Os servidores públicos que delapidaram os cofres do Estado devem começar a pensar em três prioridades ao enfrentarem a justiça formal e o julgamento popular: arrependimento, perdão e participação activa na mudança.
Para o efeito, é hora de tais angolanos adoptarem outra postura, evitando a arrogância, de se confrontarem com a vontade do povo e com a justiça. De facto, a justiça tem de ser feita, assim como é forçoso recuperar o património surripiado.
Os que saquearam não são vítimas e não devem agora tentar fazer-se passar por tal, tentando veicular a ideia de que estão a ser perseguidos e de que quem pugna pela justiça quer vingança. Essas atitudes, bem exemplificadas por alguns que têm optado por ignorar as notificações do Serviço de Investigação Criminal para interrogatório, continuando a julgar-se demasiado importantes, só agravará a difícil situação em que os corruptos detidos se encontram, pela qual nunca esperaram.
Estes angolanos que afundaram o País devem ler a biografia do Gangster Americano – um cidadão negro norte-americano que, nos anos 70, se sobrepôs à máfia e passou a controlar o mundo do crime e do tráfico de heroína. Encurralado pelas autoridades americanas, o gangster americano, interpretado por Denzel Washington no cinema, optou por colaborar no desmantelamento das redes do tráfico de drogas e de outros mafiosos. Beneficiou assim de atenuantes extraordinárias e, consequentemente, acabou por recuperar a liberdade muito mais cedo do que seria previsível. Saiu da cadeia com a dignidade de um cidadão arrependido, e a sua história até mereceu um filme.
Portanto, sigam o bom exemplo do Gangster Americano:
O arrependimento
Este é o primeiro passo. Reconheçam que traíram a confiança do povo, que abusaram do poder e que saquearam milhões do erário público, pertença de todos os angolanos. Não há vergonha em admitir um erro, um crime. Paguem o preço pelo mal que causaram e acabarão por ser perdoados.
O perdão
É o momento de deixarem de abusar da máxima segundo a qual “o povo angolano é heróico e generoso”. Realmente, o sofrimento a que os angolanos têm sido sujeitos e a sua pacífica submissão revelam a sua estoicidade.
De um modo geral, os angolanos são generosos, apesar da desmoralização brutal por que têm passado, da corrupção e da desvalorização do indivíduo, do cidadão enquanto ser digno, criativo e independente.
Hoje, os angolanos parecem e agem como um povo extremamente corrompido e corrupto, entre outros desvirtudes. Este é o fruto pútrido da institucionalização do cancro da corrupção na mente dos angolanos. Esta é a triste realidade, de dirigentes que remeteram o seu próprio povo à miséria, numa terra abundante de riquezas.
Por isso, é fundamental que os saqueadores, seus familiares, amigos e sócios cúmplices…, saibam pedir perdão ao povo generoso pelos erros cometidos. Pedir perdão é uma virtude. Esta postura permitirá que cada angolano almeje por justiça e se afaste de qualquer sentimento de vingança.
A mudança
Qualquer pedido de perdão deve ser acompanhado de medidas para que a maior parte possível dos bens delapidados seja devolvida. Não bastarão palavras. Em vez de se esmerarem para que a justiça não triunfe, os corruptos devem optar, por exemplo, por devolver metade dos bens do Estado que têm em sua posse. A devolução não é uma exigência da injusta Lei de Repatriamento de Capitais, pelo que deverá ser um acto voluntário, que surpreenda o povo. É o que é justo e patriótico.
Precisamos de todos, sem excepção, para salvar Angola e restaurar a dignidade dos angolanos, que foi roubada com os actos de pilhagem, entre outros crimes. Se a atitude dos visados da luta anticorrupção assentar nessa linha, então estes também poderão recuperar a sua dignidade pessoal e a tranquilidade, mesmo nos calabouços, o que certamente a história registará. Terão um lugar digno, em vez de serem parte da lista dos “piores angolanos de todos os tempos”.
Quem não aprende com amor, aprende com dor.
Sem comentários:
Enviar um comentário
MTQ