O agente da PSP filmado a dar um sermão religioso a três detidos terá dito que foi tudo uma estratégia para os convencer a revelar onde estava o material que tinham furtado de uma residência.
ESTELA SILVA/LUSA
A imagem começa no chão da esquadra da PSP de Aldoar, no Comando do Porto, para depois mostrar um polícia, de pé, perante dois rapazes e uma rapariga algemados que estão sentados. No vídeo, divulgado esta terça-feira pelo Jornal de Notícias e a que o Observador teve acesso, aparece depois o agente da PSP, de cerca de 50 anos, a perguntar aos detidos se “são batizados” e se têm “fé”. Os arguidos respondem que sim e o agente arranca para a leitura de um “episódio bíblico” denominado “Andando na Luz”, na tentativa de desviar os suspeitos do “caminho das trevas”.
A divulgação do vídeo levou o Comando da PSP do Porto a abrir um processo de averiguações para perceber o que se passou: quem são os detidos, porque leu o agente uma passagem bíblica, quem filmou e porque é que os outros polícias circulam pela esquadra como se fosse uma situação normal. Uma fonte próxima do polícia em causa que já falou com ele sobre o sermão disse ao Observador que tudo não passou de uma “estratégia” policial.
Ele não faz parte de nenhuma seita, como estão a pensar, nem é religioso. Ele diz que aquele discurso foi uma estratégia para convencer os detidos a dizer onde tinham escondido o produto do furto”, disse a mesma fonte.
Os três suspeitos, dois rapazes e uma rapariga que diz chamar-se “Vera” terão feito um assalto a uma residência e foram apanhados. O Observador tentou, sem sucesso, obter mais detalhes sobre o caso junto do Comando Metropolitano da PSP do Porto.
Sentados na esquadra de Aldoar, segundo se percebe no vídeo, os três suspeitos de furto ouvem atentamente o polícia e até respondem aos seus ensinamentos dizendo “Aleluia”.
[Veja o vídeo com todo o sermão legendado]
O agente, na casa dos 50 anos, “esteve muitos anos na Esquadra de Investigação Criminal”, segundo a mesma fonte. No excerto do vídeo divulgado, não se vê qualquer tentativa do polícia de obter informações sobre o furto, o que não exclui que isso possa ter acontecido noutro momento. Os polícias à sua volta também agem com naturalidade, como se fosse comum usar aquele discurso para falar com os suspeitos, pelo que a sua passividade também pode vir a ser analisada pelo Comando Metropolitano da PSP do Porto.
O código deontológico do serviço policial prevê, no artigo 3º, que os membros da PSP devem promover, respeitar e proteger “a dignidade humana, o direito à vida, à liberdade, à segurança e demais direitos fundamentais de toda a pessoa, qualquer que seja a sua nacionalidade ou origem, a sua condição social, as suas convicções políticas, religiosas ou filosóficas”. Mais: “Têm o dever de, em qualquer circunstância, não infligir, instigar ou tolerar actos cruéis, desumanos ou degradantes”.