Presidente Filipe Nyusi, eu sou parte do povo de Moçambique, o teu patrão. Não vale recusares ouvir-me, porque fazendo isso estarás a ofender a Constituição da República de Moçambique, que juraste respeitar e fazer respeitar. Também não estarias a fazer justiça para comigo, o que seria igualmente uma violação do teu juramento. Não te vou enfadar. Só tenho algumas perguntas para ti, e são seguintes:
1. Quais são os critérios que usas, e recomendas aos teus ministros, para nomear quadros para servir no aparelho do Estado moçambicano? Amizade? Competência? Confiança política? Troca de favores? Uma combinação de competência técnica e confiança política? Ou uma combinação de amizade com competência técnica? O que valorizas na selecção de quadros para nos servir da melhor maneira, Presidente?
2. Quando um sector da imprensa do teu país procura isolar-te do teu partido, mormente a imprensa de capitais privados, o que tu pensas disso? E como reages? Pagas para passarem a falar bem de ti?
3. Quando alguns militantes do teu partido pretendem ter controlo do teu pensamento e dos teus actos, o que tu pensas disso? E como reages?
4. Como é tu encaras a crítica e os alertas, Presidente? Achas que quem te critica está contra, ou não gosta de, ti? Ou será que achas que quem emite uma opinião contrária à tua, ou te alerta sobre algo potencialmente pernicioso, está a querer dizer que faria melhor no teu lugar?! E como tratas as ideias dos teus críticos? Ignoras-as, rejeitas-as, liminarmente? E aos próprios teus críticos, como tratas, Presidente? Isolas-os? Desprezas-os? Respondes às suas críticas com indirectas na comunicação social? Ou será que encomendas artigos ou emissão de opinião para publicação nos órgãos de comunicação social "independentes" (e.g. TIM, Stv, SAVANA, Canal de Moçambique, O País)?! Será desta maneira que respondes aos teus críticos e os mostras que estão errados?! Como reages à crítica, Presidente? O povo—o teu patrão—quer saber, porque há malícias que se dizem por ai a teu respeito!
5. Outra pergunta, Presidente: Quando tu vais dialogar com os dirigentes das instituições da Bretton Woods, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Grupo Banco Mundial (GBM), sem o teu Ministro do pelouro da Economia e Finanças, como achas que o povo deve interpretado isso? No seio povo—o teu patrão—reina o pensamento de que por alguma razão não te fizeste acompanhar do teu Ministro da Economia e Finanças, nos teus encontros que tiveste recentemente com o FMI e GBM. Qual é esse motivo, Presidente? Estás em divergências com o Ministro da Economia e Finanças? Se sim, que divergências? Se não, então por que ele não foi contigo participar naqueles encontros? E a propósito do resultado daqueles encontros, o que te fez aceitar a auditoria, quando dias antes os teus pronunciamentos pareciam indicar que estavas contra essa mesma auditoria?
6. Ainda sobre as tuas viagens, Presidente: Por que quando viajas em missão de Estado, dentro e fora de Moçambique, quase sempre te fazes acompanhar do Ministro do pelouro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural? Que negócios de Estado estás a tratar especialmente com este Ministro, lá fora e cá dentro de Moçambique? Estarás com receio de o deixar "solto" em casa, a cuidar do que tem para cuidar no Ministério que ele preside? É que de contrário, precisas de explicar ao povo—teu patrão—o que te faz levar contigo sempre um Ministro que cuida de assuntos da terra, do ambiente e do desenvolvimento rural para as tuas viagens. Estes itens (terra, ambiente, desenvolvimento rural) ficam em casa, quando vós viajais. Por que sempre esse Ministro? Curiosamente, esse Ministro é o ÚNICO que tem realizações de volto, realizações essas que são exclusivamente vistas por um sector da imprensa "independente" moçambicana (e.g. SAVANA, Canal de Moçambique e TIM). Isso não te surpreende, Presidente? Ou será que estás com o plano de fazer desse Ministro de que sempre te fazes acompanhar o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, ou talvez o novo Ministro de Economia e Finanças, do «novo ciclo de governação»?! E mesmo a propósito do «novo ciclo de governação»: O que faz deste «novo ciclo de governação» diferente dos—já agora—"velhos ciclos de governação", Presidente? Afinal não é a Frelimo que governa? Temos uma nova Frelimo? Qual é a motivação e a relevância política da referência exageradamente reiterada ao «novo ciclo de governação»? O que é que pretendes dar a entender com isso? Será que pretendes uma rotura radical com o passado?!
Bom, as perguntas foram extensas. Vou parar por aqui como este meu «novo ciclo» de perguntas. E são perguntas de verdade, Presidente! Não significam que eu tenha algo contra ti, ou contra as tuas escolhas ou contra os teus métodos. Longe disso. São perguntas que me ocorrem fazer porque eu eu não quero continuar ignorante do móbil dos teus actos governativos, sendo tu "empregado" do povo de que eu também faço parte—mais correctamente dito, sendo tu meu servidor. Da minha parte, quero evitar interpretações erradas dos teus actos governativos. É assim que eu penso que deve ser, e faço. Quando o povo vê o seu "empregado" a fazer coisas "estranhas", tem que lhe questionar para perceber o que se passa. Um patrão que não zela pelos actos do seu "empregado", não é bom patrão. Eu, que sou parte do povo moçambicano—teu patrão—não quero que este povo seja mau patrão. Por isso, pergunto para saber de ti a verdade. E é bom eu clarificar que estas perguntas não são só minhas; são também de outros filhos do mesmo povo de tu e eu fazemos parte, sendo que tu estás na posição de "empregado-chefe" deste mesmo povo. Se tu estivesses no meu lugar, talvez fizesses as mesmas perguntas.
Claro que não espero que me respostas aqui. Mas espero que reflictas sobre estas perguntas e as vás respondendo na tua comunicação com povo—o teu patrão—, ou nos teus actos futuros, de modo a dissipar as dúvidas que estas perguntas encerram. A falta de respostas para estas perguntas alimenta especulações e equívocos potencialmente perniciosos para ti, para a Frelimo e para Moçambique. Lembra-te sempre, Presidente, que a política—na acepção de arte de organizar a sociedade—faz-se com base nas percepções do povo—o povo que é o verdadeiro dono do poder soberano delegado a ti e a outras instituições que compõe o Estado moçambicano. Se te fizeres perceber bem pelo povo, serás amado; se alimentares más percepções do povo sobre ti, serás odiado. Fórmula muito simples. Por isso, sê transparente nos teus actos de governação e evita criar espaço para especulações!
Eu trabalho com a juventude todos os dias, Prediente. Vivo o pulsar das aspirações frustradas da «geração da viragem». Posso dizer-te com propriedade que a juventude moçambicana não está mais para demagogias. Quer actos de coragem. O primeiro desses actos coragem é desarmar a Renamo e reestabelecer o clima de paz e tranquilidade que caracterizou Moçambique até 2012. O segundo desses actos de coragem é valorizar competências e fazer uso destas para transformar os recursos de que Moçambique foi abençoado em riqueza para beneficiar a todos os moçambicanos. O terceiro desses actos de coragem é moralizar a sociedade moçambicana para valorizar a vida como o bem mais precioso que Moçambique possui. Basta de banditismo armado e de acidentes de viação que ceifam mais vidas preciosas que as doenças endémicas! Também basta de demagogia que concita o povo à irresponsabilidade política e patriótica, que tem caracterizado a actuação política do Movimento Democrático de Moçambique [MDM (Mdm)]! O quarto e mais urgente dos actos de coragem que se esperam ti, Presidente, é estancar a corrupção e as negociatas que empobrecem mais Moçambique. O exemplo deste acto de coragem deve partir do teu Gabinete e do Governo que presides. O povo—o teu patrão—quer ver e sentir que tu e o Governo que presides sois criteriosos na gestão dos recursos que vos foram alocados. O povo quer exemplo de gestão criteriosa vindo de cima. O povo quer que a EMATUM, Proindicus, MAM, LAM, ADM, EDM, TDM, HCB, Maputo Sul, EMOSE, mcel e demais empresas públicas geridas por todo o tipo de direito funcionem em pleno e contribuam para a renda nacional. O povo que ver a Polícia, a Procuradoria-geral da República e os tribunais a deter, acusar, julgar e condenar os prevaricadores que perpetuam a pobreza e a indigência de Moçambique. Só assim será legítimo falares de um novo «ciclo de governação».
Nas hostes da Frelimo, de que também és Presidente, são igualmente necessários actos de coragem. Mas sobre isto perguntarei oportunamente, pois este ciclo de perguntas já vai longo...
Enfim, eu não vou mandar recados para ti a partir da Stv, "Canal de Moçambique", TIM, etc., como fazem aqueles comentadores que parece que conhecem a tua agenda diária—razão pela qual há pessoas que pensam que eles falam ou escrevem por ti. Eu vou SEMPRE emitir a minha opinião e fazer perguntas DIRECTAMENTE, usando os meus que julgar apropriados e estiverem ao meu alcance, porque o meu VOTO para ti e para a Frelimo foi DIRECTO e PESSOAL. Este mural é MEU, é PESSOAL.
Obrigado pela atenção.
Julião João Cumbane
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