Dúvida sobre papel do FMI provoca incerteza sobre novos pagamentos, quando a tensão com a Turquia sobe e Ancara ameaça cancelar acordo sobre refugiados.
A Grécia prepara-se para mais um episódio da crise da dívida, com a pressão dos credores a aumentar para o cumprimento de medidas de austeridade e uma nova incógnita sobre a participação do Fundo Monetário Internacional no programa acordado com Atenas em 2015.
Se o FMI decidir não participar após uma reunião que terá na segunda-feira, prevê-se que as entregas de verbas acordada no âmbito do memorando sejam suspensas – e estas são essenciais para que a Grécia consiga cumprir prazos de pagamento no Verão, de um total de 10,5 mil milhões de euros. Se não houver verbas, a Grécia entrará em incumprimento.
O Governo de Alexis Tsipras está entre a espada e a parede e não tem grande margem para mais medidas. O próprio gabinete de Tsipras disse, na semana passada, que o executivo não aprovará qualquer medida que implique cortar sequer “mais um euro” do que o que foi acordado.
Mas segundo o canal de informação económica Bloomberg, o ministro da Economia, Euclides Tsakalotos, admitiu que apenas foi cumprido um terço das reformas classificadas com essenciais para a revisão do programa, que deveria estar feita antes da reunião de 20 de Fevereiro dos ministros das Finanças da zona Euro. Entre as que faltam estão alterações nas leis de trabalho e a liberalização do mercado da energia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai reunir-se na segunda-feira para decidir da sua participação no programa grego. Num relatório confidencial a que a agência noticiosa AFP teve acesso, o fundo classifica a dívida grega como “explosiva” e repete a necessidade de um perdão. Não se trata de uma novidade – o FMI já pediu várias vezes a redução da dívida grega – mas a participação do FMI no programa fica em dúvida. E sem a participação do fundo, tanto o Mecanismo Europeu de Estabilidade, um dos elementos da troika, como a Alemanha já disseram que não libertariam quaisquer verbas adicionais.
As eleições na Holanda, França e Alemanha deste ano deixam o panorama político europeu ainda menos favorável para a discussão de um alívio da dívida.
A repetição da novela de prazos de pagamentos e conclusão de revisões do programa, que até agora se tem resolvido sempre mesmo em cima de prazos finais, acontece quando outro problema se avoluma: a relação com a Turquia.
Ancara não gostou da decisão de um tribunal grego recusar a extradição de oito militares que fugiram para a Grécia depois do golpe falhado de Julho passado na Turquia. Dias depois, um navio turco com o chefe do Estado-Maior Exército a bordo entrou em águas territoriais gregas junto ao ilhéu disputado de Imia (justamente o motivo que há 21 anos deixou os dois países à beira de uma guerra).
A Grécia enviou um navio para o local mas, segundo o diário Kathimerini, está a “evitar escalar a tensão” ao que viu como uma provocação deliberada da Turquia.
Antes, a Turquia tinha ameaçado cancelar o acordo sobre os refugiados que tem impedido a chegada de um grande número de pessoas por mar como aconteceu em 2015. E mesmo com menos chegadas a situação está já terrível: nos últimos dias morreram três refugiados no campo de Moria, em Lesbos, símbolo da falta de condições do acolhimento no país, provavelmente vítimas de fumo de fogões dentro da tenda com que tentavam aquecer-se. Há ainda registo de várias tentativas de suicídio de refugiados desesperados por estarem presos nas ilhas, em locais sem condições básicas.
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