Basta de
adiamentos!
Embaixadora da Suécia e a auditoria às dívidas ocultas
A versão da juíza
sobre a sentença
Centrais
Pág. 6
Pág. 2 e 3 TEMA DA SEMANA 2 Savana 31-03-2017
Uma das prováveis causas
indicadas pelos
gestores de aviação
civil moçambicana
para a queda do Islander que
matou seis pessoas a bordo na
segunda-feira, dia 27, na cadeia
montanhosa de Vumba,
na fronteira entre Moçambique
e o Zimbabwe, na província de
Manica, ganhou azo com testemunhas
a afirmarem que a camada
de neblinas que se formara
no topo da montanha poderá
ter “atrapalhado a tripulação”,
que já voava a baixa altitude,
em aproximação ao aeródromo
de Mutare.
A serra de Vumba tem no seu
pico uma altitude de 1 911 metros
e é caracterizada, todos os
dias nas primeiras horas, por neblinas
intensas que só se dissipam
ao aproximar do fim da manhã.
A aeronave, com o registo C9-
-AOV, modelo BN2A-3, da sé-
rie número 024, matriculada em
Moçambique há 43 anos, foi
fretada pela Cornelder Moçambique,
para efetuar o voo Beira/
Mutare.
Para além dos dois pilotos, a aeronave
transportava quatro passageiros,
todos eles executivos
da Cornelder, empresa que opera
o porto da Beira. A aeronave
despenhou-se quando fazia aproximação
à pista do aeródromo da
cidade fronteiriça de Mutare, no
Zimbabwe.
Os quatro executivos, incluindo o
administrador delegado da Cornelder,
Adelino Mesquita, deslocavam-se
à cidade zimbabueana
para participar numa reunião do
conselho de administração da
Green Motor Services (GMS),
uma empresa de despacho subsidiária
da Cornelder.
De acordo com Lawrence Takawira,
Director Geral da GMS,
ele encontrava-se no aeródromo,
juntamente com funcionários da
autoridade tributária e da migração
do Zimbabwe, quando se
aperceberam de que o avião não
tinha chegado à hora marcada.
“Telefonamos para o nosso escritório
na Beira e fomos informados
pela secretária que os quatro
tinham atrasado a sua partida
devido às condições atmosféricas.
Disseram-nos que eles chegariam
cerca das 09,00 horas, mas até às
11:00 horas eles não tinham ainda
chegado”.
Acrescentou que depois receberam
informação de que um avião
havia se despenhado no Monte
Vumba.
“Depois de alguma verificação,
descobrimos que era o avião que
transportava os nossos executivos.
Fomos ao local e confirmamos
que se tratava deles. A sua morte
é uma triste perda tanto para
Moçambique como para o Zimbabwe”,
disse Takawira.
Testemunhas oculares dizem que
os destroços do avião e os corpos
dos ocupantes estavam espalhados
por todo o lado, perto do topo
da montanha.
Depois de várias tentativas para
atingir o local da queda, os corpos
foram depois colocados em sacos
azuis largados por helicópteros
da Força Aérea do Zimbabwe, e
transportados para a morgue do
Hospital Provincial de Mutare.
O avião era operado pela ETA
AIR Charter, uma firma de prestação
de serviços de transporte
aéreo, baseada na cidade da Beira.
Vários populares, de ambos os
lados da fronteira, acorreram ao
local mal se aperceberam do sucedido.
“É possível que os pilotos se teDesastre
aéreo de Machipanda
Neblina terá atrapalhado a tripulação
Por André Catueira*
nham atrapalhado com as nuvens
e montanhas. Podem ter pensado
que o monte estava abaixo”, disse
Arone Sandramo, uma das testemunhas.
O choque contra o monte se deu
1 600 metros de altitude, cerca
de 300 metros abaixo do topo do
Monte Vumba.
Sandramo, que lembra um acidente
semelhante em 1979, exactamente
no mesmo local e com
um aparelho igual, frisou que a
aeronave vinha em baixa altitude
e a invisibilidade da área, uma
mistura de montes e floresta densa,
poderá ter contribuído para a
colisão.
“Nesta zona as nuvens são muito
baixas. Nas manhãs fica coberta
com neblinas e o topo da montanha
se torna invisível”, disse
Azarias Mutume, que frequenta
as montanhas, muito usadas para
o contrabando de produtos para
os dois países.
Tanto estas como outras testemunhas
defendem que, naquelas
condições de neblinas cerradas, os
pilotos deviam ter sobrevoado a
cidade de Mutare, e posicionado
o avião para aterrar como se estivessem
a vir de Harare.
“Desse lado da fronteira com
Moçambique é que tem muitas
montanhas altas, do lado de Mutare
são mais baixas e seria mais
fácil gerir a má visibilidade”, disse
Manuel.
Devido à sua localização, num
vale e entre montanhas, a cidade
de Mutare, a quarta maior do
Zimbabwe, não tem um aeroporto,
sendo as ligações áreas asseguradas
por um aeródromo.
Mortes
Inicialmente foram anunciados
cinco mortos, pois um dos pilotos
tinha escapado com vida, mas não
resistiu aos ferimentos.
A aeronave, com uma autonomia
de voo de três horas, era tripulada
pelo comandante, Luís Lopes dos
Santos Barroso, e acompanhado
pelo filho, Rui Fonseca Pereira
dos Santos.
Para além de Mesquita, que é
irmão do Ministro dos Transportes
e Comunicações, Carlos
Mesquita, morreram Isac Noor
e António Jorge, administrador
financeiro e assessor jurídico da
Cornelder, respectivamente, e
Banele Sibanda, de nacionalidade
zimbabueana, e que era o director
financeiro da empresa.
Remoção dos corpos
Após tomar conhecimento do
acidente, a Força aérea Zimbabueana
enviou para o local um
helicóptero, que sem pousar e
com recurso a cordas, largou inicialmente
uma equipa que incluía
militares e médicos legistas.
“Dadas as difíceis condições de
acesso ao local, só cerca das 17:40
horas foi possível a remoção dos
corpos”, disse Leonardo Colher,
chefe do departamento das rela-
ções públicas no comando provincial
da Polícia em Manica.
A Polícia moçambicana chegou
primeiro ao local do acidente,
mas não tinha meios para iniciar
a operação de remoção, tendo por
isso solicitado a cooperação do
Zimbabwe.
Coube nesta operação à Polícia
moçambicana guarnecer o local,
para evitar eventuais actos de
vandalismo, que poderiam terminar
em roubos de bens alheios.
Os corpos dos cinco moçambicanos
foram transladados quarta-
-feira para a cidade da Beira.
Algumas notas técnicas
O aeródromo de Mutare tem restrições,
não tem controlador de
tráfego aéreo. O movimento aé-
reo é controlado através da rádio
ajuda que se localiza a oito quiló-
metros da pista.
A pista do aeródromo de Mutare
tem 950 metros de comprimento
e está a uma altitude de 1040
metros.
A zona onde a aeronave se despenhou,
na aldeia de Zohwa, a 25
quilómetros de Mutare, tem, com
alguma frequência, apresentado
dificuldades de navegação aérea
devido a problemas de visibilidade
criados pelo nevoeiro que se
faz sentir nas primeiras horas do
dia, mesmo que não haja proForça
área zimbabueana retirando os corpos do local do sinistro blemas de mau tempo. Isto é, a
Parte dos destroços da aeronave que despenhou nas montanhas de Machipanda
TEMA DA SEMANA Savana 31-03-2017 3
visibilidade é totalmente precária.
É por isso que a cordilheira é denominada
por Vumba o que significa
nevoeiro, na língua Shona.
Violação de segurança
aérea
Na altura da queda, a aeronave
navegava a uma altitude de 1 600
metros, numa região cujo ponto
mais alto das montanhas é de 1
911 metros.
Para a zona em alusão, as normas
de navegação recomendam que o
piloto sobrevoe a uma altura de
oito mil pés, o equivalente a 2 400
metros.
Aeronave
A aeronave acidentada era pilotada
por Luís Santos Barroso que
detinha uma licença comercial
e por Rui Santos, seu filho, que
ainda não possuía a qualificação
de voo por instrumentos, um
elemento obrigatório em voos
comerciais como era o caso em
alusão.
As declarações das autoridades
aeronáuticas nacionais não deixam
claro sobre quem na realidade
estava a pilotar o avião, facto
que será devidamente esclarecido
pela perícia feita pelas autoridades
zimbabueanas no terreno.
Luís Santos Barroso era um piloto
muito experiente em voos
charters, envolvendo vários tipos
de aeronaves em situações adversas.
A aeronave acidentada era de tipo
islander de fabrico inglês. Considerado
muito robusta e apropriada
para pistas curtas, o avião
foi adquirido em 1973 pela então
empresa estatal de Transporte de
Trabalho Aéreo (TTA).
Com a onda de privatizações que
se seguiu ao período da liberaliza-
ção económica do país, a partir da
metade dos anos 1980, a empresa
foi alienada e passou a denominar-se
TTA, SARL. Nessa altura,
o aparelho sofreu grandes altera-
ções, cujo detalhe não se conhece.
Anos depois, a mesma aeronave
foi adquirida pela Empresa de
Transportes Aéreos (ETA). Na
altura, o aparelho encontrava-se
inibido de voar, pelo que teve de
sofrer grandes intervenções para
voltar a ser usada.
Após a intervenção técnica, o
aparelho foi inspeccionado e
aprovado pelos técnicos do Instituto
de Aviação Civil de Moçambique
(IACM).
O último certificado de navegabilidade
foi passado em Junho de
2016 e tinha validade de um ano.
Porém, estranhamente, na manhã
desta quarta-feira, o comandante
João de Abreu, Presidente
do Conselho de Administração
(PCA) do IACM, disse que a
aeronave tinha sido re-certificada
em Janeiro de 2017, o que significava
que o avião tinha denotado
problemas sérios.
Contudo, João de Abreu já não
falou das razões que ditaram a
reavaliação do avião e qual é a entidade
que fez a revisão, visto que
na Beira não existe uma empresa
qualificada para tal.
O avião caiu na serra Vumba cerca
de das 8:10 e a Força Aérea do
Zimbabwe iniciou as buscas às
09:00 horas.
OPresidente da África do Sul, Jacob Zuma, não participou,
na quarta-feira, nas exéquias fúnebres de
Ahmed Kathrada, um dos veteranos da luta pela libertação
daquele país, em cumprimento do desejo
manifestado pela família deste.
Zuma adiou o início da sessão do Conselho de Ministros no
mesmo dia, afirmando que a medida visava permitir que outros
membros do governo participassem nas cerimónias.
A ausência de Zuma nas cerimónias foi confirmada pelo seu
gabinete, “em cumprimento do desejo expresso pela família”.
Não se sabe quais terão sido as razões que levaram a família,
mas nos últimos tempos havia desavenças entre o Presidente
e Kathrada, tendo este chegado mesmo a sugerir que Zuma se
demitisse da Presidência.
O funeral de Kathrada teve lugar numa altura em que circulavam
rumores de que Zuma estaria a contemplar uma remodelação
ministerial, que incluiria a demissão do Ministro das
Finanças, Parvin Gordran, bem como do seu vice, Jonas Mcebisi.
No início da semana, os dois foram mandados regressar ao
país quando se encontravam numa campanha para a promoção
internacional da África do Sul, e que os levaria a Londres e
Washington.
Kathrada morreu na segunda-feira, e uma mensagem transmitida
na quarta-feira, Zuma disse: “A nação perdeu um dos seus
mais valiosos e respeitados combatentes pela liberdade, Ahmed
Mohamed Kathrada, um dos acusados no famoso julgamento
de Rivónia. A morte de Kathrada é uma perda monumental não
só para a sua família, mas também para todos os sul-africanos,
uma vez que ele era um dos mais destemidos e dedicados arquitectos
da África do Sul livre e democrática. Ele sacrificou
a sua liberdade pessoal e consentiu sacrifícios para a libertação
de toda a África do Sul e para a criação de uma África do Sul
democrática, não racial, pacífica e próspera”.
Kathrada era companheiro de Nelson Mandela, tendo ambos
sido presos e julgados pelo regime do apartheid no famoso julgamento
de Rivónia em 1964, no qual foram condenados à prisão
perpétua e encarcerados em Robben Island.
Na ausência forçada de Zuma, a delegação governamental ao
funeral foi liderada pelo vice-Presidente Cyril Ramaphosa.
Zuma impedido de participar
no funeral de Ahmed Kathrada
África do Sul
África do Sul
Devido a dificuldades de acesso à
região, foi necessário recorrer-se a
guinchos lançados por helicópteros
para permitir que os militares
acedessem ao local.
Em cumprimento das normas do
ICAO, a investigação do acidente
deverá ser feita pelas autoridades
zimbabueanos, cabendo ao
IACM o papel de observador.
*Dados adicionais da Redacção
TEMA DA SEMANA 4 Savana 31-03-2017
I
nsegurança, incerteza e desespero
é o cenário que o passageiro
vive cada vez que se vê
obrigado a viajar nos aviões das
Linhas Aéreas de Moçambique
(LAM), a única companhia aérea
a fazer o transporte de carga e de
passageiros no território moçambicano.
Tudo se deve a problemas técnicos
que se verificam nas aeronaves da
companhia, que já levaram passageiros
a ficarem em terra por mais
de 14 horas e outros a desistir da
viagem e exigir o reembolso do valor
de bilhete porque o avião falhou
descolagem por três vezes devido a
deficiências mecânicas.
No último domingo, 26, centenas
de passageiros ficaram retidos nos
aeroportos de Maputo, Nampula
e Lichinga porque a aeronave que
devia transportá-los não conseguiu
levantar o vôo depois de três tentativas.
A situação criou pânico e medo no
seio dos passageiros, facto que obrigou
alguns a pedir o reembolso do
valor dos seus bilhetes.
Segundo gestores da LAM, os
atrasos e adiamentos dos vôos devem-se
à inoperância de mais de
50% da frota da companhia. Neste
momento, das sete aeronaves de que
a LAM dispõe, quatro encontram-
-se avariadas.
A informação foi revelada, esta
quarta-feira, à Vice-ministra dos
Transportes e Comunicações, Manuela
Rebelo, aquando da visita
efectuada àquela empresa, para averiguar
a situação.
Um dos aparelhos que neste momento
voa na terra é o Boeing
737-700, a maior aeronave da companhia
com capacidade para transportar
142 passageiros. O aparelho
não opera há quatro dias e não há
previsões de quando estará pronto.
Em Janeiro último, o mesmo aparelho
esteve paralisado durante alguns
dias, devido aos problemas que teve
no nariz, quando descia para o aeroporto
de Tete.
“Estamos à espera das peças. Assim
que chegarem vamos começar com
a reparação, que poderá durar três
dias”, disse Pascoal Bernardo, Director
Técnico-Operacional.
O Boeing 737-700 foi adquirido
em Maio de 2014 em forma de leasing.
À imprensa, Manuela Rebelo explicou
que a paralisação das quatro
aeronaves deveu-se à política de segurança,
que constitui a “bandeira
da companhia”.
“Mesmo que seja o mínimo detalhe
é importante estar em terra para
que garantamos que os nossos passageiros
viajem seguros”, explicou.
A companhia não revela as consequências
financeiras do problema,
mas o SAVANA sabe que a paralisação
do Boeing 737-700 representa
a perda de 10 mil dólares/dia, o
equivalente a 700 mil meticais.
Gestores da companhia de bandeira sem mais espaço para continuar a esconder a crise
Aviões da LAM voam na terra
A visita de Manuela Rebelo foi
marcada pela ausência, em bloco,
dos membros do Conselho de
Administração daquela empresa
pública, facto minimizado pela governante.
“O Presidente do Conselho Executivo
(António Pinto) encontra-se
fora do país a buscar apoios para ver
se conseguimos melhorar a questão
da nossa frota. Mas, a Directora
Comercial e o Administrador
Técnico-Operacional encontram-se
aqui”, disse.
Contas mal paradas
A crise da LAM não é nova e de
2010 a esta parte já passaram por
aquela empresa três Conselhos de
Administração e a situação continua
a mesma.
Dados estatísticos referentes ao ano
de 2015 indicam que a empresa registou
prejuízos na ordem de 1,8 biliões
de meticais, depois do ano anterior
ter “aterrado” com proveitos
negativos de cerca de 900 milhões
de meticais.
As contas de 2016 ainda estão a ser
auditadas. Contudo, o SAVANA
sabe que o buraco é ainda maior.
Num passado não muito distante,
trabalhadores da empresa redigiram
uma missiva ao Primeiro-Ministro
Carlos Agostinho de Rosário, queixando-se
de uma alegada gestão
danosa.
Os trabalhadores alertaram o governo
para o facto de tripulantes
de alto gabarito estarem a rescindir
contratos de trabalho por causa de
um suposto mau ambiente laboral,
agravado pela ausência das políticas
de incentivo praticadas na indústria
da aviação civil.
Dizem, por exemplo, que a LAM
paga uma factura elevadíssima a
trabalhadores excedentários e reformados,
que em nada contribuem
para empresa em detrimento daqueles
que tudo fazem para manter
a empresa operacional.
De acordo com os queixosos, mesmo
nessa situação calamitosa, a
LAM continua a arrendar viaturas
e imóveis de luxo para os seus executivos.
Exemplificando, as fontes diziam
que a LAM gastou 2.940. 000,00
MT para pagar alojamento de Faizal
Abdulgafar Sacugy, administrador
Comercial e de Sistemas de
Informação, durante sete meses no
Hotel Cardoso.
A delegada da LAM em Sofala
também está a viver num hotel de
luxo na Beira há meses e o aluguer
da sua viatura custa à empresa cerca
de 2.520.000,00MT.
3DVVDJHLURVVDFULÀFDGRV
Devido ao elevado volume de gastos
em despesas consideradas supérfluas
e tendo em conta a frágil
situação financeira da empresa, a
LAM agravou o preço de bilhete
de passagem em mais de 65% em
2016.
Contudo, a alta de preço que o passageiro
paga pelo bilhete não é correspondido
pelos serviços prestados
pela empresa.
Em termos operacionais, a qualidade
de serviços registou uma queda
na ordem dos 90%.
Há pouco mais de um ano, o Primeiro-
Ministro, Carlos Agostinho
do Rosário, visitou a LAM, onde
recomendou que se fizesse uma
avaliação económico-Financeira
mais profunda e apresentar opções
a curto, médio e longo prazos, para
levar a empresa a níveis de rentabilidade
aceitáveis.
Para o efeito, a LAM lançou um
concurso para a contratação de
serviços de consultoria para a restruturação
da companhia. Segundo
documentos na nossa posse, foram
recebidas nove propostas das quais
quatro são de empresas domiciliadas
em Moçambique e igual número
de empresas estrangeiras.
O concurso foi ganho pela Lufthansa
Consulting e não há indica-
ções de que tenha começado a trabalhar,
numa proposta que deverá
custar à LAM USD434.500.
A LAM é uma empresa privada detida
maioritariamente pelo Estado
com 96% e pelos Gestores Técnicos
e Trabalhadores (GTT) com 4%.
Fly Africa retida na quarta
fase
A situação que se vive nos aeroportos
levantou o velho debate sobre a
liberalização do espaço aéreo nacional,
que apesar de estar aberto desde
2003, nenhuma companhia foi
licenciada.
No ano passado, o Instituto de
Aviação Civil de Moçambique
(IACM) anunciou que o mercado
doméstico estava prestes a ganhar
uma nova companhia, a Fly Africa,
de capitais da Nova Zelândia, facto
que ainda não se verificou.
Rebelo reitera que o espaço aéreo
nacional encontra-se liberalizado,
cabendo às companhias interessadas
em operar seguirem os trâmites
legais.
Questionado sobre o estágio de
licenciamento desta companhia,
o Presidente do IACM, João de
Abreu, disse que se encontra na fase
quatro.
“Ainda não conseguiu demonstrar
onde será a sede, onde vai ter os angares,
o corpo de manutenção, pilotos,
etc.”, enumera Abreu, acrescentando
que “não é só chegar aqui e
não ter uma sede e nem onde tratar
os equipamentos”.
“A aviação não é um hobby (passatempo),
é tratada de uma forma
profissional e por profissionais”,
afirma.
“As companhias buscam mais facilidades
que o cumprimento das
normas e o nosso lema é a seguran-
ça. Todas vêm a Moçambique com
vontade, mas quando se exige as
cinco fases (unidade, capacidade financeira,
administrativa, operacional,
etc.) terminam na fase quatro”,
relevou.
LAM torna-se, cada vez mais, num estaleiro que companhia aérea
3UHoRVGHSDVVDJHQVLQÁDFLRQDGRVJHVWmRGDQRVDPHWDGHGDVDHURQDYHVDYDULDGDVDWUDVRVHGHVSURJUDPDomRGHY{RVpRFHQiULRYLYLGRQD~QLca
companhia aérea comercial do país
Por Abílio Maolela
Ogrupo brasileiro Vale
concluiu a venda de
participações em activos
em Moçambique
ao grupo japonês Mitsui & Co,
indo receber um pagamento inicial
de 733 milhões de dólares,
anunciou o grupo mineiro em
comunicado divulgado segunda-
-feira.
O comunicado acrescenta que o
grupo Vale receberá um adicional
de 37 milhões de dólares quando
o financiamento para o projecto
carbonífero de Moatize, na província
de Tete, ficar concluído,
dispondo o grupo japonês da
opção de devolver a participação
caso tal não aconteça até Dezembro
próximo.
Após cerca de três anos de negociações,
o grupo Mitsui concordou
em comprar 15% da
participação de 95% detida pelo
grupo brasileiro na mina de carvão
de Moatize (os 5% restantes
são propriedade do Estado mo-
çambicano) e metade da participação
de 50% do grupo Vale no
Corredor Logístico de Nacala,
que compreende uma linha de
caminho-de-ferro entre Moatize
e Nacala e instalações portuárias.
Em comunicado divulgado em
Setembro de 2016, o grupo Vale
havia anunciado esperar vir a
receber 768 milhões de dólares
com a venda à japonesa Mitsui
& Co de participações na mina
de carvão de Moatize e no Corredor
Logístico de Nacala, em
Moçambique, ao abrigo do novos
termos do acordo originalmente
assinado em 2014.
Entretanto, o grupo Vale nomeou
um novo presidente executivo,
Fabio Schvartsman, que sucede
na condução dos negócios a Murilo
Ferreira.
À japonesa Mitsui
Vale conclui venda de parte dos
activos em Moçambique
Ilec Vilanculos
TEMA DA SEMANA Savana 31-03-2017 5
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TEMA DA SEMANA 6 Savana 31-03-2017 SOCIEDADE
Marina Augusto, juíza
de direito que julgou e
condenou à pena suspensa
de três anos e
quatro meses e uma indeminização
de mais de 200 milhões meticais ao
réu Rofino Licuco, por se ter provado
o seu envolvimento na prática do
crime de violência doméstica contra
Josina Machel, filha de Samora Machel,
antigo Presidente da República,
indeferiu o requerimento de pedido
de adiamento de liquidação da indeminização
até à decisão superior
e ordenou que o réu condenado proceda
ao pagamento de 200 milhões e
500 mil meticais de indeminização à
queixosa.
No despacho datado de 20 de Mar-
ço de 2017, Marina Augusto refere
que, no cumprimento do seu direito,
a defesa do réu solicitou junto ao Tribunal
o alargamento do prazo para
apresentação das alegações do recurso,
com o fundamento de se encontrar
na posse de duas decisões e, por
assim ser, não saber em qual se basear
para apresentar alegações.
Para a juíza, o pedido, para além de
não fazer menor sentido, não apresenta
qualquer fundamento legal.
Sem negar a existência de duas decisões
diferentes sobre o mesmo caso,
a magistrada diz que a sentença ora
junta aos autos é uma versão de tantas
feitas no referido processo e não
constitui a versão final.
“Veio o arguido através da sua advogada
juntar aos autos uma pretensa
cópia de sentença do presente processo.
No entanto, não consta dos autos
qualquer requerimento a solicitar
tal peça processual e sequer o despacho
do juiz a autorizar o que quer que
fosse.
O comportamento de quem quer que
seja é passível de constituir infracção
criminal, porquanto tal versão encontrava-se
no gabinete da juíza onde
ninguém poderia ter acesso senão por
vias ilegais”, diz a Juíza.
E acrescenta: “Pelo exposto, ordeno
que se extraiam cópias do presente
e da pretensa sentença junta e remetam-se
ao magistrado do ministério
público para procedimento criminal”.
Na fundamentação, a magistrada diz
que o prazo para apresentação das
alegações é de oito dias, contados da
data de notificação do despacho que
aceita o recurso, isto é, a 10 de Março
de 2017.
Assim, continua a magistrada, a defesa
não pode juntar aos autos um
documento obtido por vias ilegais,
uma vez que não se verifica nos autos
qualquer requerimento ou despacho
da juíza que autoriza e, com base no
mesmo, pretender obter efeitos lícitos.
Continua referindo que, pelo exposto
acima, e, porque o requerimento não
suspende a contagem de prazo para
apresentações de alegações do recurso,
a magistrada indeferiu o pedido
apresentado, mantendo-se em consequência
o prazo legal de oito dias.
Diz ainda que, no capítulo referente
à prestação de garantia bancária,
pedido da defesa do réu face à condenação,
também foi indeferido pelo
Ministério Público.
A magistrada refere que, nos termos
do artigo 34 número 3 da Lei número
29/2009 de 29 de Setembro, os
recursos nos processos de violência
doméstica têm efeitos devolutivos, o
que significa que a interposição de
recurso não tem efeito suspensivo
quanto à execução da decisão recorrida.
Nessa linha, a defesa, ao solicitar a
prestação de caução mediante garantia
bancária, indicando que a mesma
seja accionada mediante a decisão de
tribunal superior põe em causa os
efeitos fixados na lei.
“O legislador, ao estabelecer os efeitos
devolutivos em matéria de recursos
nos processos de violência doméstica,
visou garantir que a decisão
obtida no âmbito de um processo que
se assume de natureza urgente fosse
de imediato executada e não estivesse
a mercê das demoras normais processuais”,
lê-se na decisão da magistrada.
Acrescenta que, por outro lado, da
análise do número 4 do artigo 98 do
Código Penal, verifica-se que o legislador
faz depender a execução da
pena fixada ao pagamento efectivo e
não garantia de pagamento.
No que concerne aos requerimentos
dirigidos ao presidente do Conselho
Superior da Magistratura Judicial
(CSMJ) bem como à Procuradoria da
cidade de Maputo, a magistrada diz
que se abstém de pronunciar e ordena
a sua retirada do processo.
Recordar que, a 21 de Fevereiro último,
numa sentença lida em sessão
pública pela juíza presidente da 3ª
Sessão do Tribunal Judicial do distrito
municipal KaMpfumo proclamava,
solenemente, que “(…) os
juízes deste Tribunal acordaram, por
unanimidade, e em nome da Repú-
blica de Moçambique, em condenar
o réu Rofino Felisberto Licuco (…)
na pena única de três anos e quatro
meses de prisão maior e seis meses
de multa, à taxa diária de 157.60,
00Mt, pena esta que nos termos do
art. 98, n° 4, do C. Penal, suspende
por um período de cinco anos. Condeno
ainda o réu nos termos do art.
34 do C. P. Penal, no pagamento de
uma indemnização a favor da vítima,
a título de danos patrimoniais que se
fixa em 579.919,33 Mt e a título de
danos não patrimoniais, que se fixa
em 200.000.000,00 Mt. Fixo o má-
ximo de imposto de justiça. Boletins
ao Registo Criminal com cópias ao
Arquivo Central da PIC. Registe e
notifique. Maputo, 21 de Fevereiro
de 2017”.
Sucede que o prazo dos 30 dias não
consta da sentença lida e assinada
pelo colectivo de juízes e notificada
às partes interessadas, conforme atesta
uma das cópias a que o SAVANA
teve acesso.
Face a estas disparidades, a defesa
pediu para que lhe fosse mostrado o
processo a fim de comparar o conteú-
do da certidão que lhe tinha sido entregue
com a sentença, efectivamente,
notificada às partes, aquela que foi
lida na sala e que era suposto ter sido,
imediatamente, anexa ao processo.
A defesa diz ter ficado espantada
quando lhe foi informada que, por
ordens da juíza, o documento lido na
sala não deveria ser junto ao processo,
mas sim guardado na gaveta para evitar
o seu extravio. Dito e feito, ao que
a defesa apurou, pelo menos até 14
de Março, nenhuma sentença estava
junta ao processo.
0DJLVWUDGDLQGHIHUHRUHTXHULPHQWRGHDSHORGDGHIHVDGH5RÀQR/LFXFR
-Xt]DRUGHQDSDJDPHQWRGHLQGHPQL]DomRjÀOKDGH0DFKHO
(GL]TXHDVHQWHQoDRUDMXQWDDRVDXWRVIRLREWLGDSRUYLDVLOHJDLVHDSHODj3*5SDUDGHVFODVVLÀFiOD
Por Raul Senda
-Xt]D0DULQD$XJXVWRUHLWHUDTXHDSHVDUGRUHFXUVR5RÀQR/LFXFRGHYHUiSDJDUD
indemnização
Ilec Vilanculo
SOCIEDADE Savana 31-03-2017 7
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TEMA DA SEMANA 8 Savana 31-03-2017
A Suécia tem uma longa e próxima relação com Moçambique. A cooperação para
o desenvolvimento, o diálogo e a promoção do comércio são temas centrais parte
da colaboração Sueca - Moçambicana. Actualmente a Embaixada emprega mais
de 30 colaboradores.
A cooperação Sueca com Moçambique visa melhorar as oportunidades das pessoDVYLYHQGRQDSREUH]DSDUDTXHDVPHVPDVFRQWULEXDPHVHEHQHÀFLHPGRGHVHQvolvimento
económico e democrático. O meio ambiente & mudanças climáticas,
democracia& direitos humanos, e o crescimento inclusivo são as principais áreas
de cooperação parte do período de implementação da actual estratégia (2015-
2020). Destaque é dado para o meio ambiente & mudanças climáticas, incluindo
energia renovável, neste contexto a Embaixada da Suécia está actualmente a recruWDUXP2ÀFLDO1DFLRQDOSDUDDiUHDGHHQHUJLDUHQRYiYHODPELHQWHHPXGDQoDV
climáticas.
O acesso a energia renovável é importante para a agenda de mudanças climáticase
uma pré condição necessária para o desenvolvimento sustentável e redução da
pobreza. Existe muita informação evidente sobre a importância da energia para
a criação de oportunidades de emprego, educação e saúde. A Embaixada da Su-
écia, através da cooperação para o desenvolvimento tem um portfolio de energia
extenso e tem apoiado o sector de energia em Moçambique há aproximadamente
40 anos.
O portfolio existente está em processo de reformulação para incluir também contribuições
fora da rede que complementam as extensões anteriores e em curso
GDHOHFWULÀFDomRGHUHGHUXUDOUHIRUoDURVLQYHVWLPHQWRVQDJHUDomRGHHQHUJLD
apoiar a capacitação institucional e o desenvolvimento antecipado de projectos,
bem como endereçar as ligações aos usos produtivos da energia.
&RPRRVGHVDÀRVDPELHQWDLVVmRJHUDOPHQWHLQWHUGHSHQGHQWHVHPXWXDPHQWHUHforçados,
a Embaixada reconhece que a energia, terra e a água têm que ser abordados
de forma integrada, e que o acesso igual das mulheres tem que ser asseguraGR22ÀFLDOGH3URJUDPDGHYHUiFRQWULEXLUSDUDRGHVHQYROYLPHQWRGRSRUWIROLR
e gerir programas e políticas de diálogo relacionadas com a energia em particular
e o meio ambiente, mudanças climáticas e a integração da perspectiva do genero
HPJHUDO'HVWDIRUPDHVSHUDVHTXHR2ÀFLDOGH3URJUDPDVHMDXPDIRUoDPRWUL]
dentro da sua área de especialidade e coordenação com o governo, OSCs e outros
SDUFHLURVGHFRRSHUDomRHPFRQIRUPLGDGHFRPDDJHQGDGHDMXGDHÀFD]
4XDOLÀFDo}HVH[LJLGDVDRFDQGLGDWRD
*UDXGHPHVWUDGRHPiUHDUHOHYDQWHSDUDDSRVLomR
3HORPHQRVDQRVGHH[SHULrQFLDGHWUDEDOKRQDiUHDGHHQHUJLDPHLRDPELHQWHHRXPXGDQoDVFOLPiWLFRV
([SHULrQFLD FRPSURYDGDHP JHVWmRGHSURMHFWRVLQFOXLQGR JHVWmRÀQDQFHLUD
SURFXUHPHQWPRQLWRULDHDYDOLDomR
([FHOHQWHÁXrQFLDRUDOHHVFULWDGDOtQJXDLQJOHVDHSRUWXJXrVDDVVLPFRPRKDbilidades
comunicação verbal.
Constitui uma vantagem se o candidato(a) tiver experiência comprovada emtrabalhar
com cooperação para o desenvolvimento.
Espera-se- ainda que o (a) candidato(a) seja/tenha:
&DSD]GHUHVROYHUSUREOHPDVDQDOtWLFRHGLVSRVLomRjDSUHQGL]DJHP
2ULHQWDGRSDUDUHVXOWDGRV
7HUFRQKHFLPHQWRVVyOLGRVQDDERUGDJHPGHJrQHURHGLUHLWRVKXPDQRV
- Motivar a cultura de trabalhar em equipa
A posição também exige com que o candidato tenha disponibilidade para realizar
frequentes viagens de trabalho.
O candidato seleccionado deverá reger-se pelos valores da Embaixada relacionados
com o respeito e sensibilidade perante as diferenças do género, cultura e
religião.
As candidaturas, incluindo uma carta de motivação em Inglês e o CV deverão ser
submetidas via e - mail para ambassaden.maputo@gov.se e o assunto (subject)
deverá indicar a posição a que se candidata. Último dia para a submissão é até ao
dia 7 de Abril de 2017.
Todos os candidatos deverão ter a nacionalidade Moçambicana ou residência vá-
lida e visto de trabalho.
3DUDPDLVLQIRUPDo}HVSRUIDYRUFRQWDFWHD&KHIH$GMXQWDGH&RRSHUDomRD6UD
Cristina de Carvalho Erikssonou a Coordenadora Responsável pela área do Meio
Ambiente e Mudanças Climáticas, a Sra. Elisabeth Ilskog pelo número: +258 21
480 300.
2ÀFLDOGH3URJUDPDSDUD(QHUJLD5HQRYiYHO
0HLR$PELHQWHH0XGDQoDV&OLPiWLFDV
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Savana 31-03-2017 9
SOCIEDADE
27 de Março a 2 Abril
GLOBAL
MONEY
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ç
Faça parte desta iniciativa Mundial. Para saber como,
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10 Savana 31-03-2017 SOCIEDADE
Ogrosso de deslocados da
reedição, em 2016, do
conflito político-militar
entre o Governo e a Renamo,
maior partido da oposição,
na província de Manica, estão indecisos
quanto ao regresso às suas
casas, muitas das quais em zonas
severamente atingidas por hostilidades
militares, após três meses da
vigência da trégua, que assiste um
segundo prolongamento de dois
meses até 4 de Maio.
Com profundos relatos saudosos,
algumas vítimas do conflito, que
desta vez exteriorizou mais o ódio
político, afirmam que não vão regressar
mais à origem, por recear
uma outra eclosão das hostilidades,
preferindo instalar-se de forma de-
finitiva nos centros de acomodação.
“Pensar em voltar, não, eu já não
consigo voltar”, diz com precisão
Maria Jerónimo, uma deslocada no
campo de acomodação de Vanduzi,
desde Setembro de 2016, com 10
membros da família, justificando
que pode não conseguir repetir a
sorte que teve de escapar da guerra,
em caso de uma nova eclosão.
Muito simpática com o apoio do
Governo, largamente criticado entre
os deslocados, Maria afiança
que seria trabalhoso ter de reintegrar
as crianças nas escolas de
Nhamatema (Báruè), de onde fugiu
com seus parentes, uma zona
que tem ressuscitado desde o início
de Fevereiro.
Fátima Mateus, outra vítima, repete
copiosamente a justificação de
Jerónimo e, mesmo sem perspectivas
de ter um terreno para uma
instalação definitiva, ela assegura
que não pretende regressar à casa,
mesmo depois de se alcançar uma
paz definitiva entre as partes beligerantes.
“É que nós não sabemos o que pensam
esses políticos”, declarou Fátima
Mateus, que ainda é fustigada
por lembranças de boa vida deixada
para trás devido à guerra, perante
uma crítica situação da fome e falta
de água no campo de deslocados de
Vanduzi.
Uma nuvem escura no ar atormenta
Fátima Mateus, por sua tenda
estar a admitir água, um desespero
que desce em cascata para os seis
membros da família que partilham
uma minúscula tenda de aproximadamente
quatro metros quadrados.
Um outro grupo se opõe às motiva-
ções para uma instalação definitiva
nas tendas e busca oportunidades
para regressar, mas avisa que há
necessidade de um acordo de paz
entre as partes, para que sejam criadas
as condições de segurança para
o seu retorno, por considerar desumano
o estilo de vida nos centros
de acomodação.
António Fan e Abel João fugiram
da mesma zona do Púnguè sul em
Fevereiro. Fan diz que mesmo com
um acordo de paz não pensa em regressar
mais à origem, porque ficou
traumatizado com as hostilidades
militares durante o conflito, além
de não conhecer as intenções dos
políticos com os acordos de Paz.
Já Abel João está a preparar o regresso
à casa, porque a vida confi-
nada nas tendas do campo de acomodação
não se adequa aos seus
objectivos de produzir alimentos e
dar uma vida melhor à sua família
de seis membros, albergada numa
tenda do centro.
“Se o acordo for mesmo alcançado,
eu vou regressar à casa, porque não
estou habituado a uma vida confi-
nada”, disse Abel João, apontando
com a mão as “vidas acabadas” no
Apesar de três meses de trégua divididos em duas prorrogações
Deslocados indecisos
Por André Catueira
Savana 31-03-2017 11 SOCIEDADE
centro devido à falta de perspectivas.
Não existem estatísticas oficiais do
número de deslocados que deixaram
os centros de acomodação para
regressarem as suas casas, mas vá-
rias tendas nos seis centros de acomodação
instalados pelo Governo,
através do Instituto Nacional de
Gestão de Calamidades (INGC),
estão vazias.
Em Vanduzi, as entradas de pico
foram em Outubro, quando durante
duas semanas da abertura do
centro registou-se 1.016 deslocados
oriundos de 11 zonas, perfazendo
125 famílias, até 21 de Outubro de
2016. Esta semana, foram contabilizados
583 deslocados de guerra
no centro de Vanduzi.
Os gestores do centro de acomodação
de Vanduzi, o terceiro maior
centro que aloja deslocados de
guerra em Manica, afirmam que
muitos dos deslocados estão indecisos
em regressar à casa, mas o
grosso esta dividido entre ficar e
sair das tendas.
“Aqui temos algumas pessoas, que
com essa trégua voltaram para os
seus trabalhos e outros foram organizar
as suas casas, para quando for
alcançado um acordo de paz, possam
voltar a viver lá”, disse Domingo
Janeiro, líder das tendas, afian-
çando que outro grupo de pessoas
“está a dizer não, já não queremos
voltar porque podemos repetir o
sofrimento por duas vezes, pois não
sabemos o que pensam os políticos,
podem querer repetir a guerra”.
Ao que apurou o SAVANA de
outros deslocados no local, muitos
estão a ser aliciados para não regressarem,
supostamente para não
voltarem a dar sustento aos guerrilheiros
da Renamo nas suas comunidades.
Outros não regressam, sob
promessa de serem usados nas pró-
ximas eleições autárquicas e gerais.
Moçambique vive o primeiro período,
de mais um prolongamento
de 60 dias, até 4 de Maio, da tré-
gua declarada pelo líder da Renamo,
Afonso Dhlakama, dando fim
às hostilidades militares na região
centro de Moçambique.
Abandonado
Pelo menos 87% dos deslocados integrados
num plano agrário estatal,
para sua independência alimentar,
abandonaram a iniciativa no campo
de Vanduzi, em Manica, centro de
Moçambique, por considerar “mal
concebida”.
As vítimas do conflito político-
-militar entre o Governo e a Renamo
receberam porções de um
hectare de terra por família para
produzir comida e combater fome
nas vésperas da campanha agrícola
2016/17, mas só receberam sementes
este mês, já na fase de colheitas,
explicou Domingo Janeiro, gestor
do centro.
No total, 79 famílias, que perfazem
583 deslocados, actualmente
no centro de acomodação de Vanduzi,
receberam terra para prática
da agricultura entre Outubro a
Dezembro, para suprir o défice e
criar independência alimentar na
comida distribuída pelo Instituto
Nacional de Gestão de Calamidades
(INGC). Entretanto, 69 famí-
lias abandonaram o plano este mês,
ao concluir que a iniciativa foi “mal
concebida”.
“Das 79 famílias que tinham recebido
machambas, 69 abandonaram
o plano de produzir por causa da
distância aos campos (quintas) e
também por falta de sementes e
distribuição tardia de sementes
pelo Governo”, disse Domingo Janeiro,
sustentando que a semente
só chegou na semana passada aos
deslocados, já fora da época para
agricultura de sequeiro.
Os deslocados entendem que as
oito horas diárias que percorrem
entre o centro de acomodação aos
campos de cultivo e a distribuição,
pelo Governo, de semente fora da
época, tornam insustentável a campanha
de produção, o que seria um
esforço em vão, e apelam que o Governo
reveja a sua política de apoio
ao grupo.
O responsável do centro disse que
as nove famílias – uma família regressou
a origem - que prometeram
continuar com o plano estatal, receberam,
semana passada, do Governo,
10 quilogramas de sementes de
cereais e leguminosas para lançar à
terra, quando já iniciou a colheita
de parte destas culturas.
As restantes 69 famílias que desistiram
do plano, disse Domingo
Janeiro, receberam três quilos de
sementes, para que desenrasquem
novos campos e façam a produção,
apesar da iminência da fome aguda.
“A fome ainda assola de forma severa
os deslocados”, declarou Domingo
Janeiro, considerando também
que, com a distribuição tardia
das sementes, não se pode esperar
nenhuma produção, sobretudo de
milho, o que faz com que os deslocados
tenham ainda dependência
única do apoio do Governo.
A última distribuição de alimento
foi feita a 15 de Fevereiro e até
24 de Março os deslocados não
haviam sido reabastecidos pelo
programa de apoio do INGC, que
também não disponibiliza água aos
deslocados há mais de um mês.
Entretanto, os deslocados justi-
ficam a desistência com a inconsistência
do programa agrário do
Governo, que apenas gastaria a sua
força, sem resultados produtivos, e
apelam para iniciativas sustentáveis
na busca pela sua independência
alimentar.
Maria Jerónimo, que continua no
plano estatal, e Fátima Mateus, que
desistiu da iniciativa, são unânimes
em afirmar que, fora da época
para agricultura de sequeiro, nada
se pode esperar como produção. O
Governo, através do INGC, ainda
não se pronunciou.
Três após meses da declaração de tréguas, deslocados do campo de acomodação
de Vanduzi continuam indecisos
12 Savana 31-03-2017 SOCIEDADE SOCIEDADE
Criada em 1982 com a
missão de trabalhar no
espírito humanista e solidário
para promover o desenvolvimento
económico e social
equitativo entre os povos, a Associação
Ajuda de Desenvolvimento
de Povo para o Povo (ADPP)
completa 35 anos de actividades em
Moçambique.
Em entrevista ao SAVANA, Birgit
Holm, directora executiva da
ADPP Moçambique, disse que a
organização desenvolve actividades
no sector da educação, saúde,
agricultura e desenvolvimento rural
bem como no sector de energias renováveis.
Contudo, o maior enfoque
vai para os capítulos de melhoria de
qualidade de educação no ensino
primário, luta contra o HIV/SIDA,
tuberculose bem como aumento de
segurança alimentar e dos meios de
subsistência nas áreas rurais do país.
Para a execução das suas actividades,
a ADPP conta com um orçamento
anual de cerca de 24 milhões de dó-
lares norte-americanos.
A entrevistada contou-nos que a
organização chegou à região austral
de África em 1980 proveniente
da Escandinávia com objectivo de
apoiar refugiados zimbabueanos em
Moçambique.
Após a materialização da independência
zimbabueana em 1980,
em 1982, a ADPP transformou-se
numa organização moçambicana e
alistou-se no grupo de movimentos
que lutavam contra atrocidades cometidas
pelo apartheid na região.
Além de ajudar os povos da região
austral de África na luta contra as
sevícias do governo segregacionista
da África do Sul, a ADPP, em coordenação
com o Governo de Mo-
çambique, virou os holofotes para o
desenvolvimento de programas que
pudessem ajudar as comunidades
rurais a melhorar as suas vidas.
De acordo com Birgit Holm, foi
nessa senda que, por indicação do
Governo, a ADPP iniciou suas actividades
apoiando o sector pesqueiro,
sobretudo na dotação de habilidades
aos pescadores a fim de melhorarem
a qualidade e aumentarem a produ-
ção.
Porém, devido ao seu comprometimento
com a construção do homem
através da educação, a ADPP, nas
actividades que desenvolvia com os
pescadores, introduziu a alfabetiza-
ção de adultos, visto que a maioria
não sabia ler nem escrever o que
podia dificultar a sua integração nos
mercados.
Conta Birgit Holm que, ciente de
que o sucesso de qualquer actividade
desenvolvimentista depende da formação
do homem, a ADPP virou as
suas atenções para este sector e, em
1984, abriu a primeira escola técnica
convencional no distrito de Matutuine,
província de Maputo.
Porém, devido ao conflito armado, a
escola foi transferida para a zona da
Machava no Município da Matola.
A partir dessa altura, a ADPP lan-
çou-se afincadamente no sector da
educação onde, para além do ensino
técnico vocacional, também apostou
na educação de crianças órfãs e vulneráveis
devido à guerra.
“Apostamos na educação por acreditarmos
que esta é uma das formas
mais importantes de investir no
desenvolvimento de Moçambique”,
frisou.
Birgit Holm referiu que, de 1984 a
esta parte, cerca de cinco mil técnicos
básicos e médios foram formados
nas escolas técnicas da ADPP
em todo o país.
No sector da educação, as actividades
da ADPP não se limitam apenas
à formação de técnicos de diferentes
áreas profissionais, mas também de
professores.
Em 1992, a organização introduziu
o curso de formação de professores
primários. Neste momento, são 11
centros de formação de professores
espalhados pelo país com um total
de dois mil alunos.
De acordo com Holm, em 24 anos, a
ADDP formou e entrou ao sistema
nacional de educação cerca de 17
mil professores.
Ainda no domínio da formação, em
2005 criou-se a OWU – One World
University (Instituto Superior de
Ensino e Tecnologia - ISET), que
já colocou no mercado um total de
747 bacharéis e licenciados em pedagogia
e Desenvolvimento comunitário.
No sector da saúde, a organização
está a trabalhar na luta contra o
HIV/SIDA, malária, tuberculose e
desnutrição infantil.
Estas epidemias foram eleitas pelo
facto de constituírem parte dos
principais desafios de saúde pública
que impedem o desenvolvimento
económico e social do país.
Conta Birgit Holm que, no que
concerne à epidemia de HIV/
SIDA, a sua organização está a trabalhar
na prevenção e na prestação
de cuidados intensivos através da
mobilização comunitária.
No caso concreto da tuberculose, a
organização apostou em campanhas
porta-a-porta onde sensibiliza as
comunidades a combater e controlar
a doença. Para tal, recorrendo a
activistas, a ADPP sensibiliza as comunidades
a aumentar o diagnóstico
precoce, a aderir ao tratamento e
fortalecer os serviços de saúde bem
como melhorar o acesso ao tratamento.
A nossa entrevistada sublinha que a
sua organização também está apostada
no combate à pobreza através
da agricultura.
Nessa senda, a ADPP tem sido activa
na promoção de práticas agrícolas
sustentáveis, desenvolvendo a produtividade
agrícola e melhorando os
meios de subsistência de pequenos
agricultores.
Segundo a directora Executiva da
ADPP em Moçambique, o desenvolvimento
de projectos no sector
agrícola iniciou em 1993 com o estabelecimento
do Centro de Caju e
Desenvolvimento Rural em Nampula.
“Inicialmente, no sector agrário, desenvolvemos
nossas actividades em
sete províncias, mas neste momento
estamos a trabalhar apenas nas províncias
da Sofala Zambézia, Cabo
Delgado e Tete onde trabalhamos
com 350 associações de agricultores”,
disse.
A nossa interlocutora frisou que
a sua organização intervém na organização
dos camponeses, treinamento
em técnicas agrícolas e no
agro-processamento, na distribuição
de insumos agrícolas e na melhoria
do acesso à água para irrigação e aos
mercados locais por parte de agricultores.
Com vista a tornar esta actividade
viável, a ADPP criou um projecto
denominado clube de agricultores.
Segundo Birgit Holm esta iniciativa
tem por objectivo a criação de
riqueza entre pequenos agricultores,
aumentando a segurança alimentar
e a melhoria das condições de vida
dos pequenos agricultores das províncias
da Zambézia, Tete e Cabo
Delgado e Sofala.
“Ao apoio agrícola também se juntam
as actividades educativas através
da alfabetização. Um agricultor
que não sabe ler nem escrever tem
muitas limitações, tem dificuldades
de negociar a comercialização
do seu produto. É por isso que em
todas as nossas actividades sempre
juntamos a componente educação”,
disse.
Alimentação escolar e o
combate à desnutrição
infantil
A fim de combater os problemas
de desnutrição infantil, aumentar
o aproveitamento académico e incentivar
crianças a ter paixão pela
escola, a ADPP em parceria com a
Planet Aid, uma organização não
governamental norte-americana,
está, desde 2013, a desenvolver um
Programa de Alimentação Escolar.
A iniciativa é desenvolvida em 269
escolas dos distritos de Matutuine,
Moamba, Magude e Manhiça e
consiste na distribuição de lanche
escolar a mais de 79 mil crianças.
Isaías Wate, coordenador do Programa
de Alimentação Escolar na
ADPP, contou ao SAVANA que,
para além de alimentação escolar, o
programa visa melhorar o desempenho
escolar através da assiduidade e
melhoria das habilidades de leitura
e escrita.
Neste domínio, a componente de
literacia está a desenvolver um programa
de reforço da leitura para as
primeiras classes em língua materna
que começou este ano em 63 das
269 escolas.
Sublinhou que também abarca as
componentes de água e saneamento,
construção de cozinhas e armazéns,
clubes de actividades extracurriculares,
hortas escolares, literacia e educação
nutricional.
Financiado pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos
da América (USDA), o programa é
implementado em colaboração com
o Ministério de Educação e Desenvolvimento
Humano de Moçambique.
Segundo Isaías Wate, mais de 12
milhões de refeições são distribuídas
anualmente às crianças dos quatro
distritos da província de Maputo.
“A componente alimentação motiva
os alunos a irem à escola, melhoram
a frequência, ajuda a aumentar a
atenção do aluno durante as aulas e
apoia o desenvolvimento cognitivo
global”, disse.
Segundo Wate, para viabilizar a sua
implementação, o programa criou
comités de alimentação escolar, que
contam, dentre os seus membros,
com professores, pais, membros de
comunidade e as próprias crianças.
São estes comités que se responsabilizam
pela preparação e distribuição
de refeições.
Para incentivar os encarregados de
educação que de forma voluntária se
disponibilizam a preparar refeições
para os alunos, o programa distribui
mensalmente sabão e capulanas para
as perto de 5300 voluntárias. Paralelamente,
são efectuados testes peri-
ódicos de tuberculose às cozinheiras
e às crianças é feita a desparasitação.
Conta Wate que, no que diz respeito
à água e saneamento, há a destacar
a construção ou reabilitação de 324
sistemas de água potável, o que permitiu
alcançar 227 escolas com fontes
de água limpas e seguras.
A instalação destes sistemas é
acompanhada de uma componente
de educação sanitária, com o envolvimento
dos professores e da comunidade.
Recordar que a ADPP Moçambique
implementa actualmente mais
de 60 projectos que abrangem todas
as províncias do país e conta com
cerca de três mil colaboradores beneficiando
anualmente mais de dois
milhões de moçambicanos.
Directora da ADPP fala dos 35 anos da organização em Moçambique
“Apostar na educação é investir no
desenvolvimento do país”
Por Raul Senda
Isaías Wate diz que o programa alimentação escolar está a melhorar o desempenho
escolar das crianças
“Apostamos na educação por acreditarmos que esta é uma das formas mais
importantes de investir no desenvolvimento de Moçambique”, Birgit Holm
Savana 31-03-2017 13 SOCIEDADE
Comissão Liquidatária
Convite para submissão de propostas para aquisição de Agências do
Nosso Banco, SA – Sociedade em Liquidação
PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE ENTREGA DE PROPOSTAS
No âmbito do Processo de Liquidação do Nosso Banco, SA e a pedido dos
interessados, a Comissão Liquidatária vem, por este meio, informar que o
prazo de entrega das propostas para aquisição da posição contratual e ou
compra dos Balcões abaixo discriminados, foi prorrogado por mais duas
semanas contadas a partir de 31 de Março de 2017:
1. Balcão Julius Nyerere – Avenida Julius Nyerere, Cidade de Maputo
2. Balcão Limpopo – Avenida Limpopo, junto do edifício do INSS, Cidade
de Maputo
3. Balcão Eduardo Mondlane – Av. Eduardo Mondlane, Cidade de Maputo
4. Balcão Joe Slovo – Rua Joe Slovo (Ex Rua Joaquim Lapa), Cidade de
Maputo
5. Balcão de Pemba – Cidade de Pemba, Província de Cabo Delgado
6. Balcão de Nangade – Sede do Distrito de Nangade, Província de Cabo
Delgado
7. Balcão de Nampula – Cidade de Nampula, Província de Nampula
8. Balcão de Mecubúri – Sede do Distrito de Mecubúri, Província de
Nampula
As propostas deverão ser submetidas, em carta fechada, à Comissão
Liquidatária do Nosso Banco, SA - Sociedade em Liquidação, na Av. 24 Julho,
no 3549, Edifício - Sede do INSS, 4º Andar, até às 17:00 horas do dia 14
de Abril de 2017, em Maputo.
Mais informações poderão ser obtidas no mesmo endereço, das 8:00 às
17:00 horas, ou pelo contacto 21407979/80.
Maputo, 29 de Março 2017
Sociedade em Liquidação
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14 Savana 31-03-2017 Savana 31-03-2017 15
NO CENTRO DO FURACÃO
Antes de partir, nesta
quinta-feira, para sua
nova missão em Nova
York, nos Estados Unidos
da América (EUA), onde vai
representar o seu país no Conselho
de Segurança das Nações
Unidas (ONU), a embaixadora
da Suécia, Irina Nyoni, concedeu
uma entrevista ao SAVANA, na
qual pede paciência ao povo mo-
çambicano, aos investidores e doadores,
afirmando que a auditoria
internacional independente está
bem encaminhada e não há motivos
de alarme. A diplomata diz
que esta foi a última prorrogação
do prazo (até 28 de Abril) para a
Kroll entregar o relatório final à
Procuradoria Geral da República
(PGR), entidade que tem a missão
de divulgá-lo.
Nyoni explicou que, numa primeira
fase, a PGR deverá publicar
um sumário executivo do trabalho,
sendo que 90 dias depois deverá
publicar o relatório final, que,
segundo os termos de referência
acordados entre as partes, não inclui
a divulgação dos nomes dos
orquestradores das dívidas ocultas
estimadas em mais USD 1.4 mil
milhões, avalizadas pelo Estado
a favor das empresas EMATUM,
MAM e ProÍndicus, e muitos menos
a informação militar classificada.
Alega a embaixadora que, paralelamente
a auditoria, a PGR está
a fazer as suas investigações para
averiguar se houve ou não prática
de factos que consubstanciam crime
para levar os infractores à barra
do tribunal. Deste modo, não
seria razoável publicar o relatório
final antes da conclusão das investigações
da PGR.
Contudo, diz esperar bom senso
das autoridades moçambicanas
para levarem à barra do tribunal
os infractores e responsabilizá-los
pelas suas práticas, uma vez que
não há nada escrito que garante
que o Governo vai seguir esse
caminho. Siga a entrevista nas linhas
abaixo.
Já de malas aviadas para uma nova
missão, depois de dois anos e seis
meses de trabalho em Moçambique,
que balanço faz do seu trabalho?
Em primeiro lugar, sinto-me um
pouco triste porque estou a sair
mais cedo do que havia sido planejado.
Tinha um contrato de quatro
anos, mas, como sabes, a vida diplomática
muda a qualquer momento.
O meu ministro das Relações Exteriores
enviou-me a Nova York,
nos Estados Unidos da América
(EUA), para integrar o Conselho
de Segurança das Nações Unidas
(ONU), dado que a Suécia foi eleita
para um mandato de dois anos.
Indo a tua pergunta, foram dois
anos e seis meses muito intensivos e
interessantes. Quando cheguei em
Setembro de 2014, havia um discurso
de muita esperança quanto ao
futuro. A economia estava a crescer
num bom ritmo, as eleições estavam
prestes a realizar-se. Depois entrou
um novo Governo com muitas expectativas.
No discurso inaugural,
o presidente Filipe Nyusi abordou
aspectos que as pessoas queriam
ouvir, mas que também constituíam
prioridades do país. Havia também
um cenário de crises em todo o
lado: crise política, crise económica,
cheias e depois a seca. Agora parece
que está tudo de novo a caminhar
para a crise política e económica.
O que lhe marcou pela positiva e
pela negativa?
O povo tocou-me muito, porque é
caloroso, carinhoso, aberto, criativo,
sabe estar em diferentes momentos.
Isso foi impressionante. Pela negativa
foi a corrupção. Hoje em dia o
mundo tem de tomar decisões informadas
e sinto que isso é difícil
aqui, há dificuldades em modernizar-se.
Noto que há uma vontade
de mudar, mas os processos demoram
muito. Há muita burocracia.
Há ainda o choque que tivemos
com as dívidas escondidas. Não há
coisa negativa que depois não tem
influências positivas.
A promoção da transparência e
boa governação é um dos focos da
cooperação entre Moçambique e
Suécia. Que avaliação faz do desempenho
de Moçambique nestes
capítulos?
O que é importante é que nós falamos
desses assuntos. O facto de
se ter abertura para falar e discutir
o significado disto para o país,
como está a andar, se temos ou não
transparência, o que podemos fazer
para ter mais transparência e o que
fazer para minimizar a corrupção,
é muito importante e esse diálogo
já existe. Enquanto esse debate não
existia, havia motivos de preocupa-
ção, mas agora existe e há uma vontade
de falar, pelo menos para nós
estrangeiros no mínimo, pode não
ser para todos e eu entendo. Não
sinto que essa seja uma área sensí-
vel de discutir com qualquer parte
da sociedade.
Temos essa discussão com este Governo,
o Presidente e o ministro
Adriano Maleiane dizem que temos
de trabalhar para acabar com
a corrupção.
Sentiu alguma melhoria ou retrocesso
nesse capítulo de transparência
e de boa governação?
Uma coisa que aconteceu após a
minha chegada em Moçambique
foi a aprovação da Lei do Direito
à Informação em Novembro de
2014. É uma lei única e importante
de usar, nos encontros que mantenho
com os parceiros da Sociedade
Civil, eles mostram-se satisfeitos
com a lei, mas reclamam que ainda
não há muita transparência. Isso
significa que de um lado já se usa a
lei. Se os moçambicanos não usam
os instrumentos que já existem é
claro que não vão desenvolver. Então,
tem de mostrar que essas coisas
são importantes e nós vamos
exigir esses direitos. Há que notar
que em caso de conflito militar e
crise política, como se verificou no
último ano, regra geral, os Governos
são mais fechados e nervosos
e Moçambique não fugiu à regra.
No entanto, espero que quando a
situação melhorar esse fechamento
desapareça.
Dizia que o actual Governo mostra
abertura para a questão de
transparência e boa governação.
Com a informação que tem disponível
do mandato anterior, qual
dos presidentes, entre Guebuza e
Nyusi, mostra-se comprometido
com a promoção da boa governa-
ção e transparência?
Não seria justo fazer essa compara-
ção porque tive pouco tempo com
o Presidente Guebuza. O mais
importante é que agora temos um
bom diálogo com o Governo sobre
esses assuntos. Temos algumas áreas
em que a Suécia e Moçambique
estão a trabalhar juntos e colocamos
a mesma importância em algumas
áreas. Fazemos uma ligação dessas
áreas com o desenvolvimento em
geral no meu país e aqui sentimos
que não estamos no mesmo caminho,
não estamos em concordância
que essas coisas são importantes.
Pode ser que não estejamos a dar
os mesmos passos, porque é normal
um estar ligeiramente a frente
e outro atrás, mas acho que temos
de concordar que o caminho é uma
determinada direcção.
Falo de áreas como igualdade de
género, por exemplo, em que se
você não tem os direitos das mulheres,
a possibilidade de acabar com
casamentos prematuros, meninas
que não vão à escola, fica remota
e toda a sociedade não vai desenvolver.
Esse é um trabalho que fizemos
na Suécia e levou muitos anos,
até hoje travamos essa luta. Temos
um Governo feminista e as nossas
políticas estrangeiras também são
feministas porque realmente achamos
que sem essa igualdade de gé-
nero a sociedade não vai crescer. É
nesse sentido que nós concordamos
e como temos um Governo feminista,
discutimos muito esses assuntos
aqui. Onde temos um bom
entendimento é no meio ambiente.
Neste capítulo, tudo é igual porque
quando não tens sustentabilidade
o país não vai desenvolver a longo
prazo. Já cometemos muitos erros
ambientais na Suécia, destruímos
a nossa floresta e agora estamos a
discutir com Moçambique como
ter parceiros que podem ajudar para
que não tenham os mesmos problemas
que nós tivemos. Estamos num
bom entendimento mútuo.
A Suécia optou por financiar algumas
ONG´s para influenciarem
os processos locais de desenvolvimento
bem como exigir a presta-
ção de contas. Os resultados são
satisfatórios?
Com o programa AGIR apoiamos
muitas Organizações Não Governhamos
de tentar. Começamos assim
e, quando chegámos no fim dos
90 dias, vimos que precisávamos de
mais tempo, porque a informação
num primeiro momento chegava
muito devagar, e quando se aproximava
o fim do prazo começamos a
ter muita informação.
Nós vimos que realmente devíamos
dar mais tempo porque havia
mais discussões e as informações
estavam a sair. Para nós, o importante
é que o relatório responda a
todas as questões possíveis. Demos
mais trinta dias (fazendo 120 dias),
no fim da prorrogação, muitas coisas
de novo estavam a acontecer, a
Kroll tinha de enfrentar alguns obstáculos
jurídicos que vêm de fora e
não de Moçambique e precisava-se
de muito tempo para resolver esses
assuntos jurídicos. Esse mesmo
tempo é o que estava programado
para a redacção do relatório final.
A Kroll contactou-nos há duas semanas
para informar-nos que devido
à constrangimentos não tinha
possibilidade de finalizar o relatório
nas datas programadas e pedia mais
tempo. Paralelamente estava a receber
mais informações das partes
Não serão publicados os nomes
Oque dizem os termos de referência sobre a publicação
do relatório final. Será que haverá um mais “lite” para o
consumo público e outro de consumo restrito?
O que vai acontecer é que a auditoria independente faz parte
de uma investigação que a PGR está a fazer. Significa que se há coisas
neste relatório que estão ligadas à investigação que a PGR está a fazer,
evidentemente que se essa informação sair antes da conclusão das
investigações da PGR vai estragar o trabalho. Temos mais uma vez uma
coisa difícil, porque, por um lado, temos a questão da transparência, o
direito à informação do público e, por outro, temos a contabilidade e não
queremos estragar isso.
Se a PGR disse que tem a investigação e pretende no fim abrir um
processo crime, os advogados dos visados podem dizer que as evidências
já foram tornadas públicas e tudo está estragado.
Isso é também uma coisa sensível e complicada. No entanto, o que vai
acontecer na verdade quando o relatório estiver pronto é que a Kroll
vai fazer um sumário executivo que será publicado pela PGR. Este vai
conter aspectos que não vão perturbar as investigações da PGR. Depois
da publicação do sumário executivo, a PGR terá um prazo de 90 dias
para concluir as suas investigações e depois publicar o relatório final.
A única coisa que não vai aparecer no relatório final são os nomes, bem
como informação militar detalhada que esteja ligada à segurança do país
Segundo os termos de referência, 90 dias após a publicação do sumário
executivo, o relatório final deve ser publicado e isso não tem volta.
Sabemos que a Suécia não estaria satisfeita apenas por ver publicados
os resultados sem as consequências. A propósito, quais os passos
subsequentes e quais as garantias dadas pelo Governo?
Os termos de referência focalizam-se no acordo de trabalho com a Kroll
até ao seu término. O que vai acontecer depois não está nos termos de
referência, será o trabalho da PGR. Entretanto, Moçambique tem de ter
o relatório e fazer o máximo uso possível dos resultados.
Quais as garantias dadas pelo Governo para responsabilização?
Não temos nada por escrito. Mas se o Governo concordou em fazer a
auditória com os termos de referência que são muito detalhados, tem
uma ideia clara do que vai fazer depois. Trata-se de uma decisão que
Moçambique deverá tomar e não a Suécia.
O avanço ou não da responsabilização é crucial para o restauro da
confiança?
O mais importante neste momento é ver como o processo está
andando. É uma coisa muito complicada que envolve muitos actores
internacionais e não é fácil para qualquer país responsabilizar as pessoas.
É muito complicado, vamos ser realistas, mas nas conversas que tenho
com a PGR vejo essa vontade de avançar com a responsabilização.
Ela está a trabalhar muito. A partir de Nova York vou acompanhar o
desenvolvimento do processo.
Em quanto está orçada auditoria?
Não posso responder. É um acordo entre a Suécia e a Kroll e nem o
Governo sabe.
Insisto. Sendo a Suécia promotora do direito à informação não é
contra-senso não revelar o valor?
Estou com muita vontade dar informações de coisas que são significantes
para se saber. Mas há outras que não posso dar. O que nós pagamos à
Kroll não tem interesse comum. O que interessa é que a Kroll faça o
trabalho e nós estamos satisfeitos.
Que conclusões tirou do relatório da Comissão Parlamentar de
Inquérito sobre as dívidas?
Acho que foi importante. As instituições moçambicanas devem resolver
os problemas do seu país. Tem muita informação correcta. Ajudou
a clarificar a visão. Todo o país tem o seu sistema de defesa e isso é
inquestionável. O importante é a maneira como isso é feito.
No encontro de despedida com o PM moçambicano, disse que o
processo de paz deve ser inclusivo e destacou a inclusão da mulher?
Como é que deve ser feito se não há mulheres na mesa negocial?
Quando tens o processo de reconciliação, de paz e em todas as negociações
é importante ter a perspectiva de igualdade de género. Muitas vezes
esquecemos e achamos que assuntos como guerra, conflito ou armas
devem ser resolvidos por militares ou homens. Um país é formado por
homens, mulheres, jovens, adultos e velhos. Quando você quer fazer um
processo de paz, que vai ajudar numa paz sustentável, tem de incluir a
todos e tem de saber quais são essas perspectivas ligadas às mulheres.
Não significa necessariamente que tens de colocar 50% de mulheres na
mesa negocial, mas já seria bom. Essas pessoas têm de ter conhecimento
dessas perspectivas de igualdade. Não são apenas mulheres que sabem
disso, há muitos homens que também sabem o que significa igualdade
de género. Se temos um processo onde as mulheres têm voz podem falar
e apresentar como são afectadas e apresentarem as possíveis soluções já é
positivo. Se ninguém pergunta como você vai para frente.
se pode dizer isso, porque pode
surgir uma contrariedade. Mas o
trabalho desenvolvido até ao momento
indica que esta é a última
prorrogação. O tempo está a andar
e a análise que a Kroll faz do ponto
de situação do trabalho indica que
vai ser suficiente para a conclusão
do relatório até finais de Abril, data
combinada.
Contaram com o apoio da nossa
PGR para ultrapassarem os obstáculos
jurídicos internacionais?
Sim houve. Em alguns momentos
eles trabalham juntos e noutros em
paralelo, para se complementar e
acho que os obstáculos foram importantes
para PGR, de maneira
que tire lições que vão sustentar as
suas futuras investigações.
Dizia que o relatório pode não resolver
tudo, o que pretende dizer
concretamente?
Sabemos que é um processo complexo,
a vida do país, as finanças, o
orçamento tudo que está ligado ao
crescimento financeiro está ligado à
auditoria. Antes desta auditoria, nós
já tínhamos muitas discussões com
o Governo sobre as reformas, sistemas
velhos que devem ser reformados
que o novo Governo tinha
novas ideias que pretendia implementar
e tudo isso ficou parado devido
à situação política e esta crise
também. Essas ideias estão lá, têm
de andar, a confiança depende também
do que vão fazer com os resultados
da auditoria. Certamente que
haverá recomendações e depende
de como é que vão ser recebidas.
Os sucessivos adiamentos da divulgação
dos resultados não vão
afectar a credibilidade do trabalho?
É possível!. Eu espero que não. O
comunicado da PGR emitido semana
passada era realmente para
garantir que o trabalho ande e esteja
no caminho certo. É preciso
perceber que é uma coisa supercomplicada,
tem tantas partes internacionais
e nacionais ligadas a
essa auditoria e realmente temos de
ter um pouco de paciência. Entendo
que as pessoas comecem a suspeitar
que haverá mais demora, mas
não é assim. Particularmente estou
impressionada com o trabalho que
a Kroll está a desenvolver. Eles têm
uma equipa de sete pessoas que está
a trabalhar com muito profissionalismo.
Estamos num bom caminho.
internacionais interessadas sobre os
assuntos jurídicos.
Estas partes disseram que essa informação
que acharam ia melhorar
a qualidade do relatório de uma
maneira significante e para nós a
qualidade do relatório é muito importante,
por isso optamos por dar
mais tempo para se incluir a análise
desta nova informação.
Sabemos que há muita esperança,
interesse e ansiedade por parte da
sociedade moçambicana, dos investidores
e doadores que querem ver o
relatório publicado e acho isso muito
perigoso porque não vai resolver
todos os problemas. Isso é gestão de
expectativas de um assunto difícil,
por um lado, e nós somos sensíveis
à importância de ter o relatório o
mais rápido possível.
Por outro lado, se a qualidade não
estiver lá, se o relatório não responder
nada, então não vai ajudar Mo-
çambique e haverá muitos questionamentos.
Discutimos com a PGR,
FMI e claramente com a Kroll sobre
isso e decidimos que vamos dar
mais 30 dias até 28 de Abril, mas
que devem ser os últimos.
Sei que neste tipo de assuntos não
$ÀUPD(PEDL[DGRUDGD6XpFLD,ULQD1\RQL
“Este foi o último adiamento da publicação da auditoria”
3RU$UJXQDOGR1KDPSRVVD
namentais (ONG) a nível nacional
que são cerca de 80. Algumas
são pequenas e trabalham no meio
rural, outras são grandes e influenciam
o debate nacional, por isso
é difícil dar uma resposta porque
depende da área de acção de cada
uma. A questão da igualdade de
género e meio ambiente foi muito
evidente nos últimos anos e nota-
-se uma boa colaboração entre as
organizações da Sociedade Civil
e o Governo. O Governo vê as
ONG´s como conhecedoras dos
assuntos, como parceiros válidos e
vale a pena ouvi-las, porque precisam
do conhecimento e capacidade
dessas ONG´s. É o que nós queremos
criar, uma Sociedade Civil
forte com capacidade de criticar,
olhar o que o Governo faz e exigir
a prestação de contas. A outra parte
importante são as sugestões, se
criticarmos e não sugerimos nada
para resolver os problemas para
onde é que vamos? Acho que isto é
importante e hoje há muitos representantes
do Governo que vêem as
ONG´s como parceiros e não como
inimigos, o que é positivo. A Sociedade
Civil tem de ser independente
e nunca deixar de questionar ou
mesmo criticar.
)LQDQFLDPHQWRUHVXOWDGR
DFRUGR
A descoberta das dívidas ocultas,
no primeiro semestre do ano
passado, azedou as relações entre
Moçambique e os parceiros de cooperação,
incluindo a Suécia. O
que motivou apenas a Suécia a financiar
a auditoria internacional
independente e não todo o grupo
dos parceiros que por sinal já a
exigia?
Foi evidente que era importante
para o Presidente e para o Governo
sentir que esta auditoria fosse mo-
çambicana e não algo imposto pela
comunidade internacional, que se
tinha de realizar mediante as suas
exigências.
Nós achamos também que esta
auditoria constituía uma oportunidade
para oferecer experiências importantes
a Moçambique para o futuro.
Era importante a auditoria ser
propriedade dos moçambicanos, do
que toda a hora termos de dizer que
se deve fazer assim. Foi uma crise
de confiança muito grande e ainda
é difícil restaurá-la. Nós queríamos
ver qual era o melhor caminho
para sair desta crise de confiança
e ao mesmo tempo salvaguardar o
desenvolvimento de Moçambique
e a possibilidade de Moçambique
aprender alguma coisa disso. Foi
isso que Moçambique queria, ser
proprietário desse processo. Assim,
durante as discussões que tivemos
com o FMI e a PGR acabamos por
encontrar esta solução da Suécia financiar.
Não dissemos que queríamos
ser únicos financiadores.
Moçambique e Suécia têm uma
longa história desde a época colonial
e talvez Moçambique sinta
confiança da Suécia pelo facto de
não ter outros interesses neste país
senão apoiar o povo. Acredito que
isso deu uma certa confiança ao
Estado moçambicano e sentiu mais
segurança em colocar nas mãos de
um parceiro amigo como nós essa
responsabilidade. Havia possibilidade
de chamar outros países, mas
desta vez foi a Suécia. Como o processo
é muito complicado, achamos
por bem não meter muitos chefes,
temos uma boa relação com os parceiros
e sentimos que nós representamos
esse grupo que também está
confortável.
Só para clarificar, houve uma solicitação
do Governo ou a Suécia
prontificou-se a financiar?
Resultou de um diálogo com Governo,
FMI e parceiros.
Semana finda foi anunciada mais
uma prorrogação do prazo para
divulgação do relatório final da
auditoria internacional e independente.
Na qualidade de financiador,
e por isso tem informação
privilegiada, quais as razões de
fundo dos sucessivos adiamentos?
Nós não sabíamos quanto tempo
exactamente iriam precisar. Os primeiros
90 dias eram um prazo indicativo.
Ao mesmo tempo sabíamos
que não tínhamos muito a perder
porque o processo de elaboração
dos termos de referência demorou.
Isto foi agravado porque tudo
estava parado, à espera da auditó-
ria, sem ela nada podia acontecer e
tínhamos de ter essa sensibilidade
que temos de fazer tudo o mais rá-
pido possível. Já prevíamos que esse
tempo não seria suficiente, mas tí-
$SyVDSXEOLFDomRGRVXPiULRH[HFXWLYRDGH$EULOD3*5WHUiGLDVSDUDGLYXOJDURUHODWyULRÀQDOGL]HPEDL[DGRUDGD6XpFLD
,OHF9LODQFXOR
16 Savana 31-03-2017 PUBLICIDADE SOCIEDADE
ENI EAST AFRICA S.p.A. convida as empresas interessadas
à submeterem a sua Manifestação de Interesse para o fornecimento
de combustíveis para automóveis da Eni East Africa
S.p.A na República de Moçambique.
ÂMBITO DE TRABALHO
O trabalho consiste em fornecer combustível (Gasolina e Diesel)
aos veículos da empresa dentro do território nacional, através
de reabastecimento nas Estações de combustível que possuam
licença de fornecimento de combustível na República de Mo-
çambique, de acordo com a legislação em vigor para o fornecimento
de combustíveis.
DOCUMENTOS NECESSÁRIOS
As empresas interessadas neste convite podem apresentar a
sua Manifestação de Interesse devidamente assinada pela pessoa
autorizada (juntamente com procurações autenticadas ou
RXWUR GRFXPHQWR RÀFLDO TXH DXWRUL]H D SHVVRD D DVVLQDU SHOD
empresa), e com a seguinte informação obrigatória e documentação
que comprove :
1. Licença para fornecimento de combustível na República de
Moçambique, de acordo com a legislação moçambicana;
2. Cópia autenticada e digitalizada do Registo Comercial, nome
Legal de Entidade e pessoa de contacto para receber informao}HVFRPHUFLDLVHGHTXDOLÀFDomR
3. Último balanço/Relatório Anual da empresa registada em
Moçambique e o mais recente balanço/relatório anual do grupo
da empresa (caso aplicável) comprovando a capacidade mí-
QLPDÀQDQFHLUDSDUDDUHDOL]DomRGRWUDEDOKR
4. Estrutura da empresa e do grupo com a lista dos principais
DFFLRQLVWDVHRVEHQHÀFLiULRV VHQmROLVWDGDQDEROVDGHYDORres);
5. Possuir experiência comprovada de 5 á 6 anos de serviço no
fornecimento de combustíveis;
&HUWLÀFDo}HVHRXFHUWLÀFDGRVGRVLVWHPDGHJHVWmRGH4XDlidade
que comprovem a conformidade da empresa com as
QRUPDVGH4XDOLGDGHQDFLRQDLVRXLQWHUQDFLRQDLV SRUH[HPplo,
ISO 9001: 2008);
7. Fornecer provas de que todos os equipamentos utilizados
VmR DSURYDGRV FHUWLÀFDGRV FDOLEUDGRV SHULRGLFDPHQWH FRP
base em amostras nacionais /internacionais ou procedimentos
para a sua função.
As empresas interessadas podem submeter a sua manifestação
de interesse através do registo da empresa no nosso site (Mo-
çambique Aplicação):
https://HSURFXUHPHQWHQLLWLQWBHQJ6XSSOLHUV4XDOLILFDtion/Mozambique-Application
(Para as candidaturas em
Inglês)
https://HSURFXUHPHQWHQLLWLQWBLWD)RUQLWRUL4XDOLÀFD$Xtocandidatura-Mozambico
(Para as candidaturas em Português/Italiano)
IMPORTANTE: A submissão deverá fazer referência ao código
de Produto/Serviço abaixo
indicado:
BB10AE06 – VEHICLE FUELS
Dentro da página da candidatura, na secção “Object of the application”
a area “Origin of invitation” deve ser completada do
seguinte modo: “combustíveis para automóveis” objecto a ser
entregue e em conformidade com os documentos acima mencionados.
'HQRWDUTXHDVHPSUHVDVTXHSRVVXDPXPDFDUWDGHTXDOLÀFD-
ção válida da Eni S.p.A e que já se auto candidataram no passado
para a mesma actividade, se aplicável, a documentação necessária
deverá ser enviada para o seguinte endereço de email:
eea.procurement@eni.com.
Sujeito à submissão da Manifestação de Interesse e ao cumprimento
com toda a documentação acima indicada, as empresas
interessadas poderão receber da Eni East Africa o Pacote de
4XDOLÀFDomR
A Eni East Africa S.p.A fará uma avaliação da documentação
acima solicitada e, caso o resultado da avaliação seja satisfató-
rio, irá incluir o candidato na sua Lista de Fornecedores com
vista a considerar a empresa em futuros processos de concurso
relacionados com as actividades em questão.
$SHQDVDVHPSUHVDVFRQVyUFLRVRX-9TXDOLÀFDGRVTXHWHQKDP
demonstrado capacidade e experiência recente do fornecimento
do serviço acima exigido serão considerados para potenciais
propostas no âmbito do serviço acima descrito.
A solicitação de informação e documentação tem como objectiYRLQLFLDUXPD´DYDOLDomRSDUDTXDOLÀFDomRµHGDUXPDRSRUWXnidade
às empresas seleccionadas de fornecer detalhes da sua
estrutura legal, gestão, experiência, recursos e sua capacidade
global para executar o serviço.
Este manifestação de interesse não deverá ser considerada um
convite para concurso e portanto, não representa nem constitui
nenhuma promessa, obrigação ou compromisso de qualquer
tipo por parte da Eni East Africa S.p.A em celebrar contratos
ou acordos com qualquer empresa que participe do presente
manifestação de interesse.
Consequentemente, todos os dados e informações fornecidos
pela empresa não deverão ser considerados como um compromisso
por parte da Eni East Africa em celebrar um contrato ou
acordo com a empresa, nem deverá possibilitar que a empresa
reivindique qualquer indeminização da parte da Eni East Africa
S.p.A.
Todos os dados e informações fornecidos no âmbito desta manifestação
de interesse serão tratados como estritamente con-
ÀGHQFLDLV H QmR VHUmR GLYXOJDGRV RX FRPXQLFDGRV i SHVVRDV
ou empresas não autorizadas, com excepção da Eni East Africa
S.p.A.
O prazo para a submissão da Manifestação de Interesse através
do nosso website termina á 21 de Abril de 2017.
4XDLVTXHU FXVWRV LQFRUULGRV SHODV HPSUHVDV LQWHUHVVDGDV QD
preparação da Manifestação de Interesse serão da total responsabilidade
das empresas, as quais não terão direito a qualquer
reembolso por parte da Eni East Africa S.p.A.
PEDIDO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE
PARA FORNECIMENTO DE COMBUSTÍVEIS PARA AUTOMÓVEIS
'$(1,($67$)5,&$6S$02d$0%,48(
Savana 31-03-2017 17 PUBLICIDADE SOCIEDADE
Eni East Africa S.p.A. (“EEA”) invites interested companies to
submit the Expressions of Interest for provision of vehicle fuels
for EEA activities in the Republic of Mozambique.
SCOPE OF WORK:
The work consists of supplying Car Fuel (Gasoline and Diesel) to
the Company’s vehicles within the Mozambican territory through
refueling at the Fuel Station, which includes having the license
of provision of fuels within Mozambique, under the Mozambican
law of fuels provision.
CANDIDATES:
Companies interested in this invitation may submit their Expression
of Interest duly signed by the authorized person (together
with certified Powers of attorney or other evidence of authority
of such authorized person) along with the following mandatory
information and documentation providing evidence of:
1- Company License of provision of fuels within Mozambican
territory and under the Mozambican law of fuels provision;
2- Scanned and certified copy of the trade register, legal entity
name and contact person for receiving qualification and commercial
information;
3- Last three years of Financial Statements including Balance
Sheets;
4- Company and group structure with the list of major shareholders
and ultimate beneficiaries
5- Having experience of 5-6 years of service for provision of fuels;
6- Having Quality Management System certifications and/or
Quality Management System compliant with international Quality
Standards (e.g. ISO 9001:2008);
7- Provide evidence that all equipment used is periodically approved/Certified/calibrated
based on national /international samples
or procedures for its function;
The registration website (Mozambique Application) is available
at the following URL:
https://eprocurement.eni.it/int_eng/Suppliers/Qualification/
Mozambique-Application
(for application in English)
https://eprocurement.eni.it/int_ita/Fornitori/Qualifica/Autocandidatura-Mozambico
(for application in Portuguese/Italian)
IMPORTANT:
The submission must refer to the following commodity code:
BB10AE06 – VEHICLE FUELS
Within the website application, under the section “Object of the
Application”, the area “Origin of invitation” shall be completed as
follows: “vehicle fuels”
Please note that Companies in possess of a valid qualification
letter from Eni Group and which already self-applied or applied
in the past for the same service or similar activities, confirmation
of interest and, if applicable, the required documentation can be
sent to the following email address: eea.procurement@eni.com.
Subject to the submission of the application and to the compliance
of all the above documentation, Companies interested in
this Expression of Interest may receive from Eni East Africa the
Qualification Package.
Eni East Africa will evaluate the above requested documentation
and, if fulfilled, will include the applicant in its Vendor List for
consideration in future tender processes regarding the referred
activities.
Only qualified companies, consortia or JV that have proven capability
and recent experience of supplying the above required
services will be considered for potential tenders for the scope of
service described above.
The purpose of the information and documents request is to start
a “qualification assessment” and to give an opportunity to the selected
companies to provide details of their legal structure, management,
experience, resources and overall capability to perform
the service.
Eni East Africa will evaluate that each of the final selected companies
have the resources, management and all the capability to
act as a single legal entity (company) in order to achieve the required
targets of quality, HSE, standards and program.
All responses are to be supported by such narrative, organization
charts, resource charts and other information that the company
considers necessary to substantiate the individual responses
and provide Eni East Africa with the required confidence in the
company’s capabilities and experiences.
This enquiry shall not be considered as an invitation to bid and
therefore it does not represent or constitute any promise, obligation
or commitment of any kind on the part of Eni East Africa,
to enter into any agreement or arrangement with you or with any
company participating in this pre-enquiry.
Consequently, all data and information provided within the application
shall not be considered as a commitment on the part of
Eni East Africa to enter into any agreement or arrangement with
the company, nor even shall entitle the company to claim any
indemnity from Eni East Africa.
All data and information provided under this expression of interest
will be treated as strictly confidential and will not be disclosed
or communicated to unauthorized persons or companies with
the exception of Eni East Africa S.p.A.
The deadline for submission of Expression of Interest through
our website is set for April 21st, 2017
In this regard, any costs incurred by the companies interested in
the preparation of this Expression of Interest will be on the entire
responsibility of the companies, which will not be entitled to any
reimbursement by Eni East Africa S.p.A.
REQUEST FOR EXPRESSION OF INTEREST
FOR PROVISION OF VEHICLE FUELS FOR ENI EAST AFRICA SpA ACTIVITIES
IN THE REPUBLIC OF MOZAMBIQUE
18 Savana 31-03-2017 OPINIÃO
Registado sob número 007/RRA/DNI/93
NUIT: 400109001
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Maputo-República de Moçambique
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Redacção:
Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo
Nhampossa, Armando Nhantumbo e
Abílio Maolela
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e Ilec Vilanculos
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EDITORIAL Cartoon
Quando se lançou o projecto da
circular de Maputo, em 2012,
(que inclui a ponte Maputo-
-Catembe), alguns compatriotas
(uns de boa fé, outros não)
posicionaram-se, publicamente, contra.
Uns, questionaram essa prioridade do
governo face a outros desafios do país
nas várias frentes, nessa altura, construtivamente,
e com responsabilidade.
Outros, posicionaram-se contra, consistentes
com o seu hábito de estar contra
(sobretudo contra o então timoneiro
do governo e da nação, obreiro desse
projecto, contra quem, até clamaram
prisão). Mas, independentemente da
forma como nos arregimentamos (ou
entrincheiramos) nas nossas posições,
eleva-se sempre lá, sublime e superior, o
Grande Quadro das coisas. Esse que só
os visionários conseguem ver, construir,
e concretizar em vários outros benefí-
cios, multiplicados depois em grande
escala, a favor de muitos.
Hoje, graças à circular, Matola Gare, na
N4, alberga uma das mais modernas fá-
bricas da Coca-Cola, no mundo, considerada
pró-ambiente, e certificada com
prata nos Estados Unidos. A região
agrícola de Boane, concluído o eixo
Boane/Bela Vista (ora em fase de execução)
expõe-se mais abertamente aos
grandes mercados regionais (incluindo
investimentos, tecnologias, comercialização
e consumo. Podem passar a sair
daqui os vegetais que compramos no
Shoprite, ou no Spaar).
Com a circular, um homem de negócios
já pode, a partir de Dezembro próximo,
tomar o pequeno almoço em Maputo,
almoçar em Mbabane e jantar em Durban.
Aquelas distâncias penosas de 6/9
horas em 4X4, entre Catembe e Ponta
do Ouro, passam a ser feitas em 1/2 horas.
Passa a ser possível, com poupança
de tempo, chegar a Kosi Bay, no norte
do Kwazulu Natal, ou à Swazilândia, a
partir de Maputo, numa única estrada.
O açúcar, o papel e a grande indústria
automóvel (sobretudo a localizada em
Durban) com exportações de milhares
de veículos/ano, vão passar a olhar para
o porto de Maputo com redobrado interesse.
Um porto que é, e sempre foi,
o coração da economia da capital do
nosso país.
Na estrada marginal, o Southern Sun,
o Radison, o Glória e o CICJC (numa
área de menos de 1 km2) combinam
com perfeição reuniões, incentivos,
conferências e eventos tornando Maputo
num concorrente de peso, relatiO
grande quadro
vamente a Durban e Cape Town. Na
inauguração dos escritórios de advogados
Guilherme Daniel, no Radisson,
ficou claro que Maputo já fervilha
como um eixo internacional, relevante,
de negócios (sobretudo mineração e
turismo).
Depois da reportagem de Augusto
Levy, no último domingo, na TVM,
não surpreenderia saber que engenheiros
e operários moçambicanos foram
contratados para obras de grande engenharia
na Europa, América e outros
quadrantes. (Maputo- Catembe é a
ponte suspensa mais extensa do continente
africano, e uma das suas mais
complexas obras infraestruturais de
sempre, com orgulho feita também por
quadros nossos em posições de decisão
estratégica. E, não são só os seus CV,s
que ganham: é um país todo que se
define: o que quer ser, como, e com
quem). Podíamos continuar a enumerar
outras dimensões desse Grande Quadro,
como o turismo e a imobiliária:
com a circular e a sua ponte, Maputo,
a arrebentar pelas costuras, escapa ao
quadro de feios, porcos e maus (brutti,
sporchi e cattivi) de Ettore Scola, no
qual quatro gerações da mesma família
vivem todas na mesma casa. Cada um,
chantageando cada um.
Uma vez o sogro flagrou a nora com
o cunhado. Para a não denunciar, ao
marido, trocou o silêncio por sexo.
Assim a nora, numa casa a arrebentar
pelas costuras, dormia com o sogro,
o marido e o irmão deste.
Mas é importante notar que muitos
opuseram-se à ponte e à circular não
porque não que não tivessem a capacidade
de ver esse Grande Quadro. Não
queriam é que ele fosse uma arquitetura
de quem foi. Aconteceu o mesmo com
a EMATUM, a MAM e a Proindicus
que apesar do seu valor estratégico
foram apenas processados como uma
operação criminosa de delapidação do
Estado. Até podem ter tido essa dimensão
nalgum momento ( e isso, a
auditoria em curso vai mostrar até que
medida), porém, se o governo não se
tivesse deixado enredar nessa ratoeira
política teria prevenido que o seu bebé
fosse despejado juntamente com a água
suja. As empresas estariam a funcionar
normalmente, a honrar os seus créditos
com o VTB e o Crédit Suisse, e o país
não teria passado pela crise porque passou,
e passa, que, mais do que produto
de factores económicos objectivos, é
uma construção política.
A auditoria internacional, às chamadas
dívidas não reveladas, começou com
dois pressupostos: possível desvio de
fundos nos negócios da EMATUM,
MAM e PROINDICUS, e falta de
autorização parlamentar, da parte do
governo, para os fazer.
As constatações que eventualmente
esperamos dessa auditoria, são, grosso
modo, as seguintes: que a totalidade
dos valores pedidos aos bancos russo
e suíço (exceptuando 500 milhões de
dólares, entregues directamente ao Ministério
de Defesa Nacional), pagou os
custos dos fornecedores. Ou seja, tirando
500 milhões de dólares, o dinheiro
dos empréstimos teria saído dos bancos,
directamente para os fornecedores, e
não para contas particulares de singulares
moçambicanos. Seria, então, nos
500 milhões de dólares que estaria, provavelmente,
o óbice da questão: como
teria o MDN, na altura, gerido a quantia
recebida? No decurso da auditoria,
e sob a alegação de segredo militar (de
Estado), teria transparecido alguma
resistência contra a apresentação dos
comprovativos da execução desse valor.
Fontes próximas do processo asseveraram
que os auditores teriam tentado
contornar essa resistência seguindo
pistas de aparente enriquecimento rápido
de pessoas ligadas aos dossiers, cuja
preparação (em termos de paper work,
ou papelada) obedecia ao seguinte roteiro:
o SISE prepara a documentação e
o MDN assina, chancela, dá o aval final.
Relativamente ao segundo pressuposto
(o da autorização parlamentar), a auditoria,
embora indicando a possibilidade
de criminalização do então governo,
por alegada violação da lei orçamental,
não teria perdido de vista “a situação
política atípica do país”, à altura do
negócio.
Em face do exposto o que poderá acontecer?
Os parceiros têm, cada vez mais
insistentemente, afirmado que não há
próximo passo sem cabeças (não há
desbloqueio financeiro sem cabeças).
A questão é, que cabeças seriam essas,
e até que nível? No Brasil, era tarde demais
quando a presidente Dilma Roussef
percebeu que no Lava Jato, o Lula
da Silva era apenas um trampolim, e
que a cabeça que se queria era a sua. Levantou-se
a sua imunidade, e seguiu-se
o impeachment, ou cassação de mandato
e, mais ainda, uma mudança radical de
regime político. É golpe, é golpe., é golpe
....tarde demais.(x)
C
ausou algum choque entre os moçambicanos a declara-
ção do Vice-Presidente do Movimento Popular para a
Libertação de Angola (MPLA) e Ministro da Defesa
daquele país irmão, quando na sua última deslocação a
Maputo, há duas semanas, afirmou que os dois partidos no poder
em Moçambique e em Angola deveriam se manter unidos, pois
caso contrário os “malandros” os podiam vencer.
“A nossa força está na nossa unidade”, disse o candidato presidencial
do MPLA às eleições gerais de Agosto próximo, acrescentando:
“se nós não formos unidos, os malandros vão nos vencer,
porque os malandros estão unidos; quer os de dentro, quer
os de fora, eles estão unidos e não dormem, andam todos os dias
a pensar na forma como derrubar a Frelimo, como derrubar o
MPLA”.
“Os de fora” aqui deve se referir aos amigos e aliados que os partidos
da oposição dos dois países têm no estrangeiro. Mas quanta
ajuda quer o MPLA quer a Frelimo receberam e continuam a
receber fora das fronteiras nacionais?
Uma coisa é aquilo que camaradas dizem em privado, entre eles.
É absolutamente outra dizer isso em público. E não deve ser de
menor preocupação que os membros da Frelimo ali presentes
não se tenham poupado em ovacionar o ilustre visitante, num
sinal de absoluta concordância.
Será que João Lourenço, já que falava na sede do partido Frelimo,
entre os membros desta organização política com quem o
MPLA mantém laços estreitos de solidariedade, no embalo da
emoção, não se apercebeu da presença da imprensa?
Seja como for, o facto é que as suas palavras foram tomadas literalmente,
criando a ideia de que, para ele, os partidos da oposição
são considerados malandros.
E se se tratava de uma piada, com todo o respeito, ela foi de
mau gosto. Os dois países vivem, pelo menos formalmente, em
regimes democráticos, onde é perfeitamente normal e legal que
partidos da oposição, através de mecanismos constitucionalmente
estabelecidos, procurem desalojar os seus adversários políticos
do poder.
Mas as palavras do dirigente angolano podem ter um alcance que
vai mais para além do seu valor facial. Significam que a democracia
é apenas uma questão de fachada, uma artimanha formal,
simplesmente para se estar em conformidade com a moda, mas
que na essência só tem validade quando dela se podem emascular
as outras forças políticas, estas, que são os tais malandros.
Ora, pelo menos em Moçambique, não é assim que pensam os
mais de 2 milhões de eleitores que nas últimas eleições votaram
nos dois partidos que formam a oposição parlamentar, e que no
seu conjunto representam cerca de 43 por cento dos deputados
com assento na nossa Assembleia da República.
Falar daquela maneira em relação a estes eleitores e seus representantes
é um gravíssimo atentado contra a nossa democracia,
a convivência social e a tolerância política que contra todas as
adversidades estamos a tentar construir neste país. Os nossos
hóspedes têm a obrigação de respeitar os limites da nossa hospitalidade.
Isso, para a sobrevivência dos nossos indestrutíveis laços
de amizade, irmandade e solidariedade.
Perplexão.
$ÀQDOTXHPVmRRV
malandros?
Por Armindo Chavana, jr.
Continuamos
a promover paz e
segurança global.
Savana 31-03-2017 19 OPINIÃO
522
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
A
ssinalam-se este ano
os 100 anos da Revolução
Russa (RR)** e
também os 150 anos
da publicação do primeiro volume
de Das Kapital de Karl
Marx. Juntar as duas efemé-
rides pode parecer estranho
porque Marx nunca escreveu
em detalhe sobre a revolução
e a sociedade comunista e, se
tivesse escrito, é inimaginável
que o que escrevesse tivesse alguma
semelhança com o que
foi a União Soviética (URSS),
sobretudo depois que Estaline
assumiu a liderança do partido
e do Estado.
A verdade é que muitos dos
debates que a obra de Marx
suscitou durante o século XX,
fora da URSS, foram um modo
indirecto de discutir os méritos
e os deméritos da RR. Agora,
que as revoluções feitas em
nome do marxismo ou terminaram
ou evoluíram para… o
capitalismo, talvez Marx (e o
marxismo) tenha finalmente a
oportunidade de ser discutido
como merece – como teoria
social.
A verdade é que o livro de
Marx, que levou cinco anos a
vender os primeiros mil exemplares
antes de se tornar um dos
livros mais influentes do século
XX, voltou a ser um bestseller
em tempos recentes e, duas dé-
cadas depois da queda do Muro
de Berlim, estava finalmente a
ser lido em países que tinham
sido parte da URSS.
Muito provavelmente os debates
que durante este ano tiverem
lugar sobre a Revolução
Russa irão repetir tudo o que já
foi dito e debatido e terminará
com a mesma sensação de que
é impossível um consenso sobre
se a RR foi um êxito ou um fracasso.
À primeira vista é estranho que
assim seja, pois quer se considere
que a RR terminou com a
chegada de Estaline ao poder
(a posição de Trotsky, um dos
líderes da revolução) ou com o
golpe de Estado de Boris Yeltsin
em 1993, parece evidente
que fracassou.
E, no entanto, tal não é evidente,
e a razão não está na
avaliação do passado, mas na
avaliação do nosso presente.
O triunfo da RR reside em ter
levantado todos os problemas
com que as sociedades capitalistas
se debatem ainda hoje.
O seu fracasso reside em não
Nos cem anos da Revolução Russa
ter resolvido nenhum. Excepto
um.
Pode o capitalismo promover
o bem estar das grandes maiorias
sem que esteja no terreno
da luta social uma alternativa
credível e inequívoca ao capitalismo?
Este foi o problema
que a RR resolveu e a resposta
é não. A RR mostrou às classes
trabalhadoras de todo mundo,
e muito especialmente às europeias,
que o capitalismo não era
uma fatalidade, que havia uma
alternativa à miséria, à insegurança
do desemprego iminente,
à prepotência dos patrões, a governos
que serviam os interesses
de minorias poderosas mesmo
quando diziam o contrário.
Mas a RR ocorreu num dos
países mais atrasados da Europa
e Lenine tinha plena
consciência de que o êxito da
revolução socialista mundial e
da própria RR dependia de ela
poder estender-se aos países
mais desenvolvidos, com sólida
base industrial e amplas classes
operárias.
Na altura, esse país era a Alemanha.
O fracasso da revolu-
ção alemã de 1918-1919 fez
com que o movimento operá-
rio se dividisse e uma boa parte
dele passasse a defender que era
possível atingir os mesmos objectivos
por vias diferentes da
seguida pelos operários russos.
Mas a ideia da possibilidade de
uma sociedade alternativa à sociedade
capitalista manteve-se
intacta. Consolidava-se, assim,
o que se passou a designar por
reformismo, o caminho gradual
e democrático para uma
sociedade socialista que combinasse
as conquistas sociais da
RR com as conquistas políticas,
democráticas dos países ocidentais.
No pós-guerra, o reformismo
dava origem à social-democracia
europeia, um sistema polí-
tico que combinava altos níveis
de produtividade com altos ní-
veis de protecção social. Foi então
que as classes trabalhadoras
puderam, pela primeira vez na
história, planear a sua vida e o
futuro dos seus filhos. Educa-
ção, saúde e segurança social
públicas, entre muitos outros
direitos sociais e laborais.
Tornou-se claro que a social
democracia nunca caminharia
para uma sociedade socialista,
mas que parecia garantir o fim
irreversível do capitalismo selvagem
e a sua substituição por
um capitalismo de rosto humano.
Entretanto, do outro lado da
“cortina de ferro”, a República
Soviética (URSS), apesar do
terror de Estaline, ou precisamente
por causa dele, revelava
uma pujança industrial portentosa
que transformava em poucas
décadas uma das regiões
mais atrasadas da Europa numa
potência industrial que rivalizava
com o capitalismo ocidental
e, muito especialmente com
os EUA, o país que emergira da
segunda guerra mundial como
o mais poderoso do mundo.
Esta rivalidade veio a traduzir-
-se na Guerra Fria que dominou
a política internacional nas
décadas seguintes. Foi ela que
determinou o perdão em 1953
de boa parte da imensa dívida
da Alemanha Ocidental contraída
nas duas guerras que in-
fligira à Europa e perdera.
Era preciso conceder ao capitalismo
alemão ocidental
condições para rivalizar com o
desenvolvimento da Alemanha
Oriental, então a república soviética
mais desenvolvida.
As divisões entre os partidos
que se reclamavam da defesa
dos interesses dos trabalhadores
(os partidos socialistas ou
social-democratas e os partidos
comunistas) foram uma parte
importante da Guerra Fria,
com os socialistas a atacarem os
comunistas por serem coniventes
com os crimes de Estaline e
defenderem a ditadura soviética,
e os comunistas a atacarem
os socialistas por terem traído
a causa socialista e serem partidos
de direita muitas vezes
ao serviço do imperialismo
norte-americano. Mal podiam
imaginar então o muito que os
unia.
Entretanto, o Muro de Berlim
caiu em 1989 e pouco depois
colapsou a URSS. Era o fim
do socialismo, o fim de uma
alternativa clara ao capitalismo,
celebrado incondicional e desprevenidamente
por todos os
democratas do mundo. Entretanto,
para surpresa de muitos,
consolidava-se globalmente a
versão mais anti-social do capitalismo
do século XX, o neoliberalismo,
progressivamente
articulado (sobretudo a partir
da presidência de Bill Clinton)
com a dimensão mais predadora
da acumulação capitalista: o
capital financeiro. Intensificava-se
a guerra contra os direitos
económicos e sociais, os ganhos
de produtividade desligavam-
-se das melhorias salariais, o
desemprego voltava como o
fantasma de sempre, a concentração
da riqueza aumentava
exponencialmente.
Os últimos anos mostraram
que, com a queda do Muro de
Berlim, não colapsou apenas o
socialismo, colapsou também a
social-democracia. Tornou-se
claro que os ganhos das classes
trabalhadoras das décadas anteriores
tinham sido possíveis
porque a URSS e a alternativa
ao capitalismo existiam. Constituíam
uma profunda ameaça
ao capitalismo e este, por instinto
de sobrevivência, fizera as
concessões necessárias (tributa-
ção, regulação social) para poder
garantir a sua reprodução.
Quando a alternativa colapsou
e, com ela, a ameaça, o capitalismo
deixou de temer inimigos
e voltou à sua vertigem predadora,
concentradora de riqueza,
armadilhado na sua pulsão
para, em momentos sucessivos,
criar imensa riqueza e destruir
imensa riqueza, nomeadamente
humana.
Desde a queda do Muro de
Berlim estamos num tempo
que tem algumas semelhanças
com o período da Santa Alian-
ça que, a partir de 1815 e após a
derrota de Napoleão, procurou
varrer da imaginação dos europeus
todas as conquistas da
Revolução Francesa. Não por
coincidência e salvas as devidas
proporções (as conquistas
das classes trabalhadoras que
ainda não foi possível eliminar
por via democrática), a acumulação
capitalista assume hoje
uma agressividade que faz lembrar
o período pré-RR. E tudo
leva a crer que, enquanto não
surgir uma alternativa credível
ao capitalismo, a situação dos
trabalhadores, dos pobres, dos
emigrantes, dos pensionistas,
das classes médias sempre-à-
-beira-da-queda-abrupta-na-
-pobreza não melhorará signi-
ficativamente. Obviamente que
a alternativa não será (nem seria
bom que fosse) do tipo da que
foi criada pela RR. Mas terá de
ser uma alternativa clara. Mostrar
isto mesmo foi grande mé-
rito da Revolução Russa.
**Quando me refiro à Revolução
Russa refiro-me exclusivamente à
Revolução de Outubro porque foi
essa que abalou o mundo e condicionou
a vida de cerca de um terço
da população mundial nas décadas
seguintes. Foi precedida da
Revolução de Fevereiro do mesmo
ano que depôs o Czar e que durou
até 26 de Outubro (segundo
o calendário juliano então em
vigor na Rússia), quando os Bolcheviques,
liderados por Lenine
e Trotsky, tomaram o poder com
as palavras de ordem “paz, pão e
terra”, “todo o poder aos sovietes”,
ou seja, aos conselhos de operários,
camponeses e soldados.
*in Jornal de Letras
Por Boaventura de Sousa Santos*
2SUREOHPDGRSDVVDGRpQmRSDVVDU
Há dois tipos de consciência:
a imediata,
instintiva, das pessoas
que conhecem o
papel que jogam ou que julgam
jogar na vida; e a consciência
social, consciência de
profundidade, consciência
panorâmica e telescópica reportada
ao conjunto dos eixos
mais profundos pelos quais as
sociedades (e não os indiví-
duos em si) são produzidas e
reproduzidas (este é um nível
mais elevado através do qual
a consciência social – usando
um paradoxo - é consciente).
Quanto mais baixo o observatório
- fazendo uso de uma
metáfora topológica -, quanto
mais baixo o mirante, menos
podemos observar, interligar e
analisar; inversamente, quanto
mais elevado o mirante, o
observatório, maior a pluralidade
de relevo, de situações e
de possibilidades de visão, de
interligação, de análise e de
acção consciente.
Num caso temos coisas (consciência
imediata), no outro
temos sistemas (consciência
social).
Dois tipos de consciência
20 Savana 31-03-2017 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
O
recente encontro de algumas horas
entre os presidentes de Angola
e da Guiné Equatorial, José
Eduardo dos Santos e Teodoro
Obiang Nguema, respectivamente, a 23
de Março de 2017, veio reforçar, uma
vez mais, que a irmandade entre estes
dois presidentes africanos é considerá-
vel. Parece haver alguma unanimidade
na visão que têm sobre a importância da
ditadura na condução dos destinos de um
país, bem como sobre a adequação do
“capital tempo” à permanência no poder,
garantindo por esta via a promoção de
um balanço que conforma a submissão
das “massas frias” e a necessidade que as
mesmas têm dessa ditadura. É como se
os dois concordassem que, em África, de
facto, a ditadura é o ópio do povo.
Angola, pela mão do seu PR, serviu de
rampa de lançamento para a entrada da
Encontro de ditadores
Guiné Equatorial na CPLP. Os debates e alguma
democracia supostamente formal fizeram
com que a Guiné Equatorial não aderisse
de imediato à CPLP devido a questões relacionadas
com a pena de morte e ausência de
direitos civis. Interessante foi o facto de Teodoro
Nguema, como demonstração do seu
interesse pelo espaço pretendido na CPLP,
ter muito antes (2004) decretado como terceiro
idioma oficial do seu país o português.
Pelo que consta aconteceu o mesmo com o
francês (segundo idioma oficial depois do
castelhano) que mais exibe o seu lado formal
que prático, ou seja, é falado por uma percentagem
insignificante da população (para não
dizer percentagem nula).
Este recente encontro entre o Presidente angolano
e o da Guiné Equatorial pode suscitar
várias leituras dependendo dos elementos
de ordem política e económica que cada um
defende. Neste sentido, se considerarmos o
efectivo de intelectuais que os dois governos
possuem somos, então, tentados a questionar
sobre a percepção que têm de ditadura,
de coligação, da relação entre os permanentes
reforços financeiros e ditatoriais dos seus
presidentes e o nível de desenvolvimento (sobretudo
social) dos seus povos. De que mel
são alimentados todos esses intelectuais? Será
uma espécie de ADN da escravatura cuja representação
mais fiel é a figura de escravos
totalmente submissos ao seu dono?
A cooperação nas áreas militar (segurança) e
económica (ramo petrolífero), entre outras,
pode até dar substância formal ao encontro.
Entretanto, admitindo a forte possibilidade
do actual Presidente de Angola não continuar
no poder nos próximos tempos, diferentemente
de Nguema, é de se prever como forte
hipótese a preparação de um espaço de acomodação
do primeiro pelas terras da Guiné
Equatorial, o que não ofusca a possibilidade
de outras localizações. Só um bom ditador
pode proteger outro. Para se ser bom
ditador é condição sine qua non assegurar
de forma extraordinária as principais fontes
de poder. Ora bem, em 2014 a Guiné
Equatorial conseguiu a sua adesão à
CPLP. Considerando a aproximação que
os dois presidentes e respectivos governos
têm, podemos afirmar com alguma consistência
que o peso dos dois ditadores
(ou das duas ditaduras) terá um efeito
progressivo sobre CPLP. Mesmo com a
suposta saída do actual Presidente angolano
do poder nada, por enquanto, sugere
uma alteração deste quadro, a menos que
algo de muito extraordinário ocorra. Se
com a entrada na CPLP a Guiné Equatorial
ainda não alterou o seu quadro político
e de direitos civis, provavelmente,
quem terá que mudar deverá ser a CPLP.
Um tema recorrente nos dias de
hoje é a velha questão que se
prende com o perfil ético de
quem envereda pela carreira da
magistratura judicial. Alguma imprensa faz
uma apreciação bastante negativa dos juí-
zes moçambicanos, situando-os como autênticos
“bandidos” e “vendidos” que nada
contribuem para a moralização do sistema
de administração da justiça.
A profissão de juiz suscita particular interesse
porque é referente a uma autoridade
pública que, concomitantemente, titula um
poder soberano. Traz, por isso, implicações
na vida de quem por ela envereda ao moldar
a pessoa, no mesmo sentido que esta
molda a sociedade onde serve. Impõe-se,
destarte, ao juiz, não só brio profissional,
mas, fundamentalmente, uma conduta proba
na vida pessoal, familiar e pública.
Hodiernamente, há um generalizado consenso
de que para ser juiz não basta um
candidato que domine puramente as ci-
ências jurídicas, do ponto de vista exclusivamente
técnico. Os desafios do mundo
actual exigem um jurista com sensibilidade
e inteligência emocional, além de formação
humanista que lhe permita conhecer no-
ções gerais acerca de sociologia, filosofia,
ética, deontologia, liderança, gestão, media
training, relacionamento com outros poderes,
entre outros atributos.
Não é tarefa fácil estabelecer uma forma de
selecção que possa aferir tantos atributos na
busca do juiz ideal. É assim que diversos
países procuram descobrir a melhor forma
de recrutar estes profissionais para servirem
em sociedades cada vez mais exigentes.
No sistema da common law, exemplificado
em países como os Estados Unidos da
América e a Inglaterra, o recrutamento é,
em regra, sem concurso público. A selec-
ção obedece a um critério de eleição ou de
nomeação pelo parlamento ou pelo Presidente
da República, indicando-se, quase
sempre, os advogados mais antigos e experientes
para a condição de juiz. Quase
sempre, só juristas com idade avançada e
plenamente realizados profissionalmente
são designados juízes.
Diferentemente, no sistema da civil law,
o recrutamento para a magistratura tem
como base o concurso público. Países
como Angola, Brasil, Alemanha, Portugal
e Espanha possuem escolas de formação
de magistrados e nenhum juiz é admitido
para o sistema sem que tenha passado
pela formação inicial que varia entre um a
dois anos. Na verdade, o concurso público
é realizado para ingresso na referida escola
de formação e o curso ali ministrado tem
carácter eliminatório. Somente os que são
aprovados podem prosseguir para a coloca-
ção, em princípio, nos chamados tribunais
de ingresso.
A democracia de acesso, traduzida em
igualdade de oportunidade para todos, acaba
induzindo o recrutamento para o sistema
de pessoas cada vez mais jovens, na
maior parte das vezes nunca antes inseridas
no mercado de trabalho. A tendência é
então a magistratura ser tomada de assalto
por jovens recém-saídos dos bancos da faculdade,
sem nenhuma experiência de vida
relevante.
Moçambique pertence à família da civil
law, com todas as consequências advenientes
como o concurso público como critério
de ingresso e promoção na carreira e a extrema
juventude da casta de juízes.
Se amiúde se discute no país que a magistratura
está tomada por uma juventude
Que juízes queremos?!
imatura e irreflectida, o quadro agudiza-se
quando se perquire sobre a falta de comprometimento
com a causa da justiça por
parte dos seus fazedores.
Este estado de coisas põe em cheque a
subsistência do Estado de direito, contrariamente
ao que o antigo director da
Escola Nacional da Magistratura do Brasil
(ENM/AMB), Luís Filipe Salomão,
defende quando assevera que “o juiz é o
grande artífice da obra de engenharia social,
o guardião das promessas constitucionais de
que o sistema democrático exige a sua adequada
preparação para bem e fielmente cumprir a
sua missão”.
Mas, afinal, qual é o perfil ético dos juízes?
Escritos doutrinários apontam basicamente
a três categorias de sujeitos, consoante a
sua articulação com a profissão.
A primeira categoria diz respeito aos juízes
que verdadeiramente se identificam com
a causa da justiça. É sua obstinação lutar
contra todas as expressões de injustiça no
mundo. Estes homens e mulheres assumem
a magistratura como um sacerdócio,
a que as dificuldades e desafios próprios
não esmorecem o seu humanismo nas prá-
ticas judiciárias. Estudam as leis, a doutrina,
a jurisprudência e o direito comparado
para uma apreciação adequada do caso
concreto. Sabem ouvir e se situam como
conciliadores de interesses desavindos. O
que lhes move, em última análise, é a busca
da justiça material, de que a lei é uma mera
ferramenta para o seu alcance.
A segunda categoria tem a ver com juí-
zes que, sem terem uma especial vocação
pela magistratura, acabaram por parar no
sistema por falta de alternativas melhores
ou como resultado de falhanço em outras
carreiras, sobretudo no sector privado. Sem
se identificarem com a classe, agrada-lhes,
porém, o poder a que muitas vezes se associa
o estatuto de juiz. Usam a arrogância e
a prepotência no trato com os advogados e
as partes processuais. Afirmam as suas decisões
com base no autoritarismo. Sofrem
do que é comum designar juizite. Profissionalmente,
falam num plano B para deixar
a magistratura, estando, porém, no fundo
conscientes que ninguém lhes daria essa
possibilidade porquanto o seu perfil ético é
conhecido e não inspira confiança.
A última categoria é de quem olha para os
tribunais como autênticos bazares onde a
venda de despachos é um negócio compensador.
Os juízes que alinham neste diapasão
muitas vezes largam empregos anteriores
por acharem-nos menos compensadores
do que a possibilidade de acúmulo material
evidenciada nos tribunais. Estas pessoas
são capazes, se para isso tiverem oportunidade,
de comprar vagas na escola de formação
e daí garantir o seu ingresso na carreira.
Recebem dinheiro, bens ou serviços
e evidenciam um padrão de vida de longe
incomportável com os ganhos que a profissão
pode proporcionar.
Na realidade moçambicana, a última categoria
não é a mais expressiva do ponto de
vista de quantidade. É mesmo uma minoria.
Porém, é a que mais danos provoca na
honorabilidade de todos os juízes e genericamente
na quebra de confiança no sistema
judiciário. É que muitas vezes, quando
num cardume um peixe está podre fica a
certeza de estar todo o cardume estragado.
No caso dos tribunais não é bem assim…
Em todo o caso, é um desafio permanente
do Conselho Superior da Magistratura Judicial,
órgão de gestão e disciplina da carreira
dos juízes, garantir a prevalência de
um sistema livre de infiltrados.
Savana 31-03-2017 21 PUBLICIDADE
22 Savana 31-03-2017 DESPORTO
O
presidente da Federação
Moçambicana de Xadrez
(FMX), Domingos
Langa, considera a massificação
da modalidade como o
principal desafio da instituição que
dirige. Até ao momento, o número
de atletas formados vai subindo de
forma extraordinária, com apoio
incondicional da Academia de
Xadrez da Matola. Mas nem tudo
é mar de rosas: algumas associa-
ções provinciais estão mergulhadas
num sono profundo, razão pela
qual ficam de mãos estendidas à espera
de hipotéticos apoios da federação.
O que se segue, caro leitor,
são os excertos da conversa com o
homem forte da federação, uma
figura multifacetada e, quiçá, sobejamente
conhecida no panorama
desportivo nacional (foi jogador
de futebol de alta competição e de
xadrez, dirigente desportivo, entre
outras actividades).
Como é que a FMX encara este
ano desportivo e quais são as vossas
prioridades?
-De um modo geral, posso afirmar
que as expectativas são encorajadoras
e, neste momento, estamos
empenhados na preparação da
assembleia-geral que, em princí-
pio, deveria ter acontecido, mas a
previsão é para o próximo mês de
Abril. Também planificamos participar
no Campeonato Africano
de Xadrez que estava agendado, à
partida, para o mês de Abril, mas
que foi adiado para uma data ainda
por indicar. Pretendemos realizar
o campeonato nacional de xadrez
nos escalões de juvenis e juniores,
em Junho ou Julho, na cidade da
Beira ou em Chimoio. Igualmente
vamos realizar, ainda este ano, o
campeonato africano de xadrez de
sub-16, em Julho, para além de organizarmos
o torneio da CPLP no
dia 10 de Julho, dia de Portugal. Finalmente,
como que a fechar a época
desportiva com chave de ouro,
vamos organizar mais dois grandes
eventos, o primeiro vai acontecer
em Setembro ou Outubro, que será
a taça internacional Joaquim Chissano,
e o último será um simpósio
de xadrez.
Este leque de realizações faz parte
do vosso manifesto eleitoral?
-Claramente, são, sem dúvidas,
muitas actividades, mas é o que nos
propusemos a realizar tendo em
conta o nosso manifesto.
Campeonato Africano em
perspectiva
Falou da realização do campeonato
africano. A FMX quer organizar
o certame por iniciativa própria ou
foi uma proposta da federação internacional?
-Quem nos indicou foi a Federação
Internacional de Xadrez e claramente
percebo a sua inquietação
em relação à nossa capacidade de
acolhermos um evento desta envergadura,
mas pensamos que nada
FMX forma, em parceria com Academia da Matola, 180 mil crianças por ano em todo o país
É de pequenino que se torce o pepino
Por Paulo Mubalo
é impossível, até porque são duas
pessoas por cada país que vão participar,
quando muito três a quatro.
Por conseguinte, não vamos abdicar
das nossas obrigações, até porque
normalmente a federação internacional
aloca alguns fundos para o
efeito, o que certamente não será
excepção.
Sendo o xadrez, como disse a Dra.
Lucinda Cruz no dia da tomada de
posse, uma modalidade que não
desperta atenção do empresariado,
como é que sobrevive e quais são os
maiores desafios da federação?
- O maior desafio quando entrei
para esta federação era pôr a casa
bem organizada para acolher pessoas,
pois a sede da federação estava
totalmente estragada. Então,
tivemos de reabilitá-la e esse foi
o nosso maior desafio. Em menos
de um mês conseguimos reabilitar
a casa. Também deixa-me dizer
que hoje começou o curso de formadores
de xadrez na área militar.
Estamos a falar da massificação de
xadrez para todos e todo este mês
de Abril vamos fazer a massificação
na área policial e militar.
Encorajamento do Chefe
de Estado
Está a dizer que o país inteiro vai
jogar xadrez?
- Sem dúvidas, toda a gente vai
jogar xadrez neste país e este processo
da massificação começou
com a Academia de Xadrez da
Matola. Nós responsabilizamos a
Academia de Xadrez a fazer isso,
claro em coordenação com a FMX
e vamos continuar a fazer isso. E
hoje, felizmente, pudemos perceber
que Sua Excelência o Presidente
da República, Filipe Jacinto Nyusi,
está interessado pelo projecto, está
a apoiar o projecto de massificação
de xadrez para todos. É o que nos
enche de orgulho, sabermos que o
Presidente da República quer o xadrez
em todo o país. O presidente
manifestou esse desejo na reunião
que teve com as federações desportivas
nacionais no âmbito da visita
ao MJD. Ele gostou do nosso projecto
e encorajou-nos a desenvolver
o xadrez em todo o país e em todos
os níveis.
A massificação de qualquer modalidade
exige recursos financeiros
que, no caso, a FMX não os tem.
Qual é a saída?
- Realmente precisa-se de fundos
para massificar o desporto e é ciente
desta nossa limitação que contamos
com a colaboração da Academia de
Xadrez da Matola, que é parceira
na distribuição de tabuleiros e
formação de futuros craques. Este
trabalho ganhou visibilidade com a
minha eleição, porque há mais coordenação
institucional. Portanto, a
massificação vai acontecer em todas
as provinciais, em todo o país e não
vamos interromper nada. Vamos
apoiar naquilo que for necessário
fazer.
Em termos de qualidade, este é o
xadrez que o presidente sempre sonhou
para o nosso país?
- Bem, é difícil chegar à perfeição,
porque sempre queremos mais e
mais, mas repare que desde que
iniciou o processo de formação de
professores em todo o país, neste
momento, estamos a falar de seis
mil professores formados, sendo
que cada professor tem a responsabilidade
de apresentar, por ano,
trinta crianças na escola onde ele
lecciona. Ora, fazendo as contas,
estamos a falar de 180 mil crian-
ças que se estão a beneficiar desta
formação em todo o país. É através
deste tipo de iniciativas que se pode
alavancar o xadrez e, certamente,
vamos a tempo, pois as formações
não vão parar.
Proactividade, precisa-se
Aquando da tomada de posse, o
presidente disse que a FMX não
iria distribuir dinheiro às associa-
ções, iria sim ajudá-las na busca de
patrocínios junto de algumas empresas…
- Continuo a dizer isso, eu tenho,
felizmente, boas relações com os
governantes deste país e com alguns
responsáveis de muitas empresas
deste país. Eu pedi às associações
para que, quando voltassem
às províncias, me dessem os nomes
de algumas empresas que existem
nas suas províncias, mas até aqui
não me mandaram. Ora, não é fá-
cil, aqui em Maputo onde resido,
identificar uma empresa, por exemplo
na Beira, seja onde for, para
negociar patrocínio. Mas também
o outro maior desafio que temos
e eu havia esquecido é fazermos o
recenseamento de jogadores, fazermos
um banco de dados para
sabermos quantos jogadores temos.
Neste momento, não temos estes
dados, mesmo a nível das associa-
ções. Estamos a fazer o xadrez no
vazio. As formações estão sendo
feitas, mas as associações não estão
a aproveitar os atletas que estão
O
que me diz do desempenho das associações provinciais?
-O que é importante na verdade é que as associações
províncias devem trabalhar mais, o que acontece é que
algumas estão à espera que a federação faça tudo, o que não é
possível. Elas têm o seu manifesto, então devem procurar formas
de realizar as actividades a que se propuseram. O que acontece é
que neste momento ficam à espera da federação, mas a federa-
ção não tem de dar dinheiro, nós não damos dinheiro às associa-
ções, pelo contrário, elas devem pagar as quotas e fazer tudo para
sustentar a Federação, o que não está a acontecer. Então, porque
se elegeram, porque se candidataram? O meu apelo é que as associações
provinciais devem trabalhar, têm um projecto, devem
procurar fundos para a realização do projecto que apresentaram.
Alguns presidentes das associações estão há muito tempo
à frente dos destinos da modalidade e deviam ser mais proactivos.
Algumas associações ficam à espera da federação, mas nós
trabalhamos com base em projecto, e o projecto é direccionado
para um certo fim e não pode ser desviado, sob risco de sermos
crucificados, sermos considerados como se estivéssemos a aplicar
mal os fundos, ou mesmo como se estivéssemos a desviar os
fundos. É isto que estamos a evitar.
Associações devem
mostrar serviço
sendo formados no país.
Qual é o papel da FMX em relação
às associações não legalizadas?
- Bem, em relação a algumas associações
não legalizadas, nós continuamos
a fazer apelos para que se
legalizem, porque sem cumprirem
essa formalidade dificilmente podem
conseguir apoios, e não compete
à federação para que as legalize,
são os próprios membros que
devem fazer isso.
O xadrez foi, no passado, uma modalidade
problemática. Como se
sente na FMX?
- Estou bem, não tenho problemas
de queixas e sinto-me bem ao lado
de todos os meus colaboradores directos.
A máquina está a funcionar
muito bem e tudo o que planificamos
vai se concretizar. Tenho uma
equipa jovem, se calhar o mais
velho da equipa sou eu, gosto de
trabalhar com jovens, vontade de
lhes ensinar algo nunca me faltou e,
em contrapartida, tenho aprendido
muito com eles. Então, estamos
juntos neste barco até ao fim.
Presidente, assiste à proliferação
de professores de xadrez sem formação.
O que tem a dizer?
-Queria, antes de comentar a questão
que me coloca, apelar às empresas
e pessoas de boa vontade para
que apoiem o xadrez, que aproximem
de nós. Em relação às escolas
que estão a ensinar o xadrez, gostaríamos
que passassem a formar
os seus professores, porque a um
dado momento não iremos permitir
que quem não tenha o nosso
reconhecimento dê aulas de xadrez
em qualquer parte do país. Tem de
haver conhecimento, tem de haver
formação por forma a uniformizar-
-se o método de ensino.
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24 Savana 31-03-2017 CULTURA
O
agrupamento TP50 realizou
no dia 16 de Março
corrente, na Fundação
Fernando Couto, uma
sessão de apresentação das actividades
comemorativas dos seus 10
anos de existência.
Ao longo de uma década, o TP50
realizou 30 espectáculos temáticos
com participação de cerca de 200
artistas, entre amadores e profissionais,
da música, da dança, do teatro,
da poesia, da fotografia, entre
outros. Foi uma actividade intensa
que pretendeu exaltar os valores
sociais e a integração de diferentes
expressões artísticas e culturais.
Para comemorar estes 10 anos,
o TP50 elaborou um plano para
2017 que inclui um CD Infantil,
em tributo ao Tio Turutão, 1 CD
as obras do grupo, 1 Livro Catálogo
bem como dois shows musicais um
dos quais dedicado às crianças.
“A vida e obra de Ernesto Edgar
Santana Afonso, ou simplesmente
Tio Turutão, como ficou conhecido
pelas crianças, serão retratados em
disco a ser lançado em Junho pela
banda TP50, no âmbito das celebrações
dos 10 anos da sua criação”,
explica António Prista, líder do
grupo.
Amigo das crianças e figura importante
da radiodifusão moçambicana,
Ernesto Edgar de Santana
Homenagem merecida ao Tio Turutão
Afonso faleceu no dia 18 de Março
corrente. Vivia em Portugal.
Na década de 70 e 80 do século
passado, destacou-se na programa-
ção infantil da Rádio Moçambique,
sob o pseudónimo Tio Turutão.
Dinamizou a produção de música
infantil, sendo disso exemplo o disco
“Bons Sonhos”.
A sua vasta produção inclui o seriado
de teatro radiofónico “Unahiti, o
guerrilheiro”.
De raízes zambezianas, Tio Turutão
foi também jornalista da
Deutsche Welle, a rádio internacional
da Alemanha.
Após a estadia naquele país, regressou
a Moçambique e concentrou-se
no jornalismo e produção de programas,
com realce para o jazz, na
Rádio Cidade, em Maputo.
Como forma de homenagear esta
figura incontornável de programas
radiofónicos do país o jornalista,
Albino Moisés escreveu uma cró-
nica que espelha de alguma forma
o sentimento de muitas crianças
desse tempo. “Na década oitenta,
sábado era o dia mais chato da semana.
Parecia que os ponteiros do
relógio andavam mais preguiçosos
a caminho do domingo. Era como
se o sábado conseguisse amealhar
mais horas que as 24 que lhe eram
reservadas.
Eu ficava roendo as unhas impaciente
para ver chegar o domingo.
Porque domingo era o meu dia
sagrado. Dia do rádio. Dia do Tio
Turutão, do Turuto e da Turuta.
Dia da Tia Suzana Rita. Dia dos
meninos e das meninas. Dia do
Programa da Criança da Rádio
Moçambique. Eu ficava excitado
com o domingo, porque era o dia
em que o Tio Turutão punha no
ar nossos nomes perante milhões
e milhões de moçambicanos que
“acompanhavam” o programa através
dos seus “Xiricos” espalhados
do Rovuma ao Maputo.
Na minha cidade, Mocuba, na
Zambézia, os moradores já pela
manhã cedo sintonizavam a antena
nacional e colavam o “Xirico” ao
ouvido à espera que o “Tio Turutão
sabe-tudo” entrasse no ar.
Certa manhã de domingo, no horário
habitual, o Tio Turutão e sua
equipa entraram pelas nossas casas
como sempre com aquela alegria
solta. A meio do programa, na rubrica
“Correio dos amiguinhos”
Tio Turutão anunciou com muita
pompa ter recebido na Redacção
uma carta “muito bonita” de um
amiguinho de Mocuba. De propósito,
não divulgou a autoria do
articulista. Creio para criar aquele
suspense. Passado um tempinho, finalmente
desvendaram o nome do
autor da correspondência: Albino
Moisés (eu mesmo!) quase morri
de ataque cardíaco ao escutar meu
nome em grande destaque. Minha
carta mereceu parangonas do Tio
Turutão. Para minha felicidade, a
carta/redacção intitulada “A minha
cidade” foi lida na íntegra! Eu e
minha família reunidos à volta do
“xirico” gritávamos enlouquecidos
como se estivéssemos num campo
de futebol a ver um “corte de
bicicleta” de Joaquim João ou um
golo fabuloso de João Onofre do
Palmeiras de Quelimane. Depois
da leitura, o Tio Turutão fechou
o programa com um comentário
elogioso e recomendou a “todos os
amiguinhos” a apostarem em redac-
ções inspiradas em histórias locais,
da povoação, cidade ou vila de cada
um. No dia seguinte eu era uma
pequena estrela de Mocuba …por
culpa do “Tio Turutão” meu nome
andava na boca do povo. Na escola,
os professores estavam orgulhosos
de mim, especialmente o meu professor
Paulo Cigarro, que esbanjou
a aula falando sobre a importância
da escrita.
A.S
Tio Turutão faleceu no dia 18 de Março em Portugal
F
alando na cerimónia de
transferência de gestão do
Monumento de Mabalane
– erguido em homenagem
aos 75 ex-presos políticos –, do
Ministério da Justiça, Assuntos
Constitucionais e Religiosos
para o Ministério da Cultura e
Turismo no dia 24 de Março, em
Mabalane, o Ministro da Cultura
e Turismo, Silva Dunduro,
começou por destacar as acções
do governo moçambicano na valorização
da memória colectiva
dos que se destacaram nas lutas
clandestinas de libertação de
Moçambique.
No mesmo acto, comprometido
com a história, Dunduro garantiu
que o seu Ministério irá transformar
o Monumento de Mabalane,
que conta com um Museu que
apresenta o espólio dos 75 ex-
-presos políticos, em principal
ponto de referência para a realização
de intercâmbios entre alunos
de escolas circunvizinhas, na
perspectiva de que se desenvolvam
programas extracurriculares,
que participem na divulgação da
história nacional.
Dando eco às acções que o seu
Ministério tem estado a realizar
na promoção de Museus e Monumentos,
o governante disse
Atracção turística
em Mabalane
que o local deverá ser transformado
em ponto de referência
para o desenvolvimento do Turismo
Cultural, uma medida
que ajudará na massificação da
história e cultura moçambicanas,
dentro e fora do País.
Segundo Isaque Chande, Ministro
da Justiça, Assuntos Constitucionais
e Religiosos, a gestão
do Monumento foi entregue
ao Ministério certo, que poderá
garantir a preservação e divulga-
ção da história de Moçambique.
Chande destacou ainda o facto
de a transferência de gestão
do Monumento não significar
abandono completo do local por
parte do seu Ministério, que terá
a missão de assegurar a limpeza
e segurança do espaço.
Recorde-se que Mabalane se
tornou tristemente célebre na
história de Moçambique ao se
ter convertido, durante as lutas
clandestinas pela independência,
num local de torturas e de repressão.
No local remota a histó-
ria de um grupo de 75 moçambicanos,
interceptado e detido
pelas autoridades sul-africanas, a
09 de Maio de 1964, na fronteira
entre África do Sul e Botsuana,
mais tarde repatriado e encarcerado
na Cadeia de Mabalane, em
causa a sua acção política. A.S
O
músico Chuck Berry, um
dos pioneiros do género
musical rock, morreu no
dia 18 de Março, aos 90
anos no Missouri, nos Estados
Unidos, informou a polícia local.
O guitarrista lendário foi encontrado
em sua casa já sem sinais
vitais. A causa da morte ainda não
foi revelada. “O departamento de
polícia do condado de St. Charles
infelizmente tem de confirmar a
morte de Charles Edward Anderson
Berry Sénior, melhor conhecido
como o lendário músico Chuck
Berry”, afirmou a polícia, em nota.
Ídolo dos Beatles e dos Rolling
Stones, Chuck Berry era conhecido
por clássicos como “Johnny B.
Good”, “Sweet little sixteen” e “You
never can tell”. Esta última música
ganhou destaque nos anos 90 por
causa de uma das cenas mais famosas
de “Pulp fiction”, do director
Quentin Tarantino. Também gravou
“Maybellene” e “Roll over Beethoven”
e “Memphis, Tennessee”.
Sua marca no género foi tão grande
que certa vez John Lennon, dos
Beatles, falou: “Se você tiver de dar
outro nome ao rock’n’roll, poderia
chamá-lo de Chuck Berry”.
Em Outubro, ao completar seus 90
anos de idade, Berry anunciou através
das redes sociais seu primeiro
álbum desde 1979. O álbum “Chuck”
estava previsto para ser lançado
em 2017 com músicas novas escriPartiu
o ídolo dos guitarristas
tas e gravadas pelo músico.
Ele dedicou o disco à sua esposa,
Themetta “Toddy” Suggs, com
quem viveu durante os últimos 68
anos. “Querida, estou ficando velho!
Trabalhei durante muito tempo
neste disco. Agora posso pendurar
as chuteiras”, disse o cantor.
Nascido em 18 de Outubro de
1926, em Saint Louis, também no
Missouri, Berry dizia emular “a clareza
vocal suave de seu ídolo, Nat
King Cole, enquanto tocava músicas
de blues de gente como Muddy
Waters”, descreve a biografia em
seu site oficial.
Berry passou a dedicar-se exclusivamente
à música nos anos 1950,
quando formou um trio com um baterista,
Ebby Harding, e um tecladista,
Johnnie Johnson. Ele atingiu
sucesso em 1955 quando conheceu
a lenda do blues Muddy Waters e o
produtor Leonard Chess em Chicago,
e passou a misturar estilos do
country e do blues do sul dos EUA
com uma pegada pop, mais palatá-
vel para as rádios.”Eu queria tocar
blues”, afirmou Chuck Berry em
entrevista à revista “Rolling Stone”.
“Mas eu não era ‘blue’ (triste) o suficiente.
Eu sempre tive comida na
mesa.”
Além das músicas e da influência
sobre todo um gênero, o músico
também deixou sua marca na famosa
“duck walk”, na qual tocava
sua guitarra enquanto pulava em
uma perna agachado pelo palco.
Em 1986, ele fez parte do primeiro
grupo de artistas a entrar no Hall
(Muro) da Fama do Rock and Roll.
Berry foi apresentado pelo guitarrista
dos Rolling Stones, Keith Richards.
A.S
Bruce Springsteen e Chuck Berry apresentam ‘Johnny B. Good’ na abertura do The
Concert for the Rock & Roll Hall of Fame, em setembro de 1995
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1212 DE MARÇO DE 2017
O dedica esta semana o seu suplemento
a pérolas jornalísticas. Por vezes,
algumas são até bastante cómicas. Outras,
prenunciam pouco trabalho ou ignorância.... Dobra por aqui
2 Savana 31-03-2017 SUPLEMENTO Savana 31-03-2017 3
Savana 31-03-2017 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) Ultimamente as coisas andam mal no nosso país. As áreas prioritárias
já mostram sinais de derrocada. A economia está muito abaixo das
expectativas e se todas as áreas que compõem a nossa sociedade estão
fragilizadas, imaginem a área cultural.
Como todos sabemos, a cultura é a área que sempre ficou para o último plano
quando se trata de incentivos, financiamentos e outros aspectos. Actualmente,
não me recordo de ter ouvido sobre um evento de cultura nacional digno de
registo. Os artistas quase que andam desaparecidos. Não ouvimos falar deles.
Contudo, aparecem figuras a dizer que um país sem cultura não é nada. Só
falam de boca para fora.
Não é por acaso que o cantor Wazimbo exprime o seu descontentamento a
David Abílio, antigo director da Companhia Nacional de Canto e Dança.
Como se dissesse que as coisas não estão bem no nosso país desde a morte
de Samora Machel. Os dirigentes pouco fazem para mudar este cenário de
marginalização cultural. Por seu turno, David Abílio não demonstra nenhuma
compaixão com o que escuta. Teve sempre a vida tranquila como se diz por aí.
Nesta segunda imagem, logo que a vi recordei-me de um aspecto que sempre
acontecia num programa radiofónico matinal da nossa rádio nacional, apresentada
pelo malogrado jornalista e locutor, Emílio Manhique, denominado
Bom Dia Moçambique. Refiro-me ao facto de todos os dias ser possível ouvir
uma ligação assídua do Jorge Paulino, que aparece de blusão vermelho. Acreditamos
que o Director da Escola de formação da Rádio Moçambique, João
Matola, com o olhar acompanhado de um sorriso, esteja a recordar esses momentos
protagonizados pelo seu companheiro de conversa.
Recentemente soubemos que o monumento erguido para homenagear os 75
ex-presos políticos em Mabalane vai tornar-se uma atracção turística nos pró-
ximos tempos. Falando de Mabalane, também recordamos que o Arsénio Sérgio
foi o preso político mais jovem. Contam os mais sabidos que ele era bebé
quando a sua mãe foi presa na cadeia de Mabalane. São os ventos da nossa
história que sopram. Deve estar a contar este facto ao músico Fernando Luís,
que ficou de boca cerrada.
Com a crise instalada na única companhia aérea nacional, LAM, os dedos acusatórios
surgem por todos os lados. Sabemos que esta companhia demonstra
não ter capacidade para desempenhar as suas funções. A pergunta que não se
quer calar é porque não criam condições para a entrada de novas companhias
aéreas? O espírito de monopólio já não tem espaço na conjuntura actual.
É difícil avaliar as competências de um gestor de uma empresa que se encontra
numa situação de decadência. Mas a indignação do PCA do Standard Bank
e CDM, Tomaz Salomão, que está de braços abertos, é bem visível. Enquanto
isso, o Ex-Ministro das Obras Públicas, João Salomão, e Abubacar Chana,
Juiz Conselheiro do Tribunal Administrativo, prefere disfarçar a indignação
com um sorriso maroto.
Sabemos que no próximo dia 7 de Abril comemoramos o Dia da Mulher Mo-
çambicana. No passado dia 8 de Março comemoramos o Dia Internacional
da Mulher. Por isso fechamos coma imagem da cantora Helena Nhantumbo
que aparece a cantar em louvor à mulher. Esperamos que o desaparecimento
dos artistas pare por aqui. Sabemos que as coisas andam assim no nosso país.
Como vão as coisas?
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF.BSÎPEFt"/099*7t/o
1212 Diz-se... Diz-se
Naíta Ussene
*
nserido no âmbito do debate
sobre a descentralização e
desconcentração administrativa
no território nacional, a
bancada parlamentar do Movimento
Democrático de Moçambique
(MDM) foi, quarta-feira, à
quarta comissão, a da Administra-
ção Pública e Poder Local da Assembleia
da República, defender o
seu projecto O
Banco Comercial e de
Investimentos (BCI) e
a multinacional americana
de serviços financeiros
corporativos, American
Express, formalizaram, nesta
terça-feira, em Maputo, um
acordo de parceria estratégica, o
qual vai tornar o BCI o parceiro
comercial em Moçambique na
aceitação de cartões American
Express. Em representação do
BCI, rubricou o acordo o Presidente
da Comissão Executiva,
Paulo Sousa, e da outra parte a
American Express em Moçambique
responsabilidade coube à vice-
-Presidente para o Desenvolvimento
de Parcerias Bancárias
para a Europa, Médio Oriente e
África, Catherine Malec.
Através desta parceria, o BCI
passa a aceitar os cartões American
Express em toda a sua rede de
terminais de pagamento (POS) e
caixas automáticos (ATM). No
quadro deste acordo, cabe ainda
ao BCI a responsabilidade pela
gestão das relações com os comerciantes,
bem como a expansão
da rede American Express
em Moçambique, mantendo e
intensificando as relações com os
Comerciantes.
Falando em torno da parceria
com a American Express, Paulo
Sousa destacou: “esta solução
que apresentamos é sem dúvida
um benefício e uma mais-valia
para os comerciantes, especialmente
para os que operam nos
hotéis, restaurantes, rent-a-car
e supermercados, pois os portadores
de Cartões American Express,
que estarão a viajar para o
país, possuem um elevado poder
de compra e são bastante leais a
esta importante marca, procurando
activamente comerciantes que
aceitem os seus cartões”. E acrescentou:
“Gostaria ainda de realçar
que esta parceria irá contribuir, de
certa forma, para promover o desenvolvimento
de Moçambique
como destino turístico da região
sul de África.”
Por seu turno, Catherine Malec,
a responsável da American Express,
preferiu destacar o facto
de Moçambique ter uma posição
estratégica como centro de negó-
cios e ser um mercado em ascensão.
“Em Moçambique, o sector
do turismo tem muitas potencialidades.
Na África do Sul temos
uma aceitação muito grande dos
nossos cartões e esses clientes
viajam frequentemente para Mo-
çambique em turismo e em negó-
cios.” Realçou ainda as qualidades
do parceiro: “O BCI é líder das
instituições financeiras moçambicanas,
sendo um banco em que
depositamos toda a confiança.”
Savana 31-03-2017 EVENTOS
2
A
pós 10 anos de paralisação,
o Presidente da República
(PR), Filipe Nyusi, inaugurou,
nesta segunda-feira,
27, a Central Hidroeléctrica de
Mavuzi, distrito de Sussundenga,
Província de Manica, um projecto
avaliado em 120 milhões de dólares
americanos e inclui também a central
hidroeléctrica de Chicamba.
A reabilitação dos dois empreendimentos
contou com apoio do
Governo da Suécia bem como dos
Inaugurada central hidroeléctrica de Mavuzi
créditos da Alemanha e França. A
Suécia disponibilizou ao Governo
de Moçambique um donativo de
36 milhões de Euros.
Para a Suécia, esta inauguração
representa um importante marco
nas relações de cooperação entre as
duas nações e é uma demonstração
clara do compromisso do Governo
em garantir o acesso do povo mo-
çambicano à energia fiável e acessível.
“É com um sentimento de satisfa-
ção que testemunhamos este grande
marco para Moçambique. Estamos
orgulhosos por ter participado
neste processo e contribuído para a
concretização deste acto importante
para o povo moçambicano”, disse
a Embaixadora da Suécia em Mo-
çambique, Irina Schoulgin Nyoni.
Acrescentou ainda: “para a Suécia,
a energia renovável é uma medida
importante no combate às mudan-
ças climáticas”.
Segundo Nyoni, a possibilidade
de utilizar o aumento da capacidade
de produção de electricidade
através das energias hídricas em
Moçambique para ter acesso aos
fundos internacionais de financiamento
climático deve ser considerada.
A Central Hidroeléctrica de Mavuzi
é considerada a mais antiga
infra-estrutura de produção de
energia da Eletricidade de Mo-
çambique. Erguida há 60 anos, a
central foi vandalizada durante o
conflito armado e, posteriormente,
passou por uma reabilitação de
modo a garantir a sua operacionalidade,
embora de forma básica, para
fazer face às necessidades da população
local.
Com a recente reabilitação das
Centrais Hidroeléctricas de Mavuzi
e Chicamba, a capacidade instalada
vai passar para 90MW, por
dia, que deverá abastecer as províncias
de Sofala e Manica. As obras
consistiram na reabilitação de turbinas
e alternadores, fornecimento
de novos transformadores, novo
sistema auxiliar de baixa tensão, reabilitação
do equipamento de alta
tensão na subestação principal, incluindo
novos disjuntores, reabilitação
das comportas, bem como 2,1
quilómetros de túnel, entre outros.
O
município de Dondo, na
província de Sofala, testemunhou
recentemente o
lançamento de um projecto
que vai contribuir na melhoria
do acesso aos serviços e cuidados
de saúde primários, universais inclusivos
e de qualidade
Trata-se do programa de monitoria
de políticas públicas no sector de
saúde, que está sendo levado a cabo
pela Associação Moçambicana
para o Desenvolvimento Concertado
(AMDEC) que deverá promover
acções de capacitação das
comunidades rumo a identificação,
análise e tomada de decisões para
resolução dos problemas de saúde,
provisão de água e saneamento.
Para o sucesso deste projecto, mostra-se
crucial o estabelecimento de
uma plataforma de diálogo entre
o município, sector da saúde e comunidades
bem como fortalecer
a comunidade em ferramentas de
monitoria e advocacia.
De acordo com o plano do projecto,
AMDEC em prol de serviços de saúde de qualidade
será imprescindível o apoio aos actores
locais na realização de acções
de advocacia para melhoria da qualidade
dos serviços de saúde a nível
municipal. Para tal, a AMDEC vai
apostar em acções de capacitação,
debates radiofónicos e campanhas
educativas através de teatro entre
outros.
O programa que conta com o financiamento
do programa AGIR,
da embaixada da Suécia, espera em
seis meses (Março - Setembro duração
do projecto) melhorar o acesso
aos serviços e cuidados de saúde
primários, universais inclusivos e de
qualidade. Espera ainda melhorar o
acesso aos serviços sexuais reprodutivos
para jovens e adolescentes.
Na cerimónia de lançamento que
contou a presença dos representantes
do Governo a nível local, 22 associações,
entre outros, a directora
executiva da AMDEC, Gilda Jossias,
explicou que a sua instituição,
, intervém apenas como parceiro de
apoio institucional e operacional
das organizações de base, o que significa
que vai apostar na capacita-
ção dos actores do distrito para que
sejam eles a desenvolver as acções
da AMDEC.
Destacou ainda Gilda Jossias que
depois do lançamento do projecto
de monitoria de políticas públicas
no sector da saúde, as acções da sua
organização vão alastrar-se para
outros pontos do país, salientando
que AMDEC é membro do mecanismo
de coordenação de Mo-
çambique para o fundo global, um
órgão que faz advocacia para que
Moçambique possa receber fundos
virados para o HIV, Malária e Tuberculose,
áreas em que trabalham
de momento.
O programa deverá recorrer ao
uso de cartão de pontuação comunitária
como um dos meios de
avaliação do grau de satisfação das
comunidades sobre a qualidade dos
serviços de saúde, provisão de água
e sistema de saneamento.
A
Cervejas de Moçambique
(CDM) inaugurou,
na semana finda,
quatro fontenárias
que garantem água com qualidade
às comunidades de Retane,
Corrolane e Morromote,
do distrito de Meconta, na
província de Nampula. Esta
foi uma iniciativa da Cervejas
de Moçambique através do seu
programa de responsabilidade
social, que identificou esta
necessidade junto das comunidades
e localidades onde opera
a sua fábrica de Nampula,
reforçando deste modo o seu
compromisso de desenvolver
a sua actividade, contribuindo
para o desenvolvimento social.
As fontenárias vão servir cerca
de 8.000 pessoas que perCDM
expande água potável em Nampula
fazem as três comunidades beneficiárias
deste recurso natural,
melhorando, significativamente,
as suas condições de vida, uma vez
que, anteriormente estavam obrigadas
a percorrer grandes distâncias
para ter acesso à água potável,
sinalizando assim o cometimento
e a importância que a CDM tem
demonstrado, como uma empresa
socialmente responsável.
A iniciativa tem um significado
muito especial, uma vez que
a Cervejas de Moçambique quis
juntar-se às comemorações do Dia
Mundial da Água, que se celebrou
no dia 22 de Março último.
Segundo José Moreira, Administrador
Executivo da Cervejas de
Moçambique, “o alicerce deste tipo
de Investimento de índole social
implica necessariamente o engajamento
de todos os Stakeholders,
com particular realce no
utilizador final, a quem cabe
a responsabilidade de zelar
para a excelente qualidade
de funcionamento e conservação
desta infra-estrutura.”
O objectivo desta iniciativa
é de contribuir de forma
efectiva para a melhoria das
condições de vida das populações.
O desenvolvimento
comunitário é uma das
áreas de acção do programa
(construção de infra-estruturas
para saúde, desporto,
reflorescimento de árvores e
empoderamento das comunidades
através de produção
em escala da mandioca e do
milho), e que tem sido implementado
ao longo dos
anos com enorme impacto
na vida das populações.
I
naugura no dia 4 de Abril próximo,
no Camões – Centro Cultural
Português em Maputo, a exposição
Plano das Coisas de Jorge
Dias com uma oferta ao público de
um conjunto de mais de 40 obras. A
obra dá continuidade ao trabalho que
Jorge Dias tem vindo a desenvolver ao
longo dos últimos anos, de acumula-
ção, justaposição e deslocamento de
objectos, artesanato e acessórios em
composições diversas. O artista coloca
constantemente em causa o mundo
em seu redor, reflectindo sobre o que
o inquieta mediante um pendor social,
humano e político, ao mesmo tempo
que questiona o campo artístico,
sobretudo na forma como desafia os
meios de expressão considerados mais
clássicos.
As “Coisas” de Jorge Dias, palavra que
o artista tem vindo a utilizar para algumas
das obras tridimensionais, são
aqui colocadas em confronto com a
bidimensionalidade de um plano, o
qual se volta a “transformar” numa
composição com três dimensões, ao
apresentar uma acumulação de objectos
diversos, cada um deles com textura,
cor e forma.
Em Plano das Coisas, o lado “orgânico”
da obra, Jorge Dias desafia e expande
o espaço expositivo, ao ocupar
o pátio exterior da galeria do Camões
com uma instalação que resgata vários
objectos, reinventando novas formas e
criando relações que são também um
convite ao público para nela participar,
pois é na relação obra-espaço-espetador
que a instalação pode ser considerada
completa.
A exposição Plano das Coisas é acompanhada
de um pequeno catálogo, com
textos de Alexandra Pinho, António
Cabrita e João Silvério.
Esta exposição estará patente no Camões
– Centro Cultural Português
em Maputo entre 4 de Abril e 4 de
Maio. Em seguida, segue viagem para
a Beira, onde poderá ser visitada no
Camões – Centro Cultural Português
Pólo da Beira, de 12 de Julho a 10 de
Agosto de 2017.
“Plano de coisas”
inaugura no Camões
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UNFPA, Fundo das Nações Unidas de População,
é uma agência de desenvolvimento
internacional trabalha em prol de um mundo
onde cada gravidez é desejada, cada parto é
seguro e o potencial de cada jovem é realizado.
UNFPA gostaria de convidar potenciais concorrentes
elegíveis a apresentarem propostas
fechadas para o fornecimento de materiais
de embalagem em sacos plásticos e caixas em
cartão canelado para o empacotamento de diversos
materiais a serem usados no âmbito da
organização do Recenseamento Geral da População
de Moçambique.
Termos de Referência detalhados e documentos
de licitação estão disponíveis no website
através do link: https://www.ungm.org/Public/Notice/55353
$VHPSUHVDVLQWHUHVVDGDVHTXDOLÀFDGDV
deverão submeter as suas propostas em envelope
lacrado em conformidade com o estipulado
nos documentos de licitação até 11: 00hrs
(hora de Copenhaga de Segunda-feira 10 de
abril de 2017. O UNFPA reserva-se ao direito
de aceitar ou rejeitar parte ou todas as propostas
sem necessidade de apresentar qualquer
MXVWLÀFDomRSDUDWDOGHFLVmR
CONCURSO PARA O
FORNECIMENTO
DE MATERIAL DE EMBALAGEM
EM PLASTICO E CARTAO CANELADO
O
s bicampeões mundiais de
salto acrobático com corda
visitaram, nesta quarta-
-feira, a Willow Internacional
School. Na visita que os
saltadores fizeram àquele estabelecimento
de ensino instruíram as
crianças como saltar a corda assim
como abrilhantaram a ocasião com
alguns números que os levaram ao
lugar mais almejado do pódio nas
duas últimas edições do Campeonato
do Mundo.
Elvis Domingos Nandza, atleta
e treinador da selecção nacional,
carinhosamente tratado nos meandros
desportivos por Elvis Saltador,
mostrou-se feliz por ter sido
convidado a visitar a Willow Internacional
School, uma vez que foi
uma soberana oportunidade para
promover a modalidade com vista
a ganhar mais praticantes.
“Apesar das pessoas não conheceCampeões
Mundiais de salto acrobático
visitam Willow Internacional School
rem a modalidades, sentimo-nos
felizes pela hospitalidade. As crian-
ças apaixonaram-se pelo salto acrobático
com a corda e olhamos para
isso como um incentivo para continuar
a lutar apesar das dificuldades
que enfrentamos no presente”, disse
Nandza, para depois acrescentar
que a sua equipa está a preparar-se
para o Sport-Day, evento que será
organizado pela Willow no dia 20
de Maio. “Estamos a visitar escolas
com intuito de angariar fundos com
vista a seguir viagem para África do
Sul para participar no Sport Festival
Arnold Schwarzenegger, um
festival organizado pelo Arnold
Schwarzenegger”.
Nas duas últimas edições dos Campeonatos
Mundiais de Salto acrobático
com a corda, Moçambique
ocupou o lugar mais almejado do
pódio, porém, pode estar em risco a
defesa do título na próxima edição
da competição.
A falta de apoio por parte do empresariado
nacional e das institui-
ções que gerem o desporto no país
está por detrás da decisão do atleta
e treinador da selecção nacional.
Elvis Saltador falou à nossa equipa
de reportagem que no presente o
combinado nacional não pensa na
participação no Mundial por falta
de patrocinadores.
“Preparamos o último mundial em
dois meses e nem tínhamos a certeza
de que seguiríamos para Portugal
porque não tínhamos fundos
para custear as passagens áreas, o
alojamento e a própria alimentação.
Com vista a ter o valor necessário
para seguir viagem, tivemos de andar
a bater portas de dia e treinar as
coreografias de noite. Isso foi deveras
desgastante, por isso, no presente
abdicamos do Mundial”.
O bicampeão mundial de salto
acrobático com a corda não fecha
a porta a uma possível presença no
Mundial onde Moçambique ia defender
os dois títulos.
F
oi lançado esta semana, em
Maputo, o livro “Código
Penal moçambicano - Directo
ao assunto”, da autoria
do jurista e jornalista Leandro
Paul, que tem por objectivo facilitar
a consulta da Lei nº 35/2014,
de 31 de Dezembro. Trata-se um
índice alfabético e remissivo, com
mais de 50 mil palavras-chave em
192 páginas.
Gilberto Correia, advogado e
prefaciador do livro, escreve que
“para o cidadão comum, para os
técnicos não juristas, para os estudantes
de Direito, pouco familiarizados
com o folhear de diplomas
legais extensos, a possibilidade de
consultar o índice remissivo do
novo Código Penal moçambicano
e ir ‘directo ao assunto’ consubstancia
algo de muito prestimoso”.
Acrescenta que “a obra é de extrema
utilidade para todos aqueles
que não lidam com o Código
Penal diariamente. Daí que
Lançado livro “Código
Penal moçambicano -
Directo ao assunto”
quando têm de consultá-lo, na
busca do tratamento penal de um
conceito ou de uma determinada
situação jurídica, perdem muito
do seu precioso tempo à procura
de encontrar a norma que os contempla,
precisamente por falta de
meios auxiliares de busca directa,
como este que nos é generosamente
fornecido pelo autor”.
Leandro Paul, de nacionalidade
moçambicana, nasceu na Cidade
da Beira, em 1961. Licenciado
em Ciências Jurídicas pela Universidade
Politécnica, em Maputo,
foi assistente nas cadeiras de
Direito Económico e Direito das
Obrigações (2016), sendo actualmente
docente de História do
Direito. É jornalista há mais de 35
anos, tendo exercido diversos cargos
editoriais, alguns dos quais de
direcção, em publicações moçambicanas
e portuguesas, para além
de ter sido membro do Conselho
Superior da Comunicação Social
(CSCS).
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Encontra-se aberto concurso para a atribuição de 9 Bolsas
de Estudo de Doutoramento, no âmbito do Projecto
de Energia - Projecto NICHE-MOZ-231-263, designado
“Innovative ways to transfer technology and know-how, developing
skills and expertise for gas, renewable energy and
management”, em fase de implementação pelo consórcio
Moçambicano (Universidade Eduardo Mondlane, Universidade
Católica de Moçambique, Universidade Lúrio,
e Instituto Superior Politécnico de Songo), em parceria
com a Universidade de Groningen (Reino dos Países Baixos),
a Energy Academy Europe (Reino dos Países Baixos),
e a Universidade de Stellenbosch (África do Sul).
As bolsas atribuídas no âmbito do presente concurso seUmRÀQDQFLDGDVSHOR5HLQRGRV3DtVHV%DL[RVDWUDYpVGD
EP-NUFFIC (organização para a internacionalização da
educação), para temas relacionados com petróleo e gás
natural, energias renováveis e assuntos transversais, nas
seguintes condições:
ÉUHD&LHQWtÀFD
(QJHQKDULD
(FRQRPLD
&LrQFLDV$PELHQWDLV
2. Requisitos de admissão:
3RVVXLU0HVWUDGRHPiUHDUHOHYDQWHSDUDLQYHVWLJDomR
na área de energia.
7HUFRQFOXtGRR0HVWUDGRFRPDFODVVLÀFDomRÀQDOPtnima
de Bom.
7HUH[SHULrQFLDSURÀVVLRQDOFRPSURYDGD
3RVVXLUERQVFRQKHFLPHQWRVGDOtQJXD,QJOHVD
7HUGLVSRQLELOLGDGH SDUD WUDEDOKDU QXPDGDVLQVWLWXL-
ções do consórcio Moçambicano durante e após conclusão
da formação.
3. Destinatários: Docentes, Investigadores e membros do
Corpo Técnico Administrativo das Instituições de Ensino
Superior, membros do consórcio Moçambicano (Universidade
Eduardo Mondlane, Universidade Católica de
Moçambique, Universidade Lúrio e Instituto Superior
Politécnico do Songo), assim como outros interessados
e público em geral, desde que aceitem integrar, caso venham
a ser selecionados, uma das Instituições de Ensino
Superior, que fazem parte do consórcio acima referido.
ENCORAJA-SE particularmente a participação de CANDIDATOS
DO SEXO FEMININO para este programa.
4/RFDOGHIRUPDomR O programa de formação será realizado
a tempo inteiro, quer em Moçambique, em Instituições
de Ensino Superior (membros do consórcio mo-
çambicano), quer em Instituições de Ensino Superior do
Reino dos Países Baixos (Universidade de Groningen) ou
da África do Sul (Universidade de Stellenbosch) - instituições
parceiras do projecto “Innovative ways to transfer
technology and know-how, developing skills and expertise for
gas, renewable energy and management”.
'RFXPHQWRVGHFDQGLGDWXUDDVHUHPDSUHVHQWDGRV
Curriculum vitae actualizado e detalhado (em língua Inglesa)
'LSORPDGH0HVWUDGRHPOtQJXD,QJOHVD
&HUWLÀFDGRGDVFDGHLUDVIHLWDVGXUDQWHR0HVWUDGRHP
língua Inglesa)
&ySLDGDGLVVHUWDomRGH0HVWUDGRQDOtQJXDRULJLQDO
&DUWD GH DSUHVHQWDomR HPRWLYDomR HVFULWD HP OtQJXD
Inglesa, com indicação dos motivos que levam o(a)
candidato(a) a concorrer à bolsa de estudo, e com a indicação
da preferência da Instituição de Ensino Superior,
membro do consórcio moçambicano (para integra-
ção durante e após conclusão da formação)
3URSRVWDGHSURMHFWRGHLQYHVWLJDomRFRPLQWURGXomR
objectivos, fundamentação, metodologia, e resultados
esperados (aproximadamente 2 páginas)
5HIHUrQFLDV DFDGpPLFDV GH SHOR PHQRV GXDV SHVVRDV
TXHWHQKDPDFRPSDQKDGRSDUWHGRSHUÀODFDGpPLFR
do candidato)
6. Critérios de Avaliação: A avaliação do (a) candidato (a)
D%ROVHLURDEDVHDUVHiŮQRVVHJXLQWHVFULWpULRV
$GHTXDomRGRFXUULFXOXPGRDFDQGLGDWRD
([SHULrQFLDSURÀVVLRQDOUHOHYDQWHLQFOXLQGRWUDEDOKRV
publicados na área)
(QWUHYLVWDDSHQDVDRVFDQGLGDWRVVHOHFFLRQDGRV
7. 3UD]RGHFDQGLGDWXUDHIRUPDGHDSUHVHQWDomRGDVFDQdidaturas:
O concurso encontra-se aberto até às 15H30 do
dia 24 de Abril de 2017, devendo os (as) candidatos (as)
enviar toda a documentação (em formato pdf), e sob forma
electrónica, ao Doutor Carlos Lucas, ao Director do
Gabinete de Cooperação da Universidade Eduardo Mondlane,
para os seguintes endereços electrónicos: carlos.
lucas@uem.mz e clucas33@yahoo.com.
Informação adicional sobre o projecto ou tópicos possí-
veis para a investigação, estão disponíveis por solicitação
através dos endereços electrónicos acima mencionados
ou junto do Gabinete de Cooperação da Universidade
Eduardo Mondlane, sito no 2o andar do Edifício da Reitoria
da UEM, Campus Universitário Principal, Av. Julius
Nyerere, número 3453, Maputo.
Maputo, 10 de Março de 2017
*DELQHWHGH&RRSHUDomR
BOLSAS DE ESTUDO DE DOUTORAMENTO
$Q~QFLRSDUDDDWULEXLomRGH%ROVDVGH(VWXGRGH'RXWRUDPHQWRQRkPELWRGR3URMHFWR
GH(QHUJLD²3URMHFWR1,&+(02=´,QQRYDWLYHZD\VWRWUDQVIHUWHFKQRORJ\DQG
NQRZKRZGHYHORSLQJVNLOOVDQGH[SHUWLVHIRUJDVUHQHZDEOHHQHUJ\DQGPDQDJHPHQWµ
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