Não se trata de gostar ou não gostar, Marcelo Mosse. É que de forma ostensiva, você está a fazer campanha contra um candidato, por sinal o único que até agora tem vindo a revelar o que pretende atingir, na eventualidade de vir a ser eleito para presidente do município de Maputo. Você não questiona, não contraria, ou demonstra o que há de errado naquilo que ele enuncia no programa de candidatura, como solução para os problemas do município. Você empenha-se, antes, em destruir o candidato enquanto pessoa.
Imiscuindo-se no direito do candidato em causa professar uma religião, você recorre à retórica dos anos da perseguição religiosa no nosso país, como que a negar o direito de alguém que represente o clero poder questionar políticos e governantes, querendo deixar passar a ideia de que os religiosos devem permanecer indiferentes perante os abusos e prepotências de outrem, ou o que de errado possam defender.
E ainda bem que temos um candidato que além de político é religioso, pois assim fica a esperança de que num futuro breve o município deixará de ser teatro de forças militarizadas em pleno acto eleitoral, de antro de raptos e assassinatos. Até agora nenhum autarca do regime que você defende condenou tais práticas.
Do trapézio sem rede
Parecendo que não, estas eleições de Outubro vão ser definidoras dalgum futuro da nossa democracia minimalista. E do futuro dalgumas das suas caras mais sonantes. Da situação e da oposição. Os bastidores prenunciam muita representação circense. O Venâncio vai enfrentar um dilema existencial. Ele será um equilibrista entre a política e a fé. Ao longo da semana, vai degolar com sua retórica afiada o candidato da Frelimo, mas no domingo no púlpito vai pregar o amor ao próximo, a concórdia do perdão. Ele estará em mutação constante. Na verdade tem jeito para isso. Há bem pouco tempo na bancada do MDM ele atacava o belicismo de Dhlakama. Ontem vi num vídeo dizer-se discípulo do pai da democracia. Nesse registo, o Manuel de Araújo não fica atrás. Mas este foi mais comedido. O pai da democracia era afinal seu tio, por via do casamento com a irmã da Ivone Soares.
Mas Venâncio e Araújo jogam em Outubro seu futuro na política. Imagina eles perderem? Eu gostava de ver o Venâncio e o Araújo se reduzindo a meros chefes de bancada da Renamo numa assembleia municipal. O Obama da nossa democracia na pequenez dessa função. Não! Ele quer voar alto. Mas sua pré-campanha já descamba para o absurdo. Essa de postar foto-montagem com o verdadeiro Obama é brincadeira de mau gosto. Um golpe na humildade. Não, na política não vale tudo!
E Venâncio ainda não percebeu uma coisa: ele é uma estrela numa galáxia pouco adorada em Maputo. Em Outubro não se vota numa pessoa, vota-se num partido. Com a Frelimo se destroçando em ruidosos estilhaços é provável que muitos dos seus militantes tenderão a reprovar a intrusão de Filipe Nyusi golpeando a pretensão das bases mas não é espectável que essa gente vote na Renamo. Muitos estarão bebendo uns goles nas barracas e curtindo praia no Bilene.
Ele que não pense que fará uma passeata em tapete vermelho. Por isso, há também na Renamo uma gloommy situation em potência. Se a Renamo não ganhar em Maputo, Quelimane e Tete, onde colocou como cabeça de listas os desertores do MDM, vai haver barulho. O apontar de dedos. A busca do culpado. E Venâncio será uma estrela se quedando lá longe na linha do horizonte, ele que forçou que seus lugares-tenentes estivessem em posição elegível na lista, afastando alguns renamistas de gema. Será a queda fatal de um trapezista sem rede.
PS: Conto olhar também para os dramas vigentes na Frelimo.
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