quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

“Os jornalistas americanos têm de impedir Trump de os dividir”

PRESIDENTE TRUMP

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Os dois jornalistas alemães que começaram a reportagem dos Panama Papers apelam à união e colaboração entre jornalistas americanos para fazer face aos ataques de Trump à imprensa.

Donald Trump tem protagonizado vários ataques aos jornalistas
SHAWN THEW/EPA
Bastian Obermayer e Frederik Obermaier, os jornalistas do jornal alemão Süddeutsche Zeitung que receberam os documentos dos Panama Papers em primeira mão, dizem que os jornalistas norte-americanos devem unir-se para fazer frente aos ataques de Donald Trump à imprensa. Num artigo de opinião publicado no jornal britânico The Guardian, os dois repórteres dizem que o caso dos Panama Papers “demonstrou que um projeto de colaboração, antes impensável, pode resultar”. Os dois jornalistas recordam o momento em que Trump, na primeira conferência de imprensa na Casa Branca, impediu um repórter da CNN de fazer uma questão, e escrevem que é “preocupante” que “nenhum dos seus companheiros jornalistas presentes na sala se tenha levantado em defesa dele naquele momento”.
“Este não foi o primeiro ataque de Donald Trump à imprensa, e certamente não será o último”, continuam, defendendo que “é por isso que é necessário um novo nível de solidariedade e cooperação entre o quarto poder“. Agora, consideram os dois repórteres, “os jornalistas americanos têm de o impedir [a Donald Trump] de dividir as suas fileiras, mesmo que a sua competição profissional seja dura. Têm de fazer o oposto: unir-se, partilhar informação e colaborar”.
Bastian e Frederik apelam, por isso, a que os jornalistas norte-americanos sigam o exemplo do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação no caso dos Panama Papers. “A principal razão pela qual o nosso jornal, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, partilhou a história com os seus concorrentes foi simplesmente porque era demasiado grande e demasiado importante para a fazer sozinho”, explicam. “Agora, novamente, enfrentamos uma história que é demasiado grande e demasiado importante para lidarmos com ela sozinhos: o impacto de Donald Trump na democracia dos Estados Unidos da América”, afirmam os repórteres, acrescentando que “o primeiro passo pode ser mostrar solidariedade concreta”.
Como? “Da próxima vez que Donald Trump tentar excluir um repórter, ou não responder a uma questão, o próximo jornalista que for autorizado a falar deve repetir a questão desse jornalista“, exemplificam. Depois, aconselham, deve haver solidariedade até no tratamento da informação, caso algum meio de comunicação receba “informação importante que seja difícil de confirmar”. Os dois repórteres pedem ainda que os meios de comunicação norte-americanos embarquem juntos em projetos especiais de investigação, que envolvam vários meios rivais, e até deixam uma ideia concreta: “Um primeiro projeto possível seria olhar para os seus negócios internacionais e para os negócios da sua administração multi-milionária, e descobrir todos os conflitos de interesse”.
“Trump é agora o presidente dos Estados Unidos. Ele é o governo. Verificar o poder do governo, o centro do poder, sempre foi o trabalho mais nobre de um jornalista. Isto é ainda mais importante quando o presidente age como um dos oligarcas que nós, que trabalhamos sobre corrupção internacional, investigamos uma e outra vez”, afirmam os repórteres, concluindo que “é tempo de mudarmos o rumo”, algo que não é “apenas justo, é absolutamente necessário”.

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