segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Recados e recadinhos do governo no desporto

O melhor é que estejamos enganados, mas algo nos diz que está cada vez mais a confundir-se o papel do governo na direcção das associações e federações desportivas no país. Dito doutra forma: há uma nítida percepção de que os dois membros do governo central a dirigir o desporto se imiscuem, ainda que seja apenas por simples palavras, na actividade associativa ou federativa.
Tínhamos perdoado o facto de o ministro dos transportes e comunicações, Carlos Mesquita, ter aparecido em grande plano numa cerimónia do clube Ferroviário da Beira, não como sócio que pode ser, dada a sua ligação com a terra e com os “locomotivas”, mas como membro do governo e ai tecer comentários nessa qualidade. Cheirou, imediatamente a clubismo e ficamos com o receio de que aquela agremiação desportiva passe a ter mais apoios em relação a outras tantas pelo país, porque um membro do governo central identificou-se claramente como tal…
Temos estado atentos aos pronunciamentos do ministro e vice-ministra da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula e Ana Flávia Azinheira, em várias realizações meramente de clubes ou de associações e fica-nos claro que traçam orientações e metas, a fazer parecer que saltam da tutela para a efectiva direcção dos mesmos.
 A afirmação de Alberto Nkutumula, na apresentação do novo seleccionador dos Mambas, Abel Xavier, de que nãohavendo resultados iremos exigir responsabilidades. Se não produzir, não vamos insistir em manter o treinador. Ele que venha com clareza de que deve produzir resultados que é o que todo o povo moçambicano espera do nosso futebol, deixa perceber muita coisa.
A vice-ministra, de igual forma, quando se dirige a ambientes afins, tem deixado escapar a ideia de que o governo está a dirigir, no sentido de controlar as associações e clubes. Neste  caso, também está a dirigir a Federação Moçambicana de Futebol ou a Liga de Futebol. Nos relega à insignificância da nossa parte, que pensávamos que o governo traça fundamentalmente as políticas do desporto e não se imiscui no dia-a-dia dos fazedores do desporto.
Não se pode ignorar, outrossim, a tendência da dupla ministerial para alguns desportos da sua predileccao, aonde cingem a sua acção orientadora e, já agora, de direcção. Onde é que o ministro é mais activo e onde a vice aparece mais vezes. Nem sempre coincidem com as áreas definidas prioritárias pelo governo de que fazem parte.
 A afirmação ministerial acima citada e outras do mesmo quilate, dão-nos a licença de debitarmos o fracasso de determinada associação/federação ou organização gimnodesportiva ao executivo, bem assim, por extensão, nos autorizam a cobrar ao governo as derrotas (que não são poucas) das nossas selecções, visto que se está a ligar directamente a acção do governo aos resultados desportivos.
Chegados aqui ousaríamos recomendar algum afastamento que dê liberdade e responsabilidade aos donos do desporto e o governo se mantenha na sua função orientadora de políticas, sabido que sempre haverá um caminho através do qual as associações e federações usarão para prestar contas, que evite a presença física dos titulares governamentais.
Se para errar basta trabalhar, pensamos que o caminho escolhido pode não ser o mais acertado e penitenciamo-nos perante os dois respeitados membros do governo, a quem, por outro lado lembramos que a Juventude faz, igualmente, parte do mesmo pelouro. Só dissemos por dizer!
Pedro Nacuo

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