26.11.2018 às 13h46
Qualquer aproximação à ilha implica um risco de saúde para os membros da tribo, além das ameaças imediatas de violência
Não vai ser fácil recuperar o corpo do missionário americano John Chau, e o melhor é nem tentar. Esta a conclusão de vários especialistas em assuntos de populações indígenas. Há dias a polícia tentou aproximar-se da ilha norte da Sentinela onde Chau foi morto, mas recuou por se sentir em perigo. Agora antropólogos indianos e outras vozes alertaram para o risco que correm os membros da tribo.
"O que ele fez foi uma coisa incrivelmente perigosa e imprudente para ele, mas ainda mais para os próprios sentineleses. Eles são a tribo mais isolada da terra, portanto a mais vulnerável em termos de falta de imunidade a doenças comuns como a constipação e o sarampo que dizimarão a tribo", disse Sophie Grigg da Survival Internacional, uma ONG que defende as populações indígenas.
Um professor de antropologia em Nova Deli lembrou que a linguagem e as tradições da tribo não são conhecidas fora dela, o que dificulta qualquer tentativa de comunicação. Com uns estimados 150 membros, a tribo é uma das poucas no mundo que ainda se encontram na fase do Paleolitico, e recusa qualquer contacto exterior. "Deixem-nos em paz no ecossistema onde se encontram", recomenda o professor. "Não os perturbem, porque isso apenas os fará mais agressivos", disse ele à agência France-Presse.
Outro antropólogo notou que, tendo a vontade da tribo sido violada vezes repetidas por Chau, forçar os Sentineleses a entregar o seu corpo seria tornar a violá-la. Na altura em que ele foi morto, membros da tribo tê-lo-ão arrastado e levado.
“A NOSSA MISSÃO ERA NÃO PERTURBAR AS TRIBOS”
Um agente senior da polícia explicou que dois dos pescadores que levaram Chau até à ilha – e sobre os quais pesam acusações criminais, dado que isso é proibido por lei – assinalaram o local onde o corpo terá sido enterrado.
"Fomos de manhã e regressámos à noite", disse o agente. "Quando nos aproximávamos da ilha a uma distância segura, pudemos avistar alguns membros da tribo com arcos e flechas por meio dos nossos binóculos. Estavam a olhar para nós. A nossa missão era não perturbar as tribos, portanto voltámos".
Chau, um missionário norte-americano oriundo do Alabama, ficou interessado nos sentineleses quando ouviu falar pela primeira vez da tribo. O seu objetivo era instituir o Reino de Cristo na ilha, e para isso dispôs-se a arriscar a vida.
Na véspera de morrer, já lhe tinham disparado uma flecha, e ele escreveu aos pais uma carta na qual pedia que não se zangassem se fosse morto. "Podem achar que sou maluco em tudo isto, mas acho que vale a pena declarar Cristo a estas pessoas".
A polícia abriu um processo por homicídio contra incertos, mas é extremamente duvidoso que ele alguma vez dê uma condenação. Em 2006, dois pescadores foram mortos depois de o seu barco atracar na ilha por engano. Ninguém jamais foi acusado.
Segundo um antropólogo hoje octogenário, T. N. Pandit, que chegou a ter contacto com os sentineleses em décadas passadas, não faz sentido nenhum tentar acusá-los. "Não são as leis deles", disse ao jornal "Indian Express". "Eles estavam proteger o que é deles, tal como nós fazemos. Esquecemo-nos de que o homem civilizado aqui é o agressor".
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