Trump disse à China que está disponível para agir “sozinho” em relação ao regime de Kim Jong-un e envio de porta-aviões para a costa da península coreana é prova disso.
Pouco se sabe sobre as conversas que Donald Trump e Xi Jinping mantiveram durante os dois dias em que estiveram juntos no resort de luxo de Mar-a-Lago, na Florida, na semana passada. Mas se a decisão de reenviar um porta-aviões para a costa da península coreana der alguma pista, é a de que os progressos foram poucos.
No sábado, um dia depois de Xi abandonar os EUA, Trump deu ordem a uma esquadra naval para patrulhar as imediações da península coreana, num claro sinal para Pyongyang e Pequim de que a falta de contenção do regime de Kim Jong-un pode dar origem a uma resposta musculada de Washington.
O porta-aviões USS Carl Vinson tinha como destino a Austrália, mas recebeu ordem para regressar ao Pacífico Ocidental, onde no início de Março tinha já participado nos exercícios militares conjuntos anuais com as forças sul-coreanas. Não é comum que mudanças de rota sejam reveladas publicamente, escreve o site Navy Times, o que sugere que o grande objectivo é o envio de uma mensagem.
O conselheiro para a Segurança Nacional da Casa Branca, Herbert McMaster, disse à Fox News que a decisão foi motivada pelo “comportamento provocatório” da Coreia do Norte. “O Presidente pediu que fosse apresentado um conjunto amplo de opções para remover essa ameaça ao povo americano e aos nossos aliados e parceiros na região”, acrescentou.
A mensagem que a Casa Branca pretende enviar estará sobretudo destinada à China. No encontro entre os líderes norte-americano e chinês, a Coreia do Norte era um dos tópicos de primeiro plano. Pyongyang tem intensificado o desenvolvimento de armas nucleares e há indícios de que o regime poderá estar próximo de realizar um novo teste, especialmente pela proximidade de datas festivas.
Aniversários
A 15 de Abril assinala-se o 105.º aniversário do nascimento do fundador do regime, Kim Il-sung, e dez dias depois celebra-se a criação do Exército do Povo. É possível, porém, que uma demonstração de força por parte dos EUA apenas venha a dar mais justificações ao regime para que realize um novo teste. Há a convicção em Pyongyang de que a sobrevivência do país está dependente do seu desenvolvimento nuclear.
Trump acredita que Pequim deve fazer mais para pressionar o seu aliado norte-coreano para abandonar as suas ambições nucleares. A China tem, no entanto, sido muito crítica da instalação do sistema antimíssil norte-americano, conhecido como THAAD, na Coreia do Sul. Esta segunda-feira, delegações da Coreia do Sul e da China concordaram em aplicar sanções mais duras contra a Coreia do Norte, caso sejam realizados mais ensaios nucleares, revelou um emissário sul-coreano.
Foi durante a cimeira de Mar-a-Lago que os EUA lançaram um ataque contra uma base aérea síria, naquela que foi a primeira intervenção directa dos norte-americanos na guerra civil. Vários responsáveis da Administração Trump referiram que o bombardeamento assinala a disponibilidade de Washington em intervir onde e quando os seus interesses forem ameaçados – e é isso que acontece na península da Coreia, terá notado Xi. Numa entrevista recente, Trump tinha dito estar preparado para agir “sozinho”, na eventualidade de a China não cooperar em relação a este dossier.
A opção de uma intervenção militar directa na Coreia do Norte nunca esteve ausente dos planos de Washington desde há vários anos. No entanto, a perspectiva de uma resposta por parte de Pyongyang que certamente incluiria um ataque nuclear sobre Seul – onde moram 20 milhões de habitantes – leva a generalidade dos analistas a afastar esta hipótese.
“A Coreia do Norte não é a Síria”, disse ao Financial Times Pang Zhongying, professor da Universidade de Renmin (China) “A Síria está destruída e não tem capacidade para responder; a Coreia do Norte é totalmente diferente e mesmo um ataque cirúrgico pode levar a consequências desastrosas”, acrescentou.
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