quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Embaixadora americana na ONU pode ter saído por aceitar boleias em jatos privados

Pode ter sido a denúncia, por uma ONG, de que aceitara em 2017 sete viagens em aviões privados, ou o desejo de concorrer contra Trump em 2020.

No mesmo dia em que uma ONG exigiu publicamente uma investigação aos sete voos em jatos privados que Nikki Haley declarou, na sua declaração de impostos, ter aceitado em 2017, a antiga governadora da Carolina do Sul e o presidente anunciaram a sua saída do lugar de embaixadora na ONU, para o qual foi nomeada em janeiro de 2017. O presidente, porém, garantiu que Haley já lhe tinha dito, há seis meses, que "queria fazer uma pausa." Por sua vez, ela negou que a saída tenha em vista apresentar-se como alternativa mais moderada a Trump, em 2020, certificando que não tenciona candidatar-se.
A notícia é desta terça de manhã: a ONG Citizens for Responsability and Ethics in Washington (CREW, ou Cidadãos para a Responsabilidade e a Ética) apelou a que os voos que Haley admitiu ter aceitado, em Washington e Nova Iorque e a Carolina do Sul, pagos por empresários desse Estado, que governou entre 2010 e 2017, e que segundo a CREW corresponderão a mais de 24 mil dólares (20876 euros) - a ex embaixadora diz que valem menos, cerca de 3200 dólares --, sejam investigados pela inspeção do Departamento de Estado (o correspondente ao nosso ministério dos Negócios Estrangeiros).
Horas mais tarde, surgia o anúncio da demissão.

20 mil euros ou menos de três mil?

"Ao aceitar voos privados como presente, a embaixadora parece ter alinhado com outros membros da administração que se aproveitaram dos seus cargos para obter benefícios", afirmou Noah Bookbinder, o diretor executivo da CREW. "As nossas leis e regras éticas são claras no sentido de que até a aparência de corrupção e impropriedade devem ser evitadas. No mínimo, Nikki Haley deveria ser sensível ao que faz parecer o facto de aceitar presentes caros de empresários, numa altura em que outros altos funcionários da Casa Branca foram apanhados em escândalos relacionados com viagens luxuosas."
Halley respondeu à suspeita alegando que tem relações pessoais com os empresários em causa. Mas certo é que existem regras que restringem o valor de presentes que os membros de governo e altos funcionários podem receber, e que a administração Trump, que ainda não fez dois anos, já sofreu várias baixas relacionadas com gastos considerados impróprios ou por aceitarem "presentes" de interesses relacionados com os ses cargos.
Foi o caso de Scott Pruit, o chefe da Agência de Proteção Ambiental, que se demitiu depois de se descobrir que pagava renda reduzida num apartamento pertencente a um lobista da indústria do gás e que usara dinheiro dos contribuintes para pagar viagens caras e segurança.

Filha de imigrantes e contra KKK

Falada como possível candidata a vice-presidente ao lado de Mitt Romney, em 2012, Nimrata Nikki Randhawa Haley, de 46 anos, é filha de imigrantes sikh do Punjab, Índia. Eleita para o parlamento da Carolina do Sul em 2004, e reeleita em 2006 e 2008, defendeu baixa de impostos e restrições ao aborto. Em 2010 concorreu para governadora, com o apoio de Mitt Romney e Sarah Palin, e ganhou.
Três dias após o massacre de 2015 em Charleston, quando um supremacista branco abriu fogo numa igreja e matou nove pessoas, anunciando que tinha ido ali "para matar negros", Haley apelou para que a bandeira confederada, hasteada na sede do parlamento desde os anos 1960, em protesto contra o movimento dos direitos civis, fosse retirada, o que veio a suceder.
Em 2016, esta convertida ao cristianismo voltou a ser um nome falado para a corrida presidencial, desta vez ao lado de Trump. Mas em vez disso acabaria por criticá-lo por não rejeitar de imediato o apoio da Ku Klux Klan. Trump contra-atacou, dizendo que ela estava "a envergonhar o povo da Carolina do Sul", mas uma vez eleito convidou-a para um cargo de política internacional, para o qual ela não tinha qualquer preparação.
A última controvérsia em que esteve envolvida, em abril, disse respeito ao anúncio que fez do endurecimento de sanções à Rússia, por causa da manutenção do apoio daquele país à Síria mesmo após os ataques químicos. No dia seguinte, foi corrigida pela Casa Branca: a possibilidade de mais sanções estava em cima da mesa mas não para já. Nesse mesmo mês, Mike Pompeo tomou posse à frente do Departamento de Estado, substituindo Rex Tillerson, naquilo que foi considerado um triunfo da linha mais dura.

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