03.09.2018 às 7h19
O Presidente Michel Temer fala em “dia triste para todos os brasileiros”. O vice-diretor da mais antiga instituição científica do país, Luiz Fernando Dias Duarte, responsabiliza a falta de apoio e a incúria da classe política. Ainda não há pistas sobre o que terá provocado o incêndio mas a instituição já estava a sofrer cortes orçamentais há pelo menos três anos
“Não vai sobrar absolutamente nada do Museu Nacional. Os 200 anos de história do país foram queimados”. Foi desta forma que o vice-diretor da mais antiga instituição científica brasileira e o museu mais antigo do país, Luiz Fernando Dias Duarte, fez à rede Globo o rescaldo provisório do incêndio de grandes proporções que deflagrou este domingo no prédio histórico da Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro.
O fogo começou por volta das 19h30 locais, quando o museu já tinha fechado ao público. Segundo os bombeiros, não há registo de feridos. No momento em que o incêndio começou, havia apenas quatro vigilantes no local, que conseguiram escapar. Imagens aéreas mostram um edifício tomado pelas chamas e a dificuldade dos bombeiros em controlá-las, com zonas do museu já sem qualquer cobertura.
“FALTA DE CONSCIÊNCIA DA CLASSE POLÍTICA BRASILEIRA”
De acordo com a edição brasileira do “El País”, ainda não há pistas sobre o que terá iniciado as chamas. No entanto, sabe-se que a instituição, ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, já estava a sofrer cortes orçamentais há pelo menos três anos. Alguns pavimentos internos do prédio desabaram, ainda que os bombeiros tenham conseguido salvar uma parte do acervo. No combate às chamas atuam equipas de 20 quartéis de bombeiros do Rio de Janeiro.
O vice-diretor do Museu Nacional qualificou o incêndio como uma “catástrofe insuportável”. “O arquivo de 200 anos virou pó”, disse. “São 200 anos de memória, ciência, cultura e educação”, acrescentou à Globo, sublinhando que tudo se estava a perder “em fumo por falta de suporte e consciência da classe política brasileira”. Dizendo sentir uma “imensa raiva” por tudo o que lutaram e que “foi perdido na vala comum”, Dias Duarte lembrou que no aniversário dos 200 anos da instituição, que se assinalou este ano, nenhum ministro de Estado aceitou participar nas comemorações.
ACERVO COM CERCA DE 20 MILHÕES DE PEÇAS
O edifício, criado por D. João VI, foi residência da família Real e Imperial brasileira. A estrutura é de madeira, o que facilita a propagação das chamas. O acervo do museu é formado por cerca de 20 milhões de peças. Entre elas, o “El País” destaca a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador D. Pedro I; o mais antigo fóssil humano alguma vez encontrado no país, com cerca de 11 mil anos; um diário da Imperatriz Leopoldina; o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de Antropologia mais ricas do Brasil.
O Ministério da Educação lamentou o sucedido e garantiu que “não medirá esforços para auxiliar a universidade no que for necessário para a recuperação do património histórico”. Já o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, afirmou à Globo que o ocorrido é parte do “processo de negligência de anos anteriores”. “Que isso sirva de alerta para que não aconteça [n]outros museus”, recomendou. O governante lembrou ainda que foi feito um projeto para a revitalização do prédio. “Mas não deu tempo de evitar a tragédia”, lamentou.
PERDA “INCALCULÁVEL PARA O BRASIL”, DIZ PRESIDENTE
O Presidente Michel Temer afirmou que a perda do acervo do Museu Nacional é “incalculável para o Brasil”. Em comunicado, acrescentou: “Hoje [ontem] é um dia trágico para a museologia” do país. “Foram perdidos 200 anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para [a] nossa história não se pode mensurar, pelos danos [n]o prédio que abrigou a família Real durante o Império. É um dia triste para todos os brasileiros”, concluiu.
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