sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O golpe estava consumado!

Caldo entornado na cerimónia de entrega do Prémio Camões em São Paulo

O vencedor do Prémio Camões, Raduan Nassar, fez discurso crítico contra o Governo de Michel Temer. O ministro da Cultura subiu ao palanque e a cerimónia transformou-se num aceso debate.
Radau Nassar foi o vencedor deste ano do Prémio Camões
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Radau Nassar foi o vencedor deste ano do Prémio Camões FLAVIO FLORIDO/FOLHAPRESS/ARQUIVO
A cerimónia de entrega do Prémio Camões ao escritor Raduan Nassar, em São Paulo, foi tudo menos pacífica. Depois de o vencedor do galardão ter realizado um discurso duro e crítico contra o Governo brasileiro, o ministro da Cultura do Brasil, Roberto Freire, subiu ao palanque e resolveu defender a honra do Presidente Michel Temer. E o caldo entornou-se.
Nassar afirmou que os brasileiros vivem “tempos sombrios” e que o actual Governo é “repressor”, criticando também a nomeação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal, acusando-o de ter um “currículo amplo de violência”, cita o Globo. O tema sobre o Supremo brasileiro iniciou-se depois de o juiz Teori Zavascki, que era também o relator da Operação Lava-Jatoter morrido quando o avião em que seguia se ter despenhado no mar de Paraty, a 250 quilómetros do Rio de Janeiro. Coube então ao Presidente nomear o substituto no Supremo, escolhendo o ministro da Justiça do seu Governo, Alexandre de Moraes.
Mas as críticas não se ficaram por aqui, e o escritor afirmou ainda que no Brasil há “violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua”, referindo-se mais tarde a alguns dos temas que têm marcado a vida política de Brasília.
Seguiu-se o ministro da Cultura. E a partir daqui o público que assistia à cerimónia também teve um papel importante. Freire afirmou sentir-se “perplexo” ao ouvir um discurso de “pessoas com idade que viveram um efectivo golpe nos anos 1960”, confundirem os tempos de ditadura militar no Brasil com o período actual, lembrando as “forças armadas reprimindo, torturando, fazendo desaparecer, criando exílio para muitos dos nossos compatriotas”. “Vocês aqui presentes evidentemente são testemunhas de que não há nenhuma confusão em relação ao momento democrático que vive o Brasil”, acrescentou o ministro da Cultura. As pessoas presentes na sala começaram a apupar o governante.
No meio de interrupções e discussões acaloradas por parte do público, Freire foi respondendo aos presentes defendendo a democracia actual, exemplificando com o prémio atribuído a Raduan, “um adversário político do Governo”, e que recebeu a distinção apesar disso.
“Por isso mesmo o ministro da Cultura do Governo veio trazer o prémio e ele aceitou, e vocês estão aqui a querer impedir que nós falemos. Esse histrionismo oposicionista evidentemente tem os seus dias contados. Até porque não vai haver volta Dilma", rematou Freire enquanto o público gritava “viva Raduan” e “fora Temer”. Um dos presentes atirou: “Este é o dia de Raduan, não o seu”. O ministro respondeu: “Ele desrespeitou-nos a todos”.
“Raduan, pela sua obra, não merecia isso de vocês. Merecia, sim, o prémio que o Governo brasileiro está a dar juntamento com o Governo português”, finalizou o ministro, aqui já sob aplausos misturados com vaias.
Mais tarde, o Ministério da Cultura brasileiro divulgou uma nota em que “lamenta” a “prática do Partido dos Trabalhadores em aparelhar órgãos públicos e organizar ataques para tentar desestabilizar o processo democrático”. “Durante a cerimónia de entrega do Prémio Camões de Literatura, em São Paulo, o ministro da Cultura, Roberto Freire, teve sua fala interrompida por manifestantes partidários, sinal de desrespeito à premiação oficial dos Governos de Brasil e Portugal”, refere o comunicado.

"Não há como ficar calado": a íntegra do discurso de Raduan Nassar no Prêmio Camões


Da Carta Capital
Em seu pronunciamento na entrega do Prêmio Camões de literatura, o escritor critica o golpe, o governo Temer e o STF. Leia a íntegra
Às dez e meia da manhã desta sexta-feira 17, o escritor Raduan Nassar subiu ao palco montado no Museu Lasar Segall, em São Paulo, para receber o Prêmio Camões de 2016, honraria concedida pelos governos do Brasil e Portugal e um dos principais reconhecimentos da literatura em língua portuguesa. Nassar ofereceu à plateia o seguinte discurso:
Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua.  
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco. Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
 O golpe estava consumado!
 Não há como ficar calado.
 Obrigado

Assessor de Delcídio inocenta Lula e acusa ex-senador

Jornal GGN - A tentativa de obstrução à Justiça pelo ex-senador Delcídio do Amaral ocorreu por intermédio de seu assessor, Diogo Ferreira. Em depoimento prestado à Justiça Federal de Brasília, nesta sexta-feira (17), afirmou que jamais ouviu qualquer menção de Delcídio sobre atuação de Luiz Inácio Lula da Silva no episódio.
O depoimento foi concedido no âmbito do processo que apura a suposta compra de silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, por Delcídio, pelo ex-presidente Lula e outros seis investigados.
Mas a tese de arrolar Lula no esquema preparado por Delcídio fracassou. Assim como ocorreu em seu próprio depoimento aos investigadores e juízo na 10ª Vara Federal de Brasília, nesta quarta-feira (15), foi a vez de seu assessor desmentir a teoria.
Na audiência de quarta, em cerca de três horas Delcídio fez um tipo de "confissão", afirmando ser uma "sandice" procurar a família do pecuarista José Carlos Bumlai, supostamente a pedido de Lula, para obstruir a Justiça.
O ex-senador disse que o caso que o colocou em grades, em novembro de 2015, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), teve a participação de Lula. De forma completamente frágil, sem provas materiais e sem assumir o compromisso com a verdade, reiterou a teoria.
Disse que conversou com o ex-presidente em uma reunião no Instituto Lula, em maio de 2015, sobre uma possível delação de Cerveró comprometer Delcídio e Bumlai. De forma completamente genérica, Lula teria dito a Delcídio para "ver essa questão do Bumlai".
O "ver essa questão" foi interpretado por Delcídio do Amaral como uma "ordem". Foi o ex-senador, então, que decidiu procurar a família do pecuarista, que por sua vez teria aceito pagar R$ 50 mil mensais de ajuda financeira à família de Cerveró.
"Entendemos ter ele atribuído ao ex-Presidente Lula uma frase para que verificasse o que poderia ser feito para ajudar a família de José Carlos Bumlai. Essa afirmação, além de não comprovada, não configura qualquer tentativa de obstrução à Justiça", já havia informado os advogados de Lula.
Após a auto confissão de responsabilidade e a fragilidade de envolver Lula nas acusações, foi a vez de seu assessor direto desmentir a trama. Diogo Ferreira afirmou à Justiça de Brasília que intermediou o plano de Delcídio, de enviar pagamentos à família de Cerveró.
Mas quando questionado sobre o envolvimento do ex-presidente, disse que não ouviu qualquer menção do ex-parlamentar, ou de qualquer pessoa, sobre envolvimento, determinação ou pedido de Lula na medida que visava obstruir a Lava Jato.
Assim como Delcídio e Lula, Diogo é réu na ação que apura o caso e também fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público, que poderá colocar em xeque os depoimentos prestados pelo ex-senador contra Luiz Inácio Lula da Silva.
"As declarações do ex-assessor evidenciam mais uma vez que não há provas nem base para a acusação de que Lula teria 'chefiado uma organização criminosa'  para comprar o silêncio de Nestor Cerveró, tese encampada por Delcídio quando ainda estava na cadeia e buscava assinar um acordo de delação premiada com o Ministério Público. Após ter feito esta afirmação, de envolvimento de Lula no esquema de obstrução, ele conseguiu sair da prisão", manifestou em publicação o site do ex-presidente.

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