O Fundo Monetário Internacional alertou recentemente que a dívida da EMATUM está a prejudicar a economia moçambicana. Mas, no país, poucos se atrevem a falar em público sobre o assunto.
Em Moçambique, analistas e académicos receiam abordar publicamente a questão da sustentabilidade da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), por medo de represálias.
Em 2013, a empresa contraiu uma dívida de 850 milhões de dólares, garantida pelo anterior Executivo moçambicano. Mas, no primeiro ano de atividade, a EMATUM registou prejuízos. Não tendo meios para pagar os empréstimos, o Estado foi obrigado a intervir, saldando já uma parte da dívida em 2015 .
O assunto parece tão delicado que "ver, ouvir e calar" tornaram-se palavras de ordem para quem quer evitar problemas.
Entre as fontes contactadas pela DW África, algumas preferiram o silêncio; outras comentaram o assunto sem, no entanto, permitir a gravação das declarações, temendo a forma como as suas palavras pudessem ser percebidas pelas partes envolvidas direta e indiretamente no negócio da EMATUM.
Fernando Lima foi o único entrevistado que, de forma destemida, aceitou abordar o assunto. O jornalista do semanário "Savana" defende a necessidade de um debate aberto e franco sobre os contornos do negócio da EMATUM, para pôr termo às suspeições que ainda prevalecem quanto à legalidade do investimento.
"[O negócio da] EMATUM foi conduzido com muita falta de transparência e, decorrente disso, há sempre grandes suspeições - mesmo que sejam simples atos de gestão que não levantariam qualquer suspeita se fossem tratados noutra empresa que não tivesse este nome", afirma Lima.
EMATUM prejudica economia, diz FMI
O negócio da EMATUM tem sido alvo de duras críticas de organismos internacionais. Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que os esforços do Governo no pagamento da dívida têm impacto negativo na economia do país , contribuindo, por exemplo, para a queda das reservas internacionais líquidas.
Fernando Lima considera que a EMATUM representa um "elefante branco" para a economia moçambicana, mas lembra que "não é causa única" dos problemas macroeconómicos do país.
O jornalista acredita que se o país seguir na íntegra as recomendações do Fundo Monetário Internacional e implementar rigorosamente as medidas de rentabilização da EMATUM, o país poderá estabilizar a sua economia, atualmente abalada pela depreciação da moeda nacional, o metical.
Segundo o FMI, o Executivo moçambicano prevê adotar um plano de ação para melhorar a rentabilidade da EMATUM até abril deste ano.
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