sexta-feira, 30 de março de 2018

Economia de Moçambique só acelera na próxima vaga de megaprojetos


Standard Bank considera que um aumento significativo na taxa de crescimento da economia de Moçambique só vai acontecer na próxima vaga de grandes investimentos no setor do gás natural.
JON HRUSA/EPA
Autor
  • Agência Lusa
A unidade de análise económica do Standard Bank considera que um aumento significativo na taxa de crescimento da economia de Moçambique só vai acontecer na próxima vaga de grandes investimentos no setor do gás natural.
Com limitado apoio financeiro dos doadores e sem um calendário para o regresso de um programa de ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional, uma aceleração significativa no crescimento do PIB parece contingente à próxima vaga de investimento direto estrangeiro no setor do Petróleo e Gás”, dizem os analistas.
No mais recente relatório sobre os mercados financeiros africanos, a que a Lusa teve acesso, os analistas do Standard Bank escrevem que “o cenário base do FMI coloca o crescimento do PIB bem abaixo de 3% até 2022, o que sugere que o Fundo não espera que a Decisão Final de Investimento (DFI) do projeto liderado pela Anadarko, aprovada provavelmente no próximo ano, estimule significativamente a atividade económica até 2023″.
Para o Standard Bank, a DFI tem o potencial de melhorar o clima económico e acelerar o crescimento bem antes do início das exportações de gás natural líquido se forem tomadas medidas para lidar com as vulnerabilidades orçamentais” de Moçambique.
Em qualquer dos casos, vincam os analistas, “quaisquer impactos positivos dos investimentos em megaprojetos de gás em Moçambique só podem acontecer se houver uma estratégia clara de tirar Moçambique do atual estado de dificuldades”.
As dificuldades económicas de Moçambique surgiram na sequência do escândalo das dívidas ocultas e da forte descida do preço das matérias primas a partir do verão de 2016, que levou a uma depreciação do metical e um consequente desequilíbrio orçamental.
Em 2013 e 2014, três empresas públicas com negócios de fachada, segundo uma auditoria internacional da Kroll, contraíram dívidas de cerca de dois mil milhões de dólares (cerca de um oitavo do PIB do país à data) com base em garantias do Estado assinadas à revelia da lei, das autoridades e dos parceiros, naquele que ficou conhecido como o escândalo das dívidas ocultas.
Entre os investidores com que o Governo tem de negociar, há detentores de 727,5 milhões de dólares em títulos de dívida, que já tiveram um corte no rendimento devido ao ‘default’ (incumprimento) de Moçambique na respetiva remuneração.
Os detentores destes títulos (que resultam da troca por obrigações da Ematum) recusam ser equiparados a bancos e investidores que emprestaram os restantes 1,4 mil milhões de dólares às empresas públicas Mozambique Asset Management (MAM) e à Proindicus.
Os bancos que emprestaram o dinheiro foram o Credit Suisse e o russo VTB, cuja atuação está também a ser investigada pela polícia federal (FBI) e Ministério da Justiça dos Estados Unidos, além dos reguladores financeiros do Reino Unido e da Suíça.
“Mantemos a ideia de que com a atividade económica abaixo do potencial e a procura de importações relativamente baixa, os fundamentos económicos não apoiam uma subida sustentada do metical”, que o Standard Bank prevê que fique nos 60 meticais para um dólar este ano.

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