Paz para justiça ou justiça para paz...
Os mentores da ideia de colocar Samora Machel Jr. (Samito) à cabeça-de-lista da tal de AJUDEM para concorrer à presidência do Conselho Autárquico da Cidade de Maputo, nas eleições autárquicas marcadas para 10 Outubro de 2018, parece terem um objectivo estratégico em vista, entretanto inconfesso: apresentar Samito como candidato à presidência da República de Moçambique nas próximas eleições gerais, agendadas para o ano de 2019. E este projecto não é de hoje. Data desde que esse grupo não conseguiu colocar Aires Ali ou Luísa Diogo a presidir este país, nas eleições gerais havidas em Outubro de 2014.
Portanto, a mim não resta dúvida (de) que o Samito está a ser usado por indivíduos maquiavélicos para assegurar o controlo do poder político e económico de Moçambique por esses indivíduos, contanto que uma vez no poder pela mão de tais indivíduos, Samito terá que lhes "agradecer", pelo menos assim eles pensam com boa doze de convicção.
Ora, há algum problema em o Samito ser Presidente da República de Moçambique...?
Claro que, à luz da Constituição da República de Moçambique, não há impedimento para o Samito ser Presidente deste país. Mas politicamente eu vejo um impedimento.
É que o Samito é originário da região Sul de Moçambique, donde também foram/são originários três antigos presidentes deste país, anteriores ao Filipe Nyusi, que é o primeiro originário do Norte de Moçambique a chegar ao poder. Claramente, quando o consulado de Filipe Nyusi terminar, os compatriotas moçambicanos originários da região Centro deste país vão querer ter no trono um dentre os seus da mesma região.
Não obstante não esteja oficialmente assim prescrita, esta é a fórmula que pode manter Moçambique indivisível e em paz efectiva ou perene: deslocar periodicamente o centro do controlo do poder político pelas três regiões geográficas que compõem Moçambique. Uma vez que o controlo do poder esteve no Sul durante quase 40 anos, e presentemente está no Norte, proximamente terá que estar no Centro. Pelo menos esta é a expectativa dos originários desta região do país. Gorar esta expectativa, trazendo Samito ao poder, pode ser problemático.
Explicitamente, a não aplicação da fórmula apresentada no parágrafo precedente tem um grande potencial para instigar e nutrir ideias secessionistas, que poderão propiciar novas guerras em Moçambique, a exemplo do que ocorreu ou ocorre na Samália. Este é o novo perigo para o qual pretende meter Moçambique o grupo que está a fazer a cabeça de Samito, afinal desde há dois anos que este se vem preparando, qual ouvimos Graça Machel dizer publicamente, recentemente.
Queremos isso, nós moçambicanos de gema? Agora, aqueles moçambicanos que não são de gema, aqueles que venderam ou compraram bilhetes de identidade e passaportes, esses não interessados na paz, porque lucram mais com a guerra. São os tais que financiam organizações politicamente irresponsáveis qual AJUDEM. Como homens políticos que são, e não apenas jurisconsultos, Teodato Hunguana e Teodoro Waty precisam de apreciar também politicamente as decisões tomadas recentemente pela Comissão Nacional de Eleições (CNE). É preciso estarmos claros de que politizamos a CNE como condição para assegurar a paz. A paz é um bem maior que a justiça. Onde não há paz, não pode haver justiça.
Por conseguinte, politicamente são correctas as decisões tomadas recentemente pela CNE, porque visam defender e preservar a estabilidade política em Moçambique. Não é, pois, expectável que o Conselho Constitucional (CC), a quem cabe apreciar e julgar os recursos às decisões da CNE, não valorize a paz e valorize a justiça.
Que fique claro que tanto Samito quanto Venâncio Mondlane, todos originários do Sul de Moçambique, cada um de ambos pretende usar a presidência do Conselho Autárquico de Maputo como trampolim para chegar a Presidente da República de Moçambique. Esta pretensão, mesmo sendo constitucionalmente legítima, viola a fórmula apresentada acima para a garantia da estabilidade política neste país. Eneas Comiche claramente não tem essa pretensão, razão pela qual a sua indicação para cabeça-de-lista da FRELIMO reuniu facilmente consensos. No caso de Venâncio Mondlane, ele foi imposto às bases pela cúpula da RENAMO, sem noção correcta da ambição maior deste jovem, que é ser Presidente da República de Moçambique. Aliás, nesta empreitada também estão Daviz Simango e Manuel Araújo, ambos originários da região Centro de Moçambique. É bom que fique claro que, depois do consulado de Filipe Nyusi, o partido político que não concorrer com um candidato presidencial originário da região Centro de Moçambique vai perder liminarmente as eleições de 2024. O povo originário desta região também quer ver um dos seus filhos no trono, ou Moçambique mergulhará numa nova guerra, com consequências imprevisíveis. Não vale a pena evocar a lei para matar esta expectativa dos originários do Centro de Moçambique, por isso seria visto por eles como injustiça, bastante para motivar uma nova guerra. Todas as regiões geográficas de Moçambique têm filhos capazes de liderar o país. Então a solução justa é a alternância regional na liderança tanto dos partidos políticos quanto do país. Violar esta fórmula põe em perigo a paz, porque no Moçambique de hoje já será considerado uma injustiça perpetrada contra os filhos de outras regiões do país por aqueles que se perpetuarem na liderança.
Enfim, é por eu pensar assim que eu acho que as pretensões de Samito e de Venâncio Mondlane são potencialmente perigosas para a consolidação e sustentabilidade da paz e da estabilidade política em Moçambique. A liderança deste país tem que ser assumida por todas as regiões que o prefazem, ou haverá quem vai se sentir injustiçado e instigado a optar pela guerra para fazer justiça. Se ninguém quer a guerra, então vamos partilhar a liderança por regiões. Ontem foram os Sul, hoje são os Norte, amanhã serão os do Centro; depois o ciclo volta ao Sul, ao Norte e assim sucessivamente. Portanto, Samito e Venâncio Mondlane só terão a vez em 2034, quando o ciclo voltar para o Sul!
Eu disse.
Palavra d'onra!
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