domingo, 28 de maio de 2017

Hope, a história do menino feiticeiro que Anja resgatou

Hope, a história do menino feiticeiro que Anja resgatou

27 Maio 20171.482
Tinha dois anos quando a família o acusou de bruxaria e o abandonou. Estava às portas da morte quando Anja Lovén o descobriu. Um ano e meio depois, a dinamarquesa conta a história desse resgate.
Foi o telefonema de um estranho naquele dia, no meio de uma estrada picada no sul da Nigéria, que fez o destino de Anja Lovén cruzar-se com o do pequeno Hope. A dinamarquesa seguia num carro com o marido, David, o filho de poucos meses e alguns elementos da equipa com quem percorria o país há algum tempo para resgatar crianças maltratadas e abandonadas na rua, acusadas de feitiçaria. Naquele sábado, porém, a missão falhara e, por isso, Anja estava desanimada e com o humor em baixo. Até que um homem lhes ligou. “Pediu para irmos à aldeia dele. Diz que anda um menino pela rua, em muito mau estado, que não terá mais de dois anos de idade e que devíamos ir lá ajudá-lo”, explicou o marido. “Não deve conseguir sobreviver muito mais tempo sozinho.”
Anja estremeceu. “Dois anos? Não pode ser!”, reagiu com choque. “Temos de ir lá”, pediu, apesar da hesitação de David e da restante equipa. A resistência era justificada. Apesar destes apelos serem comuns, quase diários, nenhuma missão de resgate avança sem antes estudarem a região, avaliarem os riscos e acautelarem medidas de segurança que, muitas vezes, envolvem até a proteção de agentes policiais. “Costumamos precisar de vários dias para preparar a missão, porque, sendo estrangeiros, é muito perigoso aparecer assim de repente numa povoação”, justifica a dinamarquesa. “E às vezes os habitantes locais são um pouco hostis, não gostam de ter pessoas de fora a meterem-se nos assuntos deles.” Mas, neste caso, parecia não haver tempo. E Anja, mesmo com o filho ainda bebé no carro, decidiu correr o risco. “Vamos lá hoje.”
A aldeia ficava junto a Uyo, na zona sul do país e, para lá chegarem, tiveram de seguir por estradas sem uma placa, um sinal ou um mapa que as marcasse. Mesmo não sabendo quem era o homem que os chamara ou as suas reais intenções – e considerando sempre a possibilidade de uma emboscada -, a equipa foi seguindo as orientações pelo telefone. Concordaram também que seria prudente disfarçar o objetivo daquela operação improvisada, usando as dicas do homem desconhecido. “Devíamos dizer que éramos missionários e que tínhamos ido à aldeia para experimentar carne de cão seca”, uma iguaria muito apreciada na região, “que um homem lá vendia”. Em nenhuma circunstância, porém, o desconhecido que lhes telefonara iria aparecer. Não era conveniente ou até seguro ser visto junto dos estrangeiros.
Chegados à aldeia, seguiram o plano à risca. Procuraram o vendedor de carne, apresentaram-se como missionários, fingiram interesse, começaram a conversar, ao mesmo tempo que os olhares ansiosos de Anja e o marido sondavam discretamente as ruas em redor. David foi o primeiro a vê-la: uma criança pequenina, frágil, a pele nua, cheia de escaras e vincada pelos ossos. E segredou à companheira: “Vira-te lentamente quando ninguém estiver a olhar. Vais ver o menino, não muito longe, ao fundo da rua. Não te assustes, mas ele parece estar mesmo muito, muito doente…”
"Quando vi o Hope, só queria abraçá-lo, queria vomitar, queria chorar, queria fugir dali, eram tantas emoções à mistura… Mas sabia que se mostrasse raiva ou desilusão ou qualquer outra reação, poderia colocar em risco qualquer tentativa para ajudar aquela criança. Tinha de me concentrar. E manter o fingimento”
Anja não esquece o momento em que o seu olhar se fixou naquele menino. “Fiquei gelada quando o vi. Já andava em missões de salvamento há mais de quatro anos, fizemos mais de 300 operações de resgate desde 2008. Temos muita experiência, sabemos que não podemos mostrar qualquer emoção quando vemos as crianças, porque isso pode comprometer toda a operação. Mas, quando vi o Hope, só queria abraçá-lo, queria vomitar, queria chorar, queria fugir dali, eram tantas emoções à mistura…”, recorda agora, quase um ano e meio depois desse encontro. “Sabia que se mostrasse raiva ou desilusão ou qualquer outra reação, poderia colocar em risco qualquer tentativa para ajudar aquela criança. Tinha de me concentrar.”
A solução era manter o fingimento. Então Anja começou a fazer perguntas que desviassem a atenção do menino, ao mesmo tempo que se aproximava dele. Quis saber se faziam vinho de palma (e caminhou um pouco), se havia palmeiras na aldeia (e deu mais uns passos), perguntou onde as podia ver – e foi assim que conseguiu chegar perto da criança. Sem manifestar qualquer emoção, perguntou ao homem que os acompanhava “quem era o rapaz”. Ele desprezou-o, dizia apenas que tinha fome. “Sim, e parece muito doente. Acha que posso dar-lhe um pouco de água e bolachas?”, questionou Anja, que se sentiu muito mais confiante quando o homem, meio distraído, lhe disse que sim: “Pode dar, sim, ele tem fome”, respondeu. “Isso deixou-me mais tranquila, porque ele não me pediu para o ignorar, como costuma acontecer, por ser um bruxo.” Anja Lovén encostou então levemente a garrafa com água à boca ressequida do menino e esperou que ele bebesse. “Podíamos ver que só teria mais umas horas de vida naquelas condições, mal se segurava nas pernas”. Mas foi então que algo inesperado aconteceu. “Ele começou a dançar.”
Anja emociona-se ao recordar aqueles instantes. “Ele estava a usar as últimas forças que lhe restavam para dançar. E isso foi a maneira de ele nos dizer ‘olhem para mim, ajudem-me, salvem-me, levem-me daqui’. Ele estava a dançar para que reparássemos nele. E eu não conseguia fazer mais nada a não ser sorrir.” No falso papel de “missionária”, Anja só se recorda de começar a falar em dinamarquês com o menino, mesmo sabendo que ele não entenderia uma palavra do que lhe prometia naquele momento: “Vou levar-te comigo, vais ficar em segurança.” E cumpriu. Só tinha de ser rápida a agir, porque os habitantes começaram a cercar a equipa e o carro e não havia forma de antecipar as suas reações. Avisou o vendedor que iria levar o menino ao hospital, pediu uma manta para lhe cobrir o corpo ferido e partiram. “Quando peguei nele, o corpo parecia uma pena, que não pesava mais do que três quilos, e até isso era penoso”, recorda Anja. “Cheirava a morte. Tive de resistir para não vomitar.”
A caminho do hospital, a equipa de resgate achou que o menino não iria sobreviver. “Estava muito fraco, mal respirava. E foi quando eu disse: se ele morrer agora, não quero que isso aconteça sem que ele tenha um nome. Vamos chamar-lhe Hope [Esperança]”, conta. Pararam ainda no centro de acolhimento de crianças de Anja e David para lhe dar um banho e só depois seguiram para o hospital com Rose, a enfermeira da equipa que ficou ao lado do menino, todos os dias, durante o mês em que ficou internado. Hope estava muito fraco, o corpo castigado pela fome e pela sede, devorado por parasitas, e precisou de ser medicado e levar transfusões de sangue para poder recuperar. “Nem conseguíamos perceber que idade tinha. Parecia um bebé, mas percebemos mais tarde que teria três ou quatro anos de idade”, conta Anja. “Foi um milagre ter sobrevivido.”
“Há muitas crianças que são enforcadas, queimadas vivas, desmembradas com facas ou machetes… Há meninas que são torturadas, violadas, ficam trancadas sem comida ou bebida durante dias, apanham doenças graves… simplesmente porque alguém, um familiar, os acusou de fazerem bruxaria”

Resistir à superstição

Já passou mais de um ano desde esse dia 30 de Janeiro de 2016. Hope é hoje um menino saudável que começou a frequentar a escola em Fevereiro deste ano. Ainda não fala corretamente – os quase oito meses que viveu ao abandono na rua atrasaram o seu desenvolvimento -, mas “é inteligente e divertido” e está a recuperar rapidamente, garante Anja. É também uma das 48 crianças que ela e o marido já conseguiram resgatar das ruas onde são abandonadas pelas famílias por suspeitas de feitiçaria, uma crença ainda muito enraizada naquela sociedade.

O drama das "crianças feiticeiras"

É uma crença ou superstição muito popular em muitas comunidades nigerianas. Mas as motivações para acusar uma criança de feitiçaria ou bruxaria são bem mais mundanas: basta um problema grave, como uma separação, doença grave, morte ou ruína financeira numa família, para que uma criança seja proscrita, independentemente da idade, como explica a Safe Child Africa, organização sediada no Reino Unido – no caso de Hope, não tinha mais de dois anos quando foi abandonado. A Fundação para a Educação e Desenvolvimento das Crianças Africanas estima que este drama atinja cerca de dez mil crianças por ano na Nigéria. Muitas igrejas locais são responsáveis por continuar a alimentar esta crença e alguns líderes dessas comunidades são os maiores beneficiários: “marcam” crianças que acusam de lançar feitiços ou maldições e depois cobram para lhes fazer exorcismos. Estas práticas já são proibidas por lei no país, mas a sua aplicação e controlo ainda não funciona, denuncia Anja Lovén. A maioria das “crianças feiticeiras”, além do abandono, corre ainda o risco de ser torturada, abusada ou morta. A Safe Child Africa acredita que esse é atualmente o maior risco para 80% das crianças que enfrentam acusações de feitiçaria.
Há crianças que conhecem destinos ainda mais trágicos. “Há muitas que são enforcadas, queimadas vivas, desmembradas com facas ou machetes…”, denuncia Anja. “Há meninas que são torturadas, violadas, ficam trancadas sem comida ou bebida durante dias, apanham doenças graves… simplesmente porque alguém, um familiar, os acusou de fazerem bruxaria.” São então proscritos da família e do círculo social, entregues à sua sorte. Hope tornou-se também o rosto de um milagre por isso: contrariou um destino trágico que atinge cerca de 10 mil crianças por ano na Nigéria. “E é um problema crescente”, alerta a dinamarquesa. “Porque, apesar de já existir uma lei que proíbe esta prática, a superstição e a crença mantêm-se. É também um negócio para os chamados feiticeiros que cobram pequenas fortunas para fazer exorcismos.”
Para os ajudar, Anja Ringgren Lovén e David Emmanuel Umem, criaram a Fundação para a Educação e Desenvolvimento das Crianças Africanas e têm atualmente um centro de acolhimento na Nigéria, que está a ser ampliado. Já lá vivem 48 crianças – que tratam também como filhos – e “todos têm uma história de sobrevivência para contar”, explica a promotora do projeto. “Não é apenas o Hope, mas este menino ajudou a atrair a atenção para este problema que se vive na Nigéria, foi um alerta.” Um alerta que correu o mundo inteiro quando a fotografia que registou aquele momento em que Anja deu água ao menino na rua foi publicada nas redes sociais – em apenas dois dias após a divulgação da história do pequeno Hope, a fundação reuniu cerca de um milhão de coroas dinamarquesas (perto de 140 mil euros) em donativos e é desse tipo de financiamentos que continua a depender para sobreviver. É por isso que Anja Lovén se desdobra em viagens e conferências em diferentes países para expor estes casos de radicalismo sobre as crianças e promover o projeto da sua fundação. É também com essa motivação na agenda que estará em Portugal, no próximo dia 31 de maio, para participar num painel de debate sobre “sobreviver ao extremismo” nas Conferências do Estoril. E tem já marcado também um encontro com o Dalai Lama, em Setembro, em Dharamsala, na Índia.

Debater os extremismos

Anja Lovén é uma das convidadas das ‘Conferências do Estoril’, que irão decorrer entre 29 de maio e 1 de junho, sobre ‘Migrações Globais’. A dinamarquesa irá participar num painel dedicado ao tema “Diálogo Global: Sobreviver ao extremismo”, no dia 31 de maio, juntamente com Fareeda Khalaf (refugiada yazidi) e Fadumo Dayib (refugiada somali). Entre os mais de 90 oradores convidados estão o antigo especialista da NSA, Edward Snowden, o líder do UKIP, Nigel Farage, os juízes Sérgio Moro, Baltasar Garzón e Carlos Alexandre, ou Madeleine Albright, entre muitas outras personalidades nacionais e internacionais. O programa e lista de oradores pode ser consultada no site da organização.
Os holofotes atraídos com Hope, contudo, também lhe estão a causar algumas preocupações. “O governo tem manifestado algum desconforto por estarmos a captar o olhar do mundo para problemas na Nigéria”, conta, recordando que o país vive “num ambiente perigoso e instável. Há imensos gangues e violência, há o Boko Haram… Há quem olhe para nós e ache que, por estarmos a fazer isto, temos imenso dinheiro e somos muito ricos, porque recebemos dinheiro do mundo inteiro.” Um dos efeitos disso mesmo, lamenta,”é que agora não consigo entrar em segurança no país”, mesmo sendo casada com um nigeriano. Além disso, reforça, tem recusado fazer documentários com canais como a CNN ou a BBC, para não atrair ainda mais atenções para si. “Fazemos isto pelas crianças, não por nós. Se as pessoas começarem a ler as nossas histórias, sabem que estamos a tentar ajudá-las, a garantir a sua segurança, saúde e educação. Mas temos receio que nos tirem as crianças.”

Obsessão por África… e tatuagens

Nos dedos da mão esquerda, Anja tem tatuadas quatro letras: ‘HOPE’. Não significam apenas ‘esperança’, explica a dinamarquesa de 38 anos, são também um acrónimo para ‘Help One Person Everyday’ – que se poderá traduzir por ‘Salva Uma Pessoa Todos os dias’. Ainda antes de conhecer o menino a quem daria esse nome há pouco mais de um ano, Hope já era muito especial: “Quando estava grávida, já falávamos em dar esse nome ao nosso filho. Mas depois acabámos por lhe chamar David Jr.”, conta.
Anja e a tatuagem de HOPE na mão esquerda: “Help One Person Everyday”.
É ele quem, ao lado da mãe, vai interrompendo a conversa por telefone a partir de Copenhaga, onde Anja passa agora mais tempo, enquanto David se vai dividindo entre a Dinamarca e a Nigéria para cuidar da gestão e ampliação do centro africano onde trabalham mais de 150 pessoas – ‘Land of Hope’ (Terra da Esperança), é como lhe chama. Foi na primeira viagem que fez à Nigéria que os dois se conheceram, era David estudante de Direito e consultor jurídico, a tentar lutar pelos direitos das crianças. “E ele foi a minha maior inspiração, porque vi muitas coisas que nunca devia ter visto. Crianças a serem mortas, enforcadas, chacinadas… Apaixonei-me rapidamente por alguém que tinha a mesma paixão e a mesma missão que eu, lutar pelos direitos das crianças. E isso foi a melhor coisa que aconteceu. Ele é um herói.”
Anja Lovén e o marido, David Emmanuel Umem, que conheceu na sua primeira viagem à Nigéria (foto cedida por Anja Lovén)
O fascínio de Anja por África, contudo, já vinha da infância. Ainda se recorda de ouvir as reprimendas da mãe, sempre que se recusava a comer o que aparecia na mesa, que lhe pedia não ser ingrata e lembrar-se nas crianças que morriam com fome. “Fui educada a pensar assim, a ser grata pelo que tinha e em como podia fazer a diferença a ajudar os outros.” É por isso que, uns anos mais tarde, decide viajar como voluntária para o Malawi, para fazer trabalho humanitário, e depois para a Tanzânia. Quando regressou a Copenhaga, estava decidida a criar a sua própria organização humanitária – e escolheu a Nigéria depois de ver um documentário, em 2008, sobre o drama das crianças acusadas de bruxaria que eram abandonadas pelas famílias ou mesmo mortas naquele país.
Anja Lovén foi gestora de uma cadeia de roupa, fez carreira no mundo da moda, foi modelo de lingerie, hospedeira. "Ganhava imenso dinheiro, vestia roupas caras, tinha um apartamento enorme… mas sabia que, se quisesse fazer este trabalho, tinha de desistir de tudo.” Isso significou vender tudo o que tinha para financiar a sua nova vida
Para trás ficava uma vida de que hoje fala pouco, dividida entre a moda e as viagens e outros países onde passou algumas temporadas, como Israel, Egipto, Jordânia. Foi gestora de uma cadeia de roupa, fez carreira no mundo da moda, foi modelo de lingerie, hospedeira. “Ganhava imenso dinheiro, vestia roupas caras, tinha um apartamento enorme… mas sabia que, se quisesse fazer este trabalho, tinha de desistir de tudo.” Isso significou vender tudo o que tinha para financiar a sua nova vida, esteve sem casa durante muitos anos.
A mãe, que trabalhou durante anos a cuidar de idosos para criar Anja e mais duas filhas sozinha (os pais divorciaram-se tinha ela três anos), foi a sua grande inspiração. Quando a mãe morreu, vítima de cancro do pulmão, foi um dos maiores reveses da sua vida. “Voltei a casa e passámos por nove meses de puro inferno. Ela a morrer lentamente e isso teve um forte impacto na minha vida”, recorda “Tinha 23 anos e foi uma grande perda, parecia que o chão me fugia debaixo dos pés. Depois da dor, tive de voltar à minha vida.” É quando faz a primeira de muitas tatuagens que hoje marcam também a sua imagem.
Ao contrário de si, a mãe era católica e, por isso, tem vários símbolos religiosos, “como rosas, uma Nossa Senhora” e outros para homenagear a mãe, como o rosto dela nas costas, mas também retratos do Elvis e da Marilyn, de que a mãe era grande fã. E uma frase: ‘Don’t be afraid of death, be afraid of not living’ [“não tenhas medo de morrer, mas sim se não ter vivido]. Depois viciou-se em tatuagens e acabou por fazer muitas outras apenas por diversão. “Tornaram-se uma obsessão, mas depois parei. Não faço nenhuma desde 2011.”
David Jr., o filho de Anja e David, é um dos melhores amigos de Hope e foi ele quem ofereceu ao menino resgatado um dos seus primeiros brinquedos: um urso de peluche (foto cedida por Anja Lovén)
A sua vida é hoje dedicada a uma imensa família que não inclui apenas o marido e o filho. Conta também com Hope e com todas as crianças que continua a ajudar a partir da sua fundação. Enquanto for possível, e apesar das constantes ameaças, o objetivo é manter as crianças resgatadas no país de origem. Até porque a sua missão é provar no próprio país que as crianças feiticeiras não existem. “Estou nisto desde 2008 e já há muitas pessoas que nos conhecem e ao nosso trabalho. Mas a feitiçaria ainda é um tema muito sensível para uma população onde muitas pessoas são pobres, pouco esclarecidas e informadas, nunca andaram numa escola. Por isso não se pode chegar a um sítio destes e desatar a dizer que a feitiçaria é uma treta ou que elas são burras. Não é a nossa forma de trabalhar. Temos de criar uma plataforma e ganhar a sua confiança. E isso exige muitas visitas, leva muitos anos”, explica. Hope é agora um dos principais símbolos dessa mudança que Anja quer promover. E a memória de um menino feiticeiro que um dia dançou para ser salvo por Anja, é hoje a imagem de uma criança que dança porque ganhou uma nova vida.
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