Ilham Aliyev nomeou a sua mulher, Mehriban Aliyeva, para o cargo que foi criado através de um referendo constitucional realizado no ano passado.
Este ano, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, ofereceu à sua mulher um presente de aniversário especial – nomeou-a a sua primeira vice-presidente.
Na passada terça-feira, Aliyev anunciou que Mehriban Aliyeva, de 52 anos, vai desempenhar o cargo criado no Outono passado através de um referendo constitucional. Com esse cargo, poderá substituir o marido caso o Presidente. Ela vai também, provavelmente, supervisionar o Governo do país. (As alterações constitucionais aprovadas no referendo também esticaram o mandato presidencial de cinco para sete anos, depois de um referendo em 2009 ter abolido os limites de mandato na antiga república soviética. Além disso abandonou-se o requisito por idade, abrindo caminho à candidatura do filho de 19 anos dos Aliyev).
Aliyeva licenciou-se em medicina, mas sempre teve interesse pela política. Serviu no Parlamento do Azerbaijão e preside ao partido do marido, Yeni Azerbaijan. Liderou ainda vários grandes projectos, incluindo o projecto olímpico do país e a organização de solidariedade Heydar Aliyev. Aliyeva nasceu no seio de uma das famílias mais ricas do país, os Pashayevs, que realizaram generosamente doações às artes. Eles podem dar-se a esse luxo – o clã controla vários bancos, companhias de seguros, construção, viagens e a única concessionária da Bentley no Azerbaijão. Vários familiares detêm altos cargos governamentais.
Ela é famosa (ou infame) pelo seu amor ao luxo, a sua aparência meticulosa e pelos vestidos elegantes. Em telegramas diplomáticos americanos que foram alvo de um fuga de informação, os diplomatas sugeriam que Aliyeva tinha problemas em mostrar um “conjunto completo de expressões faciais” devido às “cirurgias plásticas substanciais”. Também foi escrito que estava mal informada sobre os assuntos políticos.
Numa declaração em que descreve as competências da mulher, o Presidente Aliyev escreve que “não é coincidência que a organização dos Jogos Solidários Islâmicos que se realizará este ano tenha sido confiada a Mehriban Aliyeva”.
Os líderes da oposição concordam que isso não é coincidência. Mas não pensam que foram os talentos de Aliyeva que lhe permitiram chegar ao cargo. Os Aliyevs, dizem, governam o país como um feudo, ficando ricos graças às reservas de energia do Azerbaijão. Agora estão a tentar consolidar a norma dinástica, argumentam os críticos. “Esta nomeação mostra desrespeito pelo povo”, afirmou à Reuters Ali Kerimli, líder de um dos partidos de oposição. “É o primeiro passo para estabelecer uma monarquia absoluta no país”, defende.
Outros utilizaram as redes sociais para transmitirem a sua discordância:
A liderança do Azerbaijão está há muito nas mãos da família. Ilham Aliyez sucedeu ao seu pai, Heydar Aliyev, que governou como líder do Partido Comunista e, depois, como Presidente pós-soviético durante quase 30 anos. O filho chegou ao poder em 2003. Este concentrou-se em tornar o pequeno país num poderoso actor regional e aliado do Ocidente. Também construiu fortuna pessoal em dezenas de milhões de dólares, graças, em grande medida, às ligações da sua família aos negócios estatais. A família Aliyev possui partes significativas de, pelo menos, oito grandes bancos do Azerbaijão. Também lucra com a propriedade parcial das indústrias do petróleo e gás do país, dos principais grupos de telecomunicações e de empresas de construção (algo relevante, porque Baku tem conhecido um boom de construção).
Grande parte do dinheiro da família está protegida em contas offshore. Em 2013, um consórcio de centros investigativos, comunicação social e jornalistas, denominado "Organized Crime and Corruption Reporting Project", nomeou Ilham Aliyev como “a pessoa corrupta do ano”. (A família negou as acusações).
O país ganhou também reputação por tácticas políticas repressivas, restringindo a liberdade de expressão e impedindo a realização de eleições justas. Apenas dias antes de Aliyev anunciar a nomeação da sua mulher, foram detidos activistas do partido de oposição. Pelo menos dez activistas políticos e jornalistas foram detidos este mês; outros 30 foram colocados sob detenção administrativa. Khadija Ismayilova, uma jornalista de investigação, sugeriu que estas movimentações foram projectadas para prevenir os opositores do Governo que pudessem “ousar protestar” contra a nomeação de Aliyeva.
E para aqueles que notam um paralelo entre o comportamento de Aliyev e o do Presidente Donald Trump – não estão sozinhos ("Um advogado pró-Governo afirmou que se Trump nomeou o seu genro para conselheiro, por que é que Aliyev não pode nomear a sua mulher como vice-presidente", escreveu Ismayilova no Twitter):
PÚBLICO/The Washington Post
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