28.02.2016
AFONSO CAMÕES
A conversa não cozinha o arroz, dizem os chineses. Mas a novela da TAP e, por dentro dela, o anunciado abandono das suas rotas internacionais a partir do Porto está apenas a começar. Porque é do país, de estratégia e das escolhas de Governo que se trata.
Fez bem Rui Moreira em encabeçar a denúncia e dar a cara. O que se espera de um autarca é que defenda os interesses em nome dos quais foi eleito. A ele, nesta causa, juntam-se agora o Conselho Regional do Norte, municípios, universidades, associações empresariais. À volta do Aeroporto Sá Carneiro há toda uma região que é a mais exportadora, a mais povoada, a mais jovem, a que cria mais empresas e emprego. No Norte, as exportações cobrem 140% das importações. E desde 2008, o saldo positivo da balança de transações comerciais, ou seja, a relação entre o que exporta e o que importa tem vindo a aumentar mil milhões de euros a cada ano. Assim fosse por todo o país!...
Ora, se nenhuma destas razões estruturais justifica a intervenção do Governo na definição da estratégia da companhia aérea privatizada à pressa em vésperas de eleições, nenhum português compreenderá que tenhamos de gastar mais um saco de milhões na recompra de metade do capital da TAP e respetivos riscos. António Costa ainda nos deve essa explicação. E fazer escolhas.
Mais fácil é explicar a entrada de uma das maiores companhias aéreas chinesas no capital da TAP e, no mesmo passo, a abertura de uma ambicionada ligação direta entre Portugal e a China.
Dali, a segunda economia mundial, que já controla alguns dos ativos estratégicos portugueses, vai gerar, até 2020, mais de 100 milhões de turistas chineses à procura de mundo para visitar ou investir.
O turismo, que vale 10% do produto interno bruto e oito por cento de emprego, é hoje um dos pilares da nossa economia. Portugal já atrai anualmente 14 milhões de turistas, afirmando-se como 25.º destino mais procurado do Mundo.
Os chineses, que já investiram 4,1 mil milhões a comprar empresas portuguesas, ainda só representam 14% do nosso turismo. Mas são já, de longe, os que mais gastam (mais do dobro dos angolanos) quando nos visitam, um valor médio de 614 euros por cada compra, nas contas da Global Blue, a empresa que gere o reembolso de IVA para turistas.
Eis boas razões para que António Costa nem precise de explicar que entre Pequim e Nova Iorque, a rota mais próxima e mais barata sobrevoa Portugal. E que faz todo o sentido uma escala portuguesa, em Lisboa - ou no Porto. Aqui chegados, recorda o chinês que "enquanto se briga por um quarto de porco, pode perder-se um rebanho de carneiros"
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