Há dois anos, Donald Trump pôs em causa o estatuto de herói de guerra
do senador do Partido Republicano. Esta semana, McCain enfrentou um
diagnóstico de cancro e foi ao Senado votar contra o fim do Obamacare,
contribuindo para uma derrota humilhante do Presidente.
Há quase nove anos, no final de Agosto de 2008, o então candidato do
Partido Republicano à Casa Branca, John McCain, espantava o mundo da
política americana ao revelar a sua escolha para a vice-presidência do
país – a candidatura acabou por se afundar, mas foi assim que o mundo
ficou a conhecer uma governadora do estado do Alasca chamada Sarah
Palin.
Indeciso entre acenar aos centristas com o seu amigo Joe Lieberman ou aproveitar a onda da direita ultraconservadora que começava a levantar-se, McCain fez a escolha com o mesmo raciocínio que o tem acompanhado desde a juventude. Quando o homem que o ajudou a vetar os nomes para a candidatura à vice-presidência lhe disse que Palin implicava um alto risco mas também uma alta recompensa, o senador do Arizona nem pestanejou: "Não devias ter dito isso. Toda a minha vida gostei de correr riscos."
Por essa altura, durante a campanha e a eleição que acabaria por perder para Barack Obama, o nome Donald Trump não estava sequer no radar de John McCain, mas não é difícil perceber porque é que nem o actual Presidente norte-americano – com o seu feitio complicado, reforçado pelo inigualável poder da Casa Branca – é capaz de sair por cima numa luta pessoal com o senador.
E não é porque John McCain tenha sido sempre sinónimo de integridade no país, e de independência no Partido Republicano: conhecido como um "maverick" (dissidente), McCain foi sempre muito hábil a fazer a ponte entre as várias lutas do momento e os seus interesses pessoais, tendo conseguido, ao fim de 35 anos na política, surgir como uma das cabeças mais livres do Partido Republicano ao mesmo tempo que foi votando quase sempre em linha com a maioria.
"Essa pode não ser a pergunta certa", disse Purdum, desenhando depois um quadro muito mais feio da personalidade de John McCain do que aquele que vive no imaginário da maioria: "É bem possível que nada tenha mudado em John McCain, um sobrevivente implacável e egocêntrico que passou cinco anos e meio em cativeiro no Vietname, e que disse um dia a Torie Clark [antiga porta-voz de McCain] que o seu animal preferido é a ratazana, porque é astuta e alimenta-se bem."
É verdade que também não faltam elogios a John McCain, antes e depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro do cérebro, já este mês, aos 80 anos – ao contrário de muitos outros casos, o senador do Arizona não precisou de ser afectado por um problema grave para ser respeitado por colegas, adversários e jornalistas. No passado fim-de-semana, antes de alguém imaginar o que poderia vir a acontecer no Senado nos dias seguintes, o jornal Washington Post prestou-lhe tributo em vida, num editorial em que aponta as razões pelas quais todos devem aprender com John McCain. E lembrou um episódio passado naquela campanha contra Barack Obama, em 2008, quando uma eleitora do Partido Republicano gritou, durante um comício, que Obama era "um árabe"(com a intenção de o retratar como terrorista).
"Não, minha senhora. Não. Ele é um bom homem de família, um cidadão com o qual tenho discordâncias em assuntos fundamentais. Queremos lutar, e eu quero lutar, mas vamos ter respeito", disse McCain – uma reacção que, vista à luz da realidade actual em Washington D.C., é de uma elevação ainda mais vincada.
Assim que chegou, fez um emocionante discurso perante os seus colegas, com uma seta apontada ao Presidente Donald Trump – a terminar um apelo a que os senadores de ambos os partidos se unissem para discutirem e aprovarem uma lei que, no seu entender, melhorasse o Obamacare, McCain olhou para os seus colegas do Partido Republicano e disse-lhes: "Não somos subordinados do Presidente; somos iguais a ele."
Mas, mesmo depois desse discurso, muitos no Partido Republicano e na Casa Branca ainda acreditavam que era possível convencer McCain a fazer o que ele tem feito desde que Donald Trump foi eleito: deitar cá para fora o desprezo pelo Presidente e pela forma como o partido geriu as eleições primárias no ano passado, mas votar em linha com os seus colegas em 90,7% das vezes.
O problema é que McCain não precisava de sair de casa, nem de fazer a tal viagem de mais de dois mil quilómetros, para frustrar os planos do seu partido. Se não tivesse aparecido no Senado esta semana, o Partido Republicano ficava com apenas 51 dos seus 52 senadores, e bastava que dois deles furassem a disciplina para que não fosse possível derrubar o Obamacare. Com McCain no Senado, os líderes do partido e o Presidente ficaram um pouco mais descansados: mesmo que dois senadores do seu lado votassem contra, teriam sempre John McCain para cortejar durante a semana.
E o dissidente McCain começou por dar uma alegria ao seu partido e à Casa Branca logo na terça-feira, ao viabilizar o início do debate sobre o fim de uma das principais bandeiras da Administração Obama. Um voto favorável que lhe valeu um elogio público de Donald Trump no Twitter: "Senador McCain, obrigado por vir a D.C. para uma votação tão importante. Podemos agora dar aos americanos óptimos cuidados de saúde!"
O que se seguiu foram horas e horas de debates, discussões e reuniões nos corredores e nos gabinetes, numa corrida do Partido Republicano contra o tempo para acabar a semana com uma promessa de campanha e uma luta de sete anos cumpridas: o fim do Obamacare. Mas as duas principais propostas do Partido Republicano foram reprovadas durante a maratona que começou terça-feira, muito graças à determinação de duas senadoras republicanas: Lisa Murkowski, do Alasca, e Susan Collins, do Maine, mantiveram-se unidas contra o seu partido e deixaram cada vez mais nas mãos de John McCain (o terceiro elemento necessário para travar o fim do Obamacare) o papel de herói ou vilão.
As duas senadoras foram decisivas para impedir o Partido Republicano de aprovar o fim do Obamacare e a sua substituição por um novo sistema que iria deixar sem seguro mais de 20 milhões de pessoas nos próximos anos, segundo um estudo do gabinete independente do Congresso. O Partido Republicano tentou depois derrubar o Obamacare sem pôr no seu lugar um novo programa no imediato, mas as duas senadoras voltaram a impedir que os republicanos tivesses os votos suficientes.
Na madrugada de sexta-feira, a liderança do Partido Republicano no Senado levou a votos a última tentativa: deitar abaixo o Obamacare e substituí-lo por um sistema que o mantinha em vigor no essencial, numa proposta conhecida como "skinny repeal" – os cidadãos e as empresas deixavam de ser obrigados a ter seguros, mas outros pontos essenciais do Obamacare continuariam em vigor (o que, ainda assim, deixaria milhões de americanos sem cobertura).
Essa proposta tinha como objectivo duas coisas: dava ao Partido Republicano e ao Presidente Donald Trump a possibilidade de dizerem aos seus eleitores que tinham conseguido derrubar o Obamacare, e permitia manter a esperança numa demolição total da lei actual. Depois de aprovado esse "skinny repeal", uma comissão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado (ambos de maioria do Partido Republicano) iria pegar nas propostas que cada uma das câmaras tinha aprovado e depois poderia endurecer a lei final – um cenário ainda assim difícil, devido às óbvias divergências no interior do partido, mas que pelo menos daria mais tempo e um novo alento à liderança republicana na Câmara dos Representantes e no Senado, e também ao Presidente Trump.
Mas na sexta-feira esse plano foi travado. No final de uma votação dramática e histórica, as senadoras Collins e Murkowski mantiveram-se firmes e votaram contra – nesse momento, o Partido Republicano não poderia perder nem mais um voto nas suas fileiras, já que desse modo só teria 49 dos seus 52 e o vice-presidente nem sequer poderia desempatar. E foi nesse momento que todos os olhos se viraram para o senador John MCain.
Ao juntar-se às senadoras Collins e Murkowski, McCain fez História ao roubar ao Partido Republicano e ao Presidente Donald Trump a promessa de acabar com o Obamacare. Mas, apesar de ter votado contra o fim do Obamacare, McCain é muito crítico do actual sistema – tal como as duas senadoras que votaram contra sexta-feira, o que o senador do Arizona pretendia era que os seus colegas aceitassem fazer alterações às propostas que foram apresentadas esta semana.
Agora, resta ao Partido Republicano dialogar com o Partido Democrata para conseguir corrigir algumas das deficiências que os dois partidos reconhecem existir no Obamacare. Ou isso, ou ir aprovando medidas avulsas nos próximos meses que podem ir minando a lei em vigor, apesar de os resultados dessas possíveis alterações só terem consequências na vida das pessoas nos próximos anos – algumas delas só depois das eleições presidenciais de 2020 e outras depois das eleições para as duas câmaras do Congresso em Novembro do próximo ano.
Mas, antes disso, o Senado vai para umas curtas férias sem que o Partido Republicano tenha conseguido aproveitar a sua maioria nas duas câmaras do Congresso e um Presidente na Casa Branca para cumprir uma promessa com sete anos. Foi para derrubar o Obamacare que os republicanos pediram aos eleitores americanos que lhe dessem a maioria nos poderes legislativo e executivo – agora que falharam essa promessa, dificilmente vão afastar a imagem de fracasso a tempo de recuperarem para as eleições de Novembro de 2018.
Apesar de as senadoras Susan Collins e Lisa Murkowski terem sido as principais figuras desta semana, por terem assumido a sua oposição contra a liderança do Partido Republicano e contra o Presidente Trump na questão do Obamacare desde o início até ao fim e sem vacilarem, as duas figuras do momento são Donald Trump e John McCain – pelo passado de confrontação entre os dois e pelo desfecho da votação desta sexta-feira, que pode também ser visto como uma vingança do senador do Arizona.
Os dois responsáveis reagiram à votação através da rede social Twitter. Trump foi mais brando do que é costume, dizendo apenas que três senadores do Partido Republicano e 48 do Partido Democrata desiludiram o povo americano, e aproveitou para tentar não ficar mal na figura: de acordo com a sua análise, o falhanço da votação vai manter o Obamacare em vigor, pelo que agora resta esperar pelo fracasso da lei da Administração Obama, como o Presidente tem dito "desde o início". McCain explicou que votou contra o "skinny repeal" porque "não era suficiente para derrubar e substituir o Obamacare com reformas significativas".
Indeciso entre acenar aos centristas com o seu amigo Joe Lieberman ou aproveitar a onda da direita ultraconservadora que começava a levantar-se, McCain fez a escolha com o mesmo raciocínio que o tem acompanhado desde a juventude. Quando o homem que o ajudou a vetar os nomes para a candidatura à vice-presidência lhe disse que Palin implicava um alto risco mas também uma alta recompensa, o senador do Arizona nem pestanejou: "Não devias ter dito isso. Toda a minha vida gostei de correr riscos."
Por essa altura, durante a campanha e a eleição que acabaria por perder para Barack Obama, o nome Donald Trump não estava sequer no radar de John McCain, mas não é difícil perceber porque é que nem o actual Presidente norte-americano – com o seu feitio complicado, reforçado pelo inigualável poder da Casa Branca – é capaz de sair por cima numa luta pessoal com o senador.
E não é porque John McCain tenha sido sempre sinónimo de integridade no país, e de independência no Partido Republicano: conhecido como um "maverick" (dissidente), McCain foi sempre muito hábil a fazer a ponte entre as várias lutas do momento e os seus interesses pessoais, tendo conseguido, ao fim de 35 anos na política, surgir como uma das cabeças mais livres do Partido Republicano ao mesmo tempo que foi votando quase sempre em linha com a maioria.
"Sobrevivente implacável"
Num artigo publicado na revista Vanity Fair em 2010, o repórter Todd S. Purdum analisou o desvio de McCain para a direita mais conservadora e anti-Obama por essa altura, e repetiu a pergunta que muitos faziam: o que acontecera ao outro John McCain, àquela "figura refrescantemente imprevisível que se destacava entre os seus colegas e parecia prometer algo mais e melhor do que a política do costume"?"Essa pode não ser a pergunta certa", disse Purdum, desenhando depois um quadro muito mais feio da personalidade de John McCain do que aquele que vive no imaginário da maioria: "É bem possível que nada tenha mudado em John McCain, um sobrevivente implacável e egocêntrico que passou cinco anos e meio em cativeiro no Vietname, e que disse um dia a Torie Clark [antiga porta-voz de McCain] que o seu animal preferido é a ratazana, porque é astuta e alimenta-se bem."
É verdade que também não faltam elogios a John McCain, antes e depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro do cérebro, já este mês, aos 80 anos – ao contrário de muitos outros casos, o senador do Arizona não precisou de ser afectado por um problema grave para ser respeitado por colegas, adversários e jornalistas. No passado fim-de-semana, antes de alguém imaginar o que poderia vir a acontecer no Senado nos dias seguintes, o jornal Washington Post prestou-lhe tributo em vida, num editorial em que aponta as razões pelas quais todos devem aprender com John McCain. E lembrou um episódio passado naquela campanha contra Barack Obama, em 2008, quando uma eleitora do Partido Republicano gritou, durante um comício, que Obama era "um árabe"(com a intenção de o retratar como terrorista).
"Não, minha senhora. Não. Ele é um bom homem de família, um cidadão com o qual tenho discordâncias em assuntos fundamentais. Queremos lutar, e eu quero lutar, mas vamos ter respeito", disse McCain – uma reacção que, vista à luz da realidade actual em Washington D.C., é de uma elevação ainda mais vincada.
O momento de McCain
E foi este misto de capacidade de sofrimento, de luta pelas convicções e de vontade de bater o pé a quem tenta fazer-lhe frente – seja isso bom ou mau – que apareceu na passada terça-feira no Senado norte-americano, depois de uma viagem de mais de dois mil quilómetros, poucos dias depois de ter ficado a saber que tem uma forma particularmente agressiva de cancro e poucos dias antes de começar a ser tratado com quimioterapia.Assim que chegou, fez um emocionante discurso perante os seus colegas, com uma seta apontada ao Presidente Donald Trump – a terminar um apelo a que os senadores de ambos os partidos se unissem para discutirem e aprovarem uma lei que, no seu entender, melhorasse o Obamacare, McCain olhou para os seus colegas do Partido Republicano e disse-lhes: "Não somos subordinados do Presidente; somos iguais a ele."
Mas, mesmo depois desse discurso, muitos no Partido Republicano e na Casa Branca ainda acreditavam que era possível convencer McCain a fazer o que ele tem feito desde que Donald Trump foi eleito: deitar cá para fora o desprezo pelo Presidente e pela forma como o partido geriu as eleições primárias no ano passado, mas votar em linha com os seus colegas em 90,7% das vezes.
O problema é que McCain não precisava de sair de casa, nem de fazer a tal viagem de mais de dois mil quilómetros, para frustrar os planos do seu partido. Se não tivesse aparecido no Senado esta semana, o Partido Republicano ficava com apenas 51 dos seus 52 senadores, e bastava que dois deles furassem a disciplina para que não fosse possível derrubar o Obamacare. Com McCain no Senado, os líderes do partido e o Presidente ficaram um pouco mais descansados: mesmo que dois senadores do seu lado votassem contra, teriam sempre John McCain para cortejar durante a semana.
E o dissidente McCain começou por dar uma alegria ao seu partido e à Casa Branca logo na terça-feira, ao viabilizar o início do debate sobre o fim de uma das principais bandeiras da Administração Obama. Um voto favorável que lhe valeu um elogio público de Donald Trump no Twitter: "Senador McCain, obrigado por vir a D.C. para uma votação tão importante. Podemos agora dar aos americanos óptimos cuidados de saúde!"
O que se seguiu foram horas e horas de debates, discussões e reuniões nos corredores e nos gabinetes, numa corrida do Partido Republicano contra o tempo para acabar a semana com uma promessa de campanha e uma luta de sete anos cumpridas: o fim do Obamacare. Mas as duas principais propostas do Partido Republicano foram reprovadas durante a maratona que começou terça-feira, muito graças à determinação de duas senadoras republicanas: Lisa Murkowski, do Alasca, e Susan Collins, do Maine, mantiveram-se unidas contra o seu partido e deixaram cada vez mais nas mãos de John McCain (o terceiro elemento necessário para travar o fim do Obamacare) o papel de herói ou vilão.
As duas senadoras foram decisivas para impedir o Partido Republicano de aprovar o fim do Obamacare e a sua substituição por um novo sistema que iria deixar sem seguro mais de 20 milhões de pessoas nos próximos anos, segundo um estudo do gabinete independente do Congresso. O Partido Republicano tentou depois derrubar o Obamacare sem pôr no seu lugar um novo programa no imediato, mas as duas senadoras voltaram a impedir que os republicanos tivesses os votos suficientes.
Na madrugada de sexta-feira, a liderança do Partido Republicano no Senado levou a votos a última tentativa: deitar abaixo o Obamacare e substituí-lo por um sistema que o mantinha em vigor no essencial, numa proposta conhecida como "skinny repeal" – os cidadãos e as empresas deixavam de ser obrigados a ter seguros, mas outros pontos essenciais do Obamacare continuariam em vigor (o que, ainda assim, deixaria milhões de americanos sem cobertura).
Essa proposta tinha como objectivo duas coisas: dava ao Partido Republicano e ao Presidente Donald Trump a possibilidade de dizerem aos seus eleitores que tinham conseguido derrubar o Obamacare, e permitia manter a esperança numa demolição total da lei actual. Depois de aprovado esse "skinny repeal", uma comissão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado (ambos de maioria do Partido Republicano) iria pegar nas propostas que cada uma das câmaras tinha aprovado e depois poderia endurecer a lei final – um cenário ainda assim difícil, devido às óbvias divergências no interior do partido, mas que pelo menos daria mais tempo e um novo alento à liderança republicana na Câmara dos Representantes e no Senado, e também ao Presidente Trump.
Mas na sexta-feira esse plano foi travado. No final de uma votação dramática e histórica, as senadoras Collins e Murkowski mantiveram-se firmes e votaram contra – nesse momento, o Partido Republicano não poderia perder nem mais um voto nas suas fileiras, já que desse modo só teria 49 dos seus 52 e o vice-presidente nem sequer poderia desempatar. E foi nesse momento que todos os olhos se viraram para o senador John MCain.
Sei o que fizeste no Verão de 2015
O palco estava montado e a cena tinha vindo a escrever-se a ela própria nos últimos dois anos: no Verão de 2015, o então candidato Donald Trump disse que não considerava McCain um herói de guerra. "Eu gosto de pessoas que não foram apanhadas", disse Trump, referindo-se ao facto de McCain ter sido capturado e torturado durante cinco anos e meio na guerra do Vietname. Desde esse Verão, McCain e Trump foram trocando golpes, e o senador do Arizona nem sequer esteve presente na convenção do Partido Republicano no ano passado. Depois de ter sido humilhado por Trump durante tanto tempo, e de nunca ter respondido no mesmo tom, McCain tinha agora uma oportunidade para humilhar o Presidente – num momento semelhante a muitos outros ao longo da sua vida, quando as suas convicções se misturaram com os seus interesses pessoais.Ao juntar-se às senadoras Collins e Murkowski, McCain fez História ao roubar ao Partido Republicano e ao Presidente Donald Trump a promessa de acabar com o Obamacare. Mas, apesar de ter votado contra o fim do Obamacare, McCain é muito crítico do actual sistema – tal como as duas senadoras que votaram contra sexta-feira, o que o senador do Arizona pretendia era que os seus colegas aceitassem fazer alterações às propostas que foram apresentadas esta semana.
Agora, resta ao Partido Republicano dialogar com o Partido Democrata para conseguir corrigir algumas das deficiências que os dois partidos reconhecem existir no Obamacare. Ou isso, ou ir aprovando medidas avulsas nos próximos meses que podem ir minando a lei em vigor, apesar de os resultados dessas possíveis alterações só terem consequências na vida das pessoas nos próximos anos – algumas delas só depois das eleições presidenciais de 2020 e outras depois das eleições para as duas câmaras do Congresso em Novembro do próximo ano.
Mas, antes disso, o Senado vai para umas curtas férias sem que o Partido Republicano tenha conseguido aproveitar a sua maioria nas duas câmaras do Congresso e um Presidente na Casa Branca para cumprir uma promessa com sete anos. Foi para derrubar o Obamacare que os republicanos pediram aos eleitores americanos que lhe dessem a maioria nos poderes legislativo e executivo – agora que falharam essa promessa, dificilmente vão afastar a imagem de fracasso a tempo de recuperarem para as eleições de Novembro de 2018.
Apesar de as senadoras Susan Collins e Lisa Murkowski terem sido as principais figuras desta semana, por terem assumido a sua oposição contra a liderança do Partido Republicano e contra o Presidente Trump na questão do Obamacare desde o início até ao fim e sem vacilarem, as duas figuras do momento são Donald Trump e John McCain – pelo passado de confrontação entre os dois e pelo desfecho da votação desta sexta-feira, que pode também ser visto como uma vingança do senador do Arizona.
Os dois responsáveis reagiram à votação através da rede social Twitter. Trump foi mais brando do que é costume, dizendo apenas que três senadores do Partido Republicano e 48 do Partido Democrata desiludiram o povo americano, e aproveitou para tentar não ficar mal na figura: de acordo com a sua análise, o falhanço da votação vai manter o Obamacare em vigor, pelo que agora resta esperar pelo fracasso da lei da Administração Obama, como o Presidente tem dito "desde o início". McCain explicou que votou contra o "skinny repeal" porque "não era suficiente para derrubar e substituir o Obamacare com reformas significativas".
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