Mais
distúrbios nos subúrbios de Paris por causa de Théo, brutalizado pela
polícia há duas semanas. Relação da polícia com cidadãos de novo no
centro de debate. Estudo mostra que 80% dos jovens árabes ou negros
foram interpelados pela polícia, comparando com 16% da restante
população
O
ministro do Interior francês, Bruno Le Roux, pediu esclarecimentos à
Inspecção Nacional da Polícia sobre novas acusações à polícia feitas por
um amigo de Théo L.., o jovem que foi brutalizado há duas semanas pela
polícia. Mohamed K., também morador de Aulnay-sous-Bois, nos subúrbios
de Paris, disse ter sido espancado uma semana antes de Théo pelo polícia
acusado de ter violado o jovem de 22 anos com um bastão. Numa
reportagem publicada pelo L’Obs, Mohamed K. diz ainda que lhe chamaram de “preto sujo”.
“São
acusações graves ao mesmo funcionário, que merecem obviamente ser
esclarecidas”, disse o porta-voz do Ministério do Interior à AFP.
Este é o caso que tem ocupado os media franceses
nas últimas semanas. O Presidente francês chegou até a fazer uma visita
a Théo no hospital no dia 8. Os polícias alegaram que o jovem resistiu
numa busca feita a uma zona de tráfico de droga, mas investigações ao
caso, que continua a ser analisado, têm revelado violência desmedida.
Hospitalizado em sequência do episódio com a polícia, Théo foi
diagnosticado com fortes lesões no canal anal, relata o Parisien. O jovem não tem qualquer cadastro criminal.
Em
plena campanha eleitoral para as presidenciais de Abril e Maio, os
distúrbios voltaram aos subúrbios de Paris, com detenções feitas pela
polícia em vários pontos. No sábado, uma manifestação em solidariedade
com o jovem Théo, com mais de duas mil pessoas, terminou com carros
incendiados e 37 pessoas detidas. Na noite de segunda para terça-feira,
cerca de 25 foram detidos pela polícia, em localidades como
Seine-Saint-Denis, a Norte de Paris, ou Yvelines, no Sul – isto depois
de alguns episódios de violência, diz o Le Monde, que ouviu fontes policiais e oficiais, e depois de outras tantas detenções entre domingo e segunda-feira.
Bruno Le Roux tem apelado à calma, até porque estes episódios voltaram a lembrar os motins de 2005,
quando vários carros e edifícios ficaram em chamas ao longo de três
semanas de incidentes e o então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy,
declarou o estado de emergência. Aulnay-sous-Bois foi uma das cidades onde dispararam os motins.
Jovens negros ou árabes 20 vezes mais abordados pela polícia
No
centro do debate tem estado a relação entre a polícia e os subúrbios.
Um estudo feito em 2016 pela Provedoria de Justiça, divulgado pelo Le Monde, mostra que os jovens são sete vezes mais controlados pela polícia do que o resto da população.
No
estudo, que tem uma amostra aleatória de mais de cinco mil pessoas,
disponível na Internet, conclui-se que 80% dos jovens “percepcionados
como árabes ou negros” foram interpelados pela polícia nos últimos cinco
anos (comparando com 16% do restante), tendo assim uma probabilidade de
serem 20 vezes mais abordados pela polícia.
Cerca
de 20% desses jovens reportaram ter sido brutalizados no último
controlo. O Provedor de Justiça, Jacques Toubon, que abriu um processo
de investigação ao caso, disse sobre Théo: “Não se trata de um fait-divers mas de uma questão judicial, uma questão da sociedade”.
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