Por Marcelo Mosse
23 de Outubro de 2018
23 de Outubro de 2018
Rogério Zandamela mostrou ontem que lida mal com perguntas difíceis. Ele ignora-as recorrentemente. O Banco de Moçambique é uma entidade pública. Não é um banco comercial privado. Por essa razão, o Governador deve responder a todas as questões que lhe são colocadas. Os administradores e directores do BM não estão ali a gerir património privado. Foram indicados para gerir políticas e património públicos. Eles devem prestar contas de forma assertiva aos contribuintes deste país. Rogério Zandamela ou anda mal assessorado ou se enclausura no limbo perverso do “one man show”.
Mas isso não esconde os problemas graves por que o banco está a passar. Nunca na história deste país o banco central recebeu uma opinião adversa de um auditor. Isso é grave. Afecta a credibilidade interna e externa do banco central. Zandamela não pode desvalorizar essa “opinião” pois ela decorre de um facto objectivo: nas suas contas de 2017, o banco falseou seus resultados ao não fazer reflectir os prejuízos da Kuhanha (decorrentes da intervenção no Moza Banco) porque se o fizesse as contas do BM também estariam no vermelho. O caminho escolhido pelo banco já absorveu prejuízos na ordem dos 97 milhões de USD.
O banco central foi construído com esforço de muitos quadros moçambicanos saídos da Faculdade de Economia da UEM. Seus patamares de credibilidade eram altos. Suas contas eram reportadas de forma assertiva. Transparentes. Isso está a mudar com a gestão de Rogério Zandamela, que terá sido imposto pelo FMI. Não poder ser! O Governo tem de analisar profundamente que banco central pretende. E decidir se embarca nesta onda de desmoronamento ético surfada pelo actual governador. O BM não pode ignorar as normas internacionais de relato financeiro para falsear suas contas. O BM não pode igonar as boas práticas internacionais e exigir ao mesmo tempo aos bancos comerciais que cumpram as boas práticas internacionais.
O Governo deve dizer uma palavra. O desvio de 11,7 mil milhões de Meticais (do património público) para injectar numa entidade privada (a Kuhanha), sem taxas de juro (quando o BM empresta a todos os outros bancos comerciais a taxas médias de 15%) deve ser devidamente explicado. Trata-se de dinheiros públicos entregues a um organismo privado sem prazo de reembolso (nenhum banco decente faz isso). A corrosão do capital próprio do banco é visível. O governador diz que o BM pode perder dinheiro para evitar um “risco sistémico”. Mas ele não explica que risco sistémico estava a evitar quando decidiu intervir no Moza com uma solução que hoje se mostra completamente ineficaz.
Quando chegou do FMI, Rogério Zandamela vinha banhado numa aura messiánica. Hoje, sua mão na gestão do banco central está empurrando a instituição para os piores níveis de reputação. A gestão do banco central merece agora um inquérito independente. O Governo não deve deixar que o desmoronamento do BM prossiga sem mexer uma palha. O BM goza de independência operacional apenas. O Governo tem de intervir sobre as matérias que digam respeito ao uso desbaratado do património público. É isto que está em causa.(xxx)
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