Filipe Nyusi aproveitou ontem o palco da apresentação do Estado da Nação para cimentar sua disponibilidade para as presidenciais de 2019. Boa parte do seu discurso não foi centrada na radiografia sobre o ano prestes a terminar, mas numa projeção sobre o que aí vem. O Presidente acabou fazendo promessas com um condão eminentemente eleitoralista. Nalgumas delas, ele estampou o seu nome, mais do que o nome do governo, mais do que o nome da Frelimo.
Nyusi prometeu trazer 1000 autocarros para os transportes públicos nas várias cidades, garantindo que isso será feito antes dele terminar o seu mandato. Ou seja, o horizonte temporal para o cumprimento da promessa termina nas vésperas de ele iniciar uma campanha para a reeleição.
Outra promessa sonante foi a de implantar no próximo ano “um hospital em cada distrito”, numa clara réplica do programa “um banco em cada distrito”, do Ministro Celso Correia, que tem vindo a expandir a bancarização rural no meio de algum cepticismo sobre a viabilidade dessas agências em lugares sem mercado que as justifique. Implantar um hospital em cada distrito é uma coisa genial. Sobretudo se, para além da estrutura física, o Estado dotá-las de meios humanos qualificados e equipamento técnico apropriado.
O Presidente fez uma terceira promessa que pisca o olho ao eleitor: um “revamp” na folha salarial da função pública. Ele quer aumentar gradualmente os salários no Estado, para que sejam compatíveis com o custo de vida. Ou seja, o salário médio no sector público vai aumentar.
Como disse, as três promessas têm esse respaldo eleitoralista. Ontem, Nyusi assumiu claramente o primeiro lugar na pole position da corrida para a Ponta Vermelha em 2019. Ele se considera um candidato natural. E de certa forma, o eleitoralismo impregnado no seu discurso era também destinado para dentro da Frelimo. Nyusi quis deixar claro para o partido que não há espaço para contestação interna pois ele controla plenamente toda a batuta.
O recente teatro do Ministro Mtumuke – sobre esse desaguisado com a Renamo à volta das nomeações interinas – enquadra-se nessa empreitada de afirmação constante do Presidente Nyusi como o grande pacificador no diferendo com a Renamo. Ontem, ele voltou a chamar para si o controlo da situação, afastando quaisquer dúvidas sobre uma eventual passagem para letra morta do Memorando assinado em Agosto com Ossufo Momade. O piscar eleitoralista de Nyusi a menos de um ano das eleições é uma coisa compreensível. Qualquer um usaria o mesmo palco em timing idêntico para lançar as bases para uma campanha eleitoral que será altamente disputada, sobretudo para a Frelimo, com o Presidente deixando de mansinho a imagem de que ele tem maior valor que o partido no mercado eleitoral.
A ver vamos! A grande incógnita é a dimensão fiscal das suas promessas. Como é que elas serão financiadas e qual é capacidade do Estado em aguentar um adicional esforço orçamental para pagar melhores salários? E o FMI vai deixar?
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