Uma nova lufada financeira?
A presença do PR Filipe Nyusi na cimeira dos BRICS na África do Sul terá dois momentos significativos. O primeiro é mostrar o desagrado no nosso Governo à Pretória com os “trabalhos” da Sasol e sua relutância em investir mais em Moçambique para além do seu enfoque no upstream da cadeia de valor do gás. Nosso Governo esperava uma participação financeira da Sasol no projecto da linha de alta tensão de Temane-Maputo. Há pouco mais de duas semanas, Bongani Nqwababa e Stephen Cornell, os dois CEO da Sasol, deixaram claro que a petroquímica não vai entrar por aí.
Mas não terem avistado o PR e o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, deixou-os irados. Eles foram transmitir a Jeff Radebe, o seu Ministro da Energia, que foram mal recebidos em Maputo. E contaram que o ministro Max Tonela fê-los esperar cerca de 40 minutos. Para eles, isso era demais. Jeff Radebe acusou o toque e agora quer perceber afinal qual a razão para tamanha animosidade. Radebe está, pois, aberto a ter elementos que contraditem a aura imaculada que a Sasol pinta sobre si mesma na África do Sul. Filipe Nyusi tem pois a oportunidade da sua presença em Pretoria para jogar um novo baralho na mesa, pois nos próximos anos a RAS vai precisar do nosso gás para crescer, tanto mais não seja para melhorar a sua imagem de patinho feio dos Brics. Radebe tem uma compreensão sólida da importância do gás do Rovuma para a RAS, que supera de longe os benefícios gerados pela exploração da Sasol em Inhambane.
O segundo momento é que a cimeira na África do Sul está a ser usada para corredores diplomáticos bilaterais. Se não fosse por causa de sua agenda na comemoração do II Congresso da Frelimo em Matchedje, Nyusi já estaria lá há mais dias de mangas arregaçadas fazendo lobby para atracção de mais investimento para cá. Depois da cimeira, Narendra Mody (Índia) e Xi Jinping (China) estarão escalando outros países africanos - e ninguém virá a Moçambique. Seja como for, a cimeira de Pretória traz uma lufada de ar fresco para Moçambique. A China vai injectar mais fundos para o New Development Bank (NDB), o banco dos Brics, que não se pretende substituir ao Banco Mundial mas será um actor de peso para reforçar o multilateralismo numa era em que a América de Trump se escuda no proteccionismo com políticas que, inclusive, podem afectar aquela sua cedência tarifária para Africa chamada AGOA.
O NDB vai ser uma alavanca financeira de peso para países como o nosso. Uma alternativa ao dinheiro ocidental. Mas o acesso aos fundos vai ser competitivo. A RAS já está a dizer que espera receber do NDB nos próximos cincos anos 50 bilhoes de USD. E nós o que esperamos? O que queremos? Como estamos “vendendo” a importância do Canal de Moçambique na geopolítica? Será que sabemos doutros nossos trunfos geoestratégicos para além do gás. E será que estamos a conseguir saber vender isso?
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