quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Presidente do partido Frelimo aponta combate a corrupção como “mais urgente e vital de todos os desafios” mas não fala sobre as dívidas ilegais e expressa gratidão a Guebuza


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Tema de Fundo - Tema de Fundo
Escrito por Adérito Caldeira  em 27 Setembro 2017
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Foto do Zitamar NewsTeve início nesta terça-feira(26) na cidade da Matola o 11º Congresso da Frelimo - na verdade é o 9º Congresso do partido criado em 1977, os primeiro dois foram da então Frente de Libertação de Moçambique –, o primeiro sob a liderança de Filipe Jacinto Nyusi que afirmou que “o combate a corrupção é o mais urgente e vital de todos os desafios”. Candidato único a sua própria sucessão o presidente do partido no poder não se referiu ao maior escândalo de corrupção que precipitou a crise económica e financeira que estamos viver e terminou o seu discurso saudando o seu antecessor, Armando Guebuza, justamente o responsável mor pelas dívidas ilegais. Salvo a entrada que “sangue novo” na Comissão Política e uma eventual mudança de secretário-geral não são expectáveis grandes novidades da reunião magna dos camaradas que decorre até ao próximo dia 1 de Outubro.
Em mais um discurso de boas intenções, tal como na sua tomada de posse como 4º Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi começou por destacar o glorioso passado do seu partido na abertura do Congresso que tem como principais vectores a Unidade Nacional, a Paz e o Desenvolvimento.
Para qualquer cidadão que esteja familiarizado com o modus operandi do partido Frelimo para ganhar eleições soa a falsa a afirmação de Nyusi que “viver numa democracia não significa ter que competir pelo poder, o nosso modo de competir pelo poder não passa nunca por agir contra adversários, faz-se como sempre se fez construindo caminhos e soluções para Moçambique, faz-se demostrando quotidianamente ao nosso povo que somos a melhor garantia da defesa dos seu interesses”.
“(...)Se fomos capazes de vencer a dominação colonial teremos que ser capazes de vencer a corrupção. Se fomos capazes de fazer calar as armas teremos que saber combater o combater o crime organizado e construir um país feito por todos os moçambicanos e para todos os moçambicanos” declarou o presidente do partido no poder interrompido por uma salva de palmas, diga-se de muitos dos responsáveis por esses males.
Nyusi alheio a desindustrialização prematura e as culpas do seu partido pelo estado da Educação
Indiferente a responsabilidade do partido que dirige na dependência externa que Moçambique tem Filipe Nyusi disse depois da “independência política(...) estamos ainda no processo de conquistar a independência económica”.
Foto do Zitamar News“Não queremos continuar a ser meros fornecedores de matérias-primas, queremos construir uma economia estruturalmente diferente, uma economia diversa e diversificada fundada na transformação interna de produtos e na criação de uma riqueza duradoura”, acrescentou o líder do partido Frelimo alheio a desindustrialização prematura em curso no nosso país que se tem tornado, de acordo com economistas independentes, cada vez mais dependente de produtos primários ou com baixo nível de processamento.
Entrando já em demagogia Filipe Nyusi afirmou para uma plateia composta por alguns dos mais ricos moçambicanos que “(...)não queremos ser parte de uma sociedade onde os mais ricos sufoquem os mais pobres, batalharemos para uma sociedade de bem-estar onde cada um de nós moçambicanos com o fruto do seu trabalho e empenho beneficie das riquezas que o país dispõe”.
Novamente alheio às culpas do seu partido na situação da Educação o Nyusi deixou o repto que “(...)é preciso melhorar radicalmente a qualidade do ensino, desde o nível primário passando pelo médio e até superior, não seremos donos do nosso tempo se não criarmos capacidade de pesquisa com prioridades bem claras”.
Responsabilização do mentor das dívidas ilegais não parece fazer parte do “combate sem tréguas contra a corrupção”
Tal como havia prometido no seu discurso de posse, em Janeiro de 2015, o presidente do partido Frelimo deixou claro“(...)não pode caros camaradas existir qualquer dúvida: o combate a corrupção é o mais urgente e vital de todos os desafios. Neste domínio não podemos adiar, não podemos tolerar. Esse grau zero de tolerância deve começar no nosso próprio seio, no seio dos militantes, deve ser um exemplo, em qualquer posição, em qualquer circunstância”.
Todavia Filipe Nyusi não se referiu ao maior caso de corrupção da história de Moçambique que precipitou a actual crise económica e financeira que estamos a enfrentar.
Aliás como o @Verdade havia prognosticado a Procuradoria-Geral da República muito convenientemente ainda não divulgou o relatório final e integral da Auditoria forense que a Consultora Kroll realizou às empresas Proindicus, EMATUM e MAM que violaram a Constituição da República e variadas outras leis na contratação de empréstimos e uso de biliões de dólares.
Além disso o Filipe Nyusi expressou a “total gratidão” do partido ao anterior presidente e fez “uma menção particular de apreço ao camarada Armando Guebuza que conduziu com sucesso a primeira metade deste ciclo de liderança do partido que termina com este Congresso”.
Portanto a responsabilização do mentor das dívidas ilegais não parece fazer parte do “combate sem tréguas contra a corrupção” propalado por Nyusi.
“Um dos assuntos cruciais da nossa jovem democracia tem a ver com a descentralização (...) não deve existir conflito entre descentralização e preservação da nossa maior conquista que é a unidade nacional. E uma governação mais eficiente e participada do nosso país necessita do suporte de uma descentralização ponderada e responsável” declarou ainda o presidente do partido Frelimo em alusão ao acordo que está a negociar com o líder do partido Renamo que se espera que culmine com a ansiada paz em Moçambique.
Sem nenhum oposição interna visível este Congresso serve para Filipe Jacinto Nyusi consagrar o seu poder na liderança do partido Frelimo, aliás já foi recomendado como o candidato presidencial em 2019.
Este assumir do poder deverá passar pela indicação de um novo secretário-geral e também pela substituição de alguns dos actuais membros da poderosa Comissão Política por algum “sangue novo” do círculo mais de confiança do actual presidente.

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