domingo, 2 de abril de 2017

Agro-processadora vira elefante branco

INDÚSTRIA: 

ARROZ_FABRICACHOKUEO Complexo Agro-industrial do Chókwè (CAIC), inaugurado a 13 de Abril de 2015, com pompa e circunstância pelo Presidente Jacinto Nyusi, era tido como a solução de todos os problemas de aproveitamento da produção do regadio de Chókwè em Gaza. Porém, corre ao risco de se transformar num elefante branco, caso não sejam tomadas medidas operacionais urgentes. Quem alerta é o próprio Director Executivo do complexo, Adolfo Vieira.
Tal como o domingo apurou no local, a única linha com alguma operatividade neste momento é a da fábrica de descasque de arroz que, entretanto, funciona a meio gás devido à baixa produção verificada em todo o Vale do Limpopo em consequência da prolongada estiagem que fustigou a zona Sul do país de 2015 até aos finais de 2016.
O complexo industrial, que foi construído a um custo de cerca de 60 milhões de dólares americanos, foi colocado no mercado já deficiente, ao ser lançado para a operatividade sem fundo de maneio para a cobertura de despesas básicas.
De acordo com o director Vieira, depois da montagem de uma unidade industrial deste quilate deve ser capitalizada com o equivalente a dez por cento do seu custo como fundo de maneio para suportar os custos operacionais iniciais antes de ganhar autonomia financeira.
Com cerca de 50 trabalhadores, os gestores do complexo industrial viram-se com dificuldades sérias para iniciar as suas operações até mesmo para pagar a factura de consumo de energia eléctrica, salários, entre outras despesas fixas, tudo porque, segundo a fonte, o empreendimento foi colocado no mercado a partir de pressupostos errados.
Adolfo Vieira explica que a ideia inicial era de se entregar aquela indústria a um operador privado que pagaria uma renda a acordar que, por si só, seria suficiente para suportar os encargos atinentes à amortização da dívida contraída para a sua instalação.
Entretanto, o valor da renda que foi apresentado aos potenciais operadores foi sempre encarado como exorbitante, facto que levou a que o Estado decidisse gerir o projecto directamente, colocando uma direcção executiva, mas sem alocar o fundo de maneio.
Esta decisão também resultou de um pressuposto que se revelou igualmente errado, nomeadamente, o de que os camponeses colocariam os seus produtos à disposição da fábrica a custo zero. Pura ilusão. Os agricultores locais não só não o fizeram, como também preferiram vender o seu arroz a quem paga logo. Como são os casos de uma série de fabriquetas e fábricas privadas.
Portanto, aquele Complexo Industrial arrancou as actividades sem dinheiro para comprar arroz nos agricultores para processar e vender.
ENFRENTANDO AS VICISSITUDES
Colocada a equipa executiva no terreno para explorar o complexo agro-industrial, o seu primeiro desafio foi encontrar o mercado, já tomada pelas importações do arroz.
Com uma capacidade de processamento de 60 mil toneladas ao ano, numa perspectiva de 200 toneladas por dia, era preciso garantir o destino da mercadoria antes de se lançar à produção.
Para tal foi contactada a entidade responsável pela distribuição de arroz no país para passar a receber arroz de Chókwè. A resposta ultrapassou as expectativas, pois o arroz nacional de Chókwè passou a ser o primeiro a esgotar nas bancas.
Estava ultrapassado o problema do mercado. Agora era preciso conquistar os produtores, porém, a concorrência é grande. Inácio de Sousa, é um dos agro-industriais concorrente, que absorve a totalidade das cerca de 20 mil toneladas de arroz que actualmente se produzem em Chókwè.
ARROZ DE CHICUMBANE COMO ALTERNATIVA
Perante a exiguidade da matéria-prima, onde no seu primeiro ano de operatividade, 2016, só conseguiu receber e processar 2.100 toneladas de arroz, a tecnologia de ponta que está a demonstrar sucesso em Chicumbane, com uma produtividade de 10 toneladas de arroz por hectare, apareceu como alternativa viável a curto prazo.
No início, segundo a nossa fonte, a empresa chinesa Wambao exportava arroz em casca, o que foi imediatamente parado pelo governo.É assim que, até agora, o CAIC tem a exclusividade de processamento dos cerca de 20 toneladas de arroz que aquela empresa produz por ano, com perspectivas de aumento.
Porém, esta oportunidade só vai durar enquanto não fica pronta a própria fábrica da empresa, com características similares às do Complexo Agro-industrial do Chókwè.
Para enfrentar o mercado, aquele complexo industrial precisava de ter recebido um fundo de maneio de 17 milhões de dólares para assegurar as despesas de arranque. Porém, não tendo recebido esse valor do Estado, na qualidade de accionista maioritário, era preciso elaborar um plano negócio para o ano de 2016.
Depois de várias testagens, a direcção executiva chegou à conclusão de que precisava de produzir sua própria matéria-prima, mobilizando financiamento.
Foi assim que o CAIC conseguiu um financiamento de 30 milhões de dólares para a viabilização das operações comerciais do CAI, o que na altura equivalia a cerca de 374 milhões de meticais para implementação de um programa de cinco anos parcelados.
O primeiro ano deveria ser dedicado à primeira experiência de produção directa de arroz, mais ou menos ao modelo que as açucareiras em Xinavane e Marragra usam, no financiamento aos produtores de cana-de-açúcar para depois comprar.
Assim, a CAIC financiou 713 produtores que trabalharam em 1.880 hectares do regadio de Chókwè para a produção de seis mil toneladas de arroz. Só que, para o azar de toda esta operação, o ano de 2016 foi marcado por uma seca severa. Parte do financiamento ficou perdido e a empresa somou prejuízos a que se junta a dívida dos 60 milhões da sua construção que ainda não está em condições de começar a amortizar.
CONSERVAÇÃO DE TOMATE? SÓ POR 7 DIAS
Uma das grandezas anunciadas do complexo industrial no momento da sua inauguração foi a sua suposta capacidade de conservação de produtos agrícolas por muito tempo, o que permitiria uma segurança alimentar e bom preço para a época de baixa produção.
Só que, o que ficamos a saber, é que, em relação a conservação de tomate, que é uma das maiores hortícolas que o regadio produz, só o faz por sete dias.
Um potencial operador testou as câmaras metendo 100 toneladas de tomate para três meses de conservação, mas no fim de 30 dias todo o tomate já estava estragado. De acordo com o director executivo, as câmaras estão preparadas para a conservação transitória do tomate para processamento e não para voltar a vende-lo fresco.
FUTURO SÓ COM ROBUSTO FINANCIAMENTO
Odesespero e receio de reduzir todo aquele imponente complexo industrial em mais um elefante branco, como já está a acontece com um complexo igual na província da Zambézia, chegou ao ponto de algumas opiniões apontarem para a necessidade de mandar interromper a construção da fábrica concorrente que se ergue em Chicunbane.
Porém, para o director Adolfo Vieira, a salvação daquele empreendimento passa por se encontrar um financiamento robusto e bonificado, que permita a implemtação do plano de negócio que já existe, por um período de cinco anos. Desta maneira, já no sexto ano pode começar a produzir lucros visíveis.
Mas, a maior inquietação e desapontamento daquele gestor está nos baixos níveis de produtividade por hectare que se verifica na área de Chókwè.
Se os chineses em Wambao estão a render sete toneladas por hectare e nós aqui não chegamos a três, o que falta para termos a tecnologia mais apropriada? – questionou Adolfo Vieira.
Na sua óptica, o regadio de Chókwè, com 34 mil hectares para arroz, só precisara de trabalhar bem em 13 mil, numa proporção de pelo menos 3.5 toneladas por hectares para conseguir as 60 mil toneladas de arroz que a fábrica precisa por ano. Porém, o regadio não consegue esta cifra neste momento.
Trabalhando em pouca terra, muito rapidamente os chineses em Chicunbane vão conseguir essas cifras, porém, para a sua própria fábrica.
Já temos a tecnologia do arroz
- assegura o PCA da Hidráulica de Chókwè
Reagindo às queixas do director do CAIC sobre a obsolência da tecnologia usada em Chókwè na produção de arroz quando comparada com a dos chineses de Chicumbane, Soares Xerinda, Presidente do Conselho de Administração do Regadio de Chókwè, afirmou que a sua empresa já estava na posse da tecnologia e que em breve estaria em condições de aumentar a produtividade.
Sossegue o nosso director, que nós já temos tudo o que precisamos para aumentar a nossa produção e rentabilizar o Complexo agro-industrial de que nós também somos sócios – afirmou aquele gestor que também nos levou a visitar o parque de máquinas com niveladoras que vão preparar a terra para aumentar o seu rendimento por hectare.
Texto de Francisco Alar
DOMINGO – 02.04.2017

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