República de Moçambique
Província de Inhambane
Escola Secundária de Chambone
Excelentíssima Sra Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano
Somos alunos da Escola Secundária de Chambone, cidade da Maxixe, província de Inhambane, reprovados aos exames da 10ª classe neste presente ano, 2016. A nossa situação é semelhante à dos outros reprovados do País. Prestamos exames de Português, Geografia, Inglês, Matemática e Química. Porém, reprovamos por não termos conseguido atingir, no exame de Matemática, os 8 valores mínimos exigidos para a aprovação ao exame, de acordo com o regulamento de avaliação do Ensino Secundário geral.
Senhora Ministra, reconhecemos que a nossa reprovação não foi condicionada, ou seja, reprovamos por mérito próprio. Paralelamente, reconhecemos também que existiram na nossa escola, Escola Secundária de Chambone, aprovações condicionadas, isto é, que contrariamente às nossas reprovações, aprovaram por mérito impróprio, sem o mínimo de justiça ou transparência necessárias por parte dos “juízes”. É exactamente isso que nos levou a redigir e a dirigir esta exposição a Senhora Ministra, embora fora das formalidades necessárias, para mostrarmos a dor, descontentamentos, frustrações, desagrado sentidos por todos nós que, devido a uma e única disciplina chamada Matemática, reprovamos na 10ª classe. O que temos a apresentar, Sra Ministra, é o seguinte:
1. Os resultados finais da 10ª classe afixados no dia 24 de Dezembro são uma fantasia, não reflectem a realidade. As notas dos exames da 2ª epoca foram adulteradas para, tendenciosamente, fazer passar os que tem nomes modernos, ignorando os Mbata, Rungo, Khudzi, Tshala...e favorecendo também os que nasceram do berço da corrupção que, de Português a matemática, pagaram aos corruptos professores da Eschambone. Assim, as aprovações patentes nas pautas são de dois géneros: aprovação transaccional (corrupção) e aprovação por afinidade ou aproximação (nepotismo). O terceiro género que seria o justo, aprovação por mérito, quase que não existe.
2. Temos conhecimento que após a correcção do exame de matemática, do balanço feito, constatou-se que quase que ninguém passava, isto é, poucos tinham atingido 8 valores. E os poucos 8 são duvidosos, são dos ditos “casos por resolver” para facilitar a aprovação. Porém, foi possível existirem mais aprovados nas pautas (embora não superem 50% dos inscritos) sem terem conseguido 8 valores no exame. Apuramos que, antes do início do conselho de exame, a Direcção da escola reuniu-se com o Delegado de Matemática, talvez mais outros influentes, para a apreciação superficial do aproveitamento. Não sabemos o que foi deliberado, mas olhando para os resultados finais, provavelmente tenha se deliberado que os alunos que chumbavam apenas a matemática por uma nota muito próxima a 8, o conselho podia ‘ajuda-los’ deixando-os passar. A certeza que temos é que as notas dos aprovados em matemática são fictícias, disto temos a máxima certeza.
3. Se houve o acordo referido no número 2, não temos conhecimento da nota determinada no encontro que merecesse “ um puxão para 8”. O que apuramos e temos a certeza máxima, senhora Ministra, é o escândalo de montagem de notas, reflexos de corrupção e nepotismo naquela escola. Mais uma vez os professores usaram o seu “poderio mágico” de todos os anos para fazer passar colegas que tinham notas imprestáveis que variavam de 1 a 6 valores no exame, muito inferior a 8. Nós os outros que conseguimos por esforço próprio 6.5 a 7.5 valores, reprovamos. Em resumo, os que mereciam a tal ajuda, não foram ajudados ou porque não pagaram ou porque são filhos de ninguém.
4. Não temos o conhecimento do envolvimento da direcção da escola no escândalo de montagem de notas uma vez que todo o trabalho foi confiado aos professores por ser feito por eles. Independentemente do que fora concordado no encontro que referimos em 2, os professores membros do conselho de exame foram desonestos e injustos: Nao registaram as notas reais nas pautas, isto é, a nota da pauta em alguns aprovados não coincide com a do exame e não olharam para nós que carecíamos de ajuda para aprovarmos.
5. As notas fictícias não surgiram só do conselho. Durante a correcção, nas próprias provas de exame, a cotação foi distribuida de maneira a dar 8 valores ou mais em provas identificadas. E alguma fonte, vindo do grupo de matemática, revelou-nos que professores de matemática acresciam respostas nas provas para justificar a atribuição da cotação. Isto pode se notar nas provas dos aprovados. Disto, não temos a certeza porque não vimos as tais provas, mas cremos que seja verdade porque, com o controlo cerrado do delegado da disciplina, tudo se fazia para tirar de chambone os mais Burros que nós.
6. A disciplina de matemática é a única responsável pelas reprovações na Eschambone. Talvez em outras escolas também, mas o que temos a apresentar, senhora ministra, é caso particular de Chambone. Os professores de matemática não nos ensinam nada, e alguns mostram na sala de aula que não sabem nada de matemática. So se limitam em nos ensinar aquelas operações mais fáceis como “1+1” que nós todos dominamos. Mas chegado ao exame, deparámo-nos com aquelas questões de que pouco falam e eles sempre nos dão como tpc que nunca ousam em corrigir. Há professores de matemática que entram na sala gastam 90 minutos falando da sua vida, dos seus sucessos na vida, dizendo que eles são o exemplo e tínhamos que estudar muito para sermos como eles. Se esses professores estivessem preocupados connosco, aproveitariam esse tempo para nos ensinar algo. Durante as aulas ameaçam-nos dizendo que “ a vossa vida e o vosso futuro está nas nossas mãos, nós é que decidimos se saem ou ficam”. São professores orgulhosos, mas que nada fazem por nós.
7. Nem todos os professores tem o mesmo comportamento, existem poucos bons professores. O próprio delegado de disciplina é tido pelos seus colegas como Homem Duro, pois fez todo o esforço para que os corruptos e nepotistas não tivessem espaço para suas manobras, mas aproveitaram-se da vantagem da maioria para o “dribilarem”. Se as provas tivessem sido corrigidas só pelo delegado, incluindo o lançamento de notas, a justiça teria havido. Talvez 80% dos actuais aprovados, estariam na mesma situação connosco.
8. Temos conhecimento que a maioria os professores de Matemática da Eschambone sao formados em Ciências de educação pela Unisaf e outros ainda estão em formação no período pós-laboral. Porém, sabemos que a unisaf ainda não tem o curso de matemática. Portanto, os professores baseiam-se apenas nos poucos exercícios que dominavam na 10ª classe quando alunos, pois outros nem tiveram matemática, fizeram na altura letras com biologia e outros frequentaram institutos.
Face ao exposto, nós os alunos reprovados, exigimos que se reestabeleça a justiça, reprovando aqueles que aprovaram injustamente. Que os exames dos aprovados em Matemática, na 2ª época, sejam recorrigidos talvez por professores doutras escolas e os relançamentos de notas nas pautas sejam feitos a rigor. Escrevemos com o conhecimento dos factos, podíamos citar nomes de colegas nossos que suas notas foram transfiguradas de 4 para 8, e os 7 e 7.5 permaneceram intactos. Não citamos nomes porque o nosso objectivo ao escrevermos, não é levar um professor ou um aluno preso ou expulso, mas sim vermos novas pautas com novos resultados justos, ou chumbamos todos ou passamos todos que não atingimos a nota mínima. Esperamos também ouvir que os professores que não sabem nada de matemática, só entram na sala para contar histórias já não leccionam mais a disciplina de matemática. Cremos que o ministério que V.Excia dirige tem competentes para fazerem uma investigação de modo apurar a veracidade dos casos por nós apresentados. Se a V.Excia optar pelo silêncio, continuaremos a escrever, e poderemos ferir sensibilidades e até sermos acusados de difamação.
Sem mais, antecipamos os nossos sinceros agradecimentos pela atenção que V.Excia prestar-nos, confiantes que as nossas reclamações serão atendidas.
Cordeais saudações
Maxixe, 26 de Dezembro de 2016
Alunos Reprovados da 10ª classe
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