Vou romper o meu "silêncio político" por breves linhas, a propósito das eleições intercalares de Nampula. Quando eu estava a fazer a licenciatura em Relações Internacionais, tive contacto com um texto, no quarto ano e na cadeira de Francês III, sobre o "conceito africano" de eleições, cujo título era "Não organizamos eleições para as perder". O docente obrigava-nos a redigir uma composição a (contra) argumentar esse título e depois, em debate, a esgrimirmos as ideias uns dos outros. Lembrei-me do título desse texto ao observar, impávida e serenamente, ao que as nossas (?) CNE e STAE nos tem andado a oferecer em Nampula (da confusão dos cadernos eleitorais à fantochada do processo de educação cívica, passando pelas sessões de violência estrutural aos membros da assembleia de voto até ao escandaloso momento do apuramento dos votos à meia luz). Ninguém organiza eleições para as perder.
A expressão "ceteris paribus", em latim, quer dizer, em tradução livre, "mantendo todas as coisas iguais". Ou "todo o resto constante". Quando se olha para as eleições intercalares em Nampula, pensa-se logo à primeira que todos os concorrentes partiam em pé de igualdade. Isto é: ceteris paribus, tanto o candidato da Frelimo como o candidato da Renamo, por exemplo, concorriam em pé de igualdade para Edil daquela cidade. Pura mentira. Cololo tinha ao seu dispor tanto os que não organizam eleições para as perderem como toda a máquina propagandística partidária ao mais alto nível (até alguns dos meus melhores amigos e vizinhos aqui de Tsalala estavam pessoalmente envolvidos na sua campanha). O candidato Paulo, da Renamo, tinha quase nada em seu abono (em termos de propaganda, aqui no Facebook não vi fotos de perfis com a sua imagem ou posts ridículos a lamberem-lhe os mais recônditos componentes genitais).
Os resultados eleitorais de Nampula dizem muito do que é a nossa democracia. Primeiro, que é uma ilusão colectiva. Segundo, que não são expressão incontestável da vontade popular, sobretudo quando os eleitores são deliberadamente "convidados" a se absterem. Então, quando todo o sistema de administração eleitoral é, a olhos de quem quer realmente ver, contundentemente viciado desde o início, em coisas elementares como as que temos testemunhado, o recurso a outras formas de legitimação da vontade popular (que a Renamo tem usado, a bem ou a mal, no período pós-eleitoral) não deixa de ser premente e justo.
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