152.045 portugueses "passaram a bola" a Tino de Rans. O seu sucesso passou pela "intrigalhada" do debate, pelos "bonequinhos" e pela "mãozada" que lhe deram. Mas afinal não houve mais "uma voltinha".
Tudo começou assim. “Vou ser Presidente da República. Com 22 anos, o povo da minha terra quis que eu fosse presidente da junta, que pusesse Rans no mapa, não tenho dúvida nenhuma de que o país quer que o Tino seja Presidente da República”. Estávamos em outubro de 2015. Tino não conseguiu ser Presidente, mas ficou em 5.º lugar com 3,3% — recebeu 152.045 votos. Em alguns momentos da noite eleitoral chegou a aproximar-se da candidata Maria de Belém, que acabou por ficar em quarto lugar.
Vitorino Silva — ou Tino de Rans para os amigos, conhecidos e público em geral — é uma fábrica de soundbites. Para justificar a candidatura, Tino dizia que o objetivo era “devolver a alegria ao povo”. E continuava: “O povo está muito fino, a plebe sabe o que quer e não tenham dúvidas nenhumas de que pode haver taça, pode haver um tomba-gigantes.” Por fim, uma metáfora poderosa: “Há muita gente que pensa que somos uns peixinhos, mas os peixinhos, se estiverem atentos, podem comer os tubarões.”
Os tempos de antena e os hinos de campanha de Vitorino Silva também foram memoráveis. “É com o Tino o caminho do saber”, ouvia-se, numa canção com acordeão. Num outro momento, o candidato pedia à sua mandatária nacional para lhe “dar uma mãozada” — aquilo que o comum dos mortais conhece simplesmente como aperto de mão.
O debate e os “bonequinhos”
Vitorino Silva começou em grande o último debate da campanha, que juntou nove candidatos na RTP. Quando lhe perguntaram qual é a característica que mais aprecia no ser humano, Tino respondeu: “Ter saudades de casa”.
Depois de insistir que trazia “espontaneidade” para o debate, atirou: “Não venho aqui para intrigalhadas”. E disse mais: “Há uma parte do debate que a mim não me interessa para nada. Eu até estou aqui a fazer bonequinhos”.
O calceteiro, que já foi estrela de reality-shows, aventurou-se ainda a comparar a política ao futebol, e aí entraram novamente em jogo as metáforas: “O Messi é muito bom jogador porquê? Porque quando está com a bola não dá chutos para longe, está sempre perto da bola. Quem está perto da bola está perto do golo. Eu também quero estar perto do golo, mas aí passem-me a bola”.
A bola passou para os pés de Tino e o candidato presidencial começou, então, a discorrer sobre vários assuntos. Primeiro, a emigração: “As pessoas tiveram de bazar”. Depois, uma crítica aos problemas que os emigrantes em Bruxelas sentem quando querem participar nas eleições. A culpa é de um telefone: “Em 50 mil [emigrantes] em Bruxelas, só cinco mil é que podem votar. As pessoas ligam para o consulado e o consulado tem telefone e não tem ninguém a atender o telefone. As pessoas querem votar… Têm telefone e não têm… Vivemos no mundo das tecnologias”. E, perguntou um dos jornalistas, quem é que o candidato responsabilizava por isso? “Que ponham o telefone, mas ponham uma pessoa a atender o telefone”.
Ainda antes de o debate terminar, Vitorino Silva conseguiu mais uma vitória. A dada altura, virou-se para Marisa Matias e perguntou: “Posso tratar-te por tu?” Perante a resposta positiva da candidata do Bloco de Esquerda, exultou: “Eu trato a Marisa por tu!”
Tendo em conta tudo isto, não admira que na noite das eleições, em que Marcelo Rebelo de Sousa arrebatou tudo à primeira volta, Tino desejasse “mais uma voltinha”. Não conseguiu, mas também não foi importante. O que Vitorino realmente procurava era uma reação feliz da filha. “Estás contente, Catarina? Estás contente?”, perguntou o candidato ao telefone, num momento registado pelo Expresso. E foi assim que Tino de Rans fechou o ciclo “Candidato Presidencial 2016”.
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