EDITORIAL
Quem está atento deverá já ter-se apercebido de uma agenda propagandística para afastar do campo lexical da opinião pública a questão das dívidas ocultas contraídas ilegalmente com as garantias do Estado e muito recentemente legalizadas como dívida pública.
São muitos os eventos com carácter de “fait divers” que são servidos como grandes factos, com o intuito de empenar e afastar da rota a nossa atenção sobre a necessidade patriótica e inadiável que se chama “responsabilização dos autores das dívidas e a muito urgente recuperação do dinheiro”.
Todo um expediente que se viu consubstanciado na tentativa de ridicularizar o relatório da “Kroll”, atacando-lhe os métodos, questionando-lhe a reputação e a seriedade, não nos podem distrair do facto de existirem indivíduos “A”, “B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “AEG”, “FJN” e companhia.
Esses indivíduos existem com domicílio fixo, sendo, portanto, localizáveis com toda a lógica da sua participação directa ou indirecta naquela que é a maior fraude contra as finanças públicas de que há memória no país, na região e muito provavelmente no continente. E obviamente que a agenda da ridicularização do relatório é para eles um ar fresco com o efeito de ilibar.
Quem está atento deverá já ter-se apercebido de uma agenda propagandística para afastar do campo lexical da opinião pública a questão das dívidas ocultas contraídas ilegalmente com as garantias do Estado e muito recentemente legalizadas como dívida pública.
São muitos os eventos com carácter de “fait divers” que são servidos como grandes factos, com o intuito de empenar e afastar da rota a nossa atenção sobre a necessidade patriótica e inadiável que se chama “responsabilização dos autores das dívidas e a muito urgente recuperação do dinheiro”.
Todo um expediente que se viu consubstanciado na tentativa de ridicularizar o relatório da “Kroll”, atacando-lhe os métodos, questionando-lhe a reputação e a seriedade, não nos podem distrair do facto de existirem indivíduos “A”, “B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “AEG”, “FJN” e companhia.
Esses indivíduos existem com domicílio fixo, sendo, portanto, localizáveis com toda a lógica da sua participação directa ou indirecta naquela que é a maior fraude contra as finanças públicas de que há memória no país, na região e muito provavelmente no continente. E obviamente que a agenda da ridicularização do relatório é para eles um ar fresco com o efeito de ilibar.
Não é por
acaso que uma notícia avulsa de um contraditório tardio de uma das
partes interessadas na estruturação da fraude suscitou efusiva
celebração dos mesmos sectores que advogam a impunidade neste processo,
que, a todo o custo, se tenta encapotar com o sempre disponível
argumento de soberania.
O que essas
celebrações escondem é que a edição do relatório só veio mostrar que
Sodoma e Gomorra, tanto uma como outra, levam à destruição, ou seja, o
facto de se arguir que a operação foi feita pela “Abu Dhabi Mar”, a
“Previnvest” ou a “Palomar” conduz a uma conclusão que é sempre igual,
visto que elas são empresas do mesmo dono, o libanês Iskandar Safa, um
amigo pessoal de Armando Guebuza, ex-Presidente da República.
Aparecer a
fazer a rectificação de que a angariação do primeiro empréstimo foi
feito com a consultoria da “Palomar” e não da “Abu Dhabi Mar” não torna o
crime menos grave e até vai ao encontro das indicações duma engenharia
financeira fraudulenta em que o país foi mergulhado à força. A “Palomar”
é uma empresa de Iskandar Safa montada por Andrew Pearse, que, como se
sabe, em 2013, – precisamente o ano em que a EMATUM conseguiu o “bond”, –
era ele o responsável pelas operações de crédito para África no “Credit
Suisse” e, consequentemente, a pessoa que trabalhou com o processo
referente a Moçambique.
Faz todo o
sentido que depois Andrew Pearse vá logo a seguir trabalhar para
Iskandar Safa na empresa que recebeu os dinheiros que ele autorizou no
“Credit Suisse”.
Mas mais do
que isso, toda a falta de informação que concorreu para certas
imprecisões é imputável não à provável incompetência da “Kroll”, mas a
um bloqueio consertado exactamente para que as imprecisões ou
insuficiências informativas decorrentes desses mesmos bloqueios fossem
mais tarde usadas como troféu de falta de precisão a condecorar a
investigação.
O número de
espectáculo de “superpoderoso” exibido pelas altas patentes dos Serviços
Secretos aos investigadores é, em si, suficiente para denunciar essa
predisposição para ridicularizar qualquer trabalho sério que vise
esclarecer esta questão.
De todas as
formas, a agenda da ridicularização do relatório não pode ser tomada
como evento isolado ou actuação isolada de “A” ou “B”, mas, sim, como
expediente de bando, previamente concertado para branquear este crime e
cunhá-lo como “acto patriótico” que visava a “defesa da soberania
nacional”. Do nosso lado, achamos muito bom que os moçambicanos
organizem uma assembleia para deliberar sobre o tipo de soberania que
pretendemos e sobre o tipo de gente que queremos a defender a nossa
soberania.
Parece-nos
cristalino que ninguém com capacidade craniana mediana se deixe
convencer de que é possível ser-se patriota afundando o seu próprio
país. A racionalidade que repousa atrás desse tipo de patriotismo é
bastante questionável, na mesma proporção em que é bastante questionável
que a grandeza “soberania” esteja a ser defendida por indivíduos que,
em primeiro lugar, defendem a soberania deles próprios e dos seus
apaniguados à custa do país, tornando todo um povo refém dos seus
apetites, que não encontram paralelo em qualquer montra de falta de
escrúpulos.
Em duas
palavras, um expediente de arranjo de agenda de normalização do país é
capaz de nos arrastar juntos, com uma torrente de notícias de grandes
sucessos em várias frentes, industriando recuperações económicas em
forma de notícias e jornais e telejornais, para que a dívida seja
politicamente apresentada como uma “questão ultrapassada”. E por estes
dias não faltam convites para que nos inclinemos todos a “pensar para
frente”, como se exigir a moralização do Estado e dos seus titulares e a
devolução do dinheiro roubado ao povo fosse pensar para trás. E não
deixa de ser interessante que esteja na forja uma ideia de progresso
fundada no retrocesso civilizacional.
Defender impunidade nunca foi e jamais será “pensar para a frente”.
Pensar para
frente é prender os bandalhos para que, lá à frente, ninguém pense em
voltar a imitar-lhes o exemplo, porque terá sido fixada jurisprudência
de civilização.
É preciso recusarmo-nos a aceitar agenda da atrapalhação.
A dívida
oculta é um assunto sério demais. Fomos defraudados em 2,2 biliões de
dólares. Que não nos embruteçam com notícias de “retoma da economia” e
de “assinaturas de grandes contratos”. Não se pode embrutecer todo um
povo.
(Canalmoz / Canal de Moçambique)
CANALMOZ – 18.08.2017
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