sexta-feira, 23 de junho de 2017

Ministra nega conhecer ordem formal do PR para que Abduremane viajasse a Meca

Abduremane de Almeida e Adelaide Amurane tiveram confrontação cara-a-cara no Tribunal
A defesa do ex-ministro desistiu de ouvir Adelaide Amurane, mas por imposição da Justiça esteve esta quarta-feira no Tribunal para prestar esclarecimentos sobre a polémica viagem de Abduremane de Almeida à Meca custeada com dinheiro público sem autorização.
Abduremane disse ao juiz que viajou a mando de Filipe Nyusi e que a Ministra na Presidência para Assuntos da Casa Civil sabia de tudo. Na hora de depor, Adelaide Amurane negou conhecer qualquer ordem do Chefe de Estado para a viagem que custou aos cofres públicos cerca de um milhão e setecentos mil meticais.
“As decisões do Presidente da República são feitas por despacho. Não existia nenhum despacho da Presidência que autorizasse a viagem”.
Sobre as declarações do réu segundo as quais a Ministra coordenou a retirada, no relatório de auditoria da Inspecção das Finanças, do ponto que obrigava o ex-ministro a devolver o dinheiro, Amurane revelou que o então Secretário Permanente do Ministério foi ao seu gabinete requerer que o valor fosse pago pela Presidência, ao que respondeu. “Eu não tenho competência para interferir sobre relatórios de auditoria. Não nos sentimos na obrigação de pagar porque não tínhamos nenhuma decisão escrita sobre aquela deslocação”.
Na audiência, a defesa pediu uma confrontação cara-a-cara entre o réu e a ministra. Admurenane então disse: “A ministra não ouviu quando o Presidente deu essas orientações. Mas quando o assunto da acusação surgiu, questionei à ministra e pedi para que da mesma forma que fez a quando do relatório de auditoria escrevesse a explicar que era uma missão do Estado”.
Adelaide Amurane disse: “Eu não tinha base para fazer a carta porque não tinha despacho. Disse (também) que não podia confrontar o Presidente. Não está nas minhas competências confrontar o presidente”, concluiu. 

Abdurremane pode ter recebido convite para ir a Meca antes da suposta ordem do PR

Secretário-geral do Conselho Islâmico diz que instituição enviou convite ao Ministro para viajar com tudo pago
Abdul Carimo é um dos nomes que tinham sido dispensados como testemunha pela defesa. Mas o tribunal manteve o nome do Secretário-Geral do Conselho Islâmico e também presidente da Comissão Nacional de Eleições na lista.
Hoje, Carimo disse que foi a comunidade que convidou o ex-Ministro da Justiça para viajar a Meca com tudo pago, mas este demorou responder, alegando que estava à espera da autorização do Presidente da República. Devido à demora, Abdurremane perdeu a oportunidade de viajar às custas do Conselho Islâmico de Moçambique.
“Passaram duas semanas após o prazo de cinco dias e nós enviamos os nomes de outros candidatos sem mencionar o nome do ex-Ministro. Quando fomos informados de que o Ministro já tinha autorização para viajar, já não tínhamos como manter a bolsa”.
A revelação do também presidente da CNE contraria a versão do réu, segundo a qual primeiro surgiu a ordem do Presidente da República e quando foi pedir assessoria à comunidade sobre como organizar a viagem recebeu o convite desta.
“Não é do meu conhecimento que o ex-Ministro tenha ido ao Conselho Islâmico para pedir assessoria sobre como se organiza uma viagem para Meca antes do nosso convite”.
Ainda hoje, foi ouvido o delegado do Conselho Islâmico em Nampula, pessoa que escolheu alguns líderes religiosos que viajaram com o Ministro. O delegado disse que recebeu a missão de um membro influente do conselho e assegurou que o Ministro não tem nenhuma ligação familiar com os líderes que viajaram a Meca.

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