As notícias sobre prováveis despedimentos em massa na Mcel e TDM deixam-me atónito. Até podia se considerar uma invenção, mas é verdade. O que me custa acreditar é que a Mcel, desde a sua fundação em 1997, teve anualmente uma prestação eficaz. Prova disso, é que até 2011 ela fazia parte do “Top Five” na pesquisa da KPMG sobre as 100 maiores empresas de Moçambique. E agora o descalabro.
A Mcel foi vanguardista na sua área. Fora de ser a primeira empresa de telefonia móvel do país, ela foi a pioneira, em Moçambique, a lançar serviço de banca móvel, através de uma parceria da qual resultou o mKesh.
Se no começo a Mcel só empregava um total de 50 colaboradores, este número subiu vertiginosamente, chegando a cerca de 1000 trabalhadores. Tudo isto porque a cada ano a empresa ia crescendo económica e financeiramente. Expandiu a sua cobertura por todo o país. Mas está no descalabro.
Tudo o que fosse evento cultural tinha a assinatura da Mcel: verão amarelo, fama show, moçambola e tantos outros. Em parceria com a agência de publicidade Golo, fazia publicidades de deixar cair o queixo de qualquer um. Ninguém, em Moçambique, não conhecia a Mcel. Mas o que houve, concretamente?
Das minhas fontes soube que a Mcel vai despedir 350 trabalhadores porque as suas contas não batem certo. Compatriotas, não acham que aqui há gato? Há qualquer coisa que não está muito bem esclarecida…. Onde é que foi parar o dinheiro que a Mcel produziu durante uma década e meia?
Por quê a Mcel não usou esse dinheiro para a sua consolidação no mercado? Quem delapidou a empresa?
Para mim, a promíscua relação Frelimo-Estado é que acabou com a Mcel. A empresa foi feita de saco azul para alimentar a insaciável sede dos camaradas. Só para vos dar pequenos exemplos, qualquer membro do partido podia ser administrador da empresa, receber salários chorudos e sem nunca pôr lá os pés. E quantos camaradas fizeram isso? Quantos mamaram às tetas da Mcel?
A TDM tem planos de despedir 500 trabalhadores. Desengane-se quem pensa que a queda desta empresa tem que ver com a conjuntura. A TDM também foi delapidada. Foi uma empresa histórica cuja se os decisores tivessem preferido, hoje seria um gigante inabalável. Mas houve saque. Os dinheiros que deviam ter robustecido a empresa foram usados para fins indevidos.
Em Moçambique não são só as estatais Mcel e TDM que estão de rastos. O fenómeno abrange muitas empresas, nomeadamente a LAM, CFM e Aeroportos de Moçambique. Estas empresas foram obrigadas a pararem no tempo. Foram sabotadas. Se até hoje a LAM ainda não anunciou despedimento de trabalhadores, julgo que é questão de tempo. O facto é que a empresa já não se aguenta e está cheia de dívidas escandalosas.
Portanto, mais uma vez, quero deixar aqui a minha humilde colaboração e lançar o debate para estas questões. É que, para mim, o que fustiga de verdade o país não é essa guerra que chamam de tensão político-militar. É a corrupção, a promiscuidade, o compadrio, a delapidação do erário público por um grupo de pessoas que não custa identificar.
Isso de guerra é para desviar atenções. Moçambique tem problemas concretos que se não forem resolvidos colocarão o país na bancarrota. O apetite voraz dos camaradas precisa ser parado. E é neste trocar de ideias que se inventa a melhor fórmula de se parar com a desgraça.
O que é feito do processo sobre as dívidas ocultas? Parece-me que está estagnado. Neste andar alguém de vós acredita que os culpados serão responsabilizados? Eu, sinceramente, não acredito. Ainda esta segunda-feira, o representante do FMI, residente em Moçambique, reiterou numa entrevista à RM que se deve fazer uma auditoria independente às contas públicas. Que eu saiba ninguém quer que isto aconteça. E como fica o país? Como ficam os moçambicanos?
Às vezes fico aborrecido com comentários de algumas pessoas aqui no Facebook. Por exemplo, à véspera da realização da marcha do sábado alertei para que todos saíssemos à rua. Outros trouxeram opiniões distantes da realidade. Agora pergunto: afinal quem vai trazer a revolução? Isto é tarefa de todos nós moçambicanos enquanto cidadãos deste país que se chama Moçambique. Esta guerra deve ser travada por todos.
Enquanto fingimos que não vemos, alguma elite vai engordando às custas do povo moçambicano. E jamais pensem que eles estão preocupados com o povo. Estão preocupados com as suas contas bancárias. Não viram o que fez o ex governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, a semanas Foi-se divertir a grande e a francesa em Miami Beach enquanto o grosso do povo moçambicano não tem pão para comer. Acham que o Gove estava preocupado com o povo?
Até sempre
Nini Satar
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