Numa
altura em que se acredita serem bem conhecidas as formas de contágio e
de prevenção do vírus de HIV-Sida, a discriminação contra pessoas com
esta doença ainda é uma realidade. No dia em que o mundo pára para
reflectir em torno das formas de combate à pandemia do HIV-Sida,
trazemos histórias de pessoas que conseguiram quebrar as correntes do
preconceito colocadas pela família, de quem mais esperam apoio.
Maria
Celina Alfredo, 30 anos, lembra com lágrimas nos olhos e voz trémula:
“Eu fui discriminada pela família que vivia comigo. Diziam que eu não
podia fazer nada, porque sou seropositiva. Descobri a doença em 2011”,
conta.
Nas
recordações mais amargas de Maria Celina está o episódio em que a sogra
e o ex-esposo proibiram-na de tocar no filho. “Foi graças ao apoio de
uma activista que comecei com o tratamento. Entrei na associação, recuperei e hoje estou feliz, tenho um novo marido e o meu filho agora está comigo”, disse Maria Celina.
Tal
como Maria Celina, existem centenas de homens e mulheres que provaram o
estigma e encontraram conforto nas associações criadas para apoiar
pessoas seropositivas. Uma delas é Simião Mandlate, de 44 anos,
seropositivo há oito anos. Lembra que a primeira pessoa de quem sofreu o
estigma foi a sua falecida mãe.
“Ela
murmurava, quando estava com as amigas, que o filho voltou da África do
Sul com aquela doença. Foi a primeira pessoa que eu senti que estava a
afastar-me da família”, conta.
Actualmente, Maria Celina e Simião são activistas, na associação
Hixikanwe, onde usam a sua experiência para aconselhar as pessoas a
saberem do seu estado e aderirem ao tratamento anti-retroviral,
mostrando que existe vida mesmo com HIV-Sida.
“É
muito triste ser discriminada pelas pessoas que mais amamos. Eu não
tinha contado a mais ninguém a minha situação, só a uma vizinha. Ela é
que espalhou a informação por toda a zona. Até quando eu ia ao mercado
comprar tomate, ouvia outras vizinhas, e até crianças, dizer é aquela
tia seropositiva. A minha sorte é que apareceram pessoas para me apoiar e
consegui superar e seguir em frente. O importante é não desistir do
tratamento e manter-se firme. Quem toma comprimidos consegue viver bem”,
conta Maria Cecília.
“Eu
não acreditei, quando disseram que tinha HIV-Sida. Trabalhava na África
do Sul e a minha doença começou como tuberculose. Só muito tempo depois
é que fiz exames e acusou HIV. No princípio, não cumpri com o
tratamento e tive uma recaída. Então, uma activista aconselhou-me e
decidi começar a seguir as indicações médicas. Hoje, estou bem e casado,
há dois anos, com uma mulher que conheci aqui na associação. Sou
activista e quero ajudar pessoas que passam pelo que passei a vencer e
conseguir ter uma vida longa”, disse Simião.
Discriminação afasta doentes do tratamento
O ministério
da Saúde aponta o estigma como a principal barreira que leva algumas
pessoas com HIV-Sida a não aderirem ao tratamento anti-retroviral.
“Quando as pessoas têm medo de ser discriminadas, podem não aderir à
testagem, e alguns que sabem do seu estado nem procuram pelo tratamento,
com receio de serem discriminados. Esta é uma grande barreira”,
explicou o director nacional de Saúde Pública, Francisco Mbofana.
Mbofana
recorda que, recentemente, o sector da saúde realizou uma formação
nacional com os seus quadros de forma a mostrar que não se pode
discriminar as pessoas com HIV-Sida.
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