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Terror em Cabo Delgado
Pág. 2 e 3
3º - 35595 - 25.000,00MT
2º - 42196 - 50.000,00MT
VALOR DO 1º PRÉMIO DO JOKER - 250.000,00MT
LOTARIA
24ª EXTRACÇÃO
1º - 32820 - 1.000.000,00MT PREVISÕES DE JACKPOT
1º PRÉMIO -1.000.000,00MT
PRÓXIMA, 25ª EXTRACÇÃO DA LOTARIA 23/06/2018
1
PR MIO DE TOTOBOLA - 721.997,31MT
1
PR MIO DE TOTOLOTO - 1.505.839,57MT
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Para Amade Camal:
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Naíta Ussene
TEMA DA SEMANA 2 Savana 22-06-2018 TEMA DA SEMANA
O
empresário e analista
político, Amade Camal,
suspeita do envolvimento
das multinacionais
ligadas aos hidrocarbonetos
nos ataques de Cabo Delgado,
levados a cabo por grupos
armados, supostamente inspirados
no islamismo radical. “A solução
imediata para este problema
é mesmo parar com a exploração
dos hidrocarbonetos”, remata, um
empresário do ramo automóvel,
que tem estado activo na área dos
transportes.
Camal, um antigo deputado da
Frelimo na primeira legislatura
multipartidária (1994-9), não tem
dúvidas que, nos seus pacotes de
investimento, as multinacionais
incluem o financiamento a actos
terroristas para exigir aquilo que
não conseguem na mesa de negociações.
Estranha a prontidão do americano
Erik Prince, fundador da empresa
Blackwater Security e líder
da Frontier, que se propõe, em 90
dias, desmantelar completamente
toda a rede de ataques promovidos
pelos radicais do al-Sunah,
um plano que terá já apresentado
ao Governo moçambicano. Camal
afirma que o Governo sempre foi
avisado das movimentações de
grupos radicais, mas ignorou as
chamadas de atenção e hoje está a
reagir como bombeiro. Nas linhas
abaixo segue a entrevista, onde
Amade Camal denuncia as fragilidades
do Serviço de Informação
e Segurança de Estado (SISE) e
comenta sobre a Renamo pós-
-Dhlakama e aparente crise que
tomou conta do MDM, a terceira
maior força política moçambicana
com 17 deputados.
Como é que encara o envolvimento
da religião muçulmana nas
matanças que estão a aterrorizar a
província de Cabo Delgado?
Ao contrário do que muitos dizem,
vejo a situação noutro ângulo. O
islão é uma religião baseada numa
doutrina que significa submissão a
Deus. O Alcorão e a profecia do seu
mensageiro defendem a promoção
da paz.
Não devemos confundir a doutrina,
dos eventuais seguidores.
A humanidade nunca confundiu
a religião com aqueles que cometeram
a inquisição no século XVI,
nem com os que estiveram por detrás
da guerra das cruzadas por três
séculos. Também não se confundiu
a religião com os responsáveis da
guerra entre cristãos e os protestantes/luteranos
de tal forma que, nunca
misturou a religião cristã com as
incursões das brigadas vermelhas na
Itália, a ETA na Espanha nem da
IRA na Irlanda do Norte.
Todos sabemos que os autores dessas
atrocidades eram terroristas, mas
como não convinha serem aliados a
certa religião, a humanidade evitou
confundir. Agora, quando no meio
de milhares de muçulmanos, surge
um grupo de criminosos a aterrorizar
pessoas, logo, o islão é responsabilizado.
Nunca ouvi o mundo a
relacionar o cristianismo com o terrorismo,
em contrapartida, o islão é
aliado ao terrorismo.
Sente que há tendências de estigmatizar
o islão ao relacioná-lo
com actos macabros?
Sim. Há uma estratégia de estigmatizar
os muçulmanos associando
terroristas ao islão. Sempre que
alguém explode uma bomba e tira
vidas ou degola cabeças de pessoas e
diz Allahu Akbar, logo, o assassino
é muçulmano. Infelizmente, as pessoas
ignoram que qualquer falante
da língua árabe, seja muçulmano,
cristão ortodoxo ou de outra religião,
quando diz que Deus é grande,
pronuncia a palavra Allahu Akbar.
Nos Estados Unidos da América
existe um grupo que assassina
médicos, enfermeiros e incendia
clínicas que fazem abortos. Eles intitulam-se
de exército de Deus. São
assassinos, mas nunca são considerados
terroristas, são apelidados de
radicais. Portanto, mesmas acções e
designações diferentes.
Ao contrário dos cristãos. Os fanáticos
do islão evocam o Alcorão
para cometer atrocidades. Por quê
se o Alcorão é um livro que promove
a paz?
Todo o muçulmano respeita a vida.
O Alcorão diz que o assassinato de
um ser humano é equivalente ao
castigo da eliminação ou do assassinato
de toda a humanidade. Portanto,
o Alcorão deixa claro que se há
uma coisa proibida é matar alguém.
Agora, o Boko Haram, Al Shabab,
Estado Islâmico ou os terroristas de
Cabo Delgado não estão a seguir os
princípios nem os ensinamentos do
islão.
Como muçulmano estou contra
matanças, destruição ou qualquer
maldade ao próximo. Entretanto,
a minha inquietação é: todos esses
movimentos que o mundo chama
de terroristas islâmicos vieram
muito depois da guerra na Palestina,
das invasões no Iraque, Líbia,
Afeganistão e tantos outros países.
Qual foi o padrão religioso desses
invasores? São terroristas ligados a
que religião?
O que o mundo diz sobre esse grupo
de terroristas que matou milhares
de pessoas no Iraque e no
Afeganistão em nome da hipotética
democracia? A Líbia era um país
próspero. A qualidade de vida dos
líbios superava a de alguns países
europeus e foi destruída. O mundo
achou isso normal.
Voltemos ao terror de Cabo Delgado
e o envolvimento do islão...
O terrorismo de Cabo Delgado não
pode ser visto de forma isolada. É
necessário compreender a economia
dos hidrocarbonetos, a actuação das
grandes potências nos países onde
as suas multinacionais têm interesses.
O que está a acontecer em Cabo
Delgado não constitui nenhuma
novidade para quem lê a literatura
que discute a economia dos hidrocarbonetos.
Não é por acaso que Moçambique
regista a eclosão de focos de violência,
com certas características, numa
altura em que a exploração do gás
de Rovuma está quase a começar.
Coincidentemente, estes recursos
estão numa zona de maioria muçulmana.
Dívidas ocultas
Depoimentos populares indicam
que os insurgentes acreditam têm
a missão de restaurar os valores
tradicionais do islão, uma vez que
consideram o islão praticado em
Moçambique como estando em
decadência e estão a combater os
A receita de Amade Camal para acabar com o “terrorismo” em Cabo Delgado
“A solução é parar com exploração
dos hidrocarbonetos”
que estão contra as suas pretensões...
Em Moçambique não há guerra
religiosa e nem há espaço para tal.
O colonialismo tentou dividir moçambicanos
recorrendo à religião e
não conseguiu. A Frelimo marxista
também tentou dividir o povo moçambicano
através da religião, mas
também não conseguiu. Não é verdade
que as matanças de Cabo Delgado
têm a vertente religiosa.
Há quatro anos escrevi um artigo
em que alertei a quem de direito
que, se não conseguirmos gerir as
expectativas em torno dos recursos
naturais, a segurança do país estará
em risco.
Cheguei a essa conclusão porque
a história universal reza que na estratégia
geo-económica dos hidrocarbonetos,
nos territórios onde há
recursos em abundância há guerra.
Isso não acontece apenas em países
onde há domínio da religião muçulmana.
Temos exemplos de Congo,
Sudão do Sul, Nigéria.
Estranhamente, nos países donde
vêm as multinacionais que investem
nos hidrocarbonetos não há guerra,
mesmo com abundância dos recursos
como é o caso da Noruega, Estados
Unidos ou Canada.
Isto mostra que existe um padrão
de violência de países desenvolvidos
para com subdesenvolvidos devido
ao controlo dos recursos.
Esta violência é secular e é exercida
em várias formas. Mesmo as dívidas
ocultas que estão a ofuscar o país
resultam das acrobacias dessas potências
com intenções imperialistas
para continuar a condicionar os
países pobres e retirar seus recursos
sem contrapartidas.
As dívidas ocultas foram contraídas
por moçambicanos bem identificados.
Onde é que entram as
multinacionais.
Não estou a dizer que não houve
ladrões em Moçambique nas dívidas
da Ematum e companhia. Há
pessoas que levaram dinheiro para
seus bolsos e que devem ser responsabilizadas.
O que estou a dizer é
que fomos enganados que nem ingénuos
para nos criar esta situação
de ruptura insustentável da nossa
economia. Como é possível países
europeus e americanos venderem
equipamento de guerra sem saber
para onde vai e como é que será
pago? Isso é no mínimo estranho.
É óbvio que os nossos serviços secretos
também cometeram falhas.
Veja que, aqueles que tinham a
obrigação de identificar o perigo
foram eles que levaram o país a uma
situação perigosa devido à ambição
de ganhar dinheiro sem sacrifício.
Os imperialistas têm vários truques
para fazer vincar suas intenções.
Antes procuram identificar fragilidades
de cada sistema e exploram
no máximo. Viram inconsistência
ética da parte dos nossos serviços de
segurança de Estado e conseguiram
ancorar o país para satisfazer seus
desejos.
FDS não relatam a
realidade
Diz que a instabilidade de Cabo
Delgado deriva dos hidrocarbonetos.
Porém, as Forças de Defesa
e Segurança olham para os insurgentes
como um grupo de bandidos
armados...
Compreendo a posição das chefias
das FDS. Eles não são estúpidos.
Pensam muito bem e sabem que o
que dizem à sociedade sobre ataques
não convence a ninguém. Infelizmente
o sistema está condicionado
à pressão dos investidores.
As FDS receiam que se fizerem
uma abordagem realística pode
condicionar os cifrões dos investimentos,
mas a forma irrealista de
abordagem das coisas vai fazer com
que a finalidade seja a criação duma
vila autónoma na zona de exploração
dos hidrocarbonetos.
As FDS dependem da voz do comando
que deve advir do Comandante-em-chefe
que também é chefe
dum governo que está ancorado à
vontade dos investidores.
Na realidade, os investidores querem
criar um território em que nem
o governo terá acesso sob pretexto
de proteger seus investimentos.
Os insurgentes existem, estão profundamente
enraizados, organizados
com objectivos concretos. Isto
é, criar focos de instabilidade permanente
de forma que as multinacionais
consigam tudo o que não
conseguiram na mesa das negociações.
Para tal, vão nos entretendo com estes
movimentos terroristas para nos
desviar o essencial. Esta é a história
da guerra nos hidrocarbonetos.
Cabo Delgado tem hidrocarbonetos,
tem rubis, grafite, esmeraldas,
está numa situação
Por Raul Senda (textos) e Naita Ussene (fotos)
...e acrescenta que os serviços secretos moçambicanos mostraram enormes fragilidades
“Há uma estratégia de estigmatizar muçulmanos associando terroristas ao islão”, Amade Camal
TEMA DA SEMANA Savana 22-06-2018 3
geoestratégia privilegiada. Como
moçambicanos devemos olhar para
este cenário com muita seriedade.
O governo moçambicano deve ser
muito mais radical.
O que quer dizer quando refere
que o governo deve ser mais radical?
Se queremos evitar que Moçambique
seja igual aos países que as suas
riquezas tornaram-se motivo de
castigo dos seus cidadãos, devemos
parar com a exploração dos hidrocarbonetos.
O governo ainda vai a
tempo de cancelar os projectos da
bacia de Rovuma e incorrer nas penalizações
financeiras. Basta dizer
que estamos numa situação de insegurança
e não queremos prejudicar
nossos investidores.
Também se diz que o governo foi
avisado sobre o perigo, mas ignorou.
Como é que analisa esse facto?
Como organização islâmica informámos
o Ministério da Justiça, na
qualidade de entidade que tutela as
confissões religiosas, sobre a presença
cada mais crescente de grupos
com tendências radicais no norte
dos país. Isso foi nos anos 2013/14.
Também informámos sobre a persistência
desses movimentos aos
Serviço de Informação e Segurança
de Estado.
Estranhamente, ficamos surpresos,
quando mais tarde esta questão
rebentou e o governo deixou a
mensagem de que foi encontrado
de surpresa. Também ficámos surpresos
quando os indivíduos ligados
a estes actos são associados ao radicalismosislâmico.
Como é que os nossos serviços secretos
não conseguiram antecipar
um perigo desta envergadura depois
de vários avisos?
Os nossos serviços secretos são frágeis.
Quer na questão das dívidas
ocultas bem como na questão de
Cabo Delgado exibiram enormes
fraquezas.
Como é que encararam esse desprezo,
sobretudo quando é uma
questão que põe em causa a soberania
do Estado ?
É preciso entender que as políticas
de gestão governamental assemelham-se
muito à forma de actuação
de bombeiros. Passam a vida a apagar
fogo. Outra coisa é que, infelizmente,
o nosso governo tem muitos
problemas por resolver e isso deixa-
-lhe muito mais vulnerável.
Mas, para nós que conhecemos o
funcionamento da geografia militar
dos hidrocarbonetos, os terroristas
dos hidrocarbonetos, isso já não é
surpresa.
Os pacotes de investimentos das
grandes multinacionais também
incluem o financiamento de grupos
terroristas. Não estou a inventar
nada. Isto é o padrão, porque
mesmo que a guerra progrida para
proporções alarmantes a exploração
desses recursos nunca vai parar.
Perante este cenário de instabilidade,
para onde vamos como país?
Acho que é momento de deixar
conversas de entretenimento, de nos
concentrar em ofensivas militares e
procurar saber o que está por detrás
desses insurgentes. Mas tenho certeza
de que a riqueza é que está por
detrás destes terroristas. Com todo
o respeito que tenho pelos académicos
que elaboraram estudos sobre a
situação de Cabo Delgado e chegaram
as suas conclusões.
A pobreza, as desigualdades sociais
existem em todo o lado, mas nunca
foram focos de matanças. Conheço
Cabo Delgado e não há razões que
justifiquem este nível de matanças.
A facilidade com que se decepam
cabeças não tem razão nenhuma.
Esta marca já conhecemos de outros
países e, neste momento, a solução
é mesmo parar com exploração
dos hidrocarbonetos.
Os moçambicanos são muito tolerantes,
não conheço nenhuma família
cristã que não tenha um muçulmano
no seu seio e vice-versa.
Começando pelos dirigentes deste
país passando pelos partidos da
oposição.
O que está a acontecer é que as coisas
estão a ser formatadas de modo
que esses recursos não beneficiem
o país e muito menos ao moçambicanos.
As multinacionais que estão a fazer
prospecção de hidrocarbonetos na
bacia do Rovuma sabem muito bem
o que vai acontecer daqui a dois,
três quatro ou cinco anos. Contudo,
não partilham essa informação
com o empresariado nacional para
se preparar. Eles querem encontrar
os moçambicanos desprevenidos e
dessa forma chamar seus compatriotas
para usufruem dos benefícios
dos nossos recursos.
Tenho certeza de que, se o governo
ganhar coragem e dizer que não há
exploração de hidrocarbonetos, os
moçambicanos continuarão a viver
normalmente.
O que mudou para o povo com a
isso que prefere ficar calado. Infelizmente,
os nossos compatriotas estão
a ser manietados para executar estas
acções, mas os estrategas são estrangeiros.
Há dias, o proprietário da Blackwater
Security, Erik Prince, prontificou-se
a eliminar os insurgentes
de Cabo Delgado em três meses,
mediante uma factura de 800
milhões de dólares. O que achou?
Tudo tem preço. Erik Prince, através
da sua empresa Blackwater Security,
chegou a ter 90 mil homens
na guerra do Iraque. Era um contingente
altamente equipado. Isto
é, a máquina de guerra usada pelos
EUA para destruir Iraque foi da
Blackwater. Acha que é normal empresa
de um cidadão ter um exército
e um arsenal militar daquela envergadura?
Ficou claro que na guerra
do Iraque, o senhor Prince estava a
representar interesses dos EUA.
Por falar de Erik Prince é importante
lembrar que, na altura de
prospecção de hidrocarbonetos na
bacia de Rovuma, os investidores
diziam que gastavam um milhão
de dólares americanos/dia em segurança.
Era uma empresa estrangeira
que garantia a segurança das plataformas.
Acho que é justo que as
FDS olhassem naquilo como oporlados
porque se limitam apenas à
província de Cabo Delgado. Não
é verdade, isto vai alastrar-se por
todo o país. Se não pararmos com
a exploração dos hidrocarbonetos,
vamos voltar ao caos num futuro
não distante porque isso interessa
os investidores.
Um exemplo simples que como país
é importante ter em conta: a proposta
de segurança apresentada por
Erik Prince não se limita apenas a
Cabo Delgado. Vai até a zona de
Limpopo. Prince tem acesso à informação
privilegiada dos investidores
e deve saber que o plano de
expansão dos terroristas vai chegar
à região sul do país, tomando controlo
de quase toda a costa moçambicana.
Se o nosso governo está comprometido
com a segurança nacional, deve
levar a sério o mapeamento de Erik
Prince.
Como é que estes movimentos actuam?
Os modus operandi são os mesmos.
Veja o que está a acontecer no Conclave
de Cabinda em Angola, no
Sudão do Sul, na República Democrática
do Congo, na Líbia ou no
Iraque.
Veja que isto começa na Mocímboa
da Praia e logo a população chama
com algumas manchas porque estamos
numa situação em que temos
população deslocada devido à insegurança.
A realização das quintas eleições
autárquicas coincide com a introdução
do novo modelo de votação.
Será a forma ideal para a consolidação
da nossa democracia?
Todos os modelos são bons desde
que o processo eleitoral seja conduzido
de forma justa, livre e transparente.
Sem isso podemos trazer
todos os modelos democráticos que
nenhum vai singrar.
O modelo de cabeça de lista beneficia
mais os partidos e a Frelimo
pode obter vantagens visto que
está mais forte como organização
quando comparada com seus adversários.
Contudo, com um pouco
de trabalho, os partidos da oposição
até podem conquistar alguns territórios
porque o modelo permite e o
desgaste da população com a forma
de governação da Frelimo está mais
crescente.
Infelizmente, a nossa oposição não
consegue aproveitar essas oportunidades
resultantes do desgaste político
da Frelimo e o país é que perde.
Uma oposição forte obriga a Frelimo
a ser muito mais forte. Uma
oposição fraca deixa a Frelimo relaxada,
que é o que acontece.
Enquanto tivermos uma oposição
inoperante, a Frelimo continuará a
nivelar-se por baixo e rodeada de
pessoas fracas, sem debate, menos
críticas e obedientes porque sabe
que sempre vai ganhar eleições.
A morte de Dhlakama vai ou não
pôr em causa a consolidação da
democracia em Moçambique?
Afonso Dhlakama foi quem consolidou,
politicamente, a Renamo,
mas o seu desaparecimento fisico dá
oportunidade à Renamo de virar a
página.
Desde a morte de Dhlakama, a
Renamo tem demonstrado uma
maturidade fantástica e está a demonstrar
uma visão de poder, o que
é fantástica.
Durante muito tempo, a Renamo
resumia-se no seu líder. Com a sua
morte, os egos estão a unir-se em
torno da organização, o que é muito
bom para construção dum partido
forte e coeso.
Como é que analisa a crise do
MDM?
O MDM está a demonstrar que
ainda é bebé e, infelizmente, com
tendências a desmoronar. A forma
como o MDM é gerido mostra uma
imaturidade enorme por parte dos
seus dirigentes.
Nos últimos dias, o MDM tem nos
mostrado que era o que era porque
a Renamo permitiu que assim fosse.
Há um eleitorado anti-Frelimo que
sempre votou na Renamo e, na ausência
deste, vota no MDM. Também
há um eleitorado fiel à Frelimo.
Mas também temos eleitores
que não se sentem representados na
bandeira da oposição e sentem-se
marginalizados pela Frelimo.
Esperávamos que o MDM conquistasse
esse eleitorado por ser um
partido novo e formado por jovens,
supostamente, com uma visão diferente.
Porém, a realidade mostrou
o contrário. Um partido sem ideias
nem argumentos políticos.
O que acha da governação de Filipe
Nyusi?
Tenho uma grande simpatia por
Nyusi. Muitos dizem que a grande
marca da sua governação é a paz,
mas eu digo não, é ter conseguido
conduzir o país mais de três anos
no meio dum bloqueio internacional.
Sem apoios nem créditos. Está
a mostrar que Moçambique pode
viver sem depender dos doadores e
muito menos dos hidrocarbonetos.
exploração de gás de Temane em
Inhambane, com a exploração de
carvão em Tete ou de Rubis em
Cabo Delgado. O povo continua
com as mesmas dificuldades.
O argumento de que a pobreza
está por detrás das matanças em
Cabo Delgado não procede...
Não procede. Trabalhei muitos anos
em Tete. No local encontrei pessoas
não escolarizadas e atrasadas intelectualmente,
a população, sobretudo
a juventude, estava numa situação
de pobreza extrema, mas não
houve guerra pelas diferenças, pelo
empobrecimento ou pela entrada de
imigrantes nacionais e estrangeiros
que ocuparam mais de cinco mil vagas
criadas pelos investimentos carboníferos.
Ao contrário do que os
académicos dizem, tal como se verifica
em Cabo Delgado, os jovens de
Tete também viram as riquezas e as
oportunidades a passar ao seu lado.
Os ataques estão a subir de escalada
e o Presidente da República
ainda não se pronunciou sobre os
ataques. Como é olha para esse silêncio?
Ele não se pronuncia porque sabe
que não são moçambicanos que
estão por detrás dos ataques. O
presidente não quer mentir. É por
tunidade para investir na defesa da
integridade territorial. Acredito que
se não tivesse havido tantos roubos,
o negócio teria sido viável.
Porém, quando os imperialistas se
aperceberam que se o esquema da
EMATUM, MAM e ProIndicus
desse certo, ninguém daria conta do
endividamento e os seus planos podiam
não singrar.
Assim, os investidores atrasaram as
suas projecções de início de exploração
de gás e daí destaparam os
endividamentos e colocaram o país
de cócoras.
É estranho que numa situação em
que estamos ancorados e debaixo de
terror provocado por um grupo cujo
rosto é desconhecido, apareça uma
empresa de segurança ligada ao
país de um dos investidores nesses
recursos, a dizer que acaba com os
bandidos em tempo recorde a troco
de mais um endividamento do país.
Na realidade, o que os imperialistas
querem é tirar nossos recursos e nos
deixar no zero.
Tendo em conta os seus argumentos,
este conflito não tem fim à
vista...
Estes ataques vão continuar e com
tendências crescentes. Hoje até
podemos pensar que são casos isoos
tais criminosos de Al Shabab. A
população não sabe nada disso. Isso
de Al Shabab é invenção dos responsáveis
desses movimentos para
distrair-nos porque sabem que o
Al Shabab actua de forma radical
fomentado terror de forma hedionda.
Isto foi maquinado de forma a
se consolidar a ligação desses insurgentes
com os terroristas de Al
Shabab.
Cancelando os contratos de gás de
Rovuma, o Governo não corre o
risco de ser empurrado por pôr em
causa os interesses dessas multinacionais...
Os investidores não querem tirar a
Frelimo do poder. O que eles querem
é condicionar a governação. Os
investidores sabem que com a Frelimo
os seus interesses estão protegidos.
A entrada de outro partido
pode trazer incertezas e os investidores
não querem instabilidade que
não controlam.
O MDM está a desmoronar
Os ataques de Cabo Delgado
acontecem numa altura em que as
eleições autárquicas estão próximas.
O processo eleitoral não será
prejudicado?
As eleições vão realizar-se, mas
Camal diz que nos seus investimentos, as multinacionais incluem um pacote para actos de terrorismo
TEMA DA SEMANA 4 Savana 22-06-2018
O
governador do Banco
de Moçambique (BM),
Rogério Zandamela,
considera que a elevada
dívida externa do país será paga
em função da capacidade financeira
do país e que “ninguém vai
cometer suicídio para pagá-la”.
Zandamela falava esta segunda-feira,
durante a apresentação das decisões
do Comité de Política Monetária
(CPMO) do BM.
O governador do Banco Central
moçambicano voltou a manifestar
preocupação com os níveis de dívida
pública interna, que ronda os 105 mil
milhões de meticais, o equivalente a
12% do PIB.
Para Rogério Zandamela, não restam
dúvidas de que a dívida pública
interna é extremamente elevada e já
levanta sérias questões de sustentabilidade.
“Não temos boas notícias”, afirmou
Zandamela, assinalando que o endividamento
público interno compreende
os bilhetes de tesouro e
adiantamentos que o BM tem efeituado
a favor do Governo, que hoje
se situam ao redor dos 105 mil milhões
de meticais.
Este montante representa 12.1% do
PIB e corresponde a um acréscimo
de 9.975 milhões de meticais, desde
o início do ano.
O governador do Banco de Moçambique
enalteceu o facto de a dívida
não incluir todos os encargos internos.
Frisou que componentes como os
contratos mútuos com servidores,
contratos de locação financeira e responsabilidade
em mora, cujo valor
real é bastante superior ao captado
através dos títulos de BT e adiantamentos
do BM, não são tomados
em conta na determinação da dívida
pública.
“Temos uma dívida interna em que
alguns factos ainda não foram incluídos,
porque ainda há um trabalho
que está a ser feito pelo governo para
apurar o nível dessa dívida com os
fornecedores em particular e, neste
momento, não temos os números”,
sublinhou.
Dados do primeiro trimestre do presente
ano mostram um agravamento
do défice público em relação a igual
período de 2017.
Para esta deterioração, de acordo
com o BM, contribuiu o pagamento
do serviço da dívida pública, que
atingiu 8.489 milhões de meticais,
cifra correspondente a quase dobro
do valor pago no período em análise.
No entanto, avança o BM, o défice
foi coberto com recurso a financiamento
interno líquido, no montante
de 4.343 milhões de meticais (46%
do défice), e através de fundos de ajuda
externa destinados a projectos de
investimento.
Recorde-se que, devido à suspensão
do apoio financeiro por parte dos
parceiros de cooperação na sequência
da descoberta das dívidas ocultas,
o Estado tem recorrido aos bilhetes
de tesouro para se financiar.
O crescimento da dívida, de acordo
com o BM, levanta incertezas quanto
ao rigor das medidas de consolidação
fiscal necessárias para mitigar o risco
associado à sua sustentabilidade
num contexto de ciclo eleitoral este
ano (eleições autárquicas) e próximo
(eleições gerais).
“É complicado tomar medidas de
ajuste fiscal para mitigar o crescimento
da dívida nos períodos eleitorais.
O espaço é muito restrito para
tomar as medidas e reformas necessárias”,
declarou o governador do
Banco de Moçambique.
Rogério Zandamela explicou que,
sempre que chega um ciclo eleitoral,
os investidores são conservadores e
não podem colocar o seu dinheiro
sem clareza das prioridades do novo
governo.
Quanto às dívidas ocultas, Zandamela
disse que o objectivo central é
que sejam restruturadas.
“Ninguém sabe quando é que o processo
será concluído, mas também
pode não se pagar nada nos próximos
cinco a dez anos, em função do acordo
que for alcançado nas negociações
entre o governo e os credores”, declarou.
Nesse âmbito, prosseguiu, “os encargos
serão liquidados em função das
capacidades do país e ninguém vai
cometer suicídio para pagar a dívida,
porque isso não existe em nenhuma
parte do mundo”.
Crescimento moderado
O dirigente do Banco Central disse
que o crescimento económico do país
continua moderado, dado que o PIB
do primeiro trimestre de 2018 revela
que a actividade económica cresceu
3.2% em termos anuais, contra 4,5%
registados em igual período de 2017.
Nota importante realçada por Zandamela
é que, diferentemente do ano
passado, em que o crescimento foi
impulsionado pela indústria extractiva,
que registou um crescimento
de 60%, desta vez verifica-se uma
diversificação de sectores que contribuíram
para o crescimento económico,
com excepção da electricidade e
água, que decresceram 1,8%.
As condições da economia, apontou
Zandamela, continuam a favorecer
a projecção de uma inflação baixa e
estável no médio prazo, não obstante
persistirem riscos diversos e que
exigem prudência na condução da
política.
Com efeito, o BM reviu em baixa
a taxa de política monetária, taxa
MIMO, em 75 pontos, para 15,75%.
Reduziu igualmente a taxa de facilidade
permanente de depósito para
12,00% e manteve a taxa de juro de
facilidade permanente de cedência
de liquidez (FPC) em 18,00%.
Manteve o coeficiente de reservas
obrigatórias para os passivos em
moeda doméstica em 14%.
Rogério Zandamela defendeu que
não se podem reduzir as taxas de juro
com medidas administrativas, tendo
reconhecido que, na conjuntura actual,
as mesmas continuam elevadas,
mas são as necessárias para gerar estabilidade
e equilíbrio macroeconómico
que o país precisa.
Vincou que espera que aqueles indicadores
continuem a cair, apelando
à paciência, porque as medidas do
banco central levam o seu tempo
para produzirem respostas.
Destacou ainda a estabilidade do
metical face às moedas estrangeiras,
apontando que agora está a níveis do
final de 2017. Disse que o comportamento
do metical reflecte em parte
o aumento da liquidez em moeda
externa, que contribui para a robustez
das reservas internacionais que
rondam os USD 3.235 milhões, suficientes
para cobrir cerca de sete meses
de importação de bens e serviços,
excluindo os grandes projectos.
Zandamela desvalorizou a tese defendida
pelo FMI, segundo a qual o
não pagamento da dívida externa é
que contribui para o fortalecimento
das reservas internacionais.
Para o governador do BM, o incremento
das reservas internacionais
deve-se ao esforço que a instituição
está a fazer, porque o fortalecimento
seria menor.
BM foi conservador
Reagindo, esta terça-feira, às medidas
tomadas pelo Banco Central, o
economista-chefe do Standard Bank,
Fáusio Mussá entende que o BM foi
conservador na sua medida.
Mussá, que falava no âmbito do Economic
Briefing organizado por aquela
instituição bancária, assinalou que
esperava que a taxa MIMO fosse reduzida
em 150 pontos bases contra
os 75 aplicados esta segunda-feira.
Argumentou que, entre Dezembro
do ano passado e Abril do ano em
curso, o BM efectuou três cortes na
taxa MIMO, na ordem de 150 pb em
cada operação e esperava-se o mesmo
cenário nesta semana.
“Considerando que houve uma melhoria
na balança de pagamento, no
nosso entender, havia espaço para
cortes das taxas de juro mais agressivos
do que houve ontem (segunda-
-feira)”, assinalou.
Entende o economista que há uma
tendência geral de melhoria da economia
do país, visto que a inflacção
passou dos 27% em finais de 2016
para 3,3% em Maio último, num
cenário em que há estabilidade cambial.
Fáusio Mussá considerou que a realidade
da economia nacional mostra
que há uma necessidade de estimular
o crescimento da procura agregada.
Segundo Mussá, se as taxas tivessem
sido cortadas na magnitude vista
nos últimos tempos, provavelmente,
o ano iria fechar com a taxa de juro
MIMO perto dos 10%, pois há espaço
para isso.
Sublinhou que a aplicação de taxas
de juro atractivas é importante para
que o sector privado possa aceder ao
crédito, contrariando o actual cenário
em que o crédito é canalizado ao
sector público.
Manifestou a sua preocupação como
o que vai acontecer no domínio fiscal,
visto o nível de “agressividade” do
BM no corte das taxas de juro.
Bancos comerciais agem
lentamente
Quem manifestou preocupação com
a morosidade da redução das taxas de
juros aplicadas pelos bancos comerciais
na sua relação com o público
foi a Confederação das Associações
Económicas de Moçambique
(CTA).
A CTA argumenta que a taxa de juro
de política monetária (taxa MIMO)
baixou, de Abril de 2017 a esta parte,
em 600 pontos base, porém as taxas
dos bancos comerciais baixaram apenas
300.
Luís Magaço, presidente do pelouro
da Política Financeira da CTA, fez
notar que há uma reacção positiva do
lado do Banco Central em relação às
taxas de juro, contudo, há uma reacção
mais lenta dos bancos comerciais.
Magaço falava nesta terça-feira, em
Maputo, durante um encontro entre
a CTA e o BM com o objectivo de
partilhar com os agentes económicos
a situação macroeconómica, um
exercício que será replicado pelas outras
províncias.
“É fundamental que a velocidade e o
nível da redução das taxas directoras
seja a mesma dos bancos comerciais”,
frisou.
“Vamos continuar a interagir com a
Associação Moçambicana de Bancos
para que o desaperto do cinto dos
bancos também represente um desaperto
do cinto para as empresas e os
cidadãos em relação aos seus créditos”,
frisou.
Respondendo às preocupações da
CTA, Felisberto Navalha, administrador
do Banco de Moçambique,
precisou que a sua instituição está a
trabalhar com os bancos comerciais
para melhorar a transparência na fixação
dos juros e minimize processos
de aproveitamento.
“Estamos a trabalhar com os bancos
para primeiro trazer mais transparência
no processo de fixação de juros
aos clientes e também estamos a
trabalhar no domínio de criar uma
situação em que a transmissão das
decisões da política monetária seja
muito mais rápida naquilo que o
cliente final encontra”, afirmou Navalha.
Navalha fez notar que, de uns tempos
a esta parte, o BM constatou que
quando a política monetária actua no
sentido de aperto de aumento das
taxas, os bancos exercem uma reacção
rápida e na mesma linha, todavia
quando é o inverso a reacção já não é
no mesmo ritmo.
Por Argunaldo Nhampossa
“Ninguém vai cometer suicídio por causa da dívida”
.... amortecendo a deterioração do défice da conta corrente (USD 153 mio)
causado pelo aumento do défice de serviços (USD 230 mio)...
Milhões de USD
I Trim.17 I Trim.18 Var.
(USD) Var. (%)
Conta Corrente -811 -964 -153 18.9
Saldo de Bens -374 -261 113 -30.1
Exportações 988 1 182 194 19.7
Importações 1 361 1 443 82 6.0
Saldo de Serviços -325 -555 -230 70.7
Saldo de Rend. Primário -198.1 -229 -31 15.5
Saldo de Rend. Secundário 86 81 -5 -5.7
Conta Capital 59 53 -5 -9.2
Conta Financeira -597 -645 -48.0 8.0
dos quais:
IDE 541 336 -205 -37.9
Outro Investimento 58 304 246 -
Balança de Pagamentos do I Trimestre de 2018
contribuindo para assegurar que as reservas internacionais
brutas continuassem em níveis confortáveis, cobrindo mais de 7
meses de importações, excluindo grandes projectos.
12
Acumulado
I Trim. 2018
Acumulado
até 15/Junho/2018
I. TOTAL DE ENTRADAS 539.5 918.0
Ajuda Externa 0.0 0.0
Receitas de Mineiros 3.5 4.3
Entradas Liq. (Projectos do Estado) 49.8 127.5
Compras diversas 26.5 45.0
Depósitos Liq. Das IC's 128.7 118.3
Ganhos cambiais líquidas 29.7 -13.1
II. TOTAL DE SAÍDAS 575.5 975.9
Serviço de Dívida - Pública 105.6 181.2
Vendas Líquidas a/ 178.9 176.3
Vendas (inclui para combustiveis) 185.9 245.9
Compras 7.0 69.6
Diversos 10.3 17.6
Fluxo Total Acumulado (ajustado) -64.4 -116.8
Saldo no Fim do Período 2 986.8 2 934.3
Reservas Brutas 3 225.8 3 235.0
2 934.3
3 235.0
Até Maio, o endividamento interno público sob a forma de: (i) títulos; e
(ii) adiantamentos do BM, aumentou em 9.975 milhões de MT.
Fonte: BM/MEF
Endividamento Interno do Estado na Forma de BT, OT e Adiantamentos do BM
(em milhões de MT)
Utilização
de BT
Obrigações do
Tesouro No BM Dívida Total Dívida em %
do PIB
Dez – 2017 21 634 39 566 34 382 95 582 11.9%
Jan – 2018 21 634 39 566 40 582 101 782 11.6%
Fev – 2018 21 634 39 565 40 582 101 781 11.6%
Mar – 2018 21 634 42 678 40 582 104 894 12.0%
Abr – 2018 21 634 42 413 40 582 104 629 12.0%
Mai – 2018 21 339 43 636 40 582 105 557* 12.1%
Fluxo Acum. -295 4 070 6 200 9 975
* Não inclui outras dívidas internas do Estado, tais como contratos mútuos, contratos de locação financeira e
responsabilidades em mora.
Atira Zandamela
TEMA DA SEMANA Savana 22-06-2018 5
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6 Savana 22-06-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE
Q
uatro meses após o desabamento
da lixeira de
Hulene, que na madrugada
de 19 de Fevereiro
matou 16 pessoas e destruiu
dezenas de casas, a reportagem
do SAVANA regressou, esta semana,
ao local da tragédia para
se inteirar das condições de vida
naquele bairro. Miseráveis condições
de vida à parte, o local
onde as casas foram demolidas,
hoje serve de depósito de lixo.
A situação, segundo moradores,
contribui para a proliferação do
lixo e o alagamento da própria lixeira,
o que pode trazer danos futuros
se não for controlado.
Leila Tembe tem a sua residência
bem em frente ao local onde foram
destruídas casas e conta que
pessoas há que, ao invés de depositar
os resíduos sólidos na lixeira,
optam por deitar o lixo no local
antes ocupado por residências.
No local, viviam cerca de 103 famílias
que foram evacuadas após o
desabamento da lixeira, sendo que,
depois da tragédia, as residências
foram demolidas, dando lugar a
um terreno baldio, que agora está
a ser usado de forma indevida.
De acordo com as estruturas do
bairro, o espaço em causa pertence
ao Conselho Municipal da Cidade
Depois da tragédia
Lixo substitui casas em Hulene
de Maputo (CMCM), pelo que só
a edilidade é que sabe o que será
feito do local.
Contam ainda que, desde que foram
destruídas as casas, o CMCM
nunca mais voltou ao local, facto
que abre espaço para que as pessoas
deitem lixo na área.
Trata-se das famílias circunvizinhas
da lixeira de Hulene que não
foram abrangidas pelo processo
de reassentamento pós-tragédia,
continuando assim a viver nas redondezas
daquele que é o maior
depósito de lixo a céu aberto no
país.
São residentes que pedem ao Município
a sua retirada o mais rapidamente
possível do local, mas enquanto
isso não acontece, pedem
a melhoria das condições de vida
no local.
É que, queixaram-se, as actuais
condições de vida no local são,
extremamente, difíceis, principalmente,
em dias chuvosos, em que
há infiltração de água para o interior
das casas, para além de que a
zona fica alagada, cenário propício
para a eclosão de mosquitos causadores
da malária, uma das primeiras
causas de morte em Moçambique.
Carlota Zandamela tem 48 anos
de idade e vive no bairro há anos.
Diz que a zona não tem boas condições
sanitárias, para além da falta
de água potável para o consumo
humano, pelo que são obrigados a
percorrer longas distâncias à busca
do precioso líquido.
Encerramento da lixeira
Situada a cerca de sete quilómetros
do centro da Cidade de Maputo,
a lixeira de Hulene foi criada
em 1972, três anos antes da independência,
e serve como fonte de
sobrevivência para centenas de catadores
que, entre o lixo, procuram
fazer a vida.
Depois de vários adiamentos para
o seu encerramento, o Governo,
debaixo de uma forte pressão
pelo desabamento de Fevereiro
que custou vidas humanas, voltou
a prometer encerrá-lo em breve,
numa operação avaliada em cerca
de USD 110 milhões.
É uma notícia que preocupa a
quem tem na lixeira a sua única
fonte de sobrevivência.
Não é que os catadores de lixo não
desejam abandonar o local, mas
temem ficar sem nenhuma fonte
de rendimento.
É o caso de Célia Langa e Ruth
Chaúque, duas amigas que há 10
anos têm na lixeira a sua única
fonte de rendimento.
Dizem que com o encerramento
da lixeira não sabem como serão
as suas vidas.
“Aqui conseguimos tirar plásticos,
garrafas e sacos que usam para pôr
carvão, vendemos e, com esse dinheiro,
compramos comida para
casa, porque os nossos filhos e
maridos não trabalham“, explicaram,
manifestando desejo de sair
da lixeira para exercer actividades
condignas.
No terreno, conversamos ainda
com Amélia Fortunato, uma mulher
de 25 anos de idade e mãe de
quatro filhos, que todos os dias
desloca-se do bairro de Mavalene
para catar resíduos sólidos na lixeira
de Hulene.
Amélia conta que está naquele
local porque precisa de trabalhar
para dar alimentos à sua família.
Para ela, na falta do melhor, o pior
sempre serve.
Diferente de Célia e Ruth, Amélia
diz que não sonha em deixar de ser
catadora e que vai seguir a lixeira
para onde for, caso seja encerrada.
De resto, as nossas entrevistadas
estão cientes dos riscos que correm
no local, incluído contrair
doenças, mas sublinham que não
têm fontes alternativas de rendimento
para sustentar suas famílias.
(C.C.)
Local onde as casas foram demolidas, serve hoje de depósito de lixo.
SOCIEDADE Savana 22-06-2018 7
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8 Savana 22-06-2018 SOCIEDADE
F
inalmente o Governador do
Banco de Moçambique (BM),
Rogério Zandamela, pronunciou-se
em torno da celeuma
que se instalou sobre a dissolução
pela entidade reguladora da Comissão
Liquidatária (CL) do Nosso
Banco (NB), dirigida por uma equipa
da empresa de consultoria Deloitte
& Touche.
No seu primeiro pronunciamento público
sobre a questão, Rogério Zandamela
afirmou que a decisão era necessária
para evitar mais gastos com as
remunerações dos membros da CL. A
medida, prosseguiu, protegeu os credores
e os depositantes.
Recorde-se que, em despacho de 11
de Abril deste ano, Rogério Zandamela
comunicou a demissão da CL,
sob o argumento de que houve incumprimento
das obrigações plasmadas
na Lei nº 30/2007, de 18 de
Dezembro. Esta lei regula o processo
de liquidação administrativa das instituições
de crédito e sociedades financeiras.
A CL, que tomou posse a
19 de Janeiro de 2017, tinha um prazo
de um ano para concluir o processo de
liquidação do NB. Um dos argumentos
bases de Zandamela foi “inacção”.
Mas a 7 de Dezembro de 2017, quando
faltava pouco menos de um mês
para o fim de mandato, a CL submeteu
ao BM um relatório preliminar,
onde também solicitava a extensão do
mandato (terminava a 19 de Janeiro
de 2018) e continuou o seu trabalho
na base de um entendimento verbal
com o administrador Alberto Bila.
O banco central comunicou publicamente
a decisão da demissão da CL,
quatro meses após receber o relatório
(7 de Dezembro), alegando inacção.
Uma fonte ligada à CL contactada
pelo SAVANA em sede dos pronunciamentos
de Zandamela nesta
segunda-feira, estranha aquilo que
considerou como “as incongruências
do governador”, que a 11 de Abril
apresentou como argumento para a
demissão da comissão “inacção”, mas
“hoje fala de evitar custos”.
Rogério Zandamela explicou que o
trabalho de uma comissão liquidatária
é muito complexo e envolve custos,
que aumentam à medida que o tempo
passa.
O governador do Banco Central declarou
que foi essa lógica que norteou
a decisão de dissolução e demissão da
CL do Nosso Banco.
A decisão não foi bem acolhida pelos
quadros da Deloitte & Touche, que
afirmam ter solicitado o alargamento
do prazo ao BM, recebendo, como
resposta, a nota de dissolução, quatro
meses após a submissão do relatório
preliminar.
No entender do regulador, a solicitação
da prorrogação do prazo poderia
concorrer para onerar ainda mais o
processo.
Havia o risco, acrescenta Zandamela,
de os recursos recuperados serem
despendidos no pagamento à CL em
prejuízo dos credores.
“Na minha deliberação, foi um dos
fundamentos que pesou mais. Em
última instância, temos de proteger
o credor final, os depositantes e para
que isso aconteça, temos de gastar
menos”, sublinhou.
PGR solicita informações
Porém, a CL rebate os argumentos
de Zandamela, afirmando que, para
os credores entrarem em prejuízo, a
Deloitte tinha de estar a cobrar quase
o equivalente a 90% da carteira de
crédito realizável, que é de 3.6 mil
milhões de meticais. Basicamente,
nos processos de liquidação, as CL,s
cobram entre 10 a 15% da carteira de
crédito realizável e, segundo a fonte
da Deloitte, estes números estão abaixo
do que a consultora iria receber.
“Só para exemplificar, a Deloitte não
recebeu os 10% referentes à última
prestação e o período de extensão
verbal acordado com o BM não foi
pago”.
O objectivo primário da Deloitte, segundo
a nossa fonte, não era ganhar
dinheiro, mas fazer deste processo
uma história de sucesso. “É preciso
lembrar que quando a CL tomou
posse deu-se conta de que era praticamente
impossível terminar o trabalho
em um ano dada a desorganização
dos processos encontrados no banco e
informou o BM em Junho de 2017”,
frisou.
A CL afirma que com os fundos recuperados
pagou todos os depositantes
ordinários e, à data de 24 de Maio de
2018, recuperou acima de 1.7 mil milhões
da carteira de crédito realizável.
Na semana em que Zandamela tomou
a decisão de demitir a comissão,
alguns mutuários preparavam-se para
pagar cerca de 80 milhões de meticais,
mas recuaram.
Contudo, Rogério Zandamela assinalou
que houve processos de liquidação
dirigidas pelo próprio BM e concluídas
com sucesso, sem que tenha sido
necessário contratar uma instituição
independente.
Afirmou que, recentemente, encarou
uma liquidação que durou 15 anos,
considerando essa situação inaceitável
pelos custos que acarreta. “Há
um repensamento de como lidar com
este processo. Estamos a estudar se o
trabalho irá continuar através de uma
comissão ou de um singular”, anotou.
Recentemente, fechou o processo de
pagamento de credores da CREDICOOP
- Cooperativa de Crédito e
Investimento, S.C.R.L, uma instituição
que era participada por Nyimpine
Chissano (já falecido), primogénito
de Joaquim Chissano, antigo presidente
moçambicano entre 1986 e
2004. Nyimpine também esteve ligado
à queda do Banco Austral, mais um
banco “arrombado” pela nomenklatura
da Frelimo após a independência.
O SAVANA apurou que esta semana
a Procuradoria Geral da República
(PGR) solicitou à CL liderada pela
Deloitte dados sobre a gestão do NB,
mas a comissão respondeu que neste
momento não pode fornecer informações
porque o processo está com
o BM.
Pelo menos, dois processos-crimes
contra ex-executivos de topo no NB
foram remetidos à PGR e 42 acções
de litigância estão nos tribunais pela
mão da CL, muitos deles “difíceis de
cobrar”, por envolver gente graúda da
elite política ligada ao partido Frelimo.
O banco tinha como PCA João
Loureiro, um especialista em estatísticas
e o CEO era Mussá Tembe, a
quem são apontadas as maiores responsabilidades
nos créditos concedidos
pelo banco, sobretudo, no eixo
Nacala-Pemba.
O Nosso Banco era uma recriação do
BMI, um banco ligado a famílias poderosas
da Frelimo, constituído após o
fracasso e delapidação do Banco Austral,
tendo como “vacas leiteiras”(cash
cows) o INSS e a EDM. O INSS
terá enterrado no ex-BMI cerca de
UDS80 milhões e alguns sectores
exigem que o Parlamento crie uma
Comissão de Inquérito para apurar
responsabilidades.
A versão de Zandamela no Nosso Banco
“Evitámos mais gastos”
Por Argunaldo Nhampossa
PUBLICIDADE Savana 22-06-2018 9
Anova infraestrutura
passa a servir os residentes
do distrito urbano
KaMubukwana,
em particular, os contribuintes,
beneficiários e pensionistas do
Sistema de Segurança Social.
Deste modo, eleva-se para oito o
número de delegações distritais,
que o Governo já ergueu, nomeadamente
de Dondo e Marromeu,
na província de Sofala, da Manhiça,
na província de Maputo,
de Vilankulo, em Inhambane, de
Cuamba, na província de Niassa,
Montepuez, em Cabo Delgado
e de Monapo, na província de
Nampula.
Na concorrida cerimónia de
inauguração do novo empreendimento,
o Presidente da República,
Filipe Nyusi, considerou que
a delegação do INSS vai colocar
os serviços de Segurança Social
cada vez mais próximos dos contribuintes,
beneficiários e pensionistas.
O estadista felicitou ao Ministério
do Trabalho, Emprego e
Segurança Social e ao INSS, em
particular, pelo feito que responde
de forma objectiva ao compromisso
de servir ao povo moçambicano.
FRUTO DA
INDEPENDÊNCIA
NACIONAL
Em virtude de a inauguração ter
tido lugar a escassos dias da celebração
do 43º aniversário da
Independência Nacional, Filipe
Nyusi lembrou que milhares de
moçambicanos não beneficiaram
da Segurança Social durante o
período colonial.
“Com o advento da independênPRESIDENTE
DA REPÚBLICA INAUGURA NOVA DELEGAÇÃO DISTRITAL
INSS investe na melhoria
da prestação de serviços
No âmbito da aproximação da Administração Pública ao cidadão e melhoria da prestação de serviços aos utentes
do Sistema de Segurança Social Obrigatória, o INSS-Instituto Nacional de Segurança Social construiu de raiz as
instalações da delegação distrital de KaMubukwana, na cidade de Maputo, cuja inauguração foi efectuada pelo
Presidente da República, no dia 7 de Junho.
cia nacional e, mais tarde, com
a implementação do sistema
universal de Segurança Social
Obrigatória que hoje vigora no
Pais, o trabalhador moçambicano
passou a estar protegido pelo
Estado em caso de impedimento
temporário ou permanente para
continuar a trabalhar”, disse o
Presidente da República.
Num outro desenvolvimento, referiu
que o Sistema de Segurança
Social permite que em caso
de reforma, doença ou morte,
o trabalhador ou a sua família
possa desfrutar, com tranquilidade
e segurança, da sua pensão
como resultado dos descontos
que efectuou ao longo da sua
vida profissional activa, ou seja,
a provisão da Segurança Social é
também um dos frutos da independência
nacional.
“Hoje estamos a testemunhar
que este ganho da independência
está cada vez mais próximo do cidadão
e conforta-nos, que tanto
os beneficiários como os pensionistas
recebem mensalmente as
suas pensões de reforma e subsídio
directamente nas suas contas
bancárias, conferindo maior
transparência e segurança, possibilitando
a poupança”, frisou.
PENSIONISTAS
SATISFEITOS COM
O GOVERNO
No evento, que contou com a
participação da ministra do Trabalho,
Emprego e Segurança
Social, Vitória Diogo, a governadora
da cidade de Maputo,
Iolanda Cintura, o presidente do
Conselho Municipal da Cidade
de Maputo, David Simango, entre
outros convidados, falando
em representação dos pensionistas,
Mara Mangane, enalteceu o
papel do Governo por repensar
a Segurança Social em Moçambique.
“Cientes de que a missão do
INSS só terá sucesso com o envolvimento
de todos no Sistema
encorajamos igualmente a todos
os empresários a canalizarem as
contribuições dos trabalhadores
à Segurança Social”, indicou,
apelando, igualmente, os trabalhadores
a aderirem ao Sistema
com vista a garantirem a sua protecção
social.
“Durante longos anos de trabalho
contribuímos para o desenvolvimento
do País e hoje na
situação de reformados beneficiamos
das pensões pagas pelo
Descerramento da lápide
Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique
Painel Mara Mangane, representante dos pensionistas
INSS pelo que manifestamos
a nossa grande satisfação pelo
trabalho do Governo, que através
do Ministério do Trabalho,
Emprego e Segurança Social
procura soluções para melhorar
a prestação dos serviços”,
realçou.
Hoje, conforme acrescentou
Mara Mangane, com a informatização
do Sistema os pedidos
dos pensionistas têm sido atendidos
com mais celeridade: “Já
estamos a realizar a prova de
vida com aparelhos que tiram fotografia
impressão digital, tudo
computadorizado”, destacou.
Importa realçar que com esta empreitada,
o INSS pretende elevar
o nível de satisfação e bem-estar
dos trabalhadores, pensionistas
e beneficiários, proporcionando-
-lhes um atendimento por excelência
e em melhores condições
para contribuir para o desenvolvimento
do País
PUBLICIDADE 10 Savana 22-06-2018
PUBLICIDADE Savana 22-06-2018 11
12 Savana 22-06-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE
A
Anadarko anunciou ter
chegado a acordos de
compra e venda não vinculativos
de gás natural
liquefeito que vai produzir na bacia
do Rovuma com a companhia
britânica Centrica e com a firma
japonesa Tokyo Gas of Japan.
O vice-presidente da Anadarko,
Mitch Ingram, afirmou que os
acordos sinalizam o interesse na localização
favorável dos projectos de
gás de Moçambique, enfatizando o
facto de o país poder vender para a
Ásia e Europa.
Os acordos prevêem que a Centrica
e a Tokyo Gas Japan adquiram 2,6
milhões de toneladas de LNG por
ano.
Na primeira fase, o consórcio liderado
pela anadarko vai produzir 13
milhões de toneladas de LNG por
ano.
Com a assinatura dos acordos com
as duas empresas, a Anadarko tem
já pré-acordos de compra e venda
de GNL que totalizam 8,5 milhões
de toneladas.
Anadarko anuncia acordos com dois compradores
Contudo, para tomar a decisão final
de investimento, o consórcio da
Anadarko deve assinar acordos vinculativos
de compra e venda de gás
natural de mais de oito milhões de
toneladas de gás natural.
Comentando o acordo, o presidente
da Tokyo Gas Japan, Takashi
Ushida, afirmou que espera que o
entendimento ajude a dar o pontapé
de saída para o desenvolvimento
dos projectos de gás natural em
Moçambique.
Apesar desse avanço, a Anadarko
ainda está longe de ver assegurados
acordos de venda vinculativos que
permitam a mobilização dos mais
de 20 biliões de dólares necessários
para o desenvolvimento dos projectos
do consórcio na Área 1 da bacia
do Rovuma.
Os acordos de venda vinculativos
são essenciais para que a Anadarko
possa tomar a decisão final de investimento.
Avaliando os acordos com a Centrica
e a Tokyo Gas Japan, o director
de pesquisa da consultora
Wood Mackenzie, afirmou que os
entendimentos vão dar ímpeto ao
projecto da Anadarko em Moçambique.
Mackenzie assinalou que o projecto
da Área 1 da Bacia do Rovuma já
anunciou acordos de compra e venda
para 4,08 milhões de toneladas
Gás do Rovuma
anuais de LNG, incluindo 2,6 milhões
de toneladas para a tailandesa
PTT, 1,2 milhões de toneladas para
a francesa EDF e 0,28 milhões de
toneladas com a japonesa Tohoku
Electric Power.
O director de pesquisa da Wood
Mackenzie adiantou que o consórcio
da Anadarko vai precisar de
pelo menos acordos de compra e
venda vinculativos de nove milhões
de toneladas por ano para assegurar
os 25 biliões de dólares de que
precisa para o arranque do projecto.
A
companhia petrolífera da Indonésia Energy Mega Persada
(EMP) poderá indemnizar o Estado moçambicano em 12
milhões de dólares por ter falhado na prospecção petrolífera
no Bloco de Búzi, na província de Sofala.
A EMP iniciou a prospecção de gás em Búzi em Abril de 2009 e tinha
oito anos para apresentar resultados.
O prazo terminou em Março de 2017, sem que a empresa apresentasse
resultados e pesquisasse gás em todos os poços que lhe tinham sido
adjudicados.
Pediu a extensão do prazo por um ano, mas recebeu das autoridades
moçambicanas uma prorrogação de apenas 60 dias.
“Uma vez que a companhia não descobriu gás em quantidades comerciais,
decidiu abandonar a pesquisa”, disse ao portal Zitamar fonte do
Instituto Nacional dos Petróleos (INP).
A área que havia sido concessionada à EMP vai reverter a favor do
Estado moçambicano e será colocada a concurso no futuro, acrescentou
a fonte.
Apesar do falhanço da companhia indonesa, o INP acredita que a área
em causa dispõe de reservas estimadas em dois triliões de pés cúbicos
de gás.
O INP aguarda por uma notificação formal da EMP sobre o abandono
da área, onde a firma indonesa detém 75 de acções. Os remanescentes
25 são detidos pela firma estatal moçambicana ENH.
O INP assinalou que a companhia indonesa terá ainda de pagar uma
indemnização de 12 milhões de dólares por não ter conseguido cumprir
os termos do acordo de prospecção na área em causa.
Gás de Buzi
Companhia indonesa terá
de indemnizar o Estado
SOCIEDADE Savana 22-06-2018 13 PUBLICIDADE
14 Savana 22-06-2018 Savana 22-06-2018 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Aponte Maputo - Catembe
é um dos mais recentes
investimentos em infra-
-estruturas realizados
pelo Estado. A sua construção está
avaliada em cerca de 725 milhões
de dólares. O projecto inclui a ligação
rodoviária entre a Catembe
e a Ponta do Ouro cujo custo inicial
era de 315 milhões de dólares
americanos. É considerada a maior
ponte suspensa do continente africano
(AM Intelligence 1142, de 19
de Abril de 2018). O projecto foi financiado
em 85% pelo Banco Chinês
EXIM, 10% por empréstimo
em condições favoráveis concedido
pelo mesmo banco e os restantes
5% foram financiados pelo orçamento
do Estado2
.
O projecto foi concebido em 2012,
após o lançamento de um concurso
internacional. Numa primeira fase,
previa-se que o projecto fosse financiado
por uma linha de crédito
concedida pelo governo português.
A crise financeira em Portugal inviabilizou
a efectivação da linha de
crédito. O Governo chinês aceitou
participar no financiamento do
projecto tendo designado, como
empresa empreiteira, a China Road
and Bridge Corporation (CRBC)3
.
Fontes não oficiais indicam que a
proposta de uma empresa portuguesa
era de cerca de 350 milhões
de dólares, menos de metade do valor
que foi atribuído à construtora
chinesa.
Nos discursos apresentados pelo
Governo, a ponte tem como objectivos,
os seguintes: (1) promover
o turismo para a Ponta do Ouro e
Reserva dos Elefantes de Maputo;
(2) facilitar as trocas comerciais
com os países vizinhos (África do
Sul e Suazilândia); (3) facilitar a
deslocação da população residente
entre as duas margens; e, (4) contribuir
para o desenvolvimento da
zona da Catembe.
Moçambique faz parte do grupo de
países em via de desenvolvimento.
A sua economia é caracterizada por
possuir um baixo Índice de Desenvolvimento
Humano e do PIB per
capita, produção assente nos sectores
primários e extractivos, ser instável
e sensível aos choques externos,
dependente da ajuda externa e
com dívida pública elevada. Possui
uma educação de baixa cobertura e
qualidade, serviços de saúde débeis,
fraca segurança pública, baixa cobertura
social e espacial de energia,
sistemas sanitários frágeis, estradas
precárias, sistema de transporte
público (de pessoas e mercadorias)
deficitário.
A selecção de projectos de investimento
público (assim como privado),
incluindo os custos de manutenção
e de exploração, deveria
supor a existência de estudos de
viabilidade económica e financeira
e a avaliação dos custos sociais
e ambientais. Esses estudos não
estão acessíveis ao público ou não
existem.
Para além dos estudos dos projectos
individualmente, os custos de oportunidades
devem ser analisados,
isto é, quais os outros investimentos
que deixam de ser realizados devido
à opção por um determinado
projecto. Perante a escassez de recursos,
são necessárias escolhas públicas
correspondendo a interesses
(motivações) políticos do Estado.
Qualquer poder possui como objectivos
a defesa e manutenção do
poder e, em princípio, o desenvolvimento
económico e a elevação do
bem-estar dos cidadãos.
Este texto tem como objectivos
analisar quais os custos de oportunidade
da construção da ponte
Maputo - Catembe, verificando
que investimentos poderiam ter
sido realizados em detrimento deste,
quem são os beneficiários deste
investimento bem como quais os
ganhos económicos e sociais da infra-estrutura.
Procura-se ainda deduzir
as motivações políticas desta
escolha pública.
1.Custo de oportunidade da
Ponte Maputo - Catembe
Para o estudo do custo de oportunidade
da ponte da Catembe
analisaram-se várias alternativas
que o decisor poderia optar. Assim,
pode-se comparar o benefício que
se obtém com a ponte em relação
ao sacrifício de alternativas.
Nos últimos mandatos, verificou-
-se uma intensificação de avultados
investimentos públicos em infra-
-estruturas expressas como fundamentais
para o desenvolvimento
económico e o bem-estar dos cidadãos.
Para além da ponte Maputo-
-Catembe, destaca-se a estrada circular
de Maputo, avaliada em 315
milhões de dólares, os aeroportos
de Maputo e Nacala, este último
avaliado em 216 milhões de dólares,
a ponte Armando Emílio Guebuza
sobre o rio Zambeze com um
custo de 76 milhões de euros, a base
logística de Pemba avaliada em 150
milhões de dólares na sua primeira
fase, o Estádio Nacional do Zimpeto,
entre outros, como, por exemplo,
edifícios públicos. Sabe-se que
existiram derrapagens financeiras,
isto é, o investimento final foi substancialmente
superior ao previsto.
Estes investimentos contribuiriam
para o avolumar da dívida pública
e da dívida externa, estando neste
momento o país em situação de
incumpridor dos seus compromissos
financeiros internacionais. Não
são compreensíveis alguns dos investimentos
acima referidos, entre
outros, como o aeroporto de Nacala
e alguns edifícios públicos. Países
como Moçambique, cujos objectivos
deveriam ser primeiramente a
erradicação da pobreza e as necessidades
básicas da população, não
devem priorizar investimentos de
viabilidade económica e financeira
duvidosa.
Devido à dimensão do projecto e
dos impactos, a ponte poderá contribuir
para o surgimento da especulação
imobiliária (já existente) na
Catembe bem como na cidade de
Maputo. Esta infra-estrutura irá
beneficiar uma pequena parte da
população de rendimento médio/
alto, através da intensificação de actividades
turísticas, comerciais e de
construção de habitação de renda
média e alta.
Porque Maputo possui um grande
poder de atracção de população e
de actividades económicas, a ponte
facilitará os fluxos da Catembe
para Maputo, aumentando a mobilidade
e acesso entre zonas cujas
infra-estruturas já se encontram
sobre utilizadas. Consequentemente,
haverá agravamento da poluição,
tempo e riscos do congestionamento
de tráfego. Estas externalidades
ambientais negativas não foram
certamente previstas no estudo de
construção da ponte.
A figura abaixo revela algumas das
opções alternativas à construção de
infra-estruturas sociais (hospitais,
escolas e habitação), com os mesmos
valores despendidos no investimento
da ponte.
Pela figura acima, verifica-se que o
custo da ponte equivale à construção
de 32 hospitais provinciais com
a capacidade para 14.829 camas
hospitalares (450 camas por hospital).
Na segunda alternativa, permitiria
a construção de 1.115 salas de
aulas do ensino secundário com capacidade
para cerca de 66.900 alunos
(1.115 salas x 30 alunos por sala
x 2 turnos). Em termos de escolas
primárias, possibilitaria a construção
de 7.250 escolas com capacidade
para cerca de 870.000 alunos
(7.250 escolas x 2 salas por escola
x 30 alunos por sala x 2 turnos). O
investimento da ponte equivale ao
custo de construção de 30.208 habitações
familiares para agregados
de 5 pessoas, o que proporcionaria a
instalação de 151.040 pessoas.
Em 2016, existiam 19.227 escolas
primárias (EP1 e EP2) e 757 escolas
secundárias. As opções acima
indicadas significariam um aumento
em 37,7% e de 14,6% de escolas
respectivamente. Maputo tem 11
províncias e com o valor da ponte
se poderiam construir 32 novos
hospitais com as valências de um
hospital provincial.
Havia ainda a possibilidade de realizar
investimentos nos cais dos dois
lados do rio e a aquisição ferryboats
de grande dimensão tal como existe
em muitas partes do mundo.
2. Reassentamentos
A construção da ponte implicou o
reassentamento e indeminização da
população num total de 899 famílias
e mercados informais, tanto do
lado de Maputo como da Catembe.
Por falta de verbas da Empresa de
Desenvolvimento de Maputo Sul,
responsável pela execução desse
processo, as compensações têm vindo
a ser custeadas pela empreiteira
chinesa CRBC, atingindo um total
de 100 milhões de dólares (inclui
indemnizações de reassentamentos
da circular de Maputo - AM Intelligence
1142, de 19 de Abril de
2018.
Estudos recentes (por exemplo,
Ozawa4
, 2018) afirmam que o projecto
teve implicações negativas
sobre a população reassentada. Os
locais para onde foram reassentadas
não dispõem de condições infra-estruturais
sociais básicas (hospitais,
escolas, mercados, meios de transporte,
entre outros), contribuindo
para o aumento do custo de vida
e das distâncias percorridas para
aceder a esses serviços. Em alguns
casos, foi entregue às famílias um
valor aproximado de 400 mil meticais
e um terreno para construir a
habitação.
A deslocação da população reassentada
teve momento de conflitualidade,
sendo um dos factores para o
atraso da conclusão da ponte. Este
é um custo social seguramente não
previsto nos estudos de construção
da ponte.
3. Amortização do
investimento
Para o pagamento do financiamento
contraído, os agentes envolvidos
prevêem o pagamento de parte do
financiamento através das portagens.
Permanecem dúvidas sobre o
pagamento do crédito através das
receitas geradas pelas portagens,
as quais deveriam suportar 30% do
custo da obra.
Segundo algumas intervenções
(não se conhece o estudo económico
e financeiro e de exploração),
para tornar possível o pagamento
de 30% do custo da obra (AM Intelligence
1142, de 19 de Abril de
2018), estima-se a necessidade de
um tráfego diário de 5.000 veículos.
Com os valores inicialmente definidos
para as portagens e o volume do
tráfego, o período de amortização
do crédito poderia ser superior a 75
anos, isto sem considerar os custos
de manutenção e de exploração.
Segundo esses dados, existirão encargos
às futuras gerações. A gestão
da ponte será atribuída à empresa
chinesa em contrato do tipo de parceria
público-privado.
4. Conclusão
Constata-se que o valor despendido
na construção da ponte implica
a não realização de alternativas de
investimento em infra-estruturas
que proporcionariam a redução
de grandes défices na prestação de
serviços essenciais para a vida dos
cidadãos. Outros cálculos de custos
de oportunidade poderiam ter sido
apresentados. As alternativas apresentadas
superam as actuais existências
de hospitais provinciais, de
escolas secundárias e primárias na
maioria das províncias e casas de
habitação social em todo o país. A
população residente no meio rural é
sem dúvida o principal sacrificado.
O financiamento da ponte, bem
como os muitos outros obtidos para
investimentos em infra-estruturas,
não estão a proporcionar benefícios
ou ganhos para a maioria da população,
mas beneficiam uma pequena
parte da população. Estes investimentos
contribuem para o aumento
das dívidas pública e externa e as
consequências daí derivadas.
A maneira como estes projectos
são concebidos e financiados, assim
como as dúvidas quanto à viabilidade
económica e financeira, geram
questionamento sobre a existência
de estudos de viabilidade, assim
como da avaliação dos custos sociais
e ambientais dos mesmos. As
dificuldades de acesso à informação
não contribuem para a transparência
do investimento público, levantando-se
suspeitas sobre os custos
das mesmas. No caso em apreço, a
diferença entre a proposta portuguesa
e a chinesa é de metade, isto
é, cerca de 375 milhões de dólares.
Os atrasos de pagamento do Estado,
os problemas surgidos com
o reassentamento de pessoas, os
protestos das populações, as greves
dos trabalhadores e outros factores,
revelam uma deficiente planificação
da execução da obra.
Parece evidente que as opções públicas
de alguns dos investimentos
públicos, incluindo o da ponte da
Catembe, não priorizam o desenvolvimento
económico global do
país e o bem-estar da maioria da
população, conforme os custos de
oportunidades apresentados, entre
outros. Igualmente, a ponte não
é, em termos nacionais, uma obra
realizada com objectivo de defesa
e manutenção do poder. Na dúvida
deste investimento corresponder às
lógicas/objectivos das políticas públicas
(desenvolvimento, bem-estar
dos cidadãos e defesa/reprodução
do poder), pode-se pensar que a
decisão do investimento da ponte
obedece a uma intenção de marcação
de uma identidade de regime
(neste caso do mandato de Armando
Guebuza), através da capacitação
do país com infra-estruturas
básicas, sem pensar no bem-estar
dos cidadãos e no desenvolvimento
sustentável de Moçambique.
A ponte da Catembe poderá dar
uma paisagem bonita à baía de
Maputo e enaltecer a vaidade dos
maputenses. Mas essa beleza tem
custos elevados juntos dos mais pobres
dos pobres.
Setecentos e vinte e cinco milhões
de dólares poderiam tirar muitos
moçambicanos da pobreza. Uma
questão de opção!
Por Yara Nova e João Mosca
Quanto custa a ponte da Catembe? 1
1
Yara Nova licenciada em Economia pela
Universidade Politécnica de Maputo,
Estagiária do Observatório do Meio
Rural (OMR). João Mosca Doutor em
Economia Agrária e Sociologia Rural,
Director e investigador do OMR. 2
http://www.rtp.pt/rdpafrica/noticias-
-africa/ponte-maputo-catembe-ja-tem-
-financiamento_604, consultado em
08.05.2018. 3
Mendonça, T. et al. (s/d). Projecto Maputo
– Katembe – Ponta do Ouro. 4
Ozawa, Eri (2018). Debaixo da ponte:
impactos sociais do reassentamento populacional
na Catembe. Destaque Rural
Nº32, Observatório do Meio Rural -
Maputo.
Ponte Maputo-Katembe
Fonte: Elaboração da autora através de entrevistas com uma empreiteira de construção civil.
Figura 1. Análise do custo de oportunidade da ponte Maputo - Catembe
Nota: Os dados obtidos foram calculados com base em orçamentos fornecidos pela empresa entrevistada.
Naíta Ussene
Naíta Ussene
16 Savana 22-06-2018 PUBLICIDADE
PUBLICIDADE Savana 22-06-2018 17
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18 Savana 22-06-2018 OPINIÃO
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Cartoon EDITORIAL
As mentiras
de Homoíne
D
uas semanas depois, Pedro
Xavier Massingarela
ocupava um gabinete
sozinho, a que deram o
nome de “Gabinete da Palavra do
Presidente”. Sua missão: elaborar
tudo o que fosse, daí em diante,
o discurso a ser proferido pelo
Chefe de Estado, fosse em que
circunstância fosse. Tinha autonomia
mais que larga, porque,
segundo deliberação do próprio
Presidente, só a este ele prestaria
contas. Mais ainda, ele teria que
ter acesso a todos os dados que
solicitasse para a elaboração dos
seus discursos, desde relatórios a
estatísticas e reportes de iniciativas
levadas a cabo por cada um
dos ministérios ou direcções nacionais,
fossem aqueles de carácter
económico, social ou político,
porque eram esses os instrumentos
de que necessitaria para elaborar
os discursos presidenciais.
Massingarela, pelo seu carácter,
achava um pouco enfadonha a
função, por ter de imiscuir nos
discursos aquela informação. O
seu prazer maior era só escrever,
e escrever livremente. Mas tinha
que ser. Então inventou um modelo
simples: começava pela parte
mais aborrecida, que era arrolar
os dados estatísticos e as realizações
do ministério em causa nos
discursos a fazer, e depois embrulhava-os
no seu discurso directo,
simples e enxuto, de pessoa que
dominava com extrema elegância
o português. A este exercício chamava
Massingarela, intimamente
e em gozo, “vestir a noiva”.
Foi um período de sucesso que
ele não quis de modo nenhum
que o Presidente partilhasse com
ele, embora fosse essa a intenção
do Chefe. Quando o Presidente
chegou ao fim do seu segundo
mandato, chamou-o e disse
– «Pedro Massingarela, eu estou
de saída. Não creio que o homem
que me vai suceder vá manter o
mesmo formato do Gabinete que
eu tenho. O mais provável é que
alguns de vocês tenham de ser
dispensados ou mudem de lugar.
Estou muito agradecido pelo
apoio que me deste durante estes
dois mandatos. Estou, por isso,
disposto a arranjar-te uma boa
colocação, com boa remuneração,
numa das empresas participadas
pelo Estado, usando a minha
influência. Só terás que escolher
qual é a empresa onde queres ser
enquadrado. Dou-te uma semana
para me dares a resposta, para eu
meter o expediente.»
Pedro Xavier Massingarela olhou
e disse – «Excelência, será preciso
esperar tanto? Porquê? Não estou
talhado para isso. Sinto-me bem
aqui onde estou. Agora, de saída,
prefiro ir para casa. Estou quase a
entrar na reforma, vou aproveitar
o resto do meu tempo para cuidar
de mim próprio.» E ficou assim
resolvido, sem margem para outro
tipo de discussões.
Massingarela, então, ocupa o seu
tempo a fazer aquilo de que mais
gosta: escrever português com
simplicidade, com profundidade,
com um subtil sentido de humor,
de ironia e muita malícia. Não lhe
falta trabalho, dado que todos os
seus poucos amigos ou ex-colegas
estão sempre a pedir-lhe apoio,
quando se vêem na contingência
de apadrinhar um baptismo, um
crisma, um casamento, ou – os
que são directores –, na abertura
de seminários ou isto ou aquilo.
Mas, na verdade, o maior prazer
de Massingarela é elaborar elogios
fúnebres. Fá-los com sinceridade,
num discurso que brota
do chão da terra, que faz recuar as
origens humanas ao pó dos tempos,
o que se revela no fundo um
apelo veemente à fragilidade que
faz a grandeza e eternidade do ser
humano. É assim que ele se sente
no mundo: pó e eternidade.
I
magens transmitidas pelos vários canais de televisão, que
mostram o Presidente Filipe Nyusi num diálogo surrealista
com alguns chefes de postos administrativos do distrito de
Homoíne, em Inhambane, são, infelizmente, o microcosmo
do estado de calamidade em que se encontra grande parte da
administração pública em Moçambique.
E será errado acreditar que a culpa seja daqueles pobres dirigentes,
apanhados tão desprevenidos que se viram obrigados a
mentir perante o dirigente máximo da Nação. Quando situações
daquelas se verificam, a responsabilidade recai não sobre as pessoas
que demonstram a sua incompetência, mas sobre aqueles
que com o seu poder de decisão os colocaram nos importantes
cargos que ocupam.
E aqui levanta-se uma questão ainda mais profunda, que é sobre
se de facto aqueles dirigentes teriam sido colocados naqueles lugares
para realizarem as mesmas actividades que o Presidente da
República acredita que eles deveriam realizar.
A resposta é que o Presidente não foi enganado só por aqueles
dirigentes que são de um nível muito baixo em toda a cadeia da
administração do Estado, mas sim por aqueles que estão muito
próximos dele, e em quem ele deposita plena confiança quanto à
capacidade de materialização da sua visão do país.
Os vigorosos apelos que têm sido feitos, mas que continuam a
ser ignorados, no sentido da profissionalização e despolitização
da administração pública, o são precisamente para que situações
como aquelas de Homoíne não sejam parte do nosso quotidiano.
Parte do problema tem a ver com o facto de que a forma como
a administração pública foi concebida em Moçambique raramente
está ligada à obtenção de resultados que dêem resposta às
necessidades das pessoas que dela devem beneficiar.
Muitos dirigentes públicos estão longe de perceber que o seu
mandato vai para além dos objectivos políticos dos seus patronos,
e que o seu compromisso deve estar enraizado nas massas
que sustentam a sua governação.
Para eles, a governação resume-se apenas a dar resposta adequada
à agenda política do partido, e desde que este esteja satisfeito
com o seu desempenho, está realizada a sua missão. O importante
não é a eficácia da sua governação, mas a sua capacidade de
identificar os agentes que possam potencialmente pôr em causa
a agenda política do seu mandatário; é a vigilância contra o inimigo,
um inimigo definido não em termos do interesse ou do
bem-estar colectivo, mas do alinhamento ideológico (ou não)
de quem se julga legítimo representante das aspirações de todos.
É assim que a contribuição dos vários elementos da comunidade
não vale pelo impacto que as suas acções têm sobre a economia
e a sociedade. É preciso que a lealdade destes agentes se torne
inquestionável perante os interesses de quem detém o poder político.
Numa situação normal, deveria ser de consequências imprevisíveis
mentir com tamanha infantilidade para o Chefe do Estado.
Mas se voltarmos a Homoíne, e procurarmos saber o que aconteceu
a cada um dos ilustres chefes de posto em causa, descobriremos
que rigorosamente nada. Na melhor das hipóteses, terão
sido transferidos, despromovidos ou candidatados a mais um
curso ou seminário de capacitação. Tudo menos a repreensão
pelos seus actos de infidelidade perante o mesmo Estado que
juraram dedicar as suas melhores capacidades para servir.
Pecar por defeito – Parte II
Savana 22-06-2018 19 OPINIÃO
583
Email: diariodeumsociologo@gmail.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
P
ara além dos nossos problemas
básicos como o da
segurança alimentar, da
saúde, da educação, do desemprego
e mesmo o ambiente
político agora também temos de
repensar a nossa segurança e integridade
tendo em conta os últimos
acontecimentos em Cabo Delgado
e não só. Para não ser repetitivo
sobre as causas dos distúrbios,
nomeadamente a desigualdade, a
marginalização, os problemas na
governação, a falta de oportunidades
e tudo mais que se tem vindo
a referir nos últimos tempos, vou
directo ao assunto.
O fenómeno em Cabo de Delgado
mostra que fomos apanhados a dormir
ou deslumbrados. Ouvimos os
gritos dos vizinhos (Quénia, Tanzânia,
Somália e Uganda) e não nos
preparamos. Não nos preparamos
mesmo com um histórico de utilização
da força para se atingir certos
objectivos onde, o que inicialmente
não passava de ataques esporádicos,
rapidamente se espalhou pelo país,
transformando-se num movimento
e criando heróis que são convidados
a sentar à mesa, reconciliando-
-se inclusive as atrocidades
A pergunta de um milhão é: o que
vem a seguir? O que se deve fazer
para que o radicalismo ou o que
quer que seja não se propague?
A resposta natural ou histórica, se
olharmos para países como a Nigéria
ou o Quénia, seria a de se
aumentar o orçamento da defesa
e começar uma ofensiva contra os
membros radicais. Esta solução,
em ambos países, não diminuiu a
percepção ou o nível de terror. De
acordo com Addisaid Ali (2016) no
seu artigo “Extremismo Islâmico
no Leste de Africa”, a Nigéria tem
um dos maiores orçamentos de defesa
em África e, mesmo assim, não
consegue controlar o Boko Haram.
No caso do Quénia, a violência indiscriminada
resultou no aumento
do apoio aos terroristas pelas comunidades.
Seguir a estratégia do
ocidente no Iraque ou no Afeganistão
seria ainda mais inglório. Seria
uma opção cara, improdutiva e com
a possibilidade de incentivar a internacionalização
do terrorismo na
nossa terra. Utilizar mercenários ou
empresas de segurança não parece
mais do que um cheque em branco.
Que consultor não quer receber
o seu próximo cheque? E isto me
leva a pensar na história da rã e do
escorpião.
Segundo uma fábula, certa noite
numa floresta, um caçador acendeu
uma pequena fogueira. O escorpião
ficou deslumbrado com a beleza do
fogo e quando pela manhã, o caçador
apagou a fogueira com um punhado
de terra, este a removeu buscando algo
para repor o fogo. Subitamente, uma
pequena fagulha ainda incandescente
salta sobre um punhado de folhas
secas, provocando um grande incêndio.
Todos os animais correram em
direcção ao rio incluindo o escorpião
sem asas e sem saber nadar. Pior, ninguém
se propôs a ajudá-lo. Sua fama
o precedia. A rã, vendo a cena, oferece
ajuda: “...mas você tem de se comportar!”.
Acerto verbal selado o escorpião
sobe nas costas da rã. No meio do rio, a
rã sente uma ferroada. Antes de morrer,
pergunta: “Porque é que você fez
isso escorpião? Agora nós dois vamos
morrer!” e o escorpião responde : “É a
minha natureza.”.
A nossa esperança é que não carreguemos
“escorpiões” nas costas
fazendo-se concessões que podem
ser excessivas, desnecessárias ou
arriscadas, e principalmente imaginando
que estão do nosso lado,
sem tomar-se em atenção a sua
natureza e os motivos por detrás
que as levam a estabelecer essas
parcerias.
Não sei se todo o investimento inicialmente
pretendido, os barcos e
o material de vigilância sofisticado
para essa zona económica teria sido
bem-sucedido e eficaz no combate
a este tipo de acção. Eficaz para lutar
contra uma insurgente guerrilha
onde a fronteira terreste é inexistente.
Eficaz contra uma estratégia
de guerra bem conhecida em Moçambique,
baseada em emboscadas,
sabotagem, pequenos ataques
surpresa e assassinatos. Eficaz entre
a mobilidade desses grupos armados
contra a rigidez de um exército
convencional. Eficaz contra pessoas
que estão dispostas a morrer por
uma causa (mesmo que obscura) e
sem nada a perder. Eficaz contra os
motivos que levam parte da população
a ser conivente.
Mais uma vez os nossos jovens são
chamados a dar as suas vidas para
estabelecer a ordem. As FADM
estão ainda a ajudar a normalizar
a vida das vítimas dos ataques, incluindo
com acções de solidariedade
como a reabilitação das habitações
destruídas. A curto prazo são
as acções correctas. A longo prazo é
necessário saber dar resposta às expectativas
que foram criadas e que
demoram a ser respondidas.
A literatura e a história de libertação
do nosso país estão recheados
de exemplos que nos mostram que
trabalhar com as comunidades é
essencial para criar uma contra inteligência
humana e ter as pessoas
mobilizadas e moralizadas para
defender a pátria. Por isso julgo
que das várias opções e estratégias
possíveis, a que teria mais impacto
neste caso é uma aposta no capital
humano. O longo termo vai depender
do tipo de desenvolvimento
que se quer ter, mas o essencial é
saber ganhar as mentes e o coração
do povo.
Talvez uma das maiores marcas da
Agência Central de Inteligência
(CIA) da chamada maior potência
mundial são os limites estabelecidos
ao poder interno. Ela está sujeita
à supervisão do judiciário, do
congresso, de comités e membros
da sociedade civil a fim de garantir
que cumpram com as normas e
princípios estabelecidos na constituição,
como por exemplo, que
respeitem os direitos humanos (em
teoria) e principalmente que coloquem
os interesses do país acima
dos interesses de qualquer partido
ou indivíduo.
Analisados os acontecimentos em
Cabo Delegado, eu me questiono
sobre qual terá sido o papel dos
nossos serviços de inteligência.
Não conheço o seu orçamento, o
seu modus operandi, os seus objectivos
anuais, as suas conquistas.
Nunca li um relatório sobre o sucesso
das suas operações e nem
sei quantas organizações criminais
foram desactivadas por causa da
sua inteligência. Tendo em conta
os investimentos que a instituição
teve nos últimos anos (pelo menos
em relação às chamadas dívidas
ocultas) e que foram priorizados no
lugar de sectores como o da habitação,
águas, etc. Interrogo-me sobre
para quem é que a instituição está
a coleccionar os seus dados e para
que propósitos.
Não sei também se existe um comité
no parlamento a auditar as
suas operações como fazem os
outros parlamentos. Grande parte
da informação que recebemos
provêm do WhatsApp (nem sempre
fidedigna), dos jornais ou então das
missões diplomáticas alertando os
seus cidadãos. Não conhecemos os
parceiros internacionais dos criminosos
que entram e saem. Sei que
é necessário o secretismo para o
sucesso das operações, no entanto
o secretismo não se deve confundir
com um mutismo total em que
tudo é classificado e nunca desclassificado.
Despertou também a minha atenção
o desenvolvimento de infra-estruturas
de segurança com câmaras
CCTV na cidade de Maputo que,
em funcionamento, devem assegurar
algum tipo de segurança,
o que é de felicitar se for esse o
objectivo final, no entanto, como
em tudo, existem os seus riscos. E
pergunto-me se não estamos a cair
na ratoeira da rã que convida o rato
para atravessar uma lagoa, sabendo
que ele pouco sabe nadar, torna-se
numa presa fácil na água. Naturalmente,
no meio do percurso a rã já
sem forças para o carregar debate-
-se para se salvar. Um falcão apercebe-se
da situação e os dois viram
o seu repasto.
Assim, os dados individuais de
cada movimento que os cidadãos
fazem são capturados por uma
agência que não sabemos o que
faz com eles. Será que as nossas
instituições estão preparadas para
proteger os direitos dos cidadãos
à privacidade? E quem garante a
segurança dos nossos dados individuas
para que não cheguem a
terceiros? De acordo com o jornal
A Verdade (04.04.2018), as câmaras
de vigilância são também para
a “intercepção de todo o fluxo de
dados e voz entre os operadores de
telecomunicações e os cidadãos”.
Naturalmente, a tecnologia que se
usou para que essa infra-estrutura
seja de segurança ou vigilância não
é nossa. Assim, também corremos
o risco de toda a informação estar
não só no nosso aparato de segurança,
mas também no estrageiro,
como já foi reportado na União
Africana.
Os instrumentos que foram adquiridos
para nossa segurança podem
ser utilizados para chantagens, para
obter vantagens económicas, políticas
ou de negócios entre moçambicanos
contra moçambicanos ou
entre os nossos cidadãos contra a
inteligência estrangeira, diminuído
a nossa capacidade de negociar.
Com a inteligência individual que
pode ser capturada através de redes
sociais, infra-estruturas de vigilância
e de comunicação, os agentes de
segurança estrangeiros podem nos
conhecer melhor do que nós próprios,
sem que os tenhamos dado
autorização para tal.
Ao votarmos, nós endossamos que
o candidato vencedor tem de assegurar
a nossa segurança. Presumimos
que o partido vencedor vá
agir de boa-fé, que cumpra com
essa obrigação e as instituições de
segurança actuem, em primeiro lugar,
para defender a pátria. Quando
o contrato social não funciona,
alguns cidadãos procuram formas
não convencionais e ilegais para alcançar
as suas necessidades.
Assim, parece-me que está na altura
de termos um debate sobre o que
significa segurança em Moçambique
no século 21. Um debate sobre
que liberdades nós, como cidadãos,
estamos dispostos a ceder e quais
serão os custos associados à centralização
de informação. Como nos
defenderemos do mau uso da nossa
informação privada? Como nos defenderemos
do mau uso das nossas
informações em empresas estrangeiras?
Quem é o nosso inimigo?
Como educar o povo contra o seu
inimigo actual? Quais são os exemplos
que temos sobre a captura e
julgamento do inimigo? Quem são
os seus parceiros internacionais?
Como informar as autoridades?
Como se financiam?
A nossa maneira de ser está em
causa e ultrapassada. Bem cedo
gritamos antes do tempo “Vitória!
Estamos Ricos”, criando expectativas
internas e atraindo os olhos da
cobiça. Agora temos inimigos internos,
externos e amigos duvidosos.
Não sou especialista em matéria
de segurança, mas três lições me
parecem óbvias. A primeira é que
uma guerra de guerrilha não é fácil
de ser vencida, e facilmente se espalha.
A segunda é que não se deve
depender de tecnologias das quais
não se tem total domínio; o feitiço
pode virar-se contra o feiticeiro. E
finalmente, é preciso ganhar os corações
e mentes das comunidades.
Foi o que aprendi com os vários
testemunhos sobre as nossas guerras
passadas onde a comunidade
era o centro da inteligência e não
necessariamente as grandes infraO
escorpião e a rã
Por Mantchiyani Machel
Uma coleção internacional [7]
5HSHQVDGRDVHJXUDQoDHP0RoDPELTXH²,
20 Savana 22-06-2018 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
Um dia, ao olhar demoradamente
para a bandeira nacional,
alguém perguntou ao
indivíduo ao seu lado sobre
as razões de a bandeira de Moçambique
ter quase todas as cores que
conhecia. O outro respondeu que
aquelas cores representavam a paz
e a guerra, representavam a diversidade
de raças em Moçambique, o
sangue derramado na luta pela independência
nacional, a cor dos solos,
dos rubis, das turmalinas, das árvores,
etc. Depois lembrou ao outro que
faltava a cor azul para representar os
rios, lagos, o Oceano Índico. Veio a
resposta confirmando que essa cor
também lá estava, só que de modo
implícito. Seguiu-se a pergunta que
não podia faltar e que era sobre a razão
de as bandeiras de outros países
terem somente uma ou duas cores e
Independência
que pouquíssimas bandeiras nacionais
tinham assim tantas cores para desesperadamente
representar tudo o que era
possível. Surgiu, então, o esclarecimento
de que nada havia de desespero na convocação
de cores e que provavelmente
a razão podia estar nos gostos de quem
assim idealizou. Mas então, quem foram
exactamente os moçambicanos que pensaram
na bandeira? Falou do partido no
poder, mas o que o outro queria eram os
nomes das pessoas desse mesmo partido.
O outro explicou que o mais importante
era a bandeira e não os nomes e foi a
sua vez de fazer uma pergunta: então, que
cores é que gostarias que a nossa bandeira
tivesse? Imediatamente veio a resposta:
as cores estão muito bem assim como estão.
Separaram-se e voltaram a encontrar-se
algum tempo depois.
Nesse dia, depois de uma saudação, o
primeiro perguntou sobre as razões de
o hino nacional em uma das suas passagens
fazer referência a que nenhum
tirano que nos irá escravizar. Mas, afinal,
o que é que levou a que se colocasse a figura
de tirano? Houve alguma experiência de tirania
em Moçambique? O outro preferiu
responder que o “tirano” que estava no
hino nacional era exactamente para que
não aparecesse um novo tirano, um concorrente
a esse lugar. Como esse já está no
hino então dificilmente poderá aparecer outro.
Isso não convenceu. “Tirano” até soa
bem e nenhum gosta que o tratem desse
modo. O outro respondeu que sempre
existiram tiranos e que o problema só
ganhava expressão na sequência da ascensão
ao poder ou quando um e outro
se fazem, se produzem a partir do poder
político. Mudar de conversa foi a táctica
para fugir ao “tirano”.
Por sorte, uma vez mais, encontraram-
-se no dia 25 de Junho. Não pouparam
as perguntas que recolhiam entre
os concidadãos. Eles próprios iam
fazendo o exercício de responderem-nas.
O primeiro perguntou sobre
os conceitos de nação, Estado,
partidarização, fraude, corrupção,
nepotismo, jogos de influências,
quotas de poder, independência de
pensamento, liberdade de expressão,
independência económica, etc.
O outro lembrou-se das vantagens
de vibrar com os jogos do Mundial
e preferiu abandoná-lo para procurar
o seu Moçambique imaginário
entre as equipas de futebol, um
Moçambique que flutuava em função
das vitórias: Moçambique que
ora era Brasil, Portugal, Argentina,
Espanha, ora podia ser uma outra
selecção qualquer. Um dia chegamos
lá.
A
pergunta, no teste de História do
Teatro, era rudimentar. Uma perguntas
para descargo, para aliviar o
que correu mal num teste sem outras
perguntas óbvias e que exigia desenvolvimento
e rigor. Ali posta para consolar com
dois pontinhos o que difícil parecera.
O enunciado: «As peças gregas remetiam
para um fundo mitológico – as histórias
de deuses e heróis que serviam de base à
cultura e identidade grega – que toda a população
conhecia por transmissão oral. Ora
Moçambique é ainda um país de cultura
predominantemente oral e onde alguns ensinamentos
são transmitidos, por exemplo,
através das fábulas.
Se escrevesse peças de teatro socorrendo-se
de algumas figuras das fábulas, quais seriam
os protagonistas das suas peças?»
Afinal estava iludido, e não esperava pela
resposta comum a todos eles. Como redigiu
uma aluna: «Se escrevesse peças de teatro
socorrendo-me de algumas personagens das
fábulas poria em cena as seguintes figuras:
Rapunzel, Branca de Neve, Capuchinho
Vermelho, Boneca Emília…»
Conclua quem quiser: para aqueles jovens
urbanos universitários, para uma turma inteira,
são aquelas as personagens das fábulas
africanas.
O pasmo não ficava por ali: eles nem sequer
tinham a certeza do que fosse uma fábula.
Fica tudo dito sobre o que não foi feito ou
foi: “à nossa maneira” – um cliché que nada
quer dizer. Ou quando muito significará:
auto-golo!
E quando me falarem de Tradições perguntarei
se serão mais do que “invencionices” de
académicos a brincarem ao reverso, na cata
de “fundamentos”, dado o quotidiano, pelo
menos o dos rapazes urbanos, ser um relato
sem poros para as supostas tradições.
E seria preciso que os antropólogos respondessem
sobre o que sobrevive ainda de
forma orgânica e não plantada nas culturas
orais, nesta encruzilhada entre as tradições e
a modernidade – ou pelo menos face ao advento
tecnológico, que igualmente impinge
as suas narrativas e modos discursivos.
Em relação ao modo como os suportes tecnológicos
modulam narrativas, processos
e ritmos que nos condicionam, dou este
exemplo. Há dois anos escrevi, no meu
diário: “A nomeação de Bob Dylan como
Nobel não me provoca alergia mas não me
alegra. Explico-me: como professor preocupa-me
muito o baixo quociente de atenção
de que se mostram capazes os alunos. Entre
outros factores aduzíveis para que tal aconteça,
identifico a “síndrome pop”: o grosso
dos jovens cresce condicionado pelo formato
da canção pop, que dura três minutos.
São fisgados por um tipo de atenção breve
e, como na comunicação oral, sustentada
em refrões. E rapidamente esta percepção
se torna modular, estrutura. E por isso se
mostra tão importante habituar o ouvido a
outros ritmos mais largos como os que nos
oferecem a música sinfónica, uma boa orquestra
de timbilas ou o jazz. Não é apenas a
nossa educação musical que ganha com isso,
é também a nossa capacidade de ampliar a
pauta da atenção.”
Agora, no deguste duma tosta mista, leio,
em Da Miséria Simbólica, de Bernard
Stiegler, livrinho de que vos falei na semana
passada: «Hoje, nas sociedades de modulação
que são as sociedades de controle, as armas
estéticas tornaram-se essenciais: trata-se de
controlar essas tecnologias da aisthesis que são,
por exemplo, o audiovisual e o digital, e graças
a este domínio das tecnologias, trata-se de
controlar os tempos de inconsciente dos corpos
e das almas que os habitam, ao modular
através do controlo dos fluxos esses tempos de
consciência e de vida». As coisas estão todas
ligadas, tinha-o intuído.
Bom, falemos de futebol.
De cantores de rock e de futebolista, todos
temos um pouco, pelo menos nos desejos
mais arcaicos.
Eu apresentei-me para jogar nos infantis, da
Cova de Piedade, nos juvenis do Almada,
e nos juniores do Belenenses. Levei tampa
em todos os clubes e ainda bem até porque
as minhas pernas são lentas a sofrer - nunca
gostei muito de correr (afigura-se-me
inconcebível treinar três horas por dia durante
dez anos para roubar um segundo ao
recorde pessoal) - e não reagem como molas.
E só sabia desenhar uma jogada, rolando
a bola sobre o pé para depois a puxar para
dentro quando o pé do adversário se aproxima,
fazendo de imediato uma rotação súbita
de 180 graus para sair pelas costas do adversário;
dava brado mas este meu diminuto
repertório só obtinha sucesso à primeira.
Porém gostava do jogo, da dinâmica. E
então um dia, aos vinte anos, escrevi para o
Departamento de Futebol do Real Madrid
a oferecer-me como O Melhor Suplente do
Mundo: aquele que nunca sai do banco mas
cuja presença é insubstituível para elevar o
ânimo dos colegas e que os ajuda a explorar
outras fontes da criatividade, de modo a que
por habilitação transversal se tornem mais
inventivos em campo.
Defendia eu na minha carta – e ainda hoje
acredito nisto - que se os jogadores tivessem
no balneário quem lhes mostrasse as obras
de Picasso, Mirá e Dali, rapidamente as suas
fintas ganhariam outros arabescos e fantasias.
E referia como exemplo de uma transfiguração
poética no campo – o que terá
constituído o meu erro, pela avaliação que
faço hoje da minha carta – Garrincha, que
um dia ultrapassou dois defesas e o guarda-
-redes e depois, na linha de golo, esperou
que se recompusessem para então ele voltar
atrás e voltar a fintá-los aos três para finalmente
meter golo. Aquilo que para mim
era o cúmulo da criatividade pelos vistos, a
deduzir pelo silêncio que mereceu a minha
carta, passaria por uma profunda marca de
ineficácia.
Ainda hoje acho que eles é que estavam errados.
Bem como os meus colegas jogadores
que uma vez me puseram à baliza por
causa da minha flexibilidade – quem me vê
hoje não adivinha como eu era um bambu
– e que ficaram furiosos porque encaixámos
quatro secos e pior com a minha resposta,
ao interrogarem-me porque não me esforcei
devidamente nalguns lances: “Oh, pá, é porque
gosto de golos bonitos!”. Sim, quem não
gosta de golos bonitos?
Que o Senegal passe esta primeira fase, é o
meu voto!
De golos e auto-golos
Savana 22-06-2018 21 PUBLICIDADE
22 Savana 22-06-2018 DESPORTO
O
presidente da Federação
Moçambicana de Patinagem,
Nicolau Manjate,
diz que o organismo que
dirige tem dado primazia, nas suas
actividades e no seu programa, à
formação de novos atletas e à massificação
da modalidade, por constituírem
a base para o crescimento
da modalidade. Outrossim, aponta
a falta de um pavilhão multiuso
como um constrangimento, mas
mesmo assim assegura que um dia
essa infra-estrutura será erguida
no país. Acompanhe, caro leitor,
os excertos da conversa.
Assumiu a presidência da federação
em 2017 e, na altura, apresentou
um programa ambicioso...
-Dentro das possibilidades e dos
esforços dos atletas, dirigentes assim
como de outras pessoas amantes
do hóquei, estamos a tentar
levar avante o nosso programa, o
qual é assente, essencialmente, na
consolidação da modalidade. Refiro-me,
concretamente, à formação,
Eis a tríade que polariza as atenções da FMP, segundo o seu presidente, Nicolau Manjate
Formação, massificação e infra-estruturas
Por Paulo Mubalo
do hóquei, pois tem de haver gradualismo,
há que seguir fases e os
resultados estão a aparecer. Igualmente,
estamos a trabalhar estreitamente
com as associações da cidade
de Maputo e de Quelimane
e com os núcleos da província de
Maputo e de Nampula, e acreditamos
que na outra fase o hóquei
vai desenvolver-se cada vez mais.
Outrossim, estamos a projectar,
ainda para este ano, uma competição
com uma abrangência nacional
e que vai envolver esses locais
já referidos.
Mas para quando a transformação
de núcleos em associações provinciais?
-Os núcleos existentes estão num
processo de formação para passarem
a ser associações, por exemplo,
o antigo núcleo de Quelimane já é
uma associação. A cidade de Nampula,
infelizmente, ainda continua
com um núcleo. Devo, ainda, referir
que o hóquei tem uma componente
chave que é a dos materiais,
mas mesmo assim vamos subindo,
que essa é uma questão de investimento,
não a curto prazo, mas sim,
a longo prazo, mas continuamos a
colocar essa nossa grande preocupação
ao nível interno e ao nível
dos nossos parceiros e esperamos
ter uma solução.
O que tem a dizer relativamente à
alta competição?
- Temos participado em mundiais
e acredito que neste intervalo vamos
ter intercâmbios desportivos,
entre regionais e outros, com os
nossos parceiros, como África do
Sul, Angola e Egipto, mas para
ao aspecto da continuidade da própria
actividade, o estabelecimento
de programa de competições entre
clubes e entre as várias camadas
que já conseguimos construir, a
saber, iniciados e juvenis. Ainda,
recentemente, conseguimos criar
uma selecção de sub-20, com objectivo
de começarmos a trabalhar
com esses jovens, pois são o futuro
da nossa selecção para as competições
internacionais e não só. Ou
seja, estamos a cumprir o nosso
programa e esperamos continuar a
representar o país em diversos escalões
pelo mundo fora, mas também
no plano interno continuamos
a desenvolver a modalidade.
O que a FMP fez de concreto até
ao momento?
-Desenvolvemos as camadas de
formação e estamos a dar o seu encaminhamento
até constituirmos a
selecção de sub-20 e isso é muito
importante para o crescimento
gradualmente, até porque quando
iniciamos este trabalho, tínhamos
um número inferior a 50 por cento
relativamente ao que temos actualmente.
Hoje temos acima de
200 atletas divididos em diversos
escalões.
A falta de campos ainda se faz
sentir no hóquei em patins. Qual
é a saída?
-No capítulo de infra-estruturas
continuamos a bater portas uma
vez que as que existem pertencem
aos clubes, e nós sabemos
as dificuldades que os mesmos
enfrentam. Geralmente usamos,
para competições, o Pavilhão do
Estrela Vermelha. Entretanto, clubes
como Desportivo e Ferroviário
também têm os seus campos, mas
o que mais precisamos é de um pavilhão
multiuso. Mas acredito que
um dia teremos esse tipo de pavilhão,
no qual a federação se responsabilizaria
por ele. Claramente
Nicolau Manjate, presidente da FMP
Savana 22-06-2018 23 DESPORTO DESPORTO
além disso, estamos a trabalhar
no sentido de organizar um núcleo
ligado à patinagem em linha.
Estamos preocupados com isso, já
tivemos encontro com as pessoas
ligadas a esta parte, jovens que a
praticam, para ver se conseguimos
um enquadramento. Depois disso
vamos ver se conseguimos direccioná-los
para os clubes, porque
torna-se difícil desenvolvermos
esta disciplina sem que os atletas
estejam enquadrados em núcleos.
Qualidade
A qualidade técnica dos nossos
atletas satisfaz a FMP?
-Em termos de qualidade no hóquei
em patins podemos dizer
que há uma preparação ao nível
dos clubes, existe qualidade, principalmente
nas camadas jovens e
se continuarem a melhorar o seu
ritmo e performance, poderemos
dizer que a modalidade tem tudo
para crescer, cada vez mais, em
Moçambique.
Estranhamente nos mundiais de
hóquei nota-se uma forte presença,
na nossa selecção, de atletas
radicados no estrangeiro. Como
inverter esta situação?
-Bem, com a nova selecção que
formamos a esperança é exactamente
a de fortificarmos o nosso
combinado nacional, mas há que
ressalvar que os outros que intervêm
lá fora também são moçambicanos
e, pessoalmente, julgo até
ser muito bom que o façam, que
reforcem a nossa selecção, daí
que continuaremos a ter esse tipo
de intercâmbio. Entretanto, dum
modo geral a nossa selecção tem
que estar fortificada com os nossos
atletas aqui no país.
Quais são os desafios da federação
para os próximos tempos?
-A nossa luta diária é o melhoramento
da nossa selecção, é fazermos
com que haja mais competitividade,
é termos mais assistência
técnica, por isso estamos a estabelecer
intercâmbio técnico com os
outros países mais experimentados,
para exactamente num curto
espaço de tempo, dispormos de um
técnico que possa vir dar capacitação
aos nossos dirigentes, técnicos
e próprios atletas. Mas devo dizer
que estamos a lutar para que o hóquei
continue a trilhar caminhos
de sucesso, não obstante as dificuldades
de vária ordem. Estamos,
igualmente, empenhados na massificação
da modalidade, pois esta
constitui uma base segura para a
continuidade e crescimento do
hóquei.
Muitas federações acusam o governo
por estar a disponibilizar
fundos que não cobrem as suas
necessidades. O hóquei está satisfeito
com o valor que recebe do
MJD-via FPD?
-Para o caso do hóquei, devo dizer
que o Governo tem cumprido o
seu papel, na sua intervenção, pois
o Fundo de Promoção Desportiva
tem disponibilizado fundos. Quer
dizer, temos sido contemplados
dentro das possibilidades do Fundo.
É claro que os fundos nunca
serão suficientes, mas o resto temos
de nos esforçar e não ficarmos
à espera só do Governo, temos de
estabelecer parcerias.
A
Fundação Sidat
(FS) anunciou,
no último sábado,
no Posto
Administrativo de Ressano
Garcia, distrito de
Moamba, província de
Maputo, um apoio de um
furo de água potável e um
campo polivalente para
prática desportiva para
a Escola Primária Completa
de Ressano Garcia,
onde estudam quase 1600
crianças.
Para o efeito, as diligências
para execução das
referidas obras, cujo custo
não foi revelado vão arrancar
em breve, conforFS
entrega campo polivalente
para Ressano Garcia
me avançou na ocasião o presidente
da Fundação, Feizal Sidat.
A oferta enquadra-se no âmbito
da responsabilidade social daquela
fundação e foi associada às
comemorações de 16 de Junho,
dia da Criança Africana que no
nosso país também é dia do metical
e do Massacre de Mueda.
O anúncio da “boa nova”, do
furo de água e campo polivalente,
foi testemunhado pela chefe
daquele Posto Administrativo,
Mónica Macheque, direcção e
professores da escola, alguns pais
e encarregados de educação e
outros convidados.
Na mesma ocasião, a Fundação
Sidat proporcionou um momento
especial aos petizes daquele
estabelecimento de ensino primário
com oferta de vários
kits de brindes, material
escolar, momentos de
animação e por um almoço
de confraternização.
Feizal Sidat referiu que
esta instituição era ainda
nova na praça porém,
movidos pela força de
vontade de ajudar a quem
precisa e dentro das possibilidades
tem apoio a
pessoas singulares e colectivas,
incluindo agremiações
desportiva.
Aliás, no evento, a Fundação
Sidat ofereceu material
desportivo a 25 clubes
baseados naquele Posto
Administrativo entre federados,
recreativos e de
formação.
24 Savana 22-06-2018 CULTURA
“
O escritor e jornalista Fernando
Manuel lançou, nesta
terça-feira, 19 de Junho corrente,
na Fundação Fernando
Leite Couto o livro intitulado
Missa Pagã. A apresentação do livro
esteve a cargo do poeta Afonso
dos Santos. Para a leitura de algumas
crónicas foram convidados a
actriz Ana Magaia e Léo Cote.
“Chegado este ponto as minhas
primeiras palavras vão no sentido
de manifestar o meu apreço e a minha
sincera gratidão a todos vocês.
E desde já peço compreensão pelo
facto de utilizar um tom coloquial e
de familiaridade que se pode confundir
com cumplicidades, confidências
inconfessáveis. Falando
assim estou a expor o estado emocional
em que me encontro. Estou
à vista de um porto bom e seguro
depois de uma longa e penosa travessia
do deserto. Como bem disse
o poeta Afonso dos Santos durou
cerca de uma década e meia”, conta
Fernando Manuel.
A obra é uma colectânea de crónicas
resultantes da colaboração de
Fernando Manuel no semanário
SAVANA. “A verdade é que essa
travessia não seria possível se não
fosse a vossa presença amiga desde
sempre. Pode parecer estranho porque
a maioria de vocês não se tenha
apercebido da sua presença valorosa
e decisiva para que esta caminhada
chegasse ao fim. Mas na verdade
foi. Não só, desde o momento
que concebi a possibilidade de fazer
a recolha de algumas crónicas que
publiquei ao longo de vários anos
no jornal SAVANA e seleccionar
estas cinquenta e seis que constam
neste livro. Elas vêm de um universo
de cerca de quatrocentas. Como
a vossa presença directa para alguns
casos e indirecta noutras. Quando
se dá o nome de Missa pagã a estas
crónicas, de modo geral, é justamente
para transmitir a ideia de
que elas não têm carácter temporal.
Não é e nunca foi minha preocupação
retratar a realidade e os factos
do dia-a-dia. Mas partir deles
construir um patamar no qual nos
possamos situar como humanos
nos valores mais altos que esta humanidade
nos confere ou os deveria
“Rezemos para que não
atinja a perfeição”
conferir. São eternos mas são sempre
actuais. E faço questão de girar
sempre à volta delas. Embora em
alguns casos não consiga. Que é o
caso do amor, fraternidade, solidariedade.
O sentido que tem de nós
nos sentirmos úteis para o próximo.
Sentirmo-nos próximos quando o
próximo desfalece ou deixa de crer
em si na sua capacidade de se reerguer.
É claro que falar deste valor
não me impede de conhecer realisticamente
o lado oposto que é a
existência de ódios, rancor, inveja.
Mas o que eu tento transmitir é o
sentido de que sempre vale a pena
lutarmos para que os valores nobres
se sobreponham aos maus”, explica.
O escritor comunga da ideia de
perfeição mencionada pelo apresentador
do livro, o poeta Afonso
dos Santos. “É como perseguir a
perfeição. Tenho um amigo que
o vou citar porque está aqui, que
é poeta Afonso dos Santos, com
quem estou de acordo quando afirma
que a perfeição não existe. Ou
se existe nunca a alcançaremos. E
também não teria sentido alcançarmos.
É a estória do cachorro da
aldeia e da camioneta. Sabido que
sempre que a camioneta passa pela
aldeia o cachorro vai atrás e ladra
furiosamente. É sabido também
que o cachorro nunca vai alcançar a
camioneta. Mas não desiste de fazer
isso sempre. Mas presumindo que
um dia o cachorro consegue fincar
os dentes no para-choques da camioneta.
O que vai acontecer? Vai
travar a camioneta? Não. A camioneta
vai travar por causa dele? Não.
Foi um esforço inglório? Talvez. O
mesmo se passa com a filosofia que
tenho em relação à perfeição. Isso
não me inibe de procurar alcançá-
-la. Vou utilizar um termo que hoje
se usa muito. Procuro esse desiderato.
Gosto muito deste termo. Se
alcançar hei-de ficar perdido. Porque
aí o mundo teria perdido piada
para mim. E naturalmente a vida
teria perdido sentido. Portanto, rezemos
para que eu não atinja a perfeição”,
frisa.
Em termos de legado para os jornalistas
e novos escritores, Fernando
Manuel refere: “a escrita tem
uma função importante: permite-
-nos manifestar o que nos rodeia.
Diria para nos harmonizarmos a
alteração não pode ser um vazio.
Em termos de arte transmitimos
aquilo que são as nossas ideias.
Pode ser mau em termos de arte.
Para melhor compreenderem vou
contar um cenário para justificar
a minha explicação. Na década de
oitenta foi apresentado um filme
americano aqui em Maputo com o
título “Imagine quem vem Jantar a
casa”. Este filme transmitia a mensagem
de que nos EUA não existia
racismo. Transmitia uma ideia errada
da sociedade americana. Até
hoje existe racismo nos EUA. É
preciso transmitir mensagem com
realidade e coerência”, finaliza.A.S.
“
Tio, dá lá o telemóvel”. “Que fazer? Eram quatro. Dei-lho. Até
foram delicados me chamaram tio.” Isto aconteceu a Fernando
Manuel às duas da manhã num dia qualquer, em Maputo. É
apenas um rasto de retrato, uma nota áspera e bem constante
na desordem urbana. Talvez seja transfigurado em pequena crónica,
numa outra conta do rosário da “Missa Pagã”.
Leio religiosamente “Missa pagã”. Todas as sextas-feiras no Savana.
Muitas vezes não gosto, fico irritada pelo machismo, pelo turpilóquio
que Fernando Manuel usa. Não gosto da paisagem humana que vem
cá para fora. Incomoda-me. Logo na semana seguinte, a ternura ríspida
de mais uma crónica me reconcilia com o autor: uma declaração de
amor para a vida que na semana anterior fora abusada, pisada, violada.
Não sei bem porque Fernando Manuel me convidou a escrever o
prefácio do seu livro. Sou estrangeira, sou mulher, conheço pouco
as barracas. Será talvez porque um dia lhe disse que me lembrava
Charles Bukovsky, o escritor americano que morreu há alguns anos,
o de “Histórias de ordinária loucura”. Mas também Cheever e Yates,
aqueles que usaram a impotência sexual como alegoria que devora o
mundo e o eu.
Mas tem alguma coisa a ver Moçambique com os Estados Unidos
de América? Tem sim. Porque as periferias não têm fronteiras. São
globais.
As crónicas que Fernando Manuel escreve todas as semanas são para
mim um unicum, o retrato de uma sociedade despedaçada, de um
mundo feito adulto à força, e da nostalgia da infância doce, das “gotas
de chuva que fazem música no telhado de zinco”. Pling, pling, pling.
É o mundo da periferia, de todas as periferias: o mundo dos desiludidos,
dos a quem foi roubado o sonho. É o mundo do distúrbio
da tranquilidade pública. Dos quem não têm voz, e ficam roucos às
margens da História.
O cronista/escritor assume outros nomes, às vezes fala na primeira
pessoa, de quando em vez coincide com o autor, como um duplo autobiográfico,
mas também fictício do próprio Fernando Manuel.
As personagens da Missa pagã, muitas delas, levam a vida numa esquizofrenia
constante entre modernidade e tradição, na luta constante
para chegar ao fim do mês, numa cidade degradada. São crónicas
de ordinário desgaste, depois do sonho nunca acontecer.
Depois da monstrocracia interna e das damas vindas de Bretton
Woods terem comido o que restava do grande sonho. “Tenho de reconhecer
que, quando estou com copos, subo a uma árvore para urinar: a
população, na sua eterna e ingénua ignorância, chama a isso chuva e é
por isso que a Mafalala, o Xipamanine, Polana Caniço e outras periferias
dos Workshops estão como estão: aquilo não são águas paradas,
meu Deus, é onde a dona Catarina lava os pratos, onde eu e muitos
milhares comem carapau a mil paus.”
O narrador/cronista/protagonista sabe bem que esta bóia de salvação
existencial não é uma panaceia: permite-lhe apenas observar com
maior acribologia a desilusão e a dor que comunica a existência de
alienado consciente de si.
Missa Pagã é uma reflexão sobre a sociedade em forma de crónica
insolente, por vezes, iconoclástica. Reflexão feita de anti-heróis, na
ilusão caída em garrafões de álcool barato numa barraca de esquina.
Uma esquina qualquer. De uma periferia qualquer.
Paola Rolletta
Maputo, Março de 2006
Nota: Escrevi este texto em Março de 2006, aquando Fernando Manuel
decidiu reunir as crônicas de “Missa Pagã” para publicação. Doze anos depois,
o desejo de Fernando Manuel é finalmente um livro. Senti-me honrada
há doze anos, e ainda mais hoje porque, apesar de acontecimentos trágicos
nas nossas vidas, estamos aqui, ainda capazes de relatar o “ordinário
desgaste” e ao mesmo tempo curtir o pling pling da chuva. De uma periferia
para outra. Obrigada, Fernando Manuel.
Prefácio
O
Centro Cultural Brasil-
-Moçambique acolheu
recentemente um tributo
aos músicos brasileiros
Tim Maia e Jorge Vercillo. Tamanho
sucesso a apresentação, que no
dia 19 de Julho terá reapresentação
às 19h com ingressos a 200 meticais.
A última apresentação teve
casa lotada com muitos moçambicanos
e brasileiros que cantaram
juntos sucessos de Tim Maia como
“Tributo a Tim Maia e Jorge Vercillo no CCBM”
“Vale Tudo”, “Não Quero Dinheiro”
com tamanha efervescência que
fez o público presente ficar de pé e
dançar com aplausos que pediram
o bis. Segundo Expedito Araujo,
que também assina a concepção
do espectáculo, o sucesso para a
reapresentação foi a intensidade da
música e da vida de Tim e a mesma
intensidade presente no concerto.
“Tim Maia foi um dos primeiros a
fazer a música black brasileira. Antes
dele, era o samba, bossa e rock.
Ele trouxe ao Brasil a experiência
musical que aprendeu nos EUA,
mas jamais perdeu sua brasilidade.
O Tim tinha orgulho de ser brasileiro!
Quando ouvi ele pela primeira
vez no rádio, pensei: “Esse cara
canta bem pra caramba! Minha
formação artística foi toda pela black
music americana, mas, até então,
eu jamais havia ouvido alguém cantar
em português com o suingue do
gringo. Eu até achava que havia
um problema para fazer funk com
nossa língua. Porém, o Tim me
mostrou que isso era possível. Foi
algo inspirador de todo mundo! E,
além disso tudo, ele ainda é popular
sem perder a qualidade. Qualquer
pessoa, mesmo sem conhecimento
musical apurado, conhece Tim
Maia. Ele é referência até hoje não
só no Brasil, mas também aqui em
Moçambique, Angola, África do
Sul e vários países. E este grande
compositor ainda continua influenciando
inúmeros artistas de vários
gêneros e idades”, enfatiza. Jorge
Vercillo também homenageado no
tributo é um dos mais requisitados
compositores brasileiros. Lançou
10 CDs inéditos e 3 DVDs, tendo
conquistado 1 Disco de Diamante, 3
Discos de Platina e sendo indicado
3 vezes ao Grammy Latino (2007,
2009 e 2010) e uma nomeação em
2013. A.S.
Fernando Manuel e a sua família
Ilec Vilanculo
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1275 DE JUNHO DE 2018
A PARTIR DE 3ª-FEIRA TEREMOS
2 Savana 22-06-2018 SUPLEMENTO Savana 22-06-2018 3
E seTrump anunciasse a cura do câncer?
Savana 22-06-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) Q
uando cheguei ao local do lançamento do livro de crónicas intitulado
Missa Pagã, do escritor e jornalista do SAVANA, Fernando Manuel, uma
coisa que chamou a atenção foi quando o jovem escritor Dom Chirongo
disse para mim que a sua companheira é uma admiradora de Fernando
Manuel.
Admira a sua escrita e que tem feito recortes de jornal das suas crónicas há bastante
tempo. São muitos que admiram a escrita de mano Nandinho, como carinhosamente
o chamamos no seio da redacção.
Por isso foram muitas pessoas que se fizeram presente na Fundação Fernando
Leite Couto para testemunhar o lançamento deste livro de crónicas. Sinal de que
mesmo aqueles que não pensávamos ter alguma admiração pela escrita de Fernando
Manuel foram ao local. Era uma mistura de várias gerações. Como se de uma
missa pagã se tratasse.
No dia seguinte ao lançamento da sua obra, Fernando Manuel ligou para mim
a propor uma entrevista na Rádio SAVANA para falarmos da sua escrita, vida e
carreira. Disse ainda que gostaria que fosse eu a fazer a entrevista porque sou uma
pessoa sem medo de questionar alguns aspectos da sua vida. Gostaria igualmente
que fosse na rádio SAVANA para podermos falar de tudo sem receio. Adorei a
ideia. Espero que se concretize. Seria um prazer para mim fazer uma entrevista
na rádio com este homem que tem uma das escritas mais admiráveis que conheci.
Chegou o momento da assinatura de autógrafos. Todos queriam ter os seus livros
autografados. Registar o momento solene da missa pagã.
Na primeira imagem, Fernando Manuel aparece a ditar o que escrever no livro que
o seu filho tem nas mãos. Por sinal este filho é o Nandinho. Leva o nome do pai.
A comoção era maior no local. Vimos amigos, desconhecidos, conhecidos. Todos
eles têm uma relação. Admiram a escrita de Fernando Manuel. Nesta segunda
imagem, está o editor executivo do SAVANA, Francisco Carmona, e o editor do
mediaFAX, Fernando Mbanze, que esperavam pelo seu momento de ter os seus
livros adquiridos autografados pelo seu colega de profissão. Enquanto esperam, o
filho de Fernando Manuel vai trocando algumas palavras com os editores como
forma de tranquilizá-los em termos de emoções que uma missa pagã pode provocar.
Até testemunhamos figuras que não quiseram perder a oportunidade de registar o
momento. Referimo-nos a Carlos Mondlane, Presidente da Associação dos Juízes
de Moçambique, que se colocou bem em frente do local onde o autor do livro se
encontrava para registar o momento.
Antes do evento, ainda trocamos uma curta conversa com Fernando Amado Couto.
Eu e o escritor Dom Chirongo, em que Fernando Couto falou da fundação. As
obras que tiveram de efectuar para que o local tivesse condições para acolher os
eventos que se tem realizado.
Agora, nesta imagem aparece numa conversa com o poeta Afonso dos Santos que
foi o apresentador da obra. Acredito que estejam a falar da qualidade que este
escritor e jornalista tem.
Por isso estas duas grandes mulheres também não esconderam o seu empolgamento
derivado do evento. Vejam como a actriz Ana Magaia e a locutora Glória
Muianga testemunham os agradáveis momentos passados na missa pagã. Esperamos
que muitas missas aconteçam para disfrutarmos destes momentos agradáveis
que o lançamento de um livro proporciona. Como disse uma vez o escritor António
Cabrita, o lançamento de um livro é um momento de festa. Só que desta vez a
festa teve um gosto de uma missa pagã.
Desiderato da Missa Pagã
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF +VOIP EF t "/0 997 t /o
1276 Diz-se... Diz-se
IMAGEM DA SEMANA Naíta Ussene
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e forma repentina, a Comissão
Permanente da Assembleia
da República adiou,
esta quarta-feira, a terceira
sessão extraordinária do órgão, reunião
que tinha sido convocada para
debater os projectos de mudanças
nas leis eleitorais e do governo local
submetidas ao parlamento pelo
Conselho de Ministros. As leis visam
conformar estes instrumentos
legais aos novos comandos introduzidos
pela emenda pontual operada
à Constituição da República.
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Desacordos sobre as leis eleitorais
Comissão Permanente adia sessão extraordinária
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Savana 22-06-2018
EVENTOS
1
0DSXWR GH-XQKRGH $12;;91o 1276
EVENTOS
O
governo moçambicano,
Unicef, União Europeia e
a população do distrito de
Homoíne convergiram sábado
à vila-sede de Homoíne para
a inauguração do novo Sistema de
Abastecimento de Água local.
Por enquanto, o Sistema de Abastecimento
de Água inaugurado na
vila de Homoíne pelo Presidente
da República, Filipe Nyusi, assegura
500 ligações domiciliárias, mas a
expectativa é que a infra-estrutura
beneficie 39 mil pessoas até 2030.
A água é captada no rio Domu-
-Domu, conduzida para uma estação
de bombagem equipada com
bombas Grundfos e passa por uma
estação de tratamento até ao centro
distribuidor, donde é fornecida
através de uma rede de distribuição
com 31 quilómetros de rede PVC.
Falando na ocasião, o representante
do Unicef em Moçambique,
Marcoluigi Corsi, assinalou que
o empreendimento constitui um
grande avanço para a melhoria das
condições de vida da população de
Homoíne e, principalmente, para as
crianças da zona.
Marcoluigi Corsi destacou que a
falta de água nas zonas rurais moHomoíne
conta com novo sistema
de abastecimento de água
çambicanas contribui para o absentismo
escolar das crianças, uma vez
que têm de dedicar muito tempo à
procura do líquido vital.
Na ocasião, Marcoluigi Corsi elogiou
os avanços que o país tem registado
na protecção dos direitos
da criança, mas realçou que ainda
persistem desafios nesse domínio,
incluindo a prevalência de casamentos
prematuros em algumas comunidades.
O Sistema de Abastecimento de
Água da vila de Homoíne é parte
de um conjunto de três empreendimentos
do género, tendo sido dois
instalados nos distritos de Morumbene
e de Jangamo, todos na província
de Inhambane.
Por seu turno, o chefe da Secção
Política, Imprensa e Informação da
União Europeia, Stergios Varvarousis,
disse que o empreendimento é
corolário e exemplo da eficácia da
cooperação para o desenvolvimento
entre a organização comunitária e o
Governo moçambicano.
As infra-estruturas estão orçadas
em 146 milhões de meticais, que
resultaram da comparticiparam do
governo de Moçambique, Unicef e
União Europeia.
O
Instituto Médio Politécnico
(IMEP), uma unidade
orgânica da Universidade
Politécnica, vai introduzir,
na sua delegação de Tete, a partir
de Agosto próximo, três novos cursos,
nomeadamente, de Técnicos
de Farmácia, Técnicos de Análises
Clínicas e de Enfermagem de Saúde
Materno-Infantil (SMI).
O curso de Técnico de Farmácia
permite o exercício de actividades
de serviços farmacêuticos, nas unidades
sanitárias de qualquer nível
de atenção em saúde e ainda actuar
em farmácias e empresas de importação
e exportação de medicamentos
e artigos médicos, órgãos locais
e centrais de regulamentação, fiscalização
e supervisão de actividades
farmacêuticas.
Por sua vez, o curso de Técnicos de
Análises Clínicas permite a realização
de funções ao nível dos conhecimentos,
habilidades e atitudes
Politécnica lança
três novos cursos
confiáveis na colheita de espécimes
biológicos, determinação analítica
dos exames e entrega atempada dos
resultados.
Já o curso de Enfermagem de SMI
possibilita o desempenho de funções
ao nível das maternidades e
consultas preventivo-curativas de
SMI nos hospitais rurais, provinciais,
centrais e centros de saúde.
Permite ainda desenvolver funções
ao nível da administração, gestão
e coordenação do programa integrado
de SMI, saúde escolar e do
adolescente.
Importa realçar que o IMEP é um
estabelecimento de ensino médio
direccionado ao ensino técnico-
-profissional, para formação, aperfeiçoamento
e reciclagem de profissionais
em diferentes áreas, com
a duração de três anos. Funciona
nos turnos laboral e pós-laboral,
sendo o nível de ingresso a 10ª classe
ou equivalente.
O
director do Banco
Mundial para Moçambique,
Mark
Lundell, anunciou a
existência de um pacote de
USD 80 milhões para financiar
um projecto de abastecimento
de água ao distrito
de Mueda, na província de
Cabo Delgado. Segundo
Lundell trata-se de um projecto
enquadrado na política
de expansão de abastecimento
de água para mais pontos
do país, cujo valor poderá ser
disponibilizado até meados
de 2019.
O director do Banco Mundial
falava, semana finda,
durante a visita que efectuou
a convite do ministro das
Obras Públicas Habitação
e Recursos Hídricos (MOPHRH),
João Machatine,
ao conjunto de obras para o
aumento da capacidade de
Banco mundial financia água
abastecimento de água para a região
do grande Maputo em Sábié,
no distrito da Moamba.
Trata-se da montagem de seis
comportas na barragem de Corumana,
que vai permitir o aumento
dos níveis de reservas de água dos
actuais 700 mil milhões de metros
cúbicos para 1.400 metros cúbicos.
A tubagem da conduta adutora que
vai bombear água de Corumana ao
centro distribuidor da Machava e
de lá para a região do grande Maputo
que já está pronta e, por fim, se
inteirar do projecto de construção
da Estação de Tratamento de Água
(ETA).
As obras são financiadas pelo
Banco Mundial e estão orçadas
em USD 250 milhões. Machatine
explicou que neste momento
o abastecimento de água à região
do grande Maputo está refém da
construção da ETA, cujo projecto
foi revisto e a construção deverá
arrancar em Agosto, com conclusão
prevista para 2020. O aumento
da capacidade de reserva da
albufeira irá ajudar ainda na
disponibilização de água aos
agricultores para irrigarem
36 mil hectares
Visto que as necessidades de
água são cada vez mais crescentes
a nível da região do
grande Maputo, Machatine
diz que estão no mercado
também à procura de um
parceiro que possa financiar
a construção de uma ETA
de emergência, de modo que
a água comece a ser disponibilizada
próximos anos.
E enquanto isso não acontece,
Machatine diz que se
vai apostando no plano de
emergência que consiste na
abertura de 46 furos e reactivação
de outros 22 pequenos
de sistema de abastecimentos
espalhados nos municípios
de Maputo e da Matola
para minimizar a carência de
água.
Savana 22-06-2018 EVENTOS
2
D
ecorreu entre 05 de 16 Junho
corrente a sexta edição
do Gazprom Football
For Friendship (F4F), em
Moscovo, na Rússia, um evento que
teve lugar à margem da Copa do
Mundo e contou com a participação
de mais de três mil convidados
de mais de 200 países, incluindo
jornalistas dos principais meios de
comunicação internacionais, estrelas
do futebol, campeões olímpicos
e para-olímpicos.
Países africanos estiveram pela segunda
vez nesta que foi a sexta temporada
do F4F, onde Moçambique
se fez presente através da participação
de dois adolescentes pertencentes
ao Ministério Arco-íris, uma
instituição de caridade que acolhe
crianças desfavorecidas.
No total, o F4F juntou 32 equipas
internacionais de amizade, formadas
por adolescentes com idades
compreendidas entre 10 a 12 anos,
incluindo crianças com deficiências,
da Europa, Ásia, América, Austrália,
África e Oceânia. As 32 equipas
formadas foram nomeadas por animais
em extinção para popularizar
e consciencializar as crianças sobre
a importância da protecção da natureza
e aumentar o interesse das
Moçambique no Mundial de F4F na Rússia
gerações vindouras pela preservação.
Na véspera do torneio final, os jovens
participantes do programa
passaram três dias no acampamento
Internacional da Amizade, no território
da Academia de Futebol Spartak,
onde participaram de formações
desportivas, palestras e master classes
orientadas por atletas, jornalistas
e representantes das reservas de espécies
raras de animais.
No dia 12 de Junho, tiveram lugar os
jogos de qualificação do Campeonato
Mundial de Futebol para Amizade,
no Estádio Sapsan Arena, sendo
que as equipas Dragão de Komodo
e Chimpanzé chegaram à final. A
primeira equipa era composta pelos
adolescentes do País de Gales,
Quénia, República Dominicana,
Guiné-Bissau, Filipinas e Brasil, e a
segunda da República Dominicana,
São Cristóvão e Nevis, Malawi, Colômbia,
Benim e Congo.
Falando na ocasião, Alexander
Alaev, director-geral da Federação
Russa de Futebol, destacou a importância
do evento e disse: “estou feliz
por participar dos eventos finais da
sexta temporada do programa Futebol
pela Amizade. É óptimo que
crianças de todo o mundo estejam
unidas por esse projecto: é importante
não apenas para o desenvolvimento
desportivo, mas também
para o pessoal. É bom ver como
jovens talentos colocam seu coração
e alma em suas actividades favoritas
e é incrível que, em apenas três dias
do Acampamento da Amizade, as
crianças conseguiram se tornar amigas
e demonstraram um verdadeiro
jogo de equipa”.
“Eu tenho apoiado o programa social
internacional para crianças há
bastante tempo. Todos os jovens
atletas que participaram do presente
Campeonato são muito talentosos
e promissores. Assistindo aos jogos
das equipas de Amizade, eu estava
realmente preocupado com as equipas
e tenho de dizer que o jogo final
foi brilhante. É com muito prazer
que continuarei a apoiar os jovens
desportistas. Tenho certeza de que
cada participante do programa será
capaz de obter resultados desportivos
excepcionais”, acrescentou
Alexander Kerzhakov, treinador da
equipa russa da juventude.
Já a vice-ministra da Federação Russa,
Olga Golodets, afirmou: “estou
feliz por receber todos os participantes,
organizadores e espectadores
do Fórum. As crianças reuniram-se
aqui e uniram-se sob a égide de um
jogo tão maravilhoso como o futebol,
independentemente de sua nacionalidade.
A maior conquista do projecto
é que os jovens participantes
realmente se tornaram amigos. Esses
projectos humanitários ajudam as
pessoas a se entenderem”.
“Estou satisfeito por ver tantos rostos
felizes de todo o mundo no Fórum
Internacional das Crianças, Futebol
pela Amizade! Gostaria de expressar
minha gratidão pelo convite a este
evento extraordinário, pois os dois
fundamentos do programa são os
mais importantes para minha vida:
amizade e futebol. Espero que o futebol
abra as portas não apenas para
o desporto, mas para todas as esferas
de suas vidas! Há aqui no Fórum 211
países; há muitas pessoas de todo o
mundo, e cada uma delas adora o futebol.
O futebol é uma óptima plataforma
para mudanças sociais para
tornar nosso mundo mais aberto e
tolerante. Aproveitem esta experiência
única e poupem sua energia para
a Copa do Mundo que começará
em breve!”, declarou Iker Casillas,
jogador de futebol espanhol, guarda-
-redes de FC Porto (Portugal).(E.C)
A
SB-Entretenimento, empresa
especializada na angariação
de fundos para produção
de eventos, lançou, esta semana,
a sua nova marca denominada
Elements para o desenvolvimento
eventos temáticos, em todo país .
O lançamento desta nova marca está
inserido nas comemorações dos 12
anos da SB-Entretenimento, fundada
em 2006, por Jahir Abdula com
intuito de ser uma empresa ligada
ao moto-suport, tendo realizado o
primeiro evento, sem fins lucrativos,
com a presença da actriz brasileira,
Tais Araújo, que consistiu, fundaSB-Entretenimento
lança Elements
mentalmente, na angariação de fundos
para ajudar crianças portadoras
de HIV-SIDA nas diferentes de regiões
do País.
De acordo com Luana Jane, directora-geral
da SB-Entretenimento,
avançou que a criação da nova marca
tem por objectivo a expansão da
cultura moçambicana e desta forma
permitir que o país seja conhecido a
nível mundial.
Adiante avançou Jane que, no âmbito
da comemoração do 12º aniversário
da criação da SB-Entretenimento,
está previsto um mega evento, agendado
para próxima final de semana.
A
vice-ministra dos Transportes
e Comunicações,
Manuela Joaquim Rebelo,
defendeu que a sustentabilidade
da mobilidade na zona metropolitana
de Maputo passa pela
conjugação de várias medidas, incluindo
a comparticipação dos munícipes
na adopção de novos hábitos
e de privilegiar o uso cada vez maior
do transporte público, contra a actual
tendência do uso frequente do
automóvel particular.
Falando quarta-feira em Maputo,
na abertura da conferência sobre a
mobilidade sustentável na zona metropolitana
de Maputo, Rebelo disse
que as medidas que o Governo está a
implementar na melhoria da oferta e
qualidade do transporte público urMunícipes
incentivados a transferirem-se para transporte público
bano devem encorajar os munícipes
a confiarem e a usar cada vez mais
o sistema público de transportes:
“Não podemos construir uma cidade
com mobilidade sustentável, quando
cada cidadão se faz transportar no
seu automóvel particular, de e para
qualquer parte da cidade” frisou a
governante.
Rebelo acrescentou que, para a zona
metropolitana de Maputo, onde vivem,
actualmente, cerca de três milhões
de pessoas, o Governo tem
dedicado especial atenção à mobilidade,
estando, neste momento, a
reorganizar o sistema de transportes,
considerando o reforço da frota, melhoria
do sistema de manutenção dos
autocarros alocados ao transporte de
passageiros, a intermodalidade, entre
outras medidas.
Dada a complexidade da actividade
de licenciamento de transportes e
gestão das questões emergentes, conforme
sublinhou Manuela Rebelo,
o Governo criou, através do Decreto
85/2017, de 29 de Dezembro, a
Agência Metropolitana de Maputo,
cuja finalidade é promover um sistema
de transportes assente num planeamento
integrado e coordenado
nos municípios de Maputo, Matola,
Boane e o distrito de Marracuene.
Por sua vez, o edil de Maputo, David
Simango, disse acreditar que a
criação de novas centralidades, que
podem ser escritórios, centros comerciais,
escolas e universidades fora
do centro da cidade, pode contribuir
para diminuir a pressão sobre os
grandes centros urbanos.
“Temos clareza sobre a impraticabilidade
do uso de viaturas individuais,
para deslocações de casa para
o trabalho e vice-versa, sobretudo
tendo em conta o tipo e qualidade da
infra-estrutura disponível, embora
consideremos a pertinência de uma
abordagem mais ampla do desafio
que tem em consideração os cidadãos
a partir das suas experiências,
como pedestres, ciclistas, utentes do
transporte público, motociclistas e
motoristas”, indicou Simango.
Para a coordenadora residente das
Nações Unidas em Moçambique,
Márcia de Castro, a promoção de
transportes sustentáveis requer a
corresponsabilidade do Estado e da
cidadania, na disponibilidade desses
serviços de transporte, mas também
no bom uso e gestão dos mesmos.
“Neste sentido, como Nações Unidas,
nós queremos destacar passos
importantes que já foram tomados
pelo Estado. Louvamos a criação da
Agência Metropolitana de Transportes
de Maputo, com o propósito
de melhorar a qualidade e a capacidade
da oferta actual dos transportes
colectivos e, através da UN-Habitat
e outros parceiros do sistema das
Nações Unidas, contem connosco
para apoiar o desenvolvimento do
trabalho desta agência”, concluiu
Márcia de Castro.
Refira-se que esta conferência enquadra-se
no âmbito da primeira semana
da mobilidade sustentável da
zona metropolitana de Maputo, que
decorre de 9 a 15 de Junho corrente,
cujo objectivo é discutir questões
relativas à sustentabilidade da mobilidade
e à integração entre os diversos
meios de transporte e o espaço
público no grande Maputo.
O
Banco Único lacou,
esta quarta-feira, o
primeiro aplicativo
social bancário do
mercado denominado Único
Social App.
Disponível para os Smartphones,
nos sistemas Android e
IOS, o Único SocialApp foi
concebido para simplificar e
facilitar a gestão de dinheiro
na vida social, uma vez que vai
Banco Único lança a primeira
app social do mercado
permitir com comodidade, facilidade
de adesão e acesso, acrescentar
à sua rede social de familiares e
amigos a vertente de pagamentos
e assim, à distância de um clique
efectuar as mais variadas transacções.
O Único SocialApp vai permitir
efectuar operações como, por
exemplo, pedir e emprestar dinheiro,
dividir contas, transferir ou fazer
xitique passa a ser muito fácil,
simples e divertido, bastando, para
isso, baixar o aplicativo na Play
Store ou na App Store.
Falando no acto de lançamento
do aplicativo móvel, António
Correia, CEO do Banco
Único, representa o reafirmar
do compromisso que banco
assumiu com os clientes no
sentido de providenciar serviços
inovadores e que facilitem
cada vez mais a vida de quem
faz o uso dos mesmos.
(Redacção)
Savana 22-06-2018
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D
epois de uma apresentação
de seis meses de total sucesso
no ano passado, peça
teatral “Jogo de intrigas”
da companhia teatral Gungu deverá
escalar as províncias da zona
sul, centro e norte do país, para encantar
o público amante de teatro
nestas duas regiões.
Trata-se de uma peça que rodou por
um período de seis meses na sala de
teatro Gilberto Mendes, na cidade
de Maputo, deixando os citadinos
da capital de entusiasmo.
Desta vez a peça vai escalar a província
de Gaza, na zona sul, as províncias
de Sofala, Tete e Zambézia,
no centro do país, depois ruma para
Nampula e Cabo Delgado, no norte.
Esta peca, tal como deu a entender
Gilberto Mendes procura retratar
com evidências do que a falta de
informação pode afectar vidas e
planos, uam vez que a informação é
a chave para que as pessoas se compreendam
e, com isso, percebam
melhor o mundo.
Mendes explica que mais de que
apresentar a peça, a ida as províncias
é uma oportunidade para a transferência
e troca de experiencias entre
“Jogo de intrigas”
escala províncias
os actores deste teatro e os grupos
locais que se se identificam e lidam
com este tipo de espetáculo.
Participam da peça seis actores,
a saber Samuel Malumbe, Juanet
Rombe, que desempenham
os papeis de anjos da patriarca e
matriarca da família, respecticvamente;
Eduardo Gravata, Beatriz
Munguambe, que desempenham
pepel, de filhos e Emelda Macamo
e Gilberto Mendes, como o papel
de filhos.
Outra novidade que já esta em fase
de antestreia a peça “My Love” que
desde semana passada no Cine
Teatro Gilberto Mendes. Este teatro
retrata os dilema das escolha
num casamento. Apesar desta não
ter uma trelacao directa com a situação
do transporte de carrinha de
caixa aberta ultimamente usada na
cidade, faz analogia dos transporte
também designado por “My Love”.
Com quatro actores nomeadamente:
Dino Mboa, Osvaldo Rombo,
Anderson Machava e Inácio Nhabomba,
mostra o dilema dos quatro,
cada um com o seu casamento,
procurando fazer uma introspecção
sobre as escolhas das suas companheiras.
A
cidade de Maputo acolhe,
neste sábado, a terceira
edição do Festival Raíz,
com concertos de música
tradicional, folclore e fusão feita à
esteira de instrumentos tradicionais,
a ter lugar no Museu de Artes,
na cidade de Maputo. Trata-se de
uma iniciativa concebida e produzida
pela Produção Festival Raiz,
em parceria com 10/100 (Dez
Cem) e Uzuri.
De acordo com o mentor, Pak Ndjamena,
músico e bailarino de dança
contemporânea, o objectivo do
Festival Raiz é resgatar a sociedade
moçambicana para a sua essência
que está patente nos instrumentos
e sonoridades da música tradicional.
“Pretendemos despertar as pessoas
sobre os simbolismos da música,
dos instrumentos porque são o
nosso património cultural e cabe
a nós preservá-las”, disse, explicado
depois que o evento pretende
contar a história e a evolução desse
fragmento do nosso folclore.
Para o efeito foram convidadas
3ª Edição do Festival Raiz
resgata identidade
bandas da cena local de Maputo e
das províncias de Sofala, Mussodji
e de Nampula, Marrove. Com a
intensão de incluir as comunidades,
que é onde os instrumentos são
construídos, foram convidadas ao
Festival Raiz os anciãos para ensinar
o fabrico de Xigovia, Xitende,
Cancubua, Mbira, Marimba, entre
outros.
Pak Ndjamena disse lamentar o
facto dos eventos artísticos dessa
natureza só decorrerem no centro
da cidade, deixando de lado uma
larga maioria. Entretanto, o Festival
Raiz tem a particularidade de estar
a devolver para a cidade valores que
no interior ainda são preservados.
A presente edição vai homenagear
o célebre casal Zaida e Carlos
Chongo, que embora não fosse de
raiz tradicional, interpretava a condição
de vários humanos que habitam
nos subúrbios.
Na visão da produção deste evento,
este tributo é uma forma de resgatar,
não somente a música, mas a
sociedade no geral, nos seus mais
diversos sectores, através do cancioneiro
que está intimamente ligado
à nossa terra, que pertence à nossa
cultura, à nossa identidade.
Os filhos de um dos casais mais
aclamados da história da nossa
música é que irão interpretar os
sucessos que outrora estremeceram
o tecido social moçambicano até
Zaida levar a sociedade toda para
o leito de um hospital, ansiosa por
boas notícias. O anúncio da morte
dessa mulher, cantora, que chorava
as dores da mulher de classes baixas,
agitou o país, tal se viu com a
moldura humana que foi testemunhar
o seu eterno descanso.
Na perspectiva de gerar um sistema
integrado, a produção do festival
considera que é necessário preservar
todos os nossos produtos culturais,
daí a necessidade do resgate
da música ligeira moçambicana que
está a passar despercebida da sociedade
em geral.
“O Festival Raiz quer partilhar
conhecimentos, discutir, reflectir a
cultura como um todo, para além
de cruzar a universidade e a sociedade”,
revelou, repisando a vontade
de tomar posição e impor o debate
sobre os caminhos para dinamizar a
cultura.(E.C)
A
Sociedade de Águas de
Moçambique (SAM),
proprietária das marcas
Água da Namaacha
e Fonte Fresca, celebrou,
em ambiente de grande festa,
o Dia da Criança Africana com
as meninas do internato Casa
Maria Clara na Missão de São
José de Lhanguene.
A Festa envolveu todas as meninas
estudantes internas, as
Irmãs responsáveis pelo centro
e pela escola e quadros da Sociedade
de Águas de Moçambique
(SAM) que desta forma
partilharam momentos de muita
alegria.
Para além de Água da Namaacha
Júnior, com tampas coloridas
e rótulos educativos, com o
abecedário e a tabuada, a Sociedade
de Águas de Moçambique
(SAM) ofereceu um almoço,
livros e filmes infantis sobre o
valor da água e presentes educativos
a todas as meninas do
internato.
A alegria esteve bem patente
no rosto e nas atitudes das mais
pequenas que quiseram registar
o seu agradecimento à SAM
através de canções e de uma felicidade
contagiante.
A Directora do Internato Casa
Maria Clara, Irmã Ana Paula,
ao falar em nome da Escola e
da comunidade, salientou os
SAM celebra Dia
Criança Africana
vários apoios que têm recebido
da Sociedade de Águas de
Moçambique (SAM), a nível
da educação e cultura, como foi
o caso de uma biblioteca com
cerca de 26 mil livros que foram
distribuídos pela Missão
de São José de Lhanguene,
mas também pela Escola de
Artes e Ofícios da Moamba e
pela Escola Técnica de Inharrime,
acrescentando que esta
festa para as crianças e também
para os docentes e comunidade
local é um bom exemplo de
compromisso da Sociedade de
Águas de Moçambique com
o bem-estar da comunidade e
com o desenvolvimento global
do país.
Em representação da Sociedade
de Águas de Moçambique
(SAM), Matilde Rachide, sublinhou
a atitude e compromisso
que a sua empresa tem
apresentado no apoio a grupos
mais necessitados de crianças,
jovens e idosos, na aposta na
cultura, na educação, no desporto
e na valorização da moçambicanidade
e do orgulho
nacional, agradecendo assim
o apoio dos consumidores nacionais
que, na sua esmagadora
maioria, consideram a Água da
Namaacha a melhor água mineral
de Moçambique, possibilitando
desta forma o sucesso
da Sociedade de Águas de Moçambique
(SAM).
Savana 22-06-2018 EVENTOS
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