domingo, 9 de abril de 2017

O relato de dois finalistas expulsos: “O mais estranho que vi foi um sofá no elevador”

ESTUDANTES


Hotel espanhol acusou-os de vandalismo e obrigou-os a sair mais cedo. Ao Observador, estudantes dizem que o pior que viram foi "um sofá no elevador" e atacam más condições de higiene da estância.
Desacatos passaram-se no Hotel Publo Camino Real, em Los Álamos, Torremolinos
O acordo era uma semana com tudo incluído: estadia de seis ou sete noites (dependendo da modalidade escolhida) num hotel de quatro estrelas na estância balnear de Los Álamos, Torremolinos, no sul de Espanha; refeições incluídas, bebidas alcoólicas à descrição e animação no bar da piscina do hotel. Os cerca de mil estudantes portugueses que nestas férias da Páscoa se deslocaram de vários pontos do país para Los Álamos pensavam que iam ter uma viagem de finalistas inesquecível, mas não correu bem como esperavam. Ao fim de uma semana de desentendimentos graves com os donos do hotel, o grupo de portugueses acabou por ter de regressar a casa um dia mais cedo do que o previsto, com uma acusação de vandalismo, sem os 50 euros que cada um tinha pago como caução e com o livro de reclamações preenchido.

Um sofá no elevador, farinha nos corredores e o fim do “bar aberto”

O Observador falou com dois destes estudantes, que não quiseram ser identificados, e que deram a sua versão dos acontecimentos. Depois de terem chegado ao destino no sábado, dia 1 de abril, o plano para quem tinha pago a estadia de sete noites era ficar até sábado à noite (8 de abril), altura em que fariam então a viagem de regresso a Portugal, de modo a chegarem no domingo durante o dia. Mas, contam, na noite de sexta-feira foi-lhes comunicado pelos donos do hotel que teriam de sair logo na manhã seguinte e que lhes seria cobrada a caução inicial de 50 euros.
E porquê? “Disseram-nos que já tínhamos feito demasiados estragos e que tínhamos de sair mais cedo”, conta uma das fontes, sublinhando que só aí é que ficou a saber das acusações de azulejos partidos, colchões atirados pela janela e situações semelhantes a que, de resto, diz nunca ter assistido. “Tive de pagar a caução apesar de o meu quarto e o de muitos dos meus amigos estar impecável”, afirma.
A mesma fonte não nega, contudo, outro tipo de distúrbios durante a estadia. Questionada sobre extintores que terão sido esvaziados dentro do hotel, diz que tal não aconteceu e que isso foi confundido com a farinha que os adolescentes compraram para lançar uns aos outros nos corredores (mas que “limparam no final”). Além disso, apenas um sofá que foi encontrado no elevador. “O mais estranho que vi foi um sofá que estava no corredor, no elevador”, diz ainda.
Reforçando que a agência de viagens esteve “sempre bem” e “do lado dos finalistas”, os jovens do 12º ano criticam o facto de o hotel não ter cumprido com o que estava acordado. Uma das coisas era o prometido “bar aberto” diário. “O bar aberto estava incluído nas condições da estadia e foi cancelado durante um dia inteiro e depois durante alguns dias após as 20h”, contam. “No segundo dia não foi permitida a venda de bebidas alcoólicas e foi também a partir desse dia que foi colocado um segurança à entrada do hotel para revistar qualquer finalista que entrasse com bebidas”, acrescentam.
Outro dos argumentos invocados pelos donos do hotel para a “expulsão”, segundo os jovens finalistas, foi o facto de o som das festas realizadas no bar da piscina estar “acima do legalmente permitido”. “Na quinta-feira chamaram a polícia por causa do barulho, mesmo sabendo que os concertos tinham sido agendados pela agência e faziam parte do acordo”, notam os relatos feitos ao Observador.

Baratas e água fria: “Cantámos gritos de revolta”

A verdade é que a semana foi conturbada e os jovens estudantes admitem que, perante os desentendimentos, “a maior parte dos finalistas cantou gritos de revolta” face àquilo que dizem ser as más condições do hotel. “Entre outros problemas do hotel foram encontradas baratas nos quartos”, dizem, queixando-se também da comida, da falta de limpeza da roupa de cama e de banho, da “falta de água quente em alguns quartos” e da “recusa em entregar o livro de reclamações” quando foi solicitado.
“Tentámos reclamar e só recebemos o livro de reclamações após muita insistência e ameaças de chamar a polícia”, acrescentam ainda, mostrando-se “descontentes e revoltados” com a forma como foram tratados — “só por sermos estrangeiros e jovens”. Em declarações à TVI, a mãe de um finalista contou que a viagem custou “entre 625 e 650 euros” e sai em defesa do grupo do filho, apontando o dedo a “um grupo do norte” do país, que terá estado na origem dos desacatos maiores.
Segundo os relatos feitos ao Observador, neste grupo de cerca de “600” finalistas (os restantes já tinham regressado a Portugal na sexta-feira porque estavam na modalidade de 6 noites), estariam jovens maioritariamente de Lisboa e Porto, mas também de Braga, Faro, Vila Real, Guarda, entre outros concelhos do país. Este sábado à noite voltaram todos ao território nacional.
A notícia da expulsão das largas centenas de portugueses foi avançada este sábado à tarde pelo Correio da Manhã, que começou por relacionar os desacatos com “excesso de álcool”. A PSP confirmou depois que a expulsão tinha sido por “desacatos e mau comportamento”, e só ao final da tarde o jornal espanhol El País falou em vandalismo “sem igual” e em prejuízos de “milhares de euros” naquele hotel Pueblo Camino Real, em Torremolinos, que estavam ainda em fase de avaliação.
Segundo aquele jornal, os jovens foram expulsos pela direção do hotel depois de terem “destruído azulejos, atirado colchões pelas janelas, esvaziado extintores nos corredores do hotel e colocado inclusive uma televisão na banheira”. Pela voz do secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, o Governo português disse estar a acompanhar a situação, notando que a agência que organizou a viagem (a Slide In Travel) tinha seguro, mas que, no entender dos representantes do hotel, “não é suficiente para cobrir” os danos causados. Não é certo ainda em que valor os danos vão ser avaliados e quem os vai pagar.
O Observador tentou contactar com responsáveis da agência, mas sem sucesso.

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