A Stv transmitiu esta noite (20 de Junho de 2017) mais passagens da entrevista do governador do Banco de Moçambique (Dr. Zandamela). Vi e fiquei chocado.
Diz ele que esperava que os moçambicanos aplaudissem o que ele tem estado a fazer. Diz-se surpreendido por assim não acontecer, e que pelo contrário surpreendem-lhe os ruídos que há. Literalmente assim!
Algo está muito mal aqui, e a exigir uma reflexão profunda dentro do próprio Banco de Moçambique e ao mais alto nível do governo. Parece que não havendo outra crise (na opinião deste homem), temos agora uma que ele está a criar e que tem o potencial de ser muito grave pois corre o risco de desprestigiar ainda mais uma instituição cuja direção ele herdou quando já estava muito no fundo do buraco em matéria de credibilidade.
Já não bastou dizer que já não há crise financeira enquanto o governo (do qual ele processa os pagamentos de dívida externa) está em incumprimento sistemático no serviço da dívida externa e ainda não existe nenhum plano de resolução. Este homem dirige o Banco Central que disse que não sabia nada das dívidas ocultas e secretas, quando a realidade é oposta. Este homem dirige uma instituição que com fundos extraídos da economia nacional através de uma gestão monetária ruinosa para a economia real ergueu verdadeiros elefantes brancos no centro da cidade, qual sinal de megalomania de gestores incautos. Se calhar é por isso mesmo, nomeio desse luxo extravagante, que ele ficou cego perante as realidades do país de que ele pouco sabe nem se escusa a prender.
Diz o Dr. Zandamela que em toda a sua vida profissional nunca viu em nenhuma parte um processo de resolução de uma crise de um banco tão transparente como o do MOZA Banco tal como conduzido pelo Banco de Moçambique. Que eu saiba, o Dr. Zandamela passou quase toda a sua vida profissional no Fundo Monetário Internacional. Acho que os antigos colegas dele devem estar a cair de rir, pois é no mínimo cómico que ele tenha passado todo esse tempo numa posição privilegiada naquela organização global e que de la não tenha visto nada melhor do que o que ele está agora a fazer em Moçambique. Ou ele não teve a capacidade de ver e aprender?
Aonde é que certas pessoas deixam a modéstia quando saem de casa de manhã? Ou será que quando ele foi recrutado foi-lhe dito que ele vinha para uma floresta cheia de cegos? Ou ele pensou que ao se lhe dar um benefício da dúvida e se lhe respeitar o espaço de trabalho isso lhe dava o direito de nos molestar intelectualmente como o faz cada dia que abre a boca em público. O que ele pretende dizer quando afirma que está surpreso de ver a sociedade indignada e a questionar as coisas que ele faz? Ou ele pensa que os cérebros dos Moçambicanos pararam de crescer e funcionar desde que ele saíu daqui? Se está convicto que o que fez e faz está correto, porque não vir com explicações didáticas, em lugar de indignação pela “incompreensão” da sociedade?
O assunto é muito sério. Este homem foi trazido aqui supostamente para introduzir um pouco de sanidade num sistema podre, mas aparentemente estamos a caminho de um desastre que pode ser maior do que os que já tivemos antes com o Maleane e o Gove. Nunca vi na minha vida profissional (já agora!) um Governador de Banco Central com este comportamento. O homem chegou ontem e já dita sentenças sobre quem é o melhor gestor bancário de Moçambique. Uma afirmação muito comprometedora. Ele é agora o regulador/supervisor do homem que ele considera o melhor gestor bancário de Moçambique. A partir de hoje vai ser muito difícil ele encontrar qualquer erro de gestão digno de correção no MOZA Banco. Até podia ser verdade, ou de algum modo assim seja na opinião dele. Mas PRUDÊNCIA (que nós aprendemos que é o traço característico de um bancário), teria ditado que ele guardasse essa opinião para ele. Tanto mais que o Governador do Banco Central não está neste momento a presidir a nenhum júri de classificação de gestores e por isso não tinha necessidade nem obrigação de fazer tais anúncios.
Parece-me que ele está na rota de ainda dar muitas mais explicações públicas. Mas o meu conselho seria que ele se calasse por um pouco e refletisse um pouco mais antes de se pronunciar. E que se lembre sempre que se lhe disseram que Moçambique parou desde quando ele saiu daqui há mais de vinte anos, enganaram-lhe.
Hoje, com mais convicção ainda do que em qualquer momento antes, eu afirmo: situação grave no banco de Moçambique. Gravíssima!
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