados, convocatórias e cartas de pedido de resgate que não deram em nada. Aproveitem cabular ao menos. O tempo é esse. 

- Co'licença!
A verdade nunca Morre
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