O
ano passado foi intenso no Brasil, principalmente no que diz respeito
ao cenário político. A então presidente Dilma Roussef foi cassada, o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha perdeu o posto e foi preso, a
Operação Lava Jato avançou, e as manifestações populares, iniciadas em
2013, mexeram com a agenda política. O país vive um cenário de
“incerteza” em que não se sabe nem se o presidente empossado, Michel
Temer, terminará o mandato, comentou o historiador e consultor em
marketing político Darlan Campos. Segundo o professor de relações
internacionais e cientista político Thales Castro, a expectativa para
2018 é por eleições “muito peculiares” na história da política
brasileira.
“Podemos
ter um fenômeno próximo ao que foi o Trump. No Brasil, não temos um
grande magnata como o norte-americano que tenha anunciado carreira
política, mas podemos esperar muita novidade, como um ‘outsider’, alguém
que não está na carreira política”, afirmou Castro. O candidato pode ou
não ser famoso, embora celebridades tenham grande apelo popular. Para o
cientista político Antonio Roberto Vigne, exemplos de “figuras da
versão brasileira de Trump” seriam Roberto Justus e Sílvio Santos. “O
povo está cansado dos atuais rostos”, disse Vigne.
O
interesse do público em candidatos pertencentes a outros universos é
uma tendência global. “Há uma profunda rejeição aos partidos, aos
políticos e à política de modo geral. Será difícil encontrar um
candidato que empolgue o povo no Brasil”, analisou o professor da
Universidade de Brasília (UNB) Hélio Doyle. Nas eleições de 2016, esse
fenômeno já se mostrou presente: São Paulo e Belo Horizonte são exemplos
de grandes cidades que tiveram prefeitos eleitos com uma campanha
antipolítica. João Dória (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS) são empresários e
se apresentaram como “gestores” na corrida eleitoral, explicou Doyle.
Trump brasileiro
As
eleições de 2018, de acordo com os especialistas entrevistados, serão
de “mudança” e “protesto”, como aconteceu nos EUA, e é por isso que
nomes conhecidos devem ficar em desvantagem. No caso do país
norte-americano, a rival de Trump, a democrata Hillary Clinton,
representou o “mais do mesmo”: “era ex-primeira dama, ex-senadora,
ex-chefe de Estado”, enumerou Campos. O magnata se apresentou como o
anti-herói, teve discurso envolvente, soube atingir as pessoas
vulneráveis e explorar as fragilidades de Hillary, avaliou Castro.
As
condições econômicas do Brasil aumentam as chances de uma figura
inesperada tomar a frente do país. Na opinião do pesquisador em política
externa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Maurício
Santoro Rocha, o processo seria ainda mais simples do que foi nos EUA.
“Temos hoje cerca de 35 partidos, um Trump brasileiro não precisaria
conquistar um grande partido, poderia ir para um pequeno e ser eleito”,
disse Rocha. “A classe política tradicional brasileira vive o momento de
maior descrédito desde a redemocratização”, acrescentou.
A
candidatura de Justus, que já anunciou a possibilidade de tentar a
presidência em 2018, seria “curiosa”, segundo Rocha, já que assim como
Trump, o empresário foi apresentador do programa reality show O
Aprendiz. As consequências que a eleição de um candidato antipolítico
pode trazer ao país é uma incógnita. “O risco é esperarmos por um
salvador da pátria. Um outsider pode vir para o bem ou para o mal”,
concluiu Doyle.
Por Thaís Sabino.
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