quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Afonso Dhlakama assume belicismo e decreta cessar-fogo provisório em Moçambique


Escrito por Emildo Sambo  em 28 Dezembro 2016
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O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, cessou as hostilidades militares por um período de sete dias em todo território moçambicano, a partir de 00h00 de terça-feira (27). A medida, segundo justificou, é consequência de uma conversa telefónica mantida há 48horas com o Presidente da República, Filipe Nyusi. Porém, para quem ouviu Dhlakama a insistir, ao longos dos últimos anos, que era vítima do regime, o seu anúncio pode ser interpretado não apenas como um volte-face, mas também como uma clara assunção de uma “postura belicista”, de quem controla a guerra e pode pará-la quando quiser. E ainda dá consistência à acusação que lhe atribuído pela Frelimo, de ser o cabecilha de um “grupo de bandidos armados”.
Certamente, nas hostes do partido no poder há quem afirme: “nós sempre dissemos ao povo que Dhlakama é o responsável pela guerra”.
O presidente do maior partido da oposição no país não é visto publicamente desde Outubro de 2015 e argumenta que se esconde por temer pela sua vida, pois está a ser caçado pelo Governo da Frelimo.
Ele sempre alegou que era vítima de emboscadas e ataques perpetrados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) contra os seus guerrilheiros. “O Presidente da República manda atacar a região da Gorongosa, onde eu vivo”.
Recusando uma trégua com um adversário que presumivelmente lhe aponta as armas, por várias ocasiões, o líder da Renamo frisou que o cessar-fogo dependia da formação política no poder, que devia “mostrar interesse e boa-fé” por ser a parte que promove a guerra. “É o que eles têm feito aqui na Gorongosa”.
Todavia, numa mudança súbita de opinião, Dhlakama passou de vítima a senhor que controla a guerra e com poderes bastantes para pará-la quando achar conveniente. E foi o que fez. Numa clara contradições aos seus discursos afirmou:
“Anuncio a cessação das hostilidades militares a partir de zero hora de hoje, terça-feira, 27 de Dezembro de 2016. Em todo território moçambicano não haverá combate entre as Forças Armadas da Renamo e as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). E as Forças da Renamo ficarão nas suas bases. Poderão fazer patrulha numa área de três a quatro quilómetros por razões de segurança e, o Presidente da República, quero acreditar, que vai fazer o mesmo. As FADM e a FIR [ora UIR] também irão se manter nas suas posições”.
Por sua vez, o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) disse, através do seu porta-voz Inácio Dina, que tomou conhecimento do armistício, “mas aquilo que é o papel da polícia continuará naturalmente. Continuaremos firmes".
Há dias, o líder da “Perdiz” disse ao Jornal “OPaís” que não falava com Filipe Nyusi havia um mês.
Contudo, na segunda-feira (26) quebrou o silêncio e teve “a iniciativa de ligar para o Presidente da República. Coloquei-lhe a possibilidade de oferecermos esta trégua provisória para os moçambicanos passarem as festas do ano novo em paz e ele concordou comigo. Irei dar ordem, aliás, já foram dadas ordem às nossas unidades em todas as províncias”.
“Posso garantir os nossos amigos, familiares de Maputo, Sofala, Cabo delgado e Zambézia que podem transitar à vontade nas vias e na Estrada Nacional número 1 (EN1) sem nenhum problema. Podem andar à vontade, até que a trégua termine”, afirmou Dhlakama em teleconferência a jornalistas, na sede da Renamo em Maputo. E questionou por que não, terminado o armistício, ele e o Chefe de Estado voltarem a falar.
A partir do seu esconderijo, supostamente em Gorongosa, o presidente da Renamo disse ao telefone que equaciona a possibilidade de a trégua prolongar-se por mais tempo para permitir que o diálogo político decora num ambiente sem tiros.
“Esta é a experiência que vamos ter. E, se tudo correr bem, poderemos prolongar por mais dias. Agora, o papel da mediação internacional vai continuar. A trégua não substitui as negociações. Ao contrário, a trégua é um sinal para que as pessoas percebam que há possibilidades de acabar com a guerra. Qualquer ataque que surgir, quer nas estradas, quer nas posições, não é a Renamo. A mediação vai continuar depois das festas. Todos poderão regressar à mesa do diálogo e desenhar o papel deles”.
Antes das declarações de Dhlakama, o Presidente da República disse em Nampula que o telefonema da sua contraparte “era simplesmente para desejar-se festas felizes, um ao outro e saber como as coisas estão, mas (...) esse tipo de contato tem que se explorar ao máximo. Ninguém deve morrer por causa de desencontros de ideias ou de posições, de diferenças entre as pessoas”.
Em Junho deste ano, Dhlakama disse, numa outra teleconferência a jornalistas, a partir da Gorongosa, que não era possível declarar um cessar-fogo antes de “tudo estar cozinhado (...) para evitar decepcionar o povo e a comunidade internacional. (...) Cessar-fogo significa o quê? Pararmos. Você para, alguém está escondido ali, você pensa que já está, paramos, alguém vai te capturar, vai te matar”.
Em Moçambique, a questão da guerra tem sido tratada de acordo com a vontade dos dois partidos (eternos) rivais desde o fim da década de 70. A troca de acusações e mimos estende-se ao Parlamento e gasta-se maior parte do tempo com discussões corriqueiras, ao povo enquanto, sobretudo do centro, é apontado o canhão.

Julião João Cumbane com Julião João Cumbane.


Após 24 horas de vigência do ensaio de paz efectiva para Moçambique


Eles, Filipe Nyusi (à direita, na imagem) e Afonso Dhlakma (à esquerda, na imagem)—o primeiro é o Presidente da República (PR) de Moçambique e o segundo, vivendo em "parte incerta", é o Presidente da Renamo, o maior partido da oposição neste país—conversaram longamente ao telefone, por ocasião da decorrente quadra festiva de fim-de-ano. Da conversa telefónica em alusão entre os dois resultou um acordo informal para a observação de uma trégua com a duração de sete dias, contados entre a hora 00:00 do dia 27 de Dezembro corrente (de 2016) a hora 00:00 do dia 04 de Janeiro de 2017.

Isto ocorre numa altura em que o diálogo pela paz efectiva em Moçambique, que decorre entre uma delegação indicada por Filipe Nyusi e outra indicada por Afonso Dhlakama, com a assistência de uma equipa de mediadores internacionais, se encontra suspenso por deliberação conjunta das partes envolvidas no mesmo (diálogo).

Ocorre que quem fez o anúncio público da trégua foi Afonso Dhlakama, num comunicado de imprensa emitido via telefone, a partir da parte incerta onde se encontra a viver. Ao Filipe Nyusi, PR, apenas coube comunicar aos moçambicanos e ao mundo inteiro, que conversou longamente ao telefone com Afonso Dhlakama, sobre a situação político militar prevalecente na República de Moçambique, caracterizada por um conflito armado entre o braço militar ilegal da Renamo e as forças governamentais moçambicanas. No seu comunicado, Filipe Nyusi disse que cabia ao Afonso Dhlakama divulgar o resultado da conversa telefónica em alusão entre ambos. E assim foi: Afonso Dhlakama convocou a imprensa para a Sede Nacional da Renamo na capital moçambicana, Maputo, para onde ligou e anunciou via telefone a trégua de sete dias referida acima.

Reacções: o que dizem os moçambicanos sobre a trégua?

Grosso modo, uns estão satisfeitos e encorajam Filipe Nyusi a continuar conversando com Afonso Dhlakama usando os meios possíveis para se alcançar a paz efectiva em Moçambique. Outros estão zangados e dizem que Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama estão a brincar com os moçambicanos. Perguntam os zangados que se possível acordar uma trégua de sete dias por telefone, então porque não se pode parar definitivamente com o conflito conversando os dois directamente. Outros ainda dizem que Filipe Nyusi cometeu um erro político crasso por permitir que fosse Afonso Dhlakama a anunciar a trégua. "Afinal quem governa em Moçambique?"—questionam estes últimos.

Agora vai a minha opinião. Eu acho que, politicamente, Filipe Nyusi agiu bem ao deixar que fosse Afonso Dhlakama a anunciar a trégua de sete dias, pois quem está a agredir militarmente o Estado moçambicano é a Renamo, dirigida por Afonso Dhlakama. Os homens armados que atacam militarmente alvos civis e destroem bens públicos em Moçambique são comandados superiormente por Afonso Dhlakama. Ademais, o Estado moçambicano, dirigido por Filipe Nyusi não está em guerra com a Renamo. As forças governamentais moçambicanas apenas se confrontam com os homens armados da Renamo quando em cumprimento da sua missão de defender a integridade territorial, os bens públicos e os interesses dos cidadãos, quando isto tudo é atacado pelos homens armados da Renamo, em actos de puro terrorismo.

Na sua qualidade de Chefe de Estado, Filipe Nyusi comanda superiormente as forças governamentais, nos termos da ordem constitucional actualmente vigente na República de Moçambique. Então eu acho que na conversa telefónica com Afonso Dhlakama, Filipe Nyusi deve ter dito que se o Afonso Dhlakama mandasse os seus homens pararem com os ataques ao Estado e aos cidadãos moçambicanos, então ele (Filie Nyusi) também ordenaria as forças governamentais para pararem de perseguir a ele (Afonso Dhlakama) e seus homens. Estou a pensar que Filie Nyusi deve ter dito ao Afonso Dhlakama o seguinte:

«Meu irmão, Moçambique não está em paz, porque tu decidiste optar novamente pela violência armada indiscriminada, usando aqueles homens—nossos irmãos, filhos e sobrinhos—que tu e Joaquim Chissano—nosso compatriota e co-signatário contigo do Acordo Geral de Paz (AGP)—não integraram nas forças governamentais, como acordado no AGP. Voltaste a optar pela violência em protesto aos resultados eleitorais que foram regidas por uma lei que e Armando Guebuza—me antecessor—negociaram e fizeram passar pela Assembleia da República deste nosso país comum. Eu fui proclamado vencedor daquelas eleições e isso não te agradou, por isso voltaste ao mato a partir de onde comandas ataques contra o nosso Estado comum e contra nossos compatriotas. Pessoalmente, eu nunca tive e não tenho nada contra ti. Por isso eu coloquei sempre ao teu dispor para conversarmos sobre como ultrapassar o diferendo eleitoral de 2014, pacificamente. Eu continuo disponível para conversarmos de modo a encontrarmos uma solução que não coloque a mim também em confronto com a lei, como estás tu. Assim, eu sugiro-te suspenderes os ataques armados contra o nosso Estado e nossos compatriotas. Se fizeres isso, eu asseguro-te que vou ordenar as forças governamentais que superiormente comando para pararem de perseguir-te, de modo que se possam abrir os caminhos para um diálogo nacional inclusivo pela pacificação efectiva do nosso país. Repara que eu não estou a usar dos poderes de que estou investido para te mover uma guerra, porque não quero o derramamento de sangue dos moçambicanos por causa das diferenças que nos opõem uns aos outros. É por isso que estou a tolerar violações da lei. Sim, porque o facto de o teu partido ser oficial e ter uma representação na Assembleia da República, enquanto possui um braço armado, é uma violação da lei. Também é violação da lei, eu permitir a existência legal do teu partido nas condições em está—com um braço armado. Portanto, tu e eu estamos ambos numa situação de ilegalidade: tu por estares a comandar uma força armada ilegal e eu por permitir isso para evitar o derramamento de sangue dos nossos compatriotas. Este problema, temos que o resolver juntos, tu e eu, pacificamente. Se estiveres de acordo—e acho que é melhor que estejas de acordo para o bem de todos nós!—, então ficas tu com responsabilidade de anunciar publicamente o resultado desta nossa conversa ao povo moçambicano e ao mundo inteiro. A suspensão dos ataques que comandas contra o Estado e povo do nosso país, seria o primeiro passo importante para dialogarmos em clima de paz. São os teus ataques contra o Estado e o povo de Moçambique que fazem com que este país continue politicamente instável e economicamente pobre. Repara também que, se aceitares suspender os ataques que comandas contra os nossos Estado e povo, ganhas a oportunidade de conseguires o perdão tácito deste povo e de elevares a tua popularidade para níveis até acima da minha. A mim isso não importa agora. O que me importa muito é que o povo moçambicano viva em paz para poder trabalhar em prol do progresso do nosso país comum—Moçambique. Pensa no assunto e diz qualquer coisa nas próximas 24 horas, usando as tuas próprias palavras, sem qualquer receio! Boas festas!»

Penso também que, em resposta, o Afonso Dhlakama deve ter dito o seguinte:

«Meu irmão, eu vou convocar uma conferência de imprensa na sede nacional do meu partido ai em Maputo, para anunciar a suspensão das hostilidades militares por sete dias, a partir da 00h00 de amanhã, dia 27 de Dezembro de 2016, até à 00h00 do dia 04 de Janeiro de 2017. Isto é para permitir que os "moçambicanos" possam passar a transição do ano de ano de 2016 para o ano de 2017, circulando livremente, sem medo. Durante este período, podemos continuar conversando sobre como é que podemos resolver definitivamente este assunto… Eu quero sair desta mata onde voltei a me meter—enganado novamente—, para também viver uma vida plena como o fazem os líderes dos demais partidos políticos moçambicanos… »

Penso ainda que, em resposta para fechar a conversa, Filipe Nyusi deve ter dito o seguinte:

«Faz isso, irmão. Depois falamos. Abraço.»


Ora, por eu pensar como expus acima, sinto-me menos tenso e mais esperançoso numa possível paz efectiva para Moçambique; isto permite-me continuar a confiar no Filipe Nyusi. Contrariamente, quando eu penso que Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama estão a brincar com o povo, fico tenso e menos esperançoso na paz; isto me faz ver Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama com dois malandros que vivem do suor do povo, armados em políticos. E quando eu penso que, ao ter permitido que fosse Afonso Afonso Dhlakama a anunciar a trégua de 7 dias, Filipe Nyusi renunciou o poder duramente conquistado pela Frelimo e o entregou, tacitamente e em bandeja de prata, ao Afonso Dhlakama e à Renamo, fico muito zangado com Filipe Nyusi, que chego até a sentenciar que será melhor não permitir que ele (Filipe Nyusi) tenha oportunidade para concorrer a um possível segundo mandato, porque é politicamente irresponsável e não está a saber exercer correctamente o poder que a minha Frelimo lhe chamou para exercer.

Como se pode ver, o meu sentimento e o meu estado de espírito em relação ao Filipe Nyusi dependem do que penso dos seus actos e não dos próprios actos em si. Ou seja, o que comanda os nossos sentimentos em relação ao Filipe Nyusi não é que o ele faz ou deixa de fazer, mas sim o que nós pensamos disso. Logo, Filipe Nyusi não é o problema; o problema são os nossos pensamentos. Filipe Nyusi está a fazer o seu trabalho procedendo como ele acha melhor proceder. E até os seus métodos falharem produzir os resultados que ele espera, nós que estamos observando o que ele (Filipe Nyusi) está a fazer não temos como provar que está liminarmente errado.

Enfim, o ponto que pretendo fazer é o seguinte:

Vamos criticar o Filipe Nyusi por governar fora da lei, mas não por causa do seu estilo de governação. Quem confere poderes ao Filipe Nyusi é a Constituição da República de Moçambique. Mas como ele pessoalmente exerce esses poderes depende do seu próprio estilo, e do seu próprio carácter, pessoal. Não procede exigirmos que Filipe Nyusi exerça os poderes que a Constituição lhe confere como cada um de nós faria no seu lugar. Cada um é de nós é um indivíduo diferente dos demais; pensa e age diferentemente dos demais. Vamos lá deixar o Filipe Nyusi governar Moçambique de acordo com a lei, conjugada com o seu próprio carácter pessoal! Não destratemos Filipe Nyusi em razão dos seus defeitos de carácter, pois qualquer um de nós os tem. Vamos criticar Filipe Nyusi por aquilo que fizer mal, à luz da lei, e não por não por aquilo que fizer diferente do que nós faríamos no seu lugar. Se nós, moçambicanos, fizermos isso, o nosso Presidente da República vai nos servir bem e melhor. Sinais de que assim ele pode estão patentes nos resultados do exercício de governação deste ano de 2016, que foi um ano muito adverso mas, mesmo assim, o Governo de Moçambique, chefiado por Filipe Nyusi, conseguiu manter o país firme na rota do progresso. Se outro Governo poderia ter feito melhor, isso é outro assunto totalmente diferente e bastante discutível...


Viva Filipe Nyusi!

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