Francisco Louçã
Opinião
Internacionalmente, 2017 pode vir a ser o ano a partir do qual passaremos a dizer que antigamente o futuro era tão risonho. Entre nós, a constatação é a de sempre.
Começou como um desporto, continuou como uma tragédia e nem chegou a uma farsa: a iniciativa de apresentação de previsões para o ano seguinte por várias agências e revistas financeiras tem redundado numa soma de enormidades. Só que, no passado recente, foram as piores das previsões que se vieram a confirmar, como o “Brexit” ou a vitória de Trump. O que era apresentado no Outono de 2015 como uma construção fantasista e vagamente divertida sobre 2016, com baixíssima probabilidade de realização, tornou-se depressa a manchete dos jornais e a abertura dos telejornais. Assim sendo, lição aprendida, as mesmas agências, que voltaram a produzir as suas previsões, foram agora mais ousadas na sugestão da improbabilidade, esperando porventura que o mundo caótico em que vamos vivendo venha a confirmar as hipóteses mais extravagantes. Se assim não acontecer, ninguém repara; se, pelo contrário, o céu nos cair em cima da cabeça, os preclaros profetas bem podem reivindicar a limpidez da sua bola de cristal.
A Bloomberg, que publica o Guia Pessimista para 2017, anunciando logo que não se trata de previsões mas de azares, encima a sua lista com a cisão dos Estados Unidos e a saída da Califórnia, uma crise da NATO, a vitória de Le Pen em França e uma guerra económica entre Washington e Pequim. A The Economist, britanicamente mais contida, apresenta um sombrio naipe de Tarot em que tudo pode acontecer, dado que tudo é interpretável com os mistérios das cartas. A Fortune arriscou-se mais: fazendo previsões em meados de Novembro, dava por certo que Juppé representaria a direita francesa nas presidenciais e ganharia a Le Pen (ele veio a perder as primárias e não será candidato). O resto são notícias tecnológicas (um Tesla percorrerá os Estados Unidos de oeste a leste sem condutor) e económicas (o sucesso do plano Trump para a amnistia fiscal aos capitais retornados). A Forbes afina pela mesma tecla, as vendas, os salários e os empregos estarão a subir nos EUA durante o ano vindouro. E a Goldman Sachs, instalada na Casa Branca, garante que vai tudo correr bem.
O problema é que, entre o divertimento e o augúrio, nenhuma destas agências financeiras parece estar a ver a maré. O risco é bem mais real do que o jogo de fantasias que nos propõem: bolha bolsista nos Estados Unidos, bolha imobiliária na China, banca italiana e alemã em dificuldades, esgotamento da política monetária do BCE para sustentar a recuperação medíocre na Europa, inundação de liquidez para pouco investimento, acumulação de capital em paragem cardíaca, esses são os ingredientes para uma faísca e para um novo crash. O ano arrastar-se-á na dúvida sobre o tempo desta faísca.
Assim, internacionalmente, 2017 pode vir a ser o ano a partir do qual passaremos a dizer que antigamente o futuro era tão risonho. E, entre nós, a constatação é a de sempre: Portugal tem este azar, de há uns bons anos a esta parte a Europa só nos liga quando é para nos prejudicar.
A Bloomberg, que publica o Guia Pessimista para 2017, anunciando logo que não se trata de previsões mas de azares, encima a sua lista com a cisão dos Estados Unidos e a saída da Califórnia, uma crise da NATO, a vitória de Le Pen em França e uma guerra económica entre Washington e Pequim. A The Economist, britanicamente mais contida, apresenta um sombrio naipe de Tarot em que tudo pode acontecer, dado que tudo é interpretável com os mistérios das cartas. A Fortune arriscou-se mais: fazendo previsões em meados de Novembro, dava por certo que Juppé representaria a direita francesa nas presidenciais e ganharia a Le Pen (ele veio a perder as primárias e não será candidato). O resto são notícias tecnológicas (um Tesla percorrerá os Estados Unidos de oeste a leste sem condutor) e económicas (o sucesso do plano Trump para a amnistia fiscal aos capitais retornados). A Forbes afina pela mesma tecla, as vendas, os salários e os empregos estarão a subir nos EUA durante o ano vindouro. E a Goldman Sachs, instalada na Casa Branca, garante que vai tudo correr bem.
O problema é que, entre o divertimento e o augúrio, nenhuma destas agências financeiras parece estar a ver a maré. O risco é bem mais real do que o jogo de fantasias que nos propõem: bolha bolsista nos Estados Unidos, bolha imobiliária na China, banca italiana e alemã em dificuldades, esgotamento da política monetária do BCE para sustentar a recuperação medíocre na Europa, inundação de liquidez para pouco investimento, acumulação de capital em paragem cardíaca, esses são os ingredientes para uma faísca e para um novo crash. O ano arrastar-se-á na dúvida sobre o tempo desta faísca.
Assim, internacionalmente, 2017 pode vir a ser o ano a partir do qual passaremos a dizer que antigamente o futuro era tão risonho. E, entre nós, a constatação é a de sempre: Portugal tem este azar, de há uns bons anos a esta parte a Europa só nos liga quando é para nos prejudicar.
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