quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Iraê Lundin: uma vida de batalhas pelas liberdades do homem


Iraê Lundin: uma vida de batalhas pelas liberdades do homem
As suas batalhas começam desde a tenra idade. Já aos 16 anos, Iraê Lundin era activista, num país ditatorial (na altura). Na década de 60, o Brasil, terra que viu nascer Iraê Lundin, vivia um sistema ditatorial, sob comando de sucessivos governos militares. E é aqui onde começa a luta de Lundin. Foi activista pelo restabelecimento da democracia e das liberdades fundamentais do homem e da democracia.
Ainda menor de idade, Iraê Lundin esteve presa pelo seu activismo. Teve a possibilidade de sair da cadeia, mas na companhia de um adulto. Na altura tinha apenas 16 anos. Se viu obrigada a alterar a sua idade. Na verdade, Iraê Lundin nasceu em 1951, mas os seus documentos indicam que ela terá nascido em 1949. Conseguiu sair da cadeia, exilou-se na Rússia. De lá passou para a Suécia, onde teve dois filhos. “É uma perda irreparável, olhando pela grande pessoa que ela foi. Uma pessoa que se dedicou muito a causas cívicas. Ela saiu do Brasil com 16 anos de idade. Na altura da ditadura, particularmente em 1964, quando se instaurou o sistema ditatorial, Iraê Lundin esteve no grupo de pessoas que fizeram campanha, saíram à rua, manifestaram-se pelo restabelecimento da democracia no Brasil, após o derrube do governo democrático pela ditadura militar. Ela saiu do Brasil para Rússia, onde ficou por seis meses. Da Rússia foi para Suécia, onde estudou Antropologia”, conta William Mundlovo, um amigo de Iraê Lundin, que foi também seu estudante e colega de serviço e que conheceu Lundin há 20 anos.
Numa missão pedagógica, Lundin seguiu para Moçambique, em 1984. Aqui, a activista dedicou sua vida à educação, mas também defendia a democracia e a descentralização.
A professora encontrou, no país, a luta pelos mesmos ideais que defendia. Identificou-se e até adquiriu a nacionalidade moçambicana.
É esta mulher que deixa o mundo, deixa um vazio nas pessoas próximas, na academia, mas que acima de tudo, deixa um legado: a luta pelo bem-estar social e pelas liberdades fundamentais do homem.
Iraê Lundin perdeu a vida, na noite de segunda-feira em Maputo, vítima de doença. As cerimónias fúnebres estão marcadas para esta sexta-feira, com o velório a decorrer nas instalações do Instituto Superior de Relações Internacionais, em Zimpeto (cidade de Maputo) e o enterro deverá decorrer no Cemitério de Lhanguene, às 14h00.
Embaixador do Brasil diz que Iraê era referência para todos nas ciências sociais
O embaixador do Brasil em Moçambique, Rodrigo Baena Soares, considera que a morte de Iraê Lundin é uma perda, tanto para o Brasil quanto para Moçambique. O diplomata destaca que Lundin era uma referência para todos no campo das ciências sociais e a sua principal preocupação era o homem. “E ela, em todas as actividades académicas, ela mostrava ter o objectivo de dar a sua contribuição para um Moçambique melhor e Brasil melhor, e, também, para um mundo onde prevalecesse a prioridade ao homem”, disse Soares, para depois sustentar que Lundin tinha um diferencial que a caracterizava, que era a visão humana na transmissão dos conhecimentos. O embaixador do Brasil refere que Iraê Lundin, embora tivesse nascido no Brasil, sentia-se mais moçambicana que brasileira. Soares reconheceu o contributo de Iraê Lundin para a democracia no Brasil, lembrando as suas andanças no período ditatorial na terra do samba.

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