Mesmo os governos mais sólidos, assim como os corpos mais saudáveis, têm células responsáveis pela sua destruição e metabolitos oxidantes que nem uma dieta exclusiva de frutos vermelhos poderia eliminar totalmente, quando muito adiar a morte. No fundo, grossus modus, cada ano que corpo e governo vão vivendo corresponde a menos um que têm para viver.
Por Brandão de Pinho
No caso da Administração de Angola como um todo, a reacção por parte das minorias criativas, chamemos assim à corte que o Rei Eduardo I criou, a dada altura, mesmo que tivessem um comportamento exemplar, avisado e desinteressado conduziriam Angola para o declínio, uma espécie de suicídio civilizacional já que os líderes inexoravelmente perdem a capacidade de responder com suficiente criatividade aos desafios permanentes e cada vez mais complexos que enfrentam.
Será que o apogeu já aconteceu aquando dos anos antes da crise do petróleo e neste momento vimos assistindo à lenta queda de um regime em fim de ciclo ou esse apogeu ainda estará para vir com o advento de JLo e das suas reformas – diariamente materializadas nas parangonas dos jornais estrangeiros e em folhetins nacionais sem memória ou sem independência – que podem não ser tão genuínas como a um cidadão menos atento possam parecer?
Quer para Hegel quer para Marx, foi a dialéctica – que resumidamente será a ciência que tenta reconciliar pontos de vista irreconciliáveis – contínua e própria da ascensão e apogeu de um país que deu o pretexto à história para guilhotinar num golpe inequívoco e irreversível esse mesmo país ou civilização. Até o próprio Adam Smith (um capitalista vitoriano insensível) admitiu que atingida a opulência esse estado entraria num estado estabilizado e estacionário e então, como parar é morrer como diz o povo, tal como diz que quanto maior é a subida (ascensão) maior será a queda (declínio), então dizia, ou a queda está iminente, na pessoa de sua eminência JLo, ou ainda não se atingiu o apogeu. Espero que seja esta última.
As grandes potências surgem e desaparecem de acordo com os índices de crescimento das suas bases industriais e o custo de seus compromissos imperiais em relação às suas finanças públicas. Por exemplo, no caso de Portugal, a expansão imperial carregava as sementes da decadência futura – fenómeno comum a todas as grandes potências – mas o Rei ia nu, no Caso o Presidente do Conselho, e só uns poucos portugueses, menos, e africanos, mais, conseguiam enxergar essa nudez.
Existem dezenas de exemplos. E até podemos analisar o caso da Ilha da Páscoa (que apesar do grau extremo de desenvolvimento a dada altura provocou uma erosão tal na terra que nem madeira tinham para construir barcos e fugir) ou o da China deste século XXI. Na primeira ocorreu um fenómeno de autodestruição por abuso de seu ambiente natural e desapareceu e na segunda para lá se caminha, ou caminhava, pois o Império do Meio deslocou alguns riscos ambientais colonizando Angola e outros Estados desesperados por divisas. Mas ao menos que tragam fábricas e conhecimento pois empresas tecnológicas duvido…
Todas as civilizações chegam à sua época de ouro e depois sucumbem, a questão como já escrevi é saber se essa época já foi ou ainda está para vir. No caso dos Maias caíram em uma clássica armadilha malthusiana, uma vez que sua população cresceu a um ritmo tal que o seu sistema agrícola, frágil e ineficiente, não foi capaz de a alimentar pois mais pessoas implicava mais cultivo, mas mais cultivo significava desmatamento, erosão, seca e exaustão do solo.
Com isso veio a FOME e a consequência foi a guerra civil causada pelos recursos minguantes e, finalmente, a ruína – o que permitiu aos exíguos, limitados e medíocres espanhóis com meia dúzia de homens, umas armas mais avançadas e um rol imenso de doenças – um trabalho muito facilitado na sua bárbara colonização dessa parte da América.
Nós, habitantes do planeta Terra, sem darmos conta estamos seguir o caminho dos Maias. O ponto crucial é que o suicídio ambiental é um processo lento e demorado. Infelizmente, os líderes políticos em quase todas as sociedades – primitivas ou sofisticadas – têm pouco incentivo para lidar com problemas que não têm probabilidade de se virem a manifestar nos próximos cem anos ou mais. As reivindicações retóricas de “salvar o planeta”, “acordos de paris”, “taxas de carbono” e “pegadas ecológicas” para as gerações futuras são insuficientes para superar os conflitos de ordem económica entre países ricos e pobres que existem actualmente. Como alguém disse mais ou menos por estas palavras: gostamos muito dos nossos netos, mas é mais difícil amarmos eventuais tetranetos.
Porém, no caso do Reino de Angola esperemos que este super-ciclo civilizacional – de nascimento, crescimento e morte – não passe de um abstracto e teórico sistema conceitual e conceptual que não se aplica e ao qual Angola não obedece de tal forma que o que vim enunciando ao longo deste artigo mais não seja de que uma representação equivocada do processo histórico. Espero que sim.
Para concluir, independentemente do estado em que se encontra a nação – ou a caminho do apogeu ou já na fase de decadência – eu suspeito que o futuro de Angola passa numa primeira fase pela continuação deste ritmo de reformas que deverão ser sempre escrutinadas pela oposição (se a houver) e pelos media, sobretudo o Folha 8; pela salvaguarda da independência das instituições; e, no caso das Forças Armadas pela reformulação total sobretudo para as manterem num equilíbrio em que não estejam disponíveis para um Golpe de Estado castrando alguns dos seu poderes nomeadamente as relações privilegiadas com a Economia e Política, mas suficientemente modernizadas para protegerem o país das ameaças estrangeiras que inevitavelmente, mais década menos década, acontecerão; pelo crescimento e diversificação económicos; por uma educação de excelência desde o pré-escolar até aos graus mais elevados, o que sem cooperação com escolas e universidades estrangeiras é inalcançável; pela erradicação da corrupção e Chico-espertismo; e por fim pela promoção das virtudes do trabalho sério e pela lealdade às entidades patronais concomitante a incentivos à poupança mesmo sabendo-se que muitos não têm dinheiro para pão… apesar de o terem para vinho e Cuca.
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