A Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope elegeu esta terça-feira (28.03) Abiy Ahmed como seu presidente e próximo primeiro-ministro do país. A nomeação precisa agora de ser aprovada pelo Parlamento etíope.
A Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope (EPRDF), a coligação no poder na Etiópia, elegeu esta terça-feira (28.03), com 60% dos votos, Abiy Ahmed como seu presidente e próximo primeiro-ministro do país. O anúncio foi feito pelo canal de televisão público FBC e marca o fim de semanas de negociações a portas fechadas. Na mesma ocasião, foi anunciado que o Vice-Presidente do Partido, Ato Demeke Mekonnen, manterá o cargo de vice-presidente do Conselho do partido no poder. Abiy Ahmed vai assim substituir Hailemariam Desalegn, que renunciou ao cargo em fevereiro, perante uma forte contestação popular, e que se manterá ono cargo no período de transição.
Abiy Ahmed é líder do Partido Democrático do Povo Oromo e deverá tomar posse como primeiro-ministro da Etiópia nos próximos dias. Aos 41 anos, tornar-se-á no primeiro chefe de Estado do grupo étnico Oromo desde que a coligação Frente Revolucionária, composta por quatro partidos, chegou ao poder há 27 anos.
Abiy serviu o exército etíope e foi também um dos fundadores da Agência para a Segurança das Redes de Informação da Etiópia. Em 2010 chega à política e, nos anos seguintes, foi somando algumas pequenas vitórias dentro do partido Oromo. Em 2016 é escolhido para assumir a pasta do Ministério da Ciência e Tecnologia do país mas, pouco tempo depois, abandona o cargo para ocupar a vice-presidência da sua província natal, Oromia, - o que o coloca no centro da disputa da apropriação ilegal de terras na região, motivo de discórdia entre etíopes e o governo e que resultou em milhares de mortos.
Chave para a reforma?
Para alguns, Abiy Ahmed pode ser a chave para a reforma do partido no poder, ao trazer novas ideias para a liderança política conservadora da Etiópia. No entanto, o analista político Mengistu Assefa não está de acordo. Em entrevista à DW, o analista diz que não credita que "Abiy possa trazer uma grande mudança". "Nós precisamos de uma mudança de governo para que haja uma mudança política fundamental. Gostaria de lhe perguntar se, como primeiro-ministro, irá levantar o estado de emergência ou responsabilizar as forças armadas", explica.
Uma opinião que vai de encontro ao ponto de vista de um jovem, que preferiu o anonimato. "Não nos devemos deixar levar por esta escolha, só porque ele [o primeiro-ministro eleito] é Oromo. Nós, jovens, queremos ver a mudança de regime", asseverou, acrescentando que "se tal não acontecer", continuarão a lutar.
Fim à repressão
Abiy Ahmed chega ao poder num momento de forte contestação popular. Nos últimos meses, a Etiópia tem sido palco de vários protestos. Os etíopes lutam por uma maior liberdade e condenam a repressãoa que jornalistas, académicos e intelectuais críticos ao regime, têm sido vítimas. Uma realidade que Fesseha Tekle, Investigador da Amnsitia Internacional, espera que possa agora ser combatida pelo recém-eleito primeiro-ministro. "Os últimos três anos foram marcados por revoltas e abusos dos direitos humanos, com a morte e prisão de milhares de pessoas. Esperamos que o novo primeiro-ministro tome medidas para atenuar estas violações", afirma.
Seyum Teshome é uma das vítimas do executivo etíope. Blogger e professor universitário foi preso pelas forças de segurança no início de março, permanecendo ainda na cadeia. À DW, lembra que "Abiy não foi sempre político" e que apenas "recentemente se juntou a uma força política".
Segundo este blogger, o novo primeiro-ministro "tem uma aceitação esmagadora entre os membros dos partidos da oposição, tem força de vontade, um grande carisma e uma grande credibilidade".
Abiy é casado e pai de três filhos. É um apaixonado e frequentador assíduo dos ginásios da capital, o que o poderá ajudar a "estar em forma” para o desafio que será governar o país. Também a sua formação profissional joga a favor da Etiópia, uma vez que é doutorado em gestão de conflitos.
A Etiópia decretou em fevereiro deste ano o estado de emergência durante seis meses, prorrogáveis por mais quatro, devido aos protestos e à violência no país. Os protestos começaram por ter por base o descontentamento das duas principais etnias do país - oromo e amhara - que se consideram sub-representadas no partido que governa o país desde 1991 - Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope - , mas também na partilha de recursos e acesso a direitos e liberdades. Alargaram-se depois um pouco por todo o país. Poderá o cenário instável na Etiópia apresentar melhorias com a nomeação do primeiro chefe de Estado Oromo?
Numa entrevista no final de 2017, Abyi Ahmed assumiu ter consciência de que os etíopes esperam "uma retórica diferente". "Temos que derrubar as barreiras da desconfiança. Se queremos progresso, temos que debater as questões abertamente e com respeito. É mais fácil conquistar as pessoas para a democracia do que empurrá-las para a democracia. E isso só se consegue através da participação política", disse.
A nomeação de Abiy Ahmed precisa agora de ser aprovada pelo Parlamento etíope.
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- Data 28.03.2018
- Autoria Ludger Schadomsky, Reuters, AFP, rl
- Assuntos relacionados China em África, Brasil em África, Direitos Humanos em Angola, Direitos Humanos na Guiné-Bissau, Direitos Humanos em Moçambique, África, Egito, Etiópia, Nigéria, Tunísia
- Palavras-chave Etiópia, primeiro-ministro, protestos, direitos humanos, demissão, Ato Demeke Mekonnen, Hailemariam Desalegn, repressão, estado de emergência, África, Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope, EPRDF, Oromo
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