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segunda-feira, 17 de abril de 2017
Míssil norte-coreano que foi piada na Internet esconde verdadeira ameaça
EUA lançaram uma ciberguerra contra a Coreia do Norte há três anos
para sabotar lançamentos, mas Pyongyang está cada vez mais perto de
fabricar um míssil de longo alcance.
Assim que se soube do falhanço num teste
com um míssil norte-coreano, no domingo, a Internet agarrou-se mais uma
vez à barriga de tanto rir e lançou uma saraivada de GIFs e vídeos para
ridicularizar o desejo de Kim Jong-un de ser visto como uma ameaça
credível. Mas do outro lado da fronteira, na Coreia do Sul, e também nos
Estados Unidos, os especialistas em armamento há muito que têm poucos
motivos para sorrir – apesar da ciberguerra norte-americana, a Coreia do
Norte tem aprendido a uma velocidade quase sem paralelo, com os
sucessos e com os falhanços.
Os ataques informáticos entre vários Estados são mais frequentes hoje
em dia do que os duelos até ao final do século XIX, mas as ofensivas em
larga escala, com alvos específicos e concretizadas por hackers
a mando dos governos são mais raras – o maior exemplo é o ataque que
teve como alvo o programa nuclear iraniano, entre 2009 e 2010, e que
vários especialistas dizem ter sido lançado por Israel e pelos Estados Unidos.
Em 2014, o então Presidente norte-americano, Barack Obama, deu ordens
ao Pentágono para acelerar o desenvolvimento do seu arsenal de ataques
informáticos. Segundo uma investigação do jornal The New York Times,
a Casa Branca tinha concluído que o sistema de defesa antimíssil dos
EUA estava erradamente assente nos métodos tradicionais: a ideia de
lançar um míssil para destruir outro custou aos cofres norte-americanos
300 mil milhões de dólares nos últimos 60 anos, e o analista Gordon
Chang afirma que os testes feitos no Alasca e na Califórnia revelam uma taxa de sucesso inferior a 50%.
A ideia de Obama era fortalecer o braço mais fraco do sistema de
defesa antimíssil – ataques informáticos e electrónicos com o objectivo
de sabotar os mísseis norte-coreanos antes ou durante o lançamento.
Não há relatórios públicos sobre a taxa de sucesso dessa ordem de Obama,
até porque é tecnicamente impossível saber se um míssil norte-coreano
explodiu logo após o lançamento por causa de algo que os EUA tenham
feito, ou se o falhanço ficou a dever-se a um ou vários factores não
relacionados, como problemas na tecnologia utilizada ou na construção
dos mísseis. Segundo o The New York Times,
88% dos testes com o míssil de médio alcance Hwasong-10 (conhecido no
Ocidente como Musudan) redundaram em falhanço após a decisão de Obama –
mas também é verdade que, segundo os registos disponíveis, o Musudan só
foi testado pela primeira vez em 2016, e os sete falhanços em oito
tentativas podem fazer parte do processo normal de desenvolvimento.
Seja qual for o motivo que levou o míssil balístico norte-coreano a explodir logo após o lançamento,
no domingo passado, faltam dois passos essenciais para que o regime de
Kim Jong-un possa transformar-se numa verdadeira ameaça ao território
continental dos EUA, cada uma delas com vários obstáculos próprios – o
desenvolvimento bem-sucedido de um míssil balístico intercontinental e a
capacidade de reduzir uma ogiva nuclear a um tamanho que possa ser
transportada pelo projéctil.
Como o míssil lançado no domingo
explodiu em pouco tempo, é quase impossível perceber qual era o seu
alcance projectado – na prática, é impossível afirmar se se tratou de um
primeiro ensaio com um míssil de longo alcance ou de um teste de outro
tipo de míssil menos recente, como o Musudan. E o Musudan "não altera a
natureza da ameaça da Coreia do Norte contra alvos dos EUA ou do Japão",
escreveram Ralph Savelsberg e James Kiessling no blogue 38 North
em Dezembro. "O existente arsenal de mísseis derivados do R-17 ou a
tecnologia adaptada dos Scud ao [míssil] Nodong já ameaça toda a Coreia
do Sul e a maior parte do Japão", explicam.
Mas as simulações
feitas por Savelsberg e Kiessling indicam que os progressos feitos pelos
norte-coreanos até podem passar uma imagem de lentidão, mas estão lá e
parecem estar no bom caminho para Pyongyang: "A grande diferença é que o
Musudan ameaça Taiwan e a China continental. No entanto, também mostra
que a Coreia do Norte consegue adaptar uma parte da tecnologia do
[míssil soviético] R-27. E esta capacidade de adaptação tem
consequências para o desenvolvimento de mísseis de maior alcance",
alertam os especialistas.
Quanto ao nuclear, a preocupação em
Washington é o progresso que a Coreia do Norte fez na última década para
conseguir colocar uma ogiva num míssil de longo alcance. Ouvido pelo The New York Times,
o professor Siegfried S. Hecker, ex-director do laboratório de Los
Alamos (onde nasceram as primeiras bombas atómicas), deixou um aviso que
dificilmente será tratado como uma piada na Internet: "Eles fizeram
cinco testes nucleares em dez anos. Pode aprender-se muito nesse tempo."
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