quinta-feira, 1 de junho de 2017

O último adeus a Noé Nhamtumbo


Noe_NhantumboForam a enterrar na tarde de ontem, quarta-feira, no Cemitério da Cerâmica, nos arredores da ci­dade da Beira, os restos mortais de Noé Nhantumbo, jornalis­ta e um dos fundadores do "Ca­nal de Moçambique" e "Canalmoz", que faleceu na madrugada de domingo, vítima de doença, O funeral foi antecedido de um velório que teve a presença de muitos cidadãos da Beira, incluin­do familiares, colegas, amigos, estudantes, e dirigentes políticos, que se juntaram no "Novo Cine".
Foram lidas várias mensagens que enalteceram a contribuição de Noé Nhantumbo através da escrita,
"E difícil acreditar que o homem de mente aberta, crítico, mas li­vre no pensamento, aconselhador e professor, o mesmo se calou. Foi um profissional de dimensão incomparável", dizia uma de­claração lida por outros profis­sionais da comunicação social. "Foi-se um homem de palavra de aço, o cultivador da liberdade da expressão e defensor da demo­cracia, adiada, como assim está o título da sua última obra literária, lançada ainda este ano", disse José Manuel, que representou o presi­dente do Conselho Municipal da Beira, Daviz Simango. (José Jeco)
O gajo mais inspirado de todos os gajos
Quando re­cebemos a notícia na tarde de do­mingo, ficámos atónitos a olharmos uns para outros, não só pela incre­dulidade, mas também com senti­mento de desamparo, que um velho acabava de nos creditar. Ficámos a olhar e telefonar uns aos outros e nos perguntar a nós mesmos sobre como vai ser daqui para frente, sem o nos­so *mano Noé'*, como te tratávamos.
E por falar em formas de trata­mento, há mais com que cobarde­mente te tratávamos sem nunca te ter dito que eras tu. "O gajo mais inspirado de todos os gajos." Por­que tu conseguias todos os dias ter uma opinião no nosso diário "Ca­nalmoz" e. todas as quartas-feiras, uma outra opinião no semanário 'Canal de Moçambique". Verbo e ideias era o que não te faltava. E para ter isso tudo, só podias ser "o gajo mais inspirado de todos os gajos".
Deixaste-nos desamparados porque toste tu que, juntamente com outros colegas, iniciaram no meio de tantas dificuldades o sonho da criação de um semanário verdadeiramen­te independente e que hoje se chama ''Canal de Moçambique", a nossa casa. Foste tu o nosso primeiro colu­nista, que, a partir da Beira, nos brin­dava a cada semana com uma abor­dagem não localizada, mas holística de tudo o que se passava neste país. Não morreu Noé Nhantumbo. Morreu um cidadão na acepção francesa do termo. Um cidadão ciente dos seus direitos e deveres. Mas, acima de tudo, um cidadão que nunca aceitou negligenciar os seus deveres. E nos deveres há um em que eras mestre. O dever de par­ticipar através do direito à palavra. Tomaste da palavra e te fizeste ouvir. Escreveste perspectivas» propuseste soluções, elogiaste os bons. caricaturaste os maus, sem nunca ter perdi­do a fineza. Um homem que inspirou todos nós, desde que fundamos o "Canal de Moçambique0, e hoje nos tomámos o semanário de refe­rência deste país. O "Canal de Mo­çambique" fica pobre sem ti, Noé.
Mas, se a tua morte deixou um vazio nos nossos corações, então é justo que se diga que também nos deixou cheios. Cheios das tuas ideias rebeldes. Cheios das tuas in­vestidas de pensamentos alternati­vos por um Moçambique, não me­lhor, mas menos pior do que este.
Quem não vai ter saudades das tuas laboriosas crónicas diárias no ^Canalmoz" e semanais no "Canal de Moçambique"? Vamos ter sau­dades do teu sotaque beirense. Um colunista prolífero e versátil, como te chamou um dos colegas da nos­sa casa. Escrevias como quem o faz para deixar marcas no tempo, lan­çando avisos à navegação. Eras um pensador. Eras e continuas a per­tencer à família deste jornal onde desaguam não só todos os rios, mas as quizumbas, que ele atacou fe­rozmente com a sua força anímica, Descanse em paz o gajo mais inspi­rado de todos os gajos* Até já, Noé* 'Elogio fúnebre dos trabalhadores do "Canal de Mo­çambique", lido no velório de Noé Nhantumbo.
CANALMOZ – 01.06.2017

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