EDITORIAL
Erotismo, pornografia e Sérgio Moro
Há muito que se sugeria que a relação entre a condução do processo judicial Lava-Jato e o momento político tinha pouco de inocente.
A manchete é do jornal O Estado de S. Paulo de 6 de Novembro de 2016: “Jamais entraria para a política.” Quem proferiu frase tão clara foi o juiz Sérgio Moro, o grande responsável pelo processo Lava-Jato, cujas ondas de choque ainda hoje se fazem sentir na política brasileira e que teve um contributo essencial na construção da imagem do PT como partido de políticos corruptos.
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Neste sábado soubemos que a declarada abstinência do juiz terminou e que ele aceitou integrar o Governo do recém-eleito Jair Bolsonaro para liderar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública. E, assim, o que ontem era erotismo hoje é pornografia.
De forma simples, a diferença entre erotismo e pornografia é que tudo se trata de relações sexuais, mas enquanto no primeiro elas não são explícitas, antes sugeridas, no segundo tudo fica à vista. Ora há muito que se sugeria que a relação entre a condução do processo judicial Lava-Jato e o momento político tinha pouco de inocente. Afinal, foi Sérgio Moro que mandou prender o candidato que seguia à frente nas sondagens, Lula da Silva, o que facilitou, e muito, a vitória da extrema-direita. O mesmo juiz que interrompeu férias para evitar a libertação de Lula, o mesmo que, na última semana da primeira volta das eleições, decidiu libertar as declarações da delação premiada do ex-ministro petista Antonio Palocci, que claramente afectavam a candidatura de Fernando Haddad.
Para os militantes do PT, há muito que isto era pornografia, mas para quem ainda coloca esperanças no discernimento da Justiça e no seu papel positivo para desmontar o ciclo da corrupção, isto poderia ser uma relação sem nexo, um flirtsem dolo. Agora, depois da aceitação do convite, depois de sabermos que o juiz já tinha sido sondado durante a campanha, o PT ganhou força para se ensimesmar na sua teoria de cabala política, e os amantes de Bolsonaro e Moro para acreditarem num casamento que favorecerá o combate à corrupção.
Para qualquer amante da democracia, resta tapar os olhos perante um espectáculo tão indecoroso. A nu fica a fragilidade do regime brasileiro, que continua a necessitar, como nunca, de gente capaz de entender o que é serviço público, as obrigações que advêm de ocupar um cargo de relevo e a absoluta necessidade de reafirmar o princípio da separação dos poderes. Sérgio Moro mostrou claramente que não é uma dessas pessoas.
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