sábado, 18 de fevereiro de 2017

Cavaco, o homem que se vê como um sortudo, quis prestar contas ao país


O antigo Presidente da República teve sala cheia no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde apresentou o seu livro.
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Foi uma quinta-feira muito diferente daquelas em que se reunia com o ex-primeiro-ministro José Sócrates e com os outros primeiros-ministros com que se cruzou. Nesta, o antigo Presidente da República, Cavaco Silva, teve sala cheia, arrancou palmas no início e no fim. Já quanto a gargalhadas, só conseguiu um tímido burburinho na sala quando disse que a apresentação que o antigo reitor Braga da Cruz fez do livro superava a qualidade da obra.
Quinta-feira e outros dias, de Cavaco Silva, foi apresentado no final desta tarde, na sala Almada Negreiros do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O rio ao lado, recortado pela janela, a fotografia grande de Cavaco no livro, atrás dos oradores. Calor na sala, as cadeiras todas ocupadas, gente de pé. Não faltaram sociais-democratas de peso: Pedro Passos Coelho, Manuela Ferreira Leite, Maria Luís Albuquerque, Leonor Beleza.
Só um socialista, que não esteve presente, ocupou mais espaço: José Sócrates, um dos primeiros-ministos com quem Cavaco teve os encontros semanais, à quinta-feira, e sobre quem se esperam revelações de conversas em alturas polémicas. Encontros esses, com os primeiros-ministros, que o antigo Presidente justificou não poderem ficar de fora da história, porque sem esse relato a prestação de contas que quis fazer aos portugueses ficaria incompleta:“A revelação dessas quintas-feiras é fundamental”, defendeu Aníbal Cavaco Silva.
No início, o antigo reitor da Universidade Católica, Manuel Braga da Cruz, avisou: a obra é uma “prestação de contas”, não um “ajuste de contas”. Logo aqui a figura de José Sócrates começa a ocupar espaço, embora o nome do ex-primeiro-ministro nunca tivesse sido explicitamente referido na apresentação.
Braga da Cruz elencou vários momentos que fizeram parte do percurso político de Cavaco Silva, são muitos – somados os anos em que decidiu os destinos do país como primeiro-ministro e, depois, como Presidente da República, são duas décadas. Foram só elogios os que ouviu de Braga da Cruz, mesmo quando disse que foi o político que flexibilizou a legislação laboral, que lançou novas auto-estradas, que “empreendeu uma das maiores modernizações do país”. Cavaco ouve atentamente, o queixo ligeiramente levantado. Uma vez ou outra, bebe água. Braga da Cruz continua, e já sobre a fase em que a crise invadiu a vida dos portugueses: “Alertou, avisou, aconselhou.”
O antigo reitor até das conversas que Cavaco tinha debaixo de um pinheiro, e que fazem parte do que é narrado no livro, falou. Falou delas para dar força à metáfora de que Cavaco é como é, porque é um homem de raízes, disse. Com “capacidade de resistência”, que evitou que o envolvessem em “intrigas”, que “resistiu a campanhas difamatórias”. Cavaco agradeceu e voltou a agradecer as palavras.
Mas, e na sua habitual voz pausada, Cavaco não agradeceu só a Braga da Cruz. Agradeceu, claro, à sua mulher. Sem ela, não teria tido o percurso profissional e político que teve, afirmou. Mas foi para prestar contas aos portugueses que escreveu estas quase 600 páginas. Se não o fizesse, continuou, “ficava incompleto o conhecimento de um tempo complexo, bastante complexo da vida nacional" que foram os dez anos que passou na Presidência.
Cavaco fez ainda outros agradecimentos nesta quinta-feira de casa cheia. Até à vida que lhe “foi dada viver”. Falou, aliás, na sua passagem pela Presidência como “dádiva da vida”, falou si como “homem de sorte, de muita sorte, embora seja daqueles que diz que a sorte dá muito trabalho”. Agradeceu várias vezes aos portugueses que, depois de o terem tido 10 anos como primeiro-ministro, votaram nele para Presidente. E deixou uma garantia: a de que este é o primeiro acto público do período “pós-político” da sua vida e que será nesse período que vai ficar até ao fim.
A fila de autógrafos começa a formar-se na sala, onde estiveram ainda outros rostos da política nacional: a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, o antigo Presidente da República Ramalho Eanes, António Pires de Lima, Marques Guedes, João de Deus Pinheiro, Couto dos Santos, Teresa Patrício Gouveia, Fernando Negrão, Teresa Leal Coelho, Teresa Morais; e Bagão Félix, entre outros.
Paulo Betaponto Piçarra Já chega de notícias sobre a Múmia!
Onde estão as notícias a dizer que a emissão de dívida de hoje se fez com os juros mais baixos de sempre?
Ou que a dívida baixou para níveis raramente vistos, como li no Washington Post?!

Colo aqui para verem o que é jornalismo, tsá?

https://www.washingtonpost.com/.../818e5e3c-f374-11e6...
Portugal’s government has proved its critics wrong, slashing the debt-heavy country’s budget deficit to its lowest level in more than 40 years despite warnings that its anti-austerity policies could spell financial disaster.
WASHINGTONPOST.COM
Maria Magalhães
Maria Magalhães Estas noticias boas para o país, os jornaleiros não vendem, convém falar de Sócrates.....
Nuno Gonçalves
Nuno Gonçalves Nesta terra não há jornais, só pasquins de propaganda política. Obrigado por partilhar e lembrar o que verdadeiramente interessa ao povo português
Gosto · Responder · 1 · Ontem às 8:22 · Editado
Jorge Ricardo Alves
Jorge Ricardo Alves Não foi a dívida, foi o défice. A notícia fala do défice, e isso foi bem noticiado em Portugal. Infelizmente a dívida continua a aumentar a um ritmo alarmante...
Ana Tavares
Ana Tavares Não interessa, aos jornalistas só interessa a CGD. Eu gostava de saber porque é que o Sr,Domingues não queria entregar a declaração de rendimentos. Será que tem algo a esconder?
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Miguel Santos
Miguel Santos Um livro de direitalhos aziados e para direitalhos aziados!!! Hilariante e surreal!!!
Paula Cruz
Paula Cruz Devias ter respeito pelos dereitalhos esquerdelhoda ....
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Sergio Quaresma
Sergio Quaresma Já teve o seu tempo de protagonista em poderia ter feito muito para bem do país mas não,foi sempre olhando para o seu umbigo agora reaparece como que a colher louros de uma vida política cheia de aventuranças....poupa-nos sr Acabado Silva
Wilson Sunahara
Wilson Sunahara O titulo do livro deveria ser "Nada fiz,nada deixo". Na falta de melhor,fez da politica uma (mal) carreira para safar-se, o resultado foi o que se viu, uma lastima; de politicos desses, dispensamos.
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Pedro Areal Areal
Pedro Areal Areal E fala do antigo administrador do bpn? Das acções que lucrou com a venda das mesmas? Como foi avisado que o banco ia ser resgatado? E do Dias Loureiro? E do Lima Duarte? E dele mesmo não ter pago o imi? Tenha vergonha como.presidente da República portuguesa foi o.pior........E não esquecer o Elefante Branco só pra recordar.......
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António Pereira
António Pereira Finalmente vamos saber como lucrou com acções sem estarem cotadas . Vamos saber como fez para não pagar sisa da vivenda do algarve. Vamos saber ... não vamos? Oh pensei que sim
Sérgio Gonçalo Rodrigues
Sérgio Gonçalo Rodrigues O vingativo ajuste de contas, repleto de azedume tal como o bem carateriza como homem e como político. Contudo, ficará para a história como o pior presidente de sempre onde não deixou qualquer marca em dois mandatos. Já agora, tb não deixa saudades nenhumas pois sempre colocou os números à frente das pessoas. Personagem triste e sombria
Gosto · Responder · 7 · Ontem às 4:21 · Editado
Carlos Silva
Carlos Silva Devia explicar os milhões que ganhou com o BPN, pulha. Enquanto estes bandidos andarem a escrever livros em vez de estarem na prisão, continuaremos a ser uns miseráveis
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Fernanda Marques
Fernanda Marques "Alguém sabe o que se passa com o julgamento do caso "Vistos Gold". É que não vejo as televisões e os jornais a noticiarem seja o que for. Porque será?"
Maria Magalhães
Maria Magalhães Quem dá ouvidos ao que escreve este senhor ressabiado, só mesmo o Dinis e outros como ele. O pior 1º ministro e o pior PR. Não há nada que o possa valer. A mão escondida por detrás dos arbustos. O PIDE....
Rui Vieira de Castro
Rui Vieira de Castro O Prof. Cavaco Silva foi de uma independência atrás, perdão, atroz para a actuação do governo anterior, o da sorte grande e a aproximação, ou seja o PPD e cds.!!! Talvez seja uma das coisas que quer provar ás pessoas, não sei é se vai conseguir.
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Adelino Cardoso
Adelino Cardoso as memórias de um parolo q se acha mais sério q os outros ( talvez o mundo dele seja a Quinta da Coelha) na sala Almada Negreiros?!
Blasfémia!!!
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Alfredo Monteiro
Alfredo Monteiro Quando Deus começou a dar os nomes aos animais, tinha um sempre aos saltos:
- E eu ? E eu ? 
Continuando a tarefa e o outro : 

- E eu ? E eu ? 
Já farto do E eu ? E eu ? O homem lá se cansou : 
- Oh pá, és um chato do caraças. Vais ser O Chato e vais viver para os tintins. 
Não sei porquê, lembro-me sempre desta piada quando esse personagem resolve : 
- E eu ? E eu ?
António Sampaio
António Sampaio e eu ke pensava que não ia-mos levar mais com este exemplo da decadência da classe política.
Toni Gonçalves
Toni Gonçalves E um sujo não merece viver neste país e falso como Judas quer ser lindo depois de ser o tipo mais sujo de Portugal !
Simão Thomaz de Vilhena
Simão Thomaz de Vilhena Não arrancou muitas gargalhadas? Ainda bem! Obviamente não é essa a finalidade do livro.
Alice Gouveia
Alice Gouveia O tempo dele já passou! Pobrezinho, nem se lembra disso.
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Paulo Magalhães
Paulo Magalhães "Prestar contas" ou "acertar contas" ?
O livro não será uma divulgação de actas de reuniões que em «princípio» deveriam de ser secretas ?
Teresa Silva
Teresa Silva Deplorável a triste figura que este senhor continua a fazer...
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António Sampaio
António Sampaio A parte de sortudo eu percebo e bem, agora a de " prestar contas ao país" é tipo LOL .
António Garcia
António Garcia Que amoroso:
Agora são sopas depois d'almoço. 
Mas o que é que lhe deu agora? 

Tropeçou no sentimento foi? 
O cagalhão de 5 estrelas está muito sensível. 
Usou o poder que tinha ou pressionou o cão costa p,ra que não concretizasse o assalto ao governo? 
Foi pior que Pilatos, desmarcou -se completamente
O PPC, nem lhe devia ligar. 

.
Vitor Castelo Pedrosa
Vitor Castelo Pedrosa "Um sortudo", pelo menos ainda reconhece alguma coisa que nós maioria dos cidadãos Portugueses não sabemos como foi possível tanta sorte.
Albino Santos
Albino Santos Cavaco é triste taciturno faz lembrar os dia frios e cinzentos de outrora e desmoralizante para os seus concidadãos. Por muitos livros que escreve nada o iluminará ....
Antonio Coelho
Antonio Coelho Pena não ter criticado os seus ministros corruptos, quando ele era Primeiro-Ministro nem o Primeiro-Ministro corrupto quando ele era Presidente da República...
Luis Antunes
Luis Antunes A razão está com os que roubam! Com esses não há indignação quando editam livros escritos por terceiros
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Atena Rodrigues
Atena Rodrigues ... era a oportunidade justa per tacere .... um que jurou á constituição, não deve justificar-se ; condenou se a si mesmo !!!
Filipe Mendes
Filipe Mendes Poe sorte nisso........ fez o que fez, e, mantém-se intocável.......
Machado Capela
Machado Capela Explicou porque tem moradia de férias no Resort BPN? A Malta gostava de saber...
Fernando Lopes
Fernando Lopes Aqui a conversa é outra .... deveria falar do BPN e seus comparsas !
Fernando Aires
Fernando Aires Agora entendo a razão de ele enquanto governante andar zangado com toda a Gente e com o Povo em geral, o Homem estava a escrever um livro:
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Filipe Oliveira
Filipe Oliveira Ainda não foi o enterro???
Marco Viana
Marco Viana O senhor agora lança um livro de roupa suja... imagino que seja para pagar contas do dia a dia, ja que a sua reforma de 8000€ nsi da para as pagar...
Anselmo Novo
Anselmo Novo GRANDE HOMEM. O melhor Presidente que Portugal Já teve!
Jorge Carvalho
Jorge Carvalho Como ele se esforça, ao contrario do paìs, para nos lembrar que ainda näo faleceu politicamente... Por mim pode limpar o cu à obra...
Luis Arouca
Luis Arouca Não teve a coragem de dizer as verdades cara a cara ,mas diz por escrito? Tarde piaste, fraco presidente que tivemos, os outros que passaram por lá nunca acertaram as contas com livros.
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Serafim Fernando
Serafim Fernando Os jornaleiros e paineleiros lambuzam-se, com prato de m**d* que a múmia lhes serviu!
Jorge Alves
Jorge Alves Seria muito mais importante ter escrito um livro do seu tempo de primeiro ministro , sobre amigos/correlegionarios , bancos , obras em sua casa , permuta de vivendas , fugas ao fisco , aplicacoes e como familiares ocuparam cargos como especialistas sem nunca terem mostrado provas , alem de uma situacao que se passou na minha regiao , acabar com linha de caminho de ferro do Vale do Tamega , com a promessa de uma variante/estrada em substituicao e autocarros nos mesmos horarios , inaugurou uma ponte sobre outra estrada com pompa circunstancia e nada mais foi feito , talvez pelo poder local ser do mesmo partido ...TODOS SE TENHAM ACOMODADO ... !!! " PODE LEVAR SAUDADES ... QUE É AQUILO QUE CÁ NÃO DEIXA " .
Zulmira Helena
Zulmira Helena A doença deste e para toda a vida! Coitado! Quer fazer uns patacos!
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Armenio Vilela
Armenio Vilela nao lhe chega como o disse quando era Pr da R , agora quer tomar o lugar do novo Pr da R que era vender livros isto esta mau tem todos a mesma escola
Luis Madureira
Luis Madureira Prestar contas ao país era na cadeia também...
Luis Vaz
Luis Vaz O melhor desempenho da criatura, foi como Bufo da PIDE!
Teresa Vaz
Teresa Vaz Concordo plenamente! Pois o que se passa hoje com a queda de juros não interessa para notícia, este é que interessa, colo ele diz, defendeu o país! Onde?
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Fernando Machado
Fernando Machado O bpn.....ninguém me diz nada?....lol
José M. Gabriel
José M. Gabriel Falou do BPN?
Carlos Branco Branco
Carlos Branco Branco Tem calma que vais para o panteão...
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Gabriela Carvalho
Gabriela Carvalho DEMASIADO CEDO PARA ANDAR COM TRICAS!
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Tobias Barroso
Tobias Barroso Este cretino não merece a agua que bebe
Pilar Barros
Pilar Barros Prestar contas??? Fala do BPN, Pavilhão Atlântico, etc, etc,???
Antonio Silva Alberto Melo
Antonio Silva Alberto Melo Azar teve o povo em ter tido este caramelo na presidência
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Antonio Jose Martins
Antonio Jose Martins E continua com a mania que é uma pessoa séria!...
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Nuno Constantino
Nuno Constantino Escreve sobre o dias loureiro???
João Gomes
João Gomes 🍽🚾🚾🚾
Jorge Santos
Jorge Santos Pode começar por pagar a ocnta que deixou no BPN e nas Pescas
Antonio Bastos
Antonio Bastos O melhor politico da nossa democracia, sem dúvida!
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Fernando Goncalves
Fernando Goncalves Uma triste figura que passou pelo poder e deixou o país de pantanas.
Custodio Albino Matilde
Custodio Albino Matilde Só agora, porquê
Anselmo Novo
Anselmo Novo Os sdmiradores e seguidores do "socras" é que estão fulos...eh.eh.eh.
Luis Arouca
Luis Arouca E mais quer ganhar mais algum porque os dez mil euros não dá para viver.
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REPORTAGEM

Marcelo Rebelo de Sousa serviu jantar a sem-abrigo do Porto

Presidente da República vestiu a camisola de voluntário, serviu jantar e lembrou que há instituições à espera de uma nova Estratégia Nacional de Integração de Pessoas Sem Abrigo.
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Noutro dia qualquer, um atraso de minutos na abertura do Restaurante Solidário, na Baixa do Porto, bastaria para haver um reboliço na Rua de Cimo de Vila. Esta quinta-feira à noite, não. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ia vestir a camisola de voluntário da CASA – Apoio ao Sem Abrigo e servir o jantar.
É o quarto momento público que o Presidente dedica às pessoas em situação de sem-abrigo no espaço de dois meses. E no passado dia 9 recebeu a Comunidade Vida e Paz, que lhe entregou uma petição com quatro mil assinaturas a reclamar uma nova estratégia nacional de integração de pessoas sem abrigo, que "capitalize as experiências positivas” da anterior e que garanta as “melhorias necessárias". E ele não se esqueceu disso. “O último plano terminou no final de 2015”, lembrou. “Em 2016, não houve plano, houve um prolongamento parcial do plano [2009-2015] e o Governo ficou de dar agora uma resposta em 2017. Há muitas instituições que estão à espera. É uma necessidade.”
À espera de um minuto com o Presidente estavam dois representantes da associação Uma Vida Como a Arte, composta em exclusivo por pessoas com experiência de vida de rua. Queriam dar-se a conhecer, pedir-lhe que os ajude a obter uma sede, mas também entregar-lhe uma carta – a defender que haja uma continuidade; que a nova estratégia seja dotada de recursos; que se cumpram, de forma articulada, as políticas públicas de habitação, saúde, emprego; que se ouça as pessoas sem-abrigo nos assuntos que lhes dizem respeito; que se troque os modelos assistencialistas por modelos virados para a inclusão; e que se combata o preconceito.
Surgiu como movimento dentro do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo (NPISA) do Porto, que reúne 64 entidades formais e informais da cidade. E, desde o princípio desde mês, é uma associação. “Pensámos muito antes de formalizar a associação”, contara o presidente, António Ribeiro, horas antes, no início da reunião semanal. “Se calhar, a nossa voz vai ser ouvida de forma diferente do que era quando éramos um movimento informal”.
Não é um lugar fácil este que Marcelo Rebelo de Sousa escolheu para começar a noite de quinta-feira no Porto. Tantas queixas se ouvem na rua sobre o Restaurante Solidário, que era há muito reclamada pelo NPISA e que faz parte da "Estratégia Local de Apoio de Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo", aprovada pela autarquia em Julho de 2016.
– Meia malga de sopa, carne esfiada, massa que dá para colar blocos. Às vezes, massa branca com salchichas e uns ovos que nem sal têm – queixava-se um rapaz, 21 anos, há dois meses a viver na rua.

– O comer vem frio. A primeira coisa que uma pessoa que dorme na rua precisa é de um prato de comida quente – corroborava a namorada, de 32.
Não é um serviço municipal. É um projecto de parceria. A Ordem do Terço empresta o refeitório e a equipa de cozinha para preparar a comida. Os alimentos são recolhidos pela CASA, o Banco Alimentar, a Portis-Hostéis Portugueses. A Câmara do Porto paga as despesas de manutenção do espaço e dos equipamentos e os alimentos em falta. As refeições são servidas por 400 voluntários da CASA, que rodam em grupos de 15 a 25, apoiados por voluntários do Colégio Nossa Senhora do Rosário e do Grupo de Acção Social do Porto.
O vereador da Habitação e da Coesão Social, Manuel Pizarro, que ali estava, conhece bem as queixas. “Temos dois problemas, que aliás se resumem a um”, explicara já ao PÚBLICO. “O restaurante tem muito mais gente do que prevíamos. Andámos semanas a contar as pessoas que se alimentavam nos dois espaços de rua que o restaurante pretendia substituir – a Praça da Batalha e as imediações da Estação de São Bento – e nunca ultrapassámos cem. Dimensionámos o restaurante para 130 a 140. Nalgumas noites temos mais de 200. Evidente que isso causa problemas.”
Como é que isto se resolve? “Abrindo um segundo restaurante na Baixa, que permita aliviar este”, retorquira o vereador. Não adiantou em que mês. Referiu apenas que será “neste semestre”. O plano é ter até quatro espalhados pela cidade. “Apesar das críticas, é melhor do que comer na rua”, acredita. Não é só uma questão de dignidade e de conforto. “Por razões de segurança e de qualidade alimentar, quero que deixe de haver serviço de alimentação nas ruas. E tenho de poder afirmar que todas as pessoas que precisam de uma refeição têm um sítio aonde podem ir comer”.
Por ora, é isto: acesso livre, número de pessoas que aparecem impossível de prever, a escassez a estourar de quando em vez na mão dos voluntários de turno.
O que se faz quando a comida não chega para todas as pessoas que fazem fila à porta? “Temos de arranjar algum remedeio”, responde Pedro Pedrosa, coordenador da CASA. “Temos aqui uma pequena copa e um pequeno almazém. Há sempre atum, salchichas… Às vezes, os voluntários têm de fazer massa ou arroz.”
Não há nada que atrapalhe tanto a voluntária Cristina Ramirez, uma formadora de 48 anos, que trabalha no Porto e mora em Ovar, como estes desarranjos. “Para mim, é complicado ter de dizer a alguém: ‘Não há comida, vamos tentar arranjar qualquer coisa’. Também é complicado quando alguém quer repetir e a gente tem de dizer: ‘Olhe, vamos ver se conseguimos dar.’”
Esta quinta-feira, com Marcelo Rebelo de Sousa na sala, não havia de faltar comida. Uma malga de caldo verde, um pão, um prato de bacalhau espiritual, uma mousse de chocolate, um bolo de bolacha ou um pouco de arroz doce de sobremesa, um café e ainda uma maçã para levar no bolso. “Vamos ouvir bocas”, temia a voluntária Joana Mota. Comida melhorada? “Sim. E mais quantidade do que é costume.”
Depois de dar abraços e beijos aos voluntários, Marcelo Rebelo de Sousa tirou o casaco, vestiu a T-shirt de voluntário e saltitou de mesa em mesa, sorridente. Algumas pessoas comiam com as caras fechadas, de costas, com os bonés ou os gorros enfiados, para melhor escaparem às câmaras dos jornalistas amontoados a um canto. Outras interagiam o mais possível.
– Senhor Presidente, uma sopa – pediu Rui Salvador, activo membro de Uma Vida Como a Arte.
– Quer mais ou quer menos?
– Cheia, senhor Presidente.
Fernanda Fernandes estava encantada. “Acho muito bem que aqui esteja. Acho muito bem. Devia de ser mais vezes." Já dormiu na rua, já dormiu num centro de acolhimento temporário e agora está num quarto, com o companheiro, com acesso a cozinha, mas sem dinheiro para comprar alimentos. "O meu homem é uma pessoa de sustento. E nós, com as carrinhas, levávamos comida para casa, não é? Aqui não, não deixam. Leva-se uma maçã, mais não. O Presidente devia vir mais vezes para ver se a gente pelo menos tinha uma refeição melhor. Quando é que a gente aqui come mousse de chocolate? Que eu me lembre, nunca.”
Marcelo Rebelo de Sousa parecia estar a par do que ali se passa. “Rodaram já 36 pessoas”, disse, no fim do primeiro grupo. “Acaba a comida a determinada altura. É esticar, esticar, esticar”, referiu. “Há umas instituições mais à-vontade e outras muito menos à-vontade para cumprir esta missão. E esta missão ainda é uma missão com peso. Além dos sem-abrigo propriamente ditos, temos aqueles que têm casa mas não têm condições para confeccionar uma refeição. Têm uma casa precária, vivem num quarto de pensão”, explicou ainda.
Dali, partiu para o parque de estacionamento da Trindade, onde, todas as quintas-feiras, o grupo de voluntários Amor Perfeito distribui uma refeição completa a quem aparece. E aparecem famílias inteiras. Homens, mulheres, idosos e crianças, muitas crianças fazem fila para comer, conviver, arrecadar alguma roupa. Uma mulher pediu-lhe, aos gritos, que lhe arranjasse uma casa. Isso, respondeu o Presidente, "tem de pedir à câmara".

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